domingo, março 09, 2008

Crónica 22ª Jornada - Silly Season...

"Ainda vamos surpreender muita gente, com resultados que ninguém está à espera!" E esta, hein? O Benfica voltou a não mostrar autoridade caseira, condizente com o seu estatuto, e acabou por ceder mais um empate ridículo, frente a um conjunto imensamente inferior que até já está condenado à descida de Divisão. Mas o preocupante até nem é só o que acabou por ser um resultado escandaloso. O que preocupa, realmente, é a surreal qualidade do jogo da equipa, em muito da responsabilidade de algumas figuras quase mitológicas que, na actualidade, vestem a camisola do Benfica. Não me digam que não reconhecem algumas semelhanças, a este período Vieirista, com aquele que celebrizou Manuel Damásio?! É uma questão de tempo até vermos muitos dos jogadores de hoje nas tais análises dos trastes que ousaram equipar-se no balneário caseiro da Luz. De facto, estamos presentes de um “novo ciclo”, que nada augura de bom para o Sport Lisboa e Benfica.

Apesar de tudo, o Benfica até nem foi tão mau como tem sido nas primeiras partes. Houve alguns bons momentos de futebol, nomeadamente nas explosões de Cristián Rodríguez – uma delas na barra –, e nos raides de Léo, mas, frente a um adversário em dificuldades, é manifestamente pouco. Há que exigir mais, mesmo a um amorfo Camacho. O que me parece é que José Antonio Camacho, principalmente depois de uma tragédia como é a morte de um progenitor, já patenteia pouca motivação futebolística nesta fase complicada da vida… e isso talvez se note dentro de campo. As próprias conferências de imprensa demonstram-no um pouco. A União de Leiria acabou por sair para o intervalo com um golo de vantagem, fruto de uma excelente jogada colectiva, com finalização de Paulo César. Na retina fica mais uma desatenção de Edcarlos e outra deficiente marcação ao homem de Luís Filipe, sempre eles. Alguma sensação de escândalo mas nada que fuja muito daquilo que tem sido o Benfica 2007/08.

No segundo tempo, o Benfica entrou muitíssimo bem e deu a volta ao marcador em pouco mais de 10 minutos. Nuno Gomes ainda teve o empate na cabeça, lance bem evitado pelo excelente Fernando (50 minutos). Marco Zoro foi oportuno e empatou (51 minutos), logo depois Óscar Cardozo atirou mais uma bomba para o fundo das redes (56 minutos). Um pontapé livre verdadeiramente assombroso que ameniza o gesto vergonhoso do paraguaio, na quarta-feira. Parecia, de facto, que o Benfica tinha tudo para vencer o jogo mas, surpreendentemente, mostrou-se intranquilo e não assumiu o controlo efectivo da partida. A União até chegou a mandar uma bola à barra, pelo mesmo jogador que viria a empatar o jogo. E quanto a mim até de forma justa, mesmo que tenha tido o contributo involuntário de Quim. N’Gal, tal como Harison, foram as duas pedras mais influentes dos homens do Lis, e exibiram-se em grande plano. É incrível como a União de Leiria consegue empatar na Luz, e merecer o resultado, tendo em conta os inúmeros problemas disciplinares, directivos e desportivos desta temporada. Rui Costa, num grande pontapé de longe (78 minutos) teve uma oportunidade soberana para mudar o resultado, mas apenas fez Fernando brilhar. E Mantorras quase salvava no último minuto…

A nível de arbitragem, e eu que não conhecia Vasco Matos, há pouco de positivo a dizer. Muitos erros, muita incompetência, muita incerteza, mas, felizmente, não me parece haver influência directa no resultado. O golo de Paulo César, aparentemente, é regular e não há nenhum lance de possível penalty em qualquer das áreas. Há, no entanto, dois casos complicados que não me parece terem sido bem ajuizados. Há um pé alto de Binya que é um claro jogo perigoso, mas que passou impune. Exigia-se um cartão amarelo, evidentemente. E alguma coisa teria de ser feita no lance em que Cardozo parece ser puxado por Bruno Miguel, indo a isolar-se, e depois o mesmo Bruno Miguel dá uma joelhada na cabeça do paraguaio que o deixa a sangrar abundantemente. Fazendo a falta, que me parece, e sendo o último homem, o jogador da União de Leiria teria de ser expulso. O trabalho dos auxiliares foi absolutamente anedótico, com muitos erros mas, na sua maioria os foras-de-jogo ou foram assinalados já quando a defesa tinha limpo o lance ou em situações laterais. Golo bem anulado a Nuno Gomes, sem qualquer dúvida, e há um outro lance em que N’Gal fica em boa posição para marcar mas que é mal invalidado.

E com a demissão de Camacho no final do jogo – algo que demonstra grande dignidade e noção do lugar que ocupa –, Luís Filipe Vieira, se tem alguma vergonha na cara e benfiquismo no corpo, só tem que apresentar a sua renúncia e convocar eleições antecipadas urgentes. Nunca estarei de acordo com “Golpes de Estado”, e por isso nunca serei a favor de soluções externas não-democráticas, mas Vieira tem de assumir as suas responsabilidades. Alguma vez terá de ser! É o Benfica que está em jogo, e o timoneiro da nau tem sempre de dar o corpo às balas quando as coisas não correm bem. Com Vieira, na minha opinião, o Benfica não tem nada a ganhar. Haja decência para não se optar por mais uma ridícula fuga para a frente carregada de populismo e demagogia, como é apanágio do actual Presidente. Vou estar atento, porque já se ultrapassaram todos os limites. 3 treinadores numa temporada é inaceitável.

NDR: Será possível que a Imprensa Nacional não acerte nos nomes de alguns jogadores do Benfica? Meus caros, informem-se! É Binya, e não Bynia, e não há cá nenhum Marc Zoro… o nome do marfinense é Marco Zoro. Como é possível isto continuar?

Os golos do jogo podem ser vistos, aqui. Mais um trabalho do nsalta.

Ficha do Jogo:

22ª Jornada da Liga BWin

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Vasco Santos (AF Porto)

SL BENFICA: Quim; Luís Filipe, Marco Zoro (Sepsi, 73 m), Edcarlos e Léo; Di María (Nuno Assis, 79 m), Rui Costa, Binya e Cristián Rodríguez; Nuno Gomes (Mantorras, 79 m) e Óscar Cardozo.
Treinador: José Antonio Camacho.

UNIÃO DESPORTIVA LEIRIA: Fernando; Éder Gaúcho, Bruno Miguel, Hugo Costa e Patrick; Tiago (Lukasiewicz, 82 m), Harison, Arvid e Ngal; Sougou (Toñito, 83 m) e Paulo César (Faria, 90+2 m).
Treinador: Vítor Oliveira.

Disciplina: Amarelos a Éder Gaúcho (10 m), Quim (62 m), Luís Filipe (66 m), Sougou (82 m) e Nuno Assis (83 m).

Golos: 0-1, Paulo César (44 m); 1-1, Zoro (51 m); 2-1, Cardozo (56 m); 2-2, N´Gal (69 m).


#Fotos: Reuters

#adicionado a
Crónicas 07/08

#publicado em simultâneo com o
Encarnados