terça-feira, março 13, 2007

Crónica 21ª Jornada - Resolvido à Bomba!

De certeza que todos acharam um deleite assistir à primeira parte do Benfica. Jogo defensivo irrepreensível – apesar de grande, recorrente e preocupante atrapalhação nos pontapés de canto –, rápida e imponente circulação de bola, muito emprenho, velocidade de execução e múltiplas oportunidades de golo. Foi mais um grande primeiro tempo do Benfica na Luz, situação claramente impulsionada pelo público presente que, numa 2ª feira às 19h45, se fez sentir sempre em grande força.

Quem recorda, ou já reviu, assistências passadas sente, claramente, como tem sido importante o factor casa neste Benfica 2006/07. E perante um adversário bastante complicado e que possui uma boa equipa, seria importante abordar o jogo de forma decidida. Todos sabemos que não há margem de manobra e é imperativo vencer todos os jogos até ao final do Campeonato, tarefa que é extremamente difícil – e dificultada por factores extra, que todos nós conhecemos há muitos anos.

Como se sabe, tenho um especial carinho pela União de Leiria pelo que este ano, apesar de óptimos resultados, tem-me sido particularmente difícil gerir toda a sua associação ao FC Porto e a situações menos lícitas que daí advém. Mas não se iludam, este tipo de situações não agrada à esmagadora maioria dos leirienses com quem confraternizo. Para além do Benfica, a União é a equipa que conheço melhor, e que vi jogar mais vezes. Fora do Magalhães Pessoa as coisas não têm corrido bem ultimamente, muitas das vezes por opções incompreensíveis de Domingos. Por isso, o Benfica teria uma tarefa facilitada se entrasse em jogo de forma imponente. Mas confesso que me incomodam os jogos à 2ªfeira, e depois de toda a gente ter jogado. Fico mais tranquilo quando é o Benfica a jogar primeiro, felizmente que tal acontece porque ainda há outra competição em disputa.

Trituradora encravou ao Intervalo

Embora o Benfica tenha entrado muito bem no jogo, o que é certo é que o golão de Simão Sabrosa, um dos melhores do Campeonato, embutiu a tranquilidade necessária para que a equipa continuasse a produzir bom futebol. E há que ter em conta que tanto os adeptos, como os jogadores, andam com o “Fantasma Boavista” na mente.
Ter-se-ia partido para a goleada caso Nuno Gomes tem finalizado para a baliza, após magnifico passe de Katsouranis. Também o grego poderia ter resolvido a contenda, numa bomba a que Fernando se opôs – ele que é um dos melhores guarda-redes da Liga.

Mas os últimos minutos antes do intervalo, sensivelmente 20 minutos depois da obra-prima do capitão, já indiciavam que havia alguma inquietação na equipa da casa. Inquietação essa que se viu muito nas bolas paradas, com sucessivas marcações falhadas a darem origem a espaços proibitivos. E esse comportamento não se explica só na vontade leiriense em dar a volta ao resultado…
Mesmo assim, é Nuno Gomes e Miccoli, após magnificas jogada individuais de Simão na direita, que se mostram mais perto de facturar. Mas a tal ansiedade, talvez devido à importância dos 3 pontos e já com o Paris SG à vista, confirmou-se num segundo tempo particularmente complicado, com a União a assumir as despesas de jogo embora criando poucas oportunidades visíveis.

A bem da verdade, em apenas um lance terá havido grande preocupação na Luz. O monumental falhanço de Quim, ao blocar uma bola, deu origem a melhor oportunidade de golo da União de Leiria. N’Gal, um dos melhores em campo, não conseguiu encostar para golo mas daí resultou a lesão de Quim. Mesmo com o regresso do grande Moreira, é uma lesão preocupante porque o #12 tem estado magnífico nessa época!
Depois surgiram os lamentáveis sururus, originados por uma atitude reprovável de Harison, que não “obedeceu” à lei do fair-play. Apenas com a “bomba” de Petit nos conseguimos aperceber que a vitória não fugiria… e sofrer até ao fim não é nada aconselhável!

A Noite de Sonho de David Luiz

A nível individual há que destacar a fabulosa exibição de um miúdo com 19 anos que, com tranquilidade e acompanhamento, tem potencial para altos voos.
A 2ª parte de David Luiz em Paris já tinha deixado boa impressão, mas frente à União de Leiria o jovem brasileiro deslumbrou a plateia. Espectacularmente bem colocado e expedito a tentar o desarme, tem, ainda, a capacidade para sair a jogar com tranquilidade.
O público da Luz também teve influência na forma como o #23 jogou, dando-lhe os incentivos necessários a que se sentisse, realmente, em casa. Palmas para o público!
Como ponto negativo que tem de corrigir, e que é um pouco semelhante no seu colega Anderson – que esteve bastante melhor que noutros jogos mas, ainda, sem deslumbrar –, é a forma como alivia as bolas. Como tem grande capacidade técnica, não é aceitável que o faça para o centro do terreno… podendo dar origem a lances perigosos!

A destacar, ainda, os homens dos golos que mesmo sem marcarem teriam nota muito positiva. Simão e Petit, para além dos fabulosos golos, mostraram tudo aquilo que os fez ídolos dos benfiquistas. O #20 esteve espectacular em tudo o que se refere ao ataque, o #6 no outro lado do campo. Há que dizer que o capitão já é o melhor marcador do Campeonato, só quem não percebe nada de futebol poderá dizer que Simão não é um fabuloso jogador!
É impossível não mencionar Karagounis, que tem deslumbrado com os seus passes teleguiados e apontamentos técnicos de índole individual – aquela rotação à Zidane sobre Laranjeiro é colossal. Mais um grande jogo do grego, a assumir-se definitivamente como uma peça chave na equipa.

Nuno Gomes esteve muito perdulário mas bem mexido e activo, Katsouranis falhou alguns passes mas executou outros de forma brilhante e Miccoli continua, infelizmente, muito colado à esquerda. Se for opção do italiano é incompreensível, e tem de ser corrigida for Fernando Santos, se for opção do treinador é mais uma grande nabice.
Nélson, para além de novo penteado, voltou a ser o pior jogador do Benfica em campo, com um sem número de patéticas opções de ataque e medíocres marcações na defesa. O que me tem vindo a surpreender são os maus jogos de Léo, uma situação preocupante e já recorrente há pelo menos um mês. O que se passa com este pequeno grande jogador?


Errar a quanto obrigas

Não tenho qualquer respeito pela figura de Paulo Pereira, tal como não tenho por nenhum dos seus colegas que também são arguidos no processo Apito Dourado. Acho incrível, aliás, como é possível os árbitros indiciados por corrupção continuarem a apitar jogos em Portugal. Isto não acontece em mais nenhum país civilizado! Mesmo no Brasil, que é considerado terceiro-mundista, há punições severas para quem é suspeito deste tipo de comportamentos.
A sua actuação é bastante enervante para o público no Estádio mas, na verdade, o árbitro de Viana do Castelo só está envolvido em dois casos de possível equívoco grave onde, na minha opinião, errou nos dois. Há uma falta de Éder sobre Simão, na primeira parte, onde teria de ser assinalado penalty. O lance é de difícil análise – muito parecido com o de Raul Meireles frente ao Braga mas neste caso dentro da área – mas o “puxão” existe e teria de ser assinalado.

O outro lance é a “bolada” de Katsouranis na cara de Harison. Quando faço estas análises de arbitragem não me refugio em outras ilegalidades de outros clubes para fugir à realidade. Sim, é verdade que Caneira teria de ter isto o vermelho por dar uma estalada em Ricardo Fernandes, Bruno Alves teria de sair de campo depois da patada que deu em Setúbal, Quaresma e Lucho teriam de ser expulsos devido ao pisão à Vítor Vinha que fizeram em Luís Filipe e Hélder Barbosa, Pepe teria de ter sido expulso em Leiria por ameaçar o árbitro e também teria de ter sido punido por cuspir num apanha-bolas… mas também acho que Katsouranis teria de ver o vermelho no lance com Harison. A gravidade do que fez não é comparável aos outros casos que descrevi – e há muitos outros, igualmente graves – mas é uma atitude feia e reprovável, mesmo que seja de revolta em resposta à falta de fair-play do brasileiro. Não gosto de ver este tipo de coisas em jogadores do Benfica!

Faltou um amarelo aqui ou ali, nomeadamente a Karagounis, a Harison e a Paulo Gomes mas são erros sem influência no resultado. Magnifico trabalho dos árbitros auxiliares, depois de um primeiro tempo onde todos os foras-de-jogo foram bem assinalados – e alguns bem difíceis. O trabalho só sai um pouco manchado numa jogada em que é levantada a bandeirola mas onde Fabrizio Miccoli está em jogo, e segue para a baliza. O lance não teria seguimento porque Fernando se antecipou, e é de difícil análise porque há outro jogador em posição irregular, mas fica o reparo.

Monday Night Football…

Há que dizer que não são as vitórias ou as derrotas que mudam a minha opinião acerca do que possa estar errado no comando técnico do Benfica. Aliás, seria bem mais fácil dissertar sobre Fernando Santos se a União tem empatado, felizmente tal não sucedeu. Talvez pareça presunção ou perseguição mas os mesmos erros continuam a ser cometidos e tanto tempo a sofrer, com malta no banco a querer entrar, e alguns titulares a arrastarem-se, não pode merecer elogios. Não pode, é ridículo o treinador não fazer as três alterações e depois queixar-se que há muito cansaço. E se isso tivesse acontecido só hoje… uma vergonha!
Elogio a aposta, infelizmente tardia, em David Luiz e a recolocação de Nuno Gomes no ataque. Acho que são opções mais ou menos óbvias mas perfeitamente correctas, do meu ponto de vista.

Nunca disse que não há mérito no treinador na forma como a equipa joga, quando joga bem, e também compreendo que as minhas convicções não sejam aceites por muitos benfiquistas. Mas não abdico delas, e não se moldam ou retraem facilmente. Um treinador para ter o meu apoio incondicional não pode cometer disparates atrás de disparates, alguns deles que já nos custaram duas competições. Sou sempre a favor do Benfica, é precisamente por isso que coloco o trabalho de Fernando Santos em causa, quando esse é mal feito. E falo-ei sempre que se justificar!
Miguelito, Paulo Jorge, David Luiz, João Coimbra e até Mantorras têm qualidade para jogar mais do que um minuto por jogo. Têm qualidade para ser opções válidas que permitam apostas regulares, principalmente na Luz. E isso, meus caros, ninguém consegue explicar, porque é inexplicável.

Depois de uma vitória é quase impossível colocar alguém a falar nisto, e talvez até pareça forçado entrar neste tipo de quezílias, mas pensem um bocadinho como se está a minar um plantel ao não dar rimo nem tranquilidade a jogadores que poderiam ser úteis, e ao não precaver situações complicadas com aqueles que têm titularidades indiscutíveis.
Depois de um grande jogo em Paris, João Coimbra não jogou um único minuto, estando preparado para entrar duas vezes. Mas Fernando Santos só faz duas alterações na equipa, e uma delas forçada… não havia ninguém cansado, nem em risco de suspensão?
Parece um fait-diver vendo o resultado, mas não é. Eu fico-me pelas minhas convicções, sem qualquer tipo de subterfúgio. Veremos como vão decorrer os próximos 4/5 jogos, aí se decidirá o que irá sair desta época.
O que é mais importante, no momento, é apoiar a equipa na Luz de forma incondicional. Juntamente com outros factores, esse apoio será fundamental nas pretensões da equipa.

NDR: Não sei se tiveram a oportunidade de acompanhar o Prós & Contras da RTP, logo a seguir a este jogo mas foi interessante, entre outras coisas, ver o massacre que Octávio Machado deu em Rui Santos e a atrapalhação de Miguel Ribeiro Telles quando lhe perguntaram se Rui Meireles ia, ou não, sair do Sporting. Mas o mais incrível foi constatar que se discutia Arbitragem e Corrupção mas, em nenhuma circunstância que eu tenha visto, foi lançado o nome de Pinto da Costa – que foi ouvido pela PJ mais uma vez, e sem directos – ou do FC Porto.
Curioso ainda, tendo em conta o tema do programa, que o FC Porto foi o único clube, dos 3 mais expressivos, a não estar representado. Porque será?

E ó N’Gal, que cabelo é esse, pá?

Podem ver o resumo do jogo aqui. Como sempre, o vídeo é a bS7.

Ficha de Jogo:

21ª Jornada da Liga BWin

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Paulo Pereira (Viana do Castelo)

SL BENFICA – Quim (Moreira, 72 m); Nélson, David Luiz, Anderson e Léo; Petit; Katsouranis, Simão e Karagounis; Nuno Gomes e Fabrizio Miccoli (Derlei, 76 m).

UNIÃO LEIRIA – Fernando; Éder, Marcos António, Eliézio e Laranjeiro; Harison, Paulo Gomes e Marco Soares (Ivanildo, 75 m); Paulo César (Paulo Machado, 59 m), Touré (Slusarski, 67 m) e N’Gal.

Disciplina: Amarelos a Touré (31 m), Harison (70 m), Kastouranis (81 m) e Moreira (83 m).

Golos: 1-0, Simão (16 m); 2-0, Petit (86 m).

#Fotos: AFP-Getty Images, Site Oficial e SerBenfiquista

#adicionado a Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o Encarnados