Desde que se soube, através da Polícia Judiciária, que já se compraram jogos entre o Benfica e o Nacional, que tenho algum receio destas deslocações à Madeira. Não me podem censurar por isso, este tipo de coisas dá a volta à cabeça de qualquer pessoa honesta. Mediante este pensamento, porque é que os benfiquistas insistem em seguir, religiosamente, a Liga Bwin? Porque é que, neste escândalo sem precedentes, a resposta ao compadrio da Liga de Clubes se resume a estádios cheios e uma fé inabalável? Incompreensível? Talvez não. A paixão dos benfiquistas, pelo seu clube, está cima da revolta sentida pela não-acção das entidades competentes. Pelo menos, até hoje.
O confronto com o Nacional, da 3ª jornada, detinha, não só, uma importância fulcral na recuperação do Benfica na tabela mas, também e essencialmente, na criação de uma aura em redor da equipa. Seria necessário corresponder a expectativa da entrada de Camacho, em pontos concretos na tabela classificativa. Ora, isso foi algo que não aconteceu frente ao Guimarães e que deu azo a que, já tão cedo, algumas vozes discordantes se manifestassem. Não ganhar na Madeira só faria com que tudo continuasse a ser posto em causa, situação que teria reflexo no trabalho da actual equipa técnica. É óbvio que o trabalho de Camacho vai ser duro, já que há que provar competência em todos os jogos. Começar atrás, e já com o comboio em andamento, tem destes inconvenientes!
Ao contrário da era Fernando Santos, o Benfica entrou bastante bem no jogo: a dominar, a atacar, à procura do golo. Logo aos 3 minutos, numa soberba jogada individual de Di Maria, Cardozo está perto de inaugurar o marcador mas não dá bem na bola e Benaglio afasta o perigo. As ganas eram mais visiveis em Di Maria que, aos 17 minutos, obriga o keeper suiço a uma grande defesa, num remate na sequência de um livre encostado à direita do ataque encarnado. O mesmo Benaglio, que tinha entrado muito bem, borra a pntura e entrega o ouro ao bandido, leia-se Cardozo, num pontapé de baliza. O paraguaio faz o que lhe compete e inaugura o marcador (18 m). Após o golo, o Benfica ficou algo expectante e o Nacional aproveitou para assumir o jogo, ainda que tenha criado pouco perigo. O lance mais evidente é um grande estoiro de Fellype Gabriel, após um erro nada normal de Petit, que Quim defende de forma brilhante. Nuno Gomes ainda teve a oportunidade para aumentar o score mas a execução de um chapéu sai deficiente.
O dominio avassalador do Benfica, na 2ª parte, não deu em grande goleada porque Diego Benaglio apareceu em bom plano, a evitar alguns lances de golo eminente. Primeiro foi Nuno Gomes que, após centro de Di Maria, falhou um remate de ângulo muito difícil (54 m). Di Maria voltou a estar em grande plano ao arranjar um buraco para meter a bola na cabeça de Nuno Gomes... salto de peixe escandalosamente ao lado (58 m). De novo o argentino, a fazer o um-dois com remate de Maxi Pereira, e só Benaglio salva o golo (61 m). Quim esteve bem nalguns socos a bolas altas e isso, também, foi importante. Camacho mexe na equipa e tira o desinspirado Nuno Gomes, optando por permitir a estreia do uruguaio Rodriguez. Pouco tempo depois, Rui Costa decide a partida – ele que até estava discreto – num remate após um slalom soberbo. Um lance que só está ao alcance dos génios! O 0-2, da autoria do Maestro (69 m), dá justiça e é o prémio mais que merecido para a boa exibição da equipa. O terceiro golo – factura Cardozo num penalty óbvio sobre Maxi Pereira –, é apenas um proforme (77 m). Benaglio ainda evita a goleada, a remates de Maxi e Di Maria (78 e 81 m). Cardozo até falha a recarga na sequência do lance do jovem argentino.
A nível individual há muito para falar. Não há que esconder o excelente momento por que passa Quim. O internacional português, bem ao seu estilo, tem socado tudo o que mexe e já não sofre golos há 3 jogos. E em todos eles assumiu preoponderância vital na defesa das redes. Mais um grande jogo de Petit e de Katsouranis, um pouco ao estilo de Copenhaga. Mas o melhor em campo foi, mesmo, Angel Di Maria. O puto é um cracalhão, daqueles que não enganam! Para além do soberbo drible curto, o que mais impressiona é a forma como não tem medo de partir para o choque, de procurar a decisão, de levar a equipa para o ataque. Há que ter paciência com o argentino, porque está aqui um diamante por lapidar. O outro puto, Miguel Vitor, não esteve ao nível das anteriores exibições. É preciso um “professor” que lhe ensine a não fazer aquelas entradas durinhas. Só fez uma falta mas foi muito perigosa.
A Imprensa falou pouco em Léo, mas o brasileiro fez um grande jogo. A defender roçou a perfeição – com vários cortes impecáveis –, e no ataque teve várias arrancadas de meter respeito, principalmente na 1ª parte. Faz uma dupla espectacular com Di Maria. Há que destacar, ainda, a fabulosa obra-prima de Rui Costa – numa exibição a roçar apenas o razoável, devido à grande quantidade de passes falhados –, e o primeiro bis de “Tacuara” Cardozo. O paraguaio precisava de um golo, ainda bem que o conseguiu no jogo mais discreto que fez pelo clube. Bastante positiva a estreia de Maxi Pereira, com uma 2ª parte carregada de excelentes diagonais. Menos bem o seu compatriota Rodriguez, mas ainda vimos muito pouco.
O problema mais grave que Luís Filipe tem apresentado é a macieza excessiva, um pouco ao estilo de Nélson. Dá o espaço todo ao extremo, muitas vezes até vira as costas à bola e ao adversário, não sabendo ocupar a posição certa. A típica “barata tonta” que deixa buracos enormes e faz inúmeras faltas! Foi assim que o Nacional criou perigo, e muitas vezes. Ofensivamente já sabíamos que é zero, mas a defender assim tão mal não calça quando Nélson estiver em condições. É verdade que não foi a calamidade de outras partidas, hoje foi só... mau. Nuno Gomes voltou às exibições desastrosas. É pena, parecia que ia dar seguimento à excelente performance na Dinamarca.
A nível técnico não há nada a dizer da arbitragem de Bruno Paixão. O penalty cometido por Benaglio é indiscutível, e a esmagadora maioria das faltas perigosas foram assinaladas. Não houve, portanto, influência no resultado – ao contrário dos dois jogos anteriores, onde houve dois penaltys não assinalados a favor do Benfica. A nível disciplinar terá faltado um cartão amarelo, por uma mão na bola de Katsouranis. O grego também é protagonista de um lance caricato, em que tenta, por gestos, mostrar ao árbitro o que um madeirense lhe terá feito na jogada anterior. Na realidade, o #8 tem razão, já que foi empurrado na área do Benfica, o que possibilitou uma jogada perigosa ao adversário. Bruno Paixão entendeu que aquilo não era forma de protestar e puniu-o, efectivamente bem, com um cartão amarelo. Ridículo terá sido o cartão mostrado a Romeu Ribeiro, numa falta tardia, duvidosa e sem qualquer maldade. Magnifico trabalho dos árbitros auxiliares, num jogo com um elevado número de foras-de-jogo.
Exibição segura da equipa de Camacho, numa vitória indiscutível. A paragem da Liga BWin, para compromissos importantissimos da Selecção Portuguesa, deverá beneficiar o Benfica. Digo isto porque, recentemente, chegaram vários reforços e esses jogadores têm pouco tempo de adaptação ao clube, aos colegas, e ao treinador. Há 15 dias para criar rotinas entre as inúmeras caras novas que não têm compromissos internacionais. Rotinas, essas, que poderão revelar-se fundamentais para o futuro da equipa. Há, portanto, muito trabalho para fazer antes da recepção à Naval 1º Maio. Ganhar o próximo jogo continua a ser fundamental. Vital, mesmo! Estás melhor, Benfica!
NDR: Porque raio insistem em deixar a locução a execreáveis como Rui Pedro Rocha? Não há mais ninguém na SporTV, um que não seja um lagartão? E é assim tão importante poupar na deslocação de um 2º comentador, que lhe abra a pestana de vez em quando? A Madeira é longe, mas os assinantes da SportTV não pagam pouco. Para levar o João Rosado mais vale ficar quieto.
Amigos do PAOK, Boa Sorte. Vão precisar!
Podem ver o resumo do jogo aqui. É o regresso do Xander à produção de vídeos (usem o Quicktime ou Media Player Classic).
Ficha do Jogo:
Estádio da Madeira, no Funchal
Árbitro: Bruno Paixão (AF Setúbal)
NACIONAL MADEIRA: Diego Benaglio; Patacas, Ávalos, Ricardo Fernandes e Alonso; Cléber, Bruno Amaro (José Vítor, ao int.), Fellype Gabriel e Juliano Spadacio; Edu Sales (Cássio, ao int.) e Lipatin (Ricardo Pateiro, 73 m).
SL BENFICA: Quim; Luís Filipe, Miguel Vítor, Katsouranis e Léo; Maxi Pereira, Petit, Rui Costa e Di Maria (Romeu Ribeiro, 83 m); Nuno Gomes (Cristian Rodriguez, 64 m) e Óscar Cardozo.
Disciplina: Amarelos a Cléber (25 m), Miguel Vítor (59 m), Katsouranis (65 m), Diego (76 m) e Romeu Ribeiro (90+2 m).
Golos: 0-1, Óscar Cardozo (17 m); 0-2, Rui Costa (69 m); 0-3, Óscar Cardozo (76 m, de g. p.).
#Fotos: Site Oficial e SerBenfiquista