quarta-feira, dezembro 06, 2006

Crónica Fase Grupos Liga Campeões - 61 Minutos de Sonho!



Ninguém no seu perfeito juízo, apesar de eu ter ouvido alarvidades do género, exigiria uma vitória do Benfica em Old Trafford. Não só pelo peso Mundial do Manchester United quer a nível financeiro ou mesmo competitivo, mas também pelo facto de nunca ter perdido em casa com equipas portuguesas… nem no tempo de Eusébio.
Sendo assim, pareceu-me suicídio procurar o apuramento com uma imprescindível vitória e ainda por cima em confronto directo com os Red Devils. É caso para dizer que o Golias não é parvo e nem sempre o David consegue lá ir, então, eliminar um colosso pelo 2º ano consecutivo era, para mim, um feito muitíssimo improvável para o qual, confesso, nunca tive grandes expectativas.

Fernando Santos apresentou a equipa que todos esperávamos –, o losango continua e continuará discutível para mim, mas isso já são outras contas – e, depois de mais um claro triunfo em Alvalade, a esperança em sair dignificado da Champions League era o meu principal desejo. Seria castrador, para os objectivos futuros da equipa, uma goleada humilhante em solo inglês, não só pela óbvia fragilidade emocional do Benfica 2006/07, mas também para não “estragar” o prestígio e respeito alcançados no ano transacto.

É verdade que o Benfica entrou bem na partida e conseguiu segurar o ímpeto de um Manchester algo expectante – afinal, um empate era-lhes suficiente –, mas a equipa emperrava sempre na muralha defensiva dos visitados. Foi algo confrangedor assistir a algum desnorte luso, com constantes passes laterais ou atrasados ao invés de se tentar a jogada em progressão. Pareceu-me evidente o nervosismo encarnado nesse período de tempo e foi preciso Simão “assumir as rédeas” – quase sempre com Nélson e Léo em grande plano – para vermos alguma coisa de útil.
E assim, deixo a seguinte consideração: sabendo da miserável forma competitiva de Nuno Gomes, faz algum sentido colocá-lo como uma espécie de organizador de jogo? Obviamente que não, foi um problema acrescido que a equipa teve de resolver, onde acabou por adiantar o #21 de forma inconsciente deixando um espaço vago que possibilitou alguma liberdade para Michael Carrick e, a espaços, para Paul Scholes.



Para nós benfiquistas, o jogo valeu pelo golo do outro Mundo de Nélson, mas que serviu de wake-up call para o United – raio do rapaz que me fez sonhar durante uma hora de jogo! O domínio completamente esmagador que se seguiu, com constantes oportunidades de golo, foi praticamente impossível de suster – impressionantemente seria-o, de certeza, para a maioria das equipas do topo europeu – sendo que o lance de Vidic, no último minuto da 1ª parte, teve importância fulcral no resultado do jogo.
O golo “inglês” era mais ou menos expectável, mas o facto de ter sido apontado na última jogada antes do intervalo desalentou decisivamente não só os adeptos mas também os próprios jogadores. E aí, um treinador diferente – desculpem, mas tenho de “bater nesta tecla” – e uma palestra arrojada no regresso às “cabines” teriam sido decisivos. Afinal, estava tudo empatado e era como entrar em campo de novo. Uma espécie de Nandinho “à Mourinho” teria sido fundamental, mas a equipa entrou com o derrotismo que caracteriza o seu técnico e não existiu durante o 2º tempo… foi um verdadeiro passeio para o Manchester que saiu como um justo vencedor em 45 minutos de sentido único.

A enorme classe e o incrível poder físico do adversário foram determinantes. A equipa sofreu 3 golos de cabeça, com 2 deles em lances de bola parada, onde a marcação feita ao homem que factura é completamente deficiente. No golo de Vidic, há uma atrapalhação risível de Luisão e uma marcação patética de Nuno Gomes – que até tenta simular uma falta –, arrematada por mais um descabido posicionamento de Quim, que falha por completo uma intercepção de bola na pequena área.
O golo de Ryan Giggs – um dos melhores extremos-esquerdos Mundiais dos últimos 15 anos – tem seguimento numa falha clamorosa de Katsouranis que, inexplicavelmente, pára de correr à entrada da área e deixa que o internacional galês fique completamente sozinho. Não consigo compreender, ainda, como é possível ser Nélson a fazer a marcação a Louis Saha no canto que dá o 3º golo. É do domínio público que o #22 defende mal e tem deficit de jogo aéreo… erros incompreensíveis que mataram qualquer aspiração colectiva e inspiração individual.



Confesso que ainda acreditei com o 0-1, algo que nunca pensei que pudesse acontecer e que me fez sofrer bastante, mas a qualificação não se perdeu neste jogo. Contra este poderosíssimo Manchester, e a jogar com 10 durante 90 minutos mais qualquer coisa era difícil. É inacreditável a forma como Nuno Gomes não jogou para a equipa e deu várias posses de bola ao adversário, com passes infantis e ausência de posicionamento eficiente. Não consigo compreender como o Nandinho não poupa o jogador a estas vergonhas, colocando-o no banco definitivamente até que encontre a melhor forma e dando oportunidades a outros jogadores… inclusive o, de novo, excluído Kikín Fonseca. É um mistério preocupante que, sistematicamente, só dois avançados tenham a possibilidade de jogar!

E depois, será que Fernando Santos não evoluiu e ainda é do tempo em que só eram permitidas duas substituições? Alguém lhe diga que já se podem fazer 3, é quase em todos os jogos a mesma patetice. Depois aparece com as desculpas do cansaço de muitos jogos e, posteriormente, aparecem as lesões em jogadores que já estão completamente de rastos aos 65 minutos.

A outro nível destaco também a arbitragem completamente caseira, mas já esperada, de Herbert Fandel. O alemão quis ser inglês mas exagerou em deixar seguir o jogo, permitindo algumas entradas muito duras e não assinalando várias faltas. Há um lance de Simão isolado com Vidic onde o capitão cai à entrada da área mas, parece-me sinceramente, que não há falta. Falta duríssima houve numa entrada de pitons de Scholes a Paulo Jorge, sem admoestação, que lhe poderia ter partido a perna… acho que o amarelo seria pouco para uma autêntica agressão.
Não sei se a bola terá entrado naquela mão involuntária de Nélson que Quim segurou mas, apesar de ser muito difícil analisar, o fiscal estava bem colocado e deixou seguir.



Em relação às prestações individuais destaco a segurança imperial de Ricardo Rocha e a classe de Simão que destruiu o internacional francês Evra em quase todos os lances do jogo. São, sem dúvida, os jogadores do clube em melhor forma e é pena que não sejam correspondidos por mais colegas.
Não sendo o lance do 1º golo, Quim e Luisão teriam sido dos melhores em campo… falharam clamorosamente deixando uma nódoa na exibição que dificilmente sairia no decorrer do jogo. Nuno Gomes e Nuno Assis voltaram a ser as unidades em pior plano sendo ainda mais evidente do que em Alvalade que devem sair da equipa e dar lugar a Karagounis/Karyaka e Kikín.
Miccoli continua inferiorizado fisicamente, assim como Katsouranis, o que é uma situação incompreensível num clube profissional. Nélson e Petit estiveram bem a espaços, o 1º evidenciou-se a atacar e o 2º a defender.

Ficamos todos tristes com o resultado mas saímos da Champions League com uma certa dose de dignidade apesar da desilusão ao ver que havia francas hipóteses de qualificação numa poule onde apenas o Manchester é claramente superior como equipa.
Não vale a pena começarem com a laídinha dos jogos das outras equipas na Dinamarca ou daquele penalty falhado de Saha em Glasgow. Há que ter noção de como foi o jogo em Copenhaga e como se comportou o Benfica, ou não comportou, se quiserem. Na prática, os dois pontos perdidos em Copenhaga permitiriam que o Benfica ficasse com 9 e, apesar da igualdade pontual com o Celtic, o nosso clube passaria à próxima fase tendo em conta o desempate pelo score de golos – já que o confronto directo, que é o 1º factor, dá empate.Ouço de muita gente que a eliminatória se perdeu com o Manchester mas, desculpem-me, estou em total desacordo. Para além do United ser uma equipa fortíssima que não surpreenda que ganhe em qualquer lugar, o Benfica não fez nada na Luz para vencer… não há registo de uma única oportunidade de golo evidente e o empate não chegaria para o apuramento. Em Glasgow, os 3-0, apesar da boa réplica nos primeiros minutos, não deixam dúvidas da justiça da vitória.
Metade da vontade e ambição de Old Trafford, na Dinamarca, e o Benfica estava qualificado.



Considero que há boas perspectivas na Taça UEFA e, com alguma dose de boa sorte no sorteio é possível chegar longe – Werder Bremen, Tottenham e CSKA são os mais sérios concorrentes. Se o Sporting, com um palmarés insignificante na Europa, chegou à Final recentemente, o Benfica tem tudo para vencer, mesmo com o Nandinho no banco.

NDR: O Benfica, jogando fora, voltou a entrar em campo trajando um bege pálido e sem qualquer sentido na História dos Equipamentos do Clube. Não consigo entender porque se opta por envergar uma camisola deste tipo e que ainda por cima é hedionda. Lembro-me de, penso que em 1995/96, onde o João Vieira Pinto fez 18 golos no Campeonato, de um 2º equipamento todo em branco com traços de vermelho na gola, mangas e números. Foi, talvez, o mais bonito que já vi, mas desde que é a Adidas a ter responsabilidades nessa situação que é disparate atrás de disparate, desbaratando mais de 90 anos de historial.
E depois, o problema já entra no paradigma da superstição, e talvez até influa o subconsciente dos jogadores. Será que o Benfica tem alguma vitória jogando com estas camisolas horrorosas?



Ficha de Jogo:

6ª Jornada da Fase de Grupos da Champions League

Old Trafford, em Manchester

Árbitro: Herbert Fandel (Alemanha)

MANCHESTER UNITED: Van der Sar; Gary Neville, Vidic, Rio Ferdinand e Patrice Evra (Gabriel Heinze, 67 m); Cristiano Ronaldo, Michael Carrick, Paul Scholes (Solskjaer, 78 m) e Ryan Giggs (Darren Fletcher, 73 m); Wayne Rooney e Louis Saha.

SL BENFICA: Quim; Nélson, Luisão, Ricardo Rocha e Léo; Katsouranis, Petit, Simão e Nuno Assis (Karagounis, 72 m); Nuno Gomes e Fabrizio Miccoli (Paulo Jorge, 63 m).

Disciplina: Amarelos a Ricardo Rocha (34 m), Rooney (43 m) e Fletcher (78 m).

Golos: 0-1, Nélson (26 m); 1-1, Vidic (44 m); 2-1, Giggs (61 m); 3-1, Saha (74 m).

#Fotos: AFP-Getty Images e SerBenfiquista

#adicionado a Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o Encarnados