quarta-feira, setembro 19, 2007

Crónica Fase Grupos Liga Campeões - "Pitch Black!"

A conclusão que, facilmente, podemos retirar deste jogo é que Benfica, e Milan, são duas equipas de Mundos totalmente diferentes. E ainda mais visível tal se demonstrou pelo facto de três jogadores fundamentais estarem ausentes das opções de Camacho: Petit, Luisão e David Luiz. É um Mundo que, do lado dos Encarnados, só Rui Costa conhece. E Rui Costa é muito bom, mas não é milagreiro! O Maestro é apenas um jogador, entre 11 atletas. Indiscutível é o facto do potencial deste Benfica 2007/08 ser bem inferior ao Benfica de Simão, Miccoli, Karagounis e... Manuel Fernandes. Imagine-se o que significaria uma equipa com estes craques todos disponíveis! Impossível devido a questões orçamentais, dirão os mais cépticos. Mas será que era assim tão complicado concretizar?

Camacho optou por fazer uma alteração de vulto, opção que é discutível, ao mandar entrar o jovem Miguel Vítor para o lugar de Katsouranis, tendo este coberto o lugar do lesionado Petit. A opção mais óbvia teria sido a manutenção da dupla de centrais que enfrentou a Naval, fazendo entrar um outro jogador para a posição #6. O espanhol não quis arriscar a inexperiência de Romeu Ribeiro ou a adaptação de Maxi Pereira e, pelo 3º jogo consecutivo, modificou o centro da defesa. O que é certo é que a inexperiência dos dois jovens, Edcarlos e Miguel Vítor, acabou por ter carácter decisivo no decorrer do jogo e, sem Petit, o meio campo nunca teve a acutilância necessária para deter as investidas do Milan. Assim se vê a extrema utilidade do actual #6 do Benfica!

Não há a necessidade de discutir a eventualidade do resultado ter sido inadequado à realidade do jogo, pois é mais que óbvio que assim aconteceu. Curiosamente, o Benfica até entrou bastante bem no jogo e conseguiu equilibrar os acontecimentos nos primeiros 5 minutos, até tendo conseguido ganhar um canto. Mas numa falta escusada de Katsouranis, à entrada da área e descaído para a esquerda, Pirlo inaugura ao marcador através de um remate fantástico (9 m). Quim está, aparentemente, mal colocado e chega tarde à marcação do livre. Aí o cariz do jogo mudou completamente. O Benfica sentiu imenso o golo e sucederam-se as oportunidades para os italianos. Inzaghi, por duas vezes, e Ambrosini só são impedidos por grandes defesas de Quim (14 m e 16 m; 21 m). A resposta do Benfica acontece logo de seguida, com Rui Costa a galgar 30 metros e a estoirar à figura de Dida (22 m). No lance seguinte, Cardozo, depois de um excelente cruzamento de Di Maria, cabeceia ao poste num falhanço inacreditável (23 m).

A resposta é madrasta para o Benfica pois, no lance imediatamente a seguir, o Milan sentenceia o jogo e faz o 2-0 num contra-ataque fabuloso, construído por Pirlo e finalizado, de primeira, pelo genial Inzaghi (24 m). A partir daí só deu Milan até ao intervalo, e o 3-0 esteve bem perto. Os ataques do Benfica resumiam-se aos lançamentos de Rui Costa para Cardozo, mas o paraguaio ou fazia falta ou era apanhado em fora-de-jogo. No único lance onde isso não aconteceu, o paraguaio, isolado frente a Dida, atira forte de pé direito mas à figura do brasileiro (33 m). A partir do 2-0, o jogo esteve sempre controlado pelo Milan e a 2ª parte revelou-se um passeio para os Campeões Europeus. O 3-0 esteve sempre mais próximo que o 2-1, e até acabou por ser fortuita a forma como este foi conseguido, já no final do tempo de descontos. Inzaghi (60 m, 66 m, 67 m, 77 m,) e Kaká (54 m, 83 m) – o melhor do Mundo da actualidade –, foram os mais perdulários pois, numa boa noite da equipa da casa, o Benfica teria saído de saco cheio. A noite foi negra como o breu, e o resultado até acabou por ser bem lisonjeiro. A ida a San Siro valeu pelo momento proporcionado a Rui Costa!

A nível individual pouco há a acrescentar de positivo. Referência óbvia para a classe imaculada de Rui Costa, que terá sido o melhor jogador do Benfica, e ainda para a excelente performance de Quim. Apesar de parecer mal batido no 1º golo, o guarda-redes português continua a mostrar a sua boa forma e fez um punhado de grandes defesas, principalmente aos pés de Pippo Inzaghi. Estreia corajosa de Gilles Binya, com bons bons pormenores, deixando a ideia que é um talento a explorar. Que a tendência goleadora de Nuno Gomes seja para manter, e que apareçam os golos quando estes forem mesmo necessários. Mantendo a táctica, o português não ganhará o lugar a Óscar Cardozo, mesmo com o paraguaio a ter dois falhanços... à Nuno Gomes. De Luís Filipe já fui dizendo tudo ao longo desta época, a minha visão é a mesma já há muitos anos. É, na minha opinião, um dos piores laterais da História recente do Benfica. Falhou tudo em San Siro; a marcação, os passes, os cruzamentos, o tempo de corte, o posicionamento e até a postura. Mais uma vez é o pior elemento da equipa, onde não tem classe para actuar.

Nada de relevante a assinalar da arbitragem, num jogo sem casos. O lance do golo do Benfica tem legalidade duvidosa, mesmo com as repetições não há certezas, mas o que é certo é que não contou para, rigorosamente, nada. Mike Riley poderá ter falhado num ou outro lance mas nada que mereça queixas de um lado ou do outro. Excelente trabalho dos árbitros auxiliares.

Não o costumo fazer, e talvez nem o repita, mas analisando a prestação das restantes equipas portuguesas, na Liga dos Campeões, até poderemos dizer que o Benfica, em potencial, alcançou o melhor resultado. Averbou uma derrota, obviamente, mas já deixou para trás a pior deslocação, num confronto com o adversário que deverá conquistar o 1º lugar do grupo. Não vou escamotear o importante ponto conquistado pelo FC Porto – com a natural e vergonhosa ajudinha do árbitro, ao perdoar um penalty óbvio sobre Kuyt e expulsando Jermaine Pennant de forma muito discutível –, mas o que é certo é que foi alcançado em terreno caseiro... tal como a derrota do Sporting. Curiosamente, estes dois resultados aconteceram frente a equipas derrotadas pelo Benfica há duas épocas – o Liverpool por duas vezes e quando defendia o título. Decerto que, agora, já não são as piores formações da sua respectiva história, como, se bem nos recordamos, foi dito nessa altura.

NDR: Em dois jogos pudemos assistir a duas situações verdadeiramente fantásticas, envolvendo Rui Manuel César Costa. Da primeira já tinha falado na crónica anterior – a tal fabulosa união com o público da Luz – mas vale a pena evidenciar que quase 40 mil pessoas, em pleno San Siro, aplaudiram Rui Costa, aquando da sua substituição. Não é todos os dias que vemos uma ovação, feita no estrangeiro, a um jogador português. Pois, Rui Costa não é um jogador qualquer. É um jogador que é massivamente idolatrado nos 3 clubes onde jogou na sua carreira sénior: Benfica, Fiorentina e Milan. Nem todos os profissionais podem gabar-se de fazer História em todos os sítios por onde passaram, e muito menos de lá continuarem a ser acarinhados! Uma palavra também para Camacho, que teve a sensibilidade de lhe proporcionar este momento fantástico.

Podem ver o resumo do jogo aqui. Mais uma obra-prima da bS7.

Ficha do Jogo:

1ª Jornada da Fase de Grupos da Champions League

Stadio Giuseppe Meazza, em Milão

Árbitro: Mike Riley (Inglaterra)

AC MILAN: Dida; Massimo Oddo (Bonera, 80 m), Alessandro Nesta, Kaladze e Jankulowski; Gattuso, Andrea Pirlo e Ambrosini; Seedorf (Emerson, 74 m) e Kaká; Filippo Inzaghi (Gilardino, 83 m).

SL BENFICA: Quim; Luís Filipe; Edcarlos, Miguel Vítor (Gilles, 72 m) e Léo; Di Maria, Maxi Pereira, Katsouranis, Rui Costa (Nuno Assis, 87 m) e Cristian Rodriguez; Óscar Cardozo (Nuno Gomes, 62 m).

Disciplina: Amarelos a Cardozo (60 m) e Inzaghi (66 m).

Golos: 1-0, Pirlo (8 m); 2-0, Inzaghi (23 m); 2-1, Nuno Gomes (90+2).

#Fotos: AFP-Getty Images e Reuters

#adicionado a Crónicas 07/08

#publicado em simultâneo com o Encarnados