ÁRBITRO RECORDA DERBY DA LUZ
Paulo Paraty: «Ricardo jurou que Luisão jogou a bola com a mão»
Paulo Paraty ganhou o "Apito de Ouro" de Record. O árbitro portuense acabou por "decidir" o campeonato na Luz, no derby capital, e conta aqui o que sentiu e o que ouviu nesse momento
RECORD – Ser o "Apito de Ouro" de Record da época de 2004/2005 é especial?
PAULO PARATY – É um prémio importante e sempre bem-vindo, muito especialmente para os árbitros, que nunca têm vitórias. No caso concreto, vindo de um jornal com a antiguidade e o prestígio do Record naturalmente que toda essa responsabilidade é ampliada. Para além de haver uma particularidade: ainda não teria dez anos e o meu pai ganhou também um prémio do Record, o "Apito de Prata", destinado ao melhor árbitro da II Divisão.
RECORD – Os capitães de equipa das formações da SuperLiga também o nomearam para o troféu de melhor árbitro, ganho pelo Pedro Henriques...
PAULO PARATY – Também foi um reconhecimento importante e foi gratificante. São estas coisas que nos fazem querer ser melhores.
RECORD – Esta foi a sua melhor época?
PAULO PARATY – Foi uma das minhas melhores épocas. Esta época teve dois ou três vectores determinantes: por um lado, as pessoas começaram a perceber que era importante, em Portugal, o jogo ter mais dinâmica, ser mais fluido. E nós, árbitros, hoje já podemos deixar o jogo correr mais sem com isso sermos muito criticados. Depois, ao nível da Comissão de Arbitragem da Liga foram tomadas medidas que levaram a que as equipas de arbitragem pudessem dirigir o seu trabalho para o próprio jogo. O nosso "slogan" em 2004/2005 foi "servir o futebol", com o objectivo de as equipas de arbitragem se desligarem de problemas acessórios, por exemplo, as suas classificações. Nos outros anos, os lemas foram "mais futebol, melhor espectáculo", "a exigência da qualidade" e "mais disciplina com menos cartões".
RECORD – O Benfica-Sporting acabou por decidir o título num lance entre Luisão e Ricardo que ficou também para a história. A validação do golo do Benfica foi automática?
PAULO PARATY – Não tive a noção de que pudesse ter existido qualquer falta e por isso estava absolutamente consciente de que a decisão era boa. Estava bem posicionado e não detectei qualquer irregularidade. Confesso que no momento subsequente e quando o Ricardo me deu a palavra de honra de que o Luisão teria marcado o golo com a mão, tive uma ligeira hesitação e confirmei a decisão com o meu assistente. O modo afirmativo como o Ricardo se dirigiu a mim criou-me alguma dúvida quanto à possibilidade de o golo ter sido obtido, como reclamava o guarda-redes do Sporting, com a mão. Foi uma hesitação criada por me terem falado na mão. Se há ali algum ligeiro espaço na decisão foi eu ter querido confirmar junto do assistente, depois de o Ricardo me ter dado a sua palavra de honra de que o golo teria sido obtido com a mão. José Ramalho confirmou a minha decisão.
RECORD – Vistas as imagens obtidas pelas câmaras...
PAULO PARATY – Verifica-se que não há qualquer mão, há apenas um movimento de surpresa. Creio que o lance até acontece fora da área de baliza e se existe algum contacto ele é posterior ao toque na bola. Há ainda duas coisas que têm sido ditas que não são verdade: o guarda-redes não pode é ser carregado; e não é proibido que no movimento de corpos – e o Luisão até está pela frente do Ricardo – haja qualquer contacto sem interferência no lance. Importante é dizer-se que, à excepção de dois/três, os jogadores do Sporting deram-me os parabéns. E o mesmo fizeram dirigentes do Sporting, como o senhor Manolo Vidal, por todos reconhecido como um desportista de eleição, que me disse que a dúvida que tivera no campo fora esclarecida na televisão.
RECORD – O que sente quando ouve dizer que a arbitragem regrediu?
PAULO PARATY – A arbitragem continua a evoluir, continua a crescer. Fui colega de alguns árbitros que já abandonaram e hoje sinto que faço parte de um grande grupo. O plantel de árbitros da SuperLiga é um plantel muito forte, com gente muito boa, com uma capacidade de sacrifício e de aprendizagem fora de vulgar, que não encontro noutras áreas da vida onde caminho. Há, naturalmente, competição entre nós, mas se calhar é por reconhecermos nos outros adversários valorosos que somos tão fortes. Repare neste pormenor: para todos os jogos em que participei, recebi sempre mensagens de grande incentivo do Duarte Gomes, que foi meu concorrente neste prémio quase até ao último minuto. E isto aconteceu mesmo quando ele estava impossibilitado de atacar a minha liderança, após ter sido operado. No final, com todas as contas fechadas, o Duarte Gomes mandou-me por SMS esta mensagem que guardo: "Ao Apito de Ouro do Record o meu grande abraço, fizeste uma época brilhante e mereces tudo do melhor, vergo-me à tua superioridade." Para a vitória neste prémio foi também fundamental a colaboração dos cerca de 30 árbitros assistentes que fizeram equipa comigo.
In Record(ATCHIM)