domingo, abril 02, 2006

Crónica 29ª Jornada - Show Miccoli... valeu a um desastrado Koeman!


Jogo no Restelo com emoções repartidas. Se por um lado a cabeça de muitos já está no fantástico embate contra o Barcelona para a 2ª mão dos 4ºs de Final da Liga dos Campeões – não é para quem quer, é só para quem pode! – afigurava-se importante que a atitude dos jogadores não espelhasse, pelo menos não em demasia porque alguma coisa é sempre inevitável, esse pensamento dos adeptos.

Na memória de todos ainda estava a hecatombe da época passada – uns cruéis 4-1 – a que foi vergada uma medíocre equipa do Benfica recheada de lesões – como centrais jogaram os paupérrimos Argel e Amoreirinha!

O Belenenses é um clube do qual nunca gostei. Não só pelo facto de na minha juventude sofrer muito com alguns desaires naquele campo – Giovanella, Wilson, Rui Esteves, Lula e Marcão deram o mote nas derrotas – mas também porque é um clube conotado como originário do fascismo de Américo Tomás e Salazar – para além de outras individualidades da Marinha Portuguesa de então. Perdoem-me os caros adeptos belenenses que estão a ler este texto mas como democrata e socialista que sou, detesto esses valores. Há ainda a clara ideia de subserviência ao FC Porto – sempre grandes goleadas – e o grande ódio que, inexplicavelmente, os seus adeptos têm ao Benfica.

Por tudo isso o Belenenses foi sempre, e continua a ser, a minha primeira escolha para a despromoção à 2ª Liga. Não fazem cá falta nenhuma! Que o acompanhem Penafiel – já está certinho, Vitória de Guimarães e Rio Ave.


Ronald Koeman fez 3 alterações na equipa principal em relação ao jogo com o Barcelona. Regressaram ao 11: Karagounis no lugar de Laurent Robert, Nuno Gomes no lugar do castigado Manuel Fernandes – mais avançado, obviamente – e Miccoli para ao lugar de Geovanni.

Aqui está o primeiro grande e grave erro de Koeman. Sem um flanqueador do lado esquerdo a equipa ficou coxa com a adaptação de Karagounis. O grego raramente ficou na linha e fugiu sempre para o meio-campo ficando o seu lado completamente livre de marcação – com Léo a fazer o trabalho dos dois. Não se percebe esta adaptação ainda por cima pelo facto de não ter convocado Karyaka. Simão no lado direito poderia ter dado ainda pior resultado. Felizmente que a entrada de Manduca resolveu a ausência na ala esquerda, apesar de o brasileiro ter estado apagado.

Koeman foi, aliás, um sério causador de irritação neste jogo, pelo menos para mim. Se a constituição do 11 foi enervante o recorrer da partida foi revoltante.


O início de jogo do Benfica foi óptimo! Com grande velocidade, controlo de bola em ataque continuado tendo-se inclusivamente criado algumas oportunidades de golo. No 1º remate perigoso, o Belenenses faz o golo “sem saber ler nem escrever” aproveitando uma perda de bola infantil de Karagounis – um princípio de jogo desastrado do grego.

A reacção foi demolidora muito por “culpa” de Miccoli e Simão. A preocupante lesão de Nuno Gomes “ajudou” à reestruturação da equipa sendo Karagounis recolocado no meio e Manduca no lado esquerdo. O golo de Miccoli acabou por surgir após alguns lances perigosos numa altura em que o controlo de jogo era totalmente do Benfica.

Mas a equipa queria mais e continuou a lutar em busca da vitória. Prémio para essa luta foi o 1-2 da autoria de Karagounis. Embora feliz, o remate vitorioso é um justo prémio para o que o #10 tem feito no SLB! Ao intervalo o resultado era inteiramente merecido numa excelente primeira parte de futebol.


Chegou a 2ª parte e o que toda a gente esperava – menos os patetas da TVI – chegou: um claro adormecimento do Benfica tentando poupar esforços para Barcelona.
Koeman não viu que Beto já tinha um amarelo – não foi expulso por milagre – e se encontrava esgotado – durou uns 60/65 minutos – então tirou… Karagounis. Nesse momento o controlo de bola a meio campo perdeu-se por completo abdicando o Benfica de controlar o jogo.

Se já não bastava esse erro e quando a equipa sentia grandes dificuldades para segurar o meio-campo – Beto já tinha estoirado há muito tempo e quase nem corria – o treinador demora uma eternidade a colocar em campo o 3º homem. Koeman tem sérias dificuldades em entender que há 3 substituições no futebol e quando é para as fazer não é preciso serem quase nos descontos. Mais um homem no meio-campo era fundamental e Mantorras não é para jogar só 5 minutos!

Ataque continuado do Belenenses com alguns calafrios e 3 ou 4 lances perigosos de contra-ataque por parte do Benfica foi o que se viu nos restantes minutos de jogo – poder-se-ia ter sentenciado a partida num remate à barra de Léo e num outro de Miccoli após cruzamento rasteiro de Manduca.

Vitória inteiramente justa da equipa que procurou vencer quando perdia e que defendeu bem a vantagem alcançada. De realçar a excelente reviravolta num campo com alguma dificuldade.

Destaco as exibições de Léo, Simão, Luisão e Fabrizio Miccoli como as melhores.


Mi, Mi, Miccoli! Exibição fantástica – mais uma – deste que é, para mim, o melhor jogador do Campeonato. Uma classe inigualável, uma velocidade estonteante e um sentido de baliza ímpar naquele que foi o melhor em campo. O golo que marcou é sinónimo do perfume que lhe vai nos pés: rodou num metro de terreno e com “isso” tirou o defesa do caminho para marcar – em arco – de forma espectacular. Fora esse lance fez assistências de elevado nível – para Nuno Gomes e Simão – e até já se nota algum temor dos defesas ao evitarem entrar “à queima”. Miccoli, o verdadeiro “Fabuloso”!

De Léo já todos sabemos que não sabe jogar mal. O “melhor jogador do mês de Março” fez uma partida ao nível a que já nos tem habituado com ataques rápidos e tranquilidade na defesa. Um verdadeiro esteio da equipa que, manifestamente, merecia aquele golo nos últimos minutos de jogo. A jogada é brilhante mas a barra negou-lhe essa pequena glória, Léo acima de todos os outros merecia-o.

Gostei imenso de Luisão, achei que fez uma extraordinária exibição. Seguríssimo ao secar Meyong, foram inúmeros os cortes efectuados – principalmente de cabeça – no duelo com o camaronês. Uma voz de comando que até deu para ralhar com Simão.

Mais um grande jogo do capitão. A par de Miccoli, Simão foi o jogador mais perigoso do Benfica com sucessivos lances em velocidade e muitas fintas ao adversário – algumas geniais. Falhou o golo por milímetros na jogada mais bonita de todo o encontro depois de um passe “açucarado” do #30 do Benfica. Está em grande forma e é decisivo mas tem de ser menos refilão.


Gostei ainda de Beto e de Ricardo Rocha.
O brasileiro do Benfica fez uma excelente partida até deixar de ter níveis físicos decentes. Assistiu Miccoli para o primeiro golo – excelente jogada, diga-se – e teve ainda alguns lances de grande qualidade nomeadamente passes em abertura para as alas. Parece atravessar um grande momento e as pazes com os adeptos parecem feitas. Tem sido de uma utilidade extrema e se é assim não se pode pedir muito mais. Dou o braço a torcer, o Beto tem estado muito bem nos últimos jogos. Pelo que sempre lutou sem nunca desistir e contra tantas adversidades, ele merece ter sucesso neste clube.

Mais uma vez adaptado à lateral-direita, o central Ricardo Rocha esteve em bom plano. Um remate ao poste numa invulgar jogada atacante e muita tranquilidade no plano defensivo. Alguns cortes decisivos na hora “H” abrilhantaram ainda mais a sua exibição. Um verdadeiro “pau para toda a obra”, de uma polivalência indiscutível. E Scolari esteve no Restelo!

Apesar de maior tranquilidade em segurar as bolas bombeadas para a área, Moretto mais uma vez comprometeu a equipa parecendo mal batido – ainda toca na bola – no único golo do Belenenses. Zé Pedro chuta bem mas o guarda-redes atira-se muito tarde e parece não se esticar completamente. Pouco trabalho no resto do jogo mas a nódoa já lá estava.

Anderson foi, para mim, uma desilusão neste jogo. Muito complicativo, com algumas falhas de marcação e novamente muito faltoso em lances divididos pelo ar. Deixou fugir os avançados do Belenenses algumas vezes e só a azelhice alheia – de Paulo Sérgio e Meyong – não deu golos.



Quanto a Petit confesso que já o vi fazer melhores jogos. Algo alheado da partida e com algumas perdas de bola inéditas. Talvez o seu pior jogo desta época – pelo menos ultimamente foi, de certeza – mas com a habitual entrega e vontade de vencer. Ainda assim um grande estoiro que ia em direcção à baliza mas que foi tocado por um defesa.

Adaptado à esquerda, Karagounis só foi válido quando flectiu para o meio – vá se lá perceber o treinador! Estreou-se a marcar pelo Benfica num remate pleno de oportunidade mas antes já tinha tido algumas perdas de bola comprometedoras – uma delas até deu golo. Exibição globalmente positiva deixando a sensação que fez muita falta no resto do jogo.

Manduca foi zero! Para além de não ter produzido um lance digno de registo – tem um passe atrasado para Miccoli rematar mas coisa simples – ainda tem a displicência de cometer um penalty. Esteve em campo 75 minutos a mais, pois faltou a coragem para o tirar depois de já ter entrado em campo com o recorrer da partida.

O azar de Nuno Gomes veio numa altura em que estava, também, uma nulidade - apenas 15 minutos em campo. No lance em que se lesionou se tivesse chutado fácil, de primeira, ou pelo menos na mesma semana em que o passe foi feito, teria feito golo. As lágrimas na substituição comovem qualquer benfiquista, espero que volte em breve e que seja só um susto.

Geovanni entrou muito bem, muito ligeiro e rápido e fez uns 30 minutos muito bons. Por outro lado Mantorras entrou apenas para queimar tempo e acho que nem chegou a tocar na bola. Koemansices!


E agora a arbitragem. Polémica! Inexplicavelmente fraca! Esperava muito mais de Pedro Henriques que até considero o melhor árbitro português. A sua actuação foi sofrível e, não tenho pejo em admitir ao contrário de alguns que nunca o fazem, beneficiou o Benfica de forma clara. No entanto há que realçar que há erros em prejuízo de ambas as equipas e isso é visível para quem quer ver – volta, de certeza, a conversa do colinho misteriosamente escondida e envergonhada em tempos tão recentes.

Existem expulsões perdoadas, amarelos evitados e penaltys não assinalados. O Major perdoou a expulsão a Sandro Gaúcho por duas vezes, a Ruben Amorim e a Beto.

O vermelho a Sandro Gaúcho ficou no bolso quando o jogador do Belém entrou “a matar” sobre Nuno Gomes lesionando-o gravemente – Marco Tábuas fez o mesmo o ano passado num lance a papel químico. É verdade que há um toque na bola mas – a Moutinho em Alvalade contra o Paços de Ferreira aconteceu o mesmo – a entrada é, de tal forma, dura que não pode nem deve ser escamoteada. Penalty por assinalar a favor do Benfica!

A partir daí foi o descalabro total. Não sei se foi por tentativa de compensação ou não o que é certo é que os erros acumularam-se de forma assinalável. Na minha opinião há 2 penaltys a favor do Belenenses que não foram assinalados: o primeiro por entrada de Petit sobre Zé Pedro e o 2º por mão na bola de Manduca – a repetição é longe e pode haver algumas dúvidas se bate no ombro, mas parece falta.


Há ainda outra expulsão perdoada a Sandro Gaúcho – duplo amarelo – por falta duríssima sobre Geovanni, um duplo amarelo perdoado a Ruben Amorim e outro a Beto por falta sobre Meyong. Acrescento ainda uma entrada durissíma de Paulo Sérgio sobre Manduca que deveria ter dado cartão vermelho. Atenção: 4 expulsões perdoadas ao Belenenses!

O pretenso lance de penalty por falta de Luisão sobre Meyong é uma pura invenção. Há contacto mas legal e a haver falta, o que não acontece, é fora da área.

Actuação fraca também dos auxiliares não só pelo facto de terem responsabilidade ao não serem assinalados os penaltys já discutidos mas porque falharam algumas vezes na marcação do fora-de-jogo – a mais flagrante a terminar a partida numa assistência de Pelé para o cabeceamento por cima de Meyong com o defesa adiantado à defesa benfiquista mais de um metro.

Os benefícios de arbitragem quando já nada se pode conquistar são engraçados! Como já disse noutras crónicas, servem para tentar calar os benfiquistas e aumentar o volume dos “colinhos”. Que pena, Pedro Henriques!


Destaque também para a vergonha que foram os comentários ao jogo na TVI. Há muito tempo que toda a gente sabe que futebol neste patético canal de televisão é uma verdadeira comédia mas neste jogo passaram claramente do limite do tolerável para o insulto à inteligência do telespectador.

Não me queixo das vezes que gritaram penalty porque nalguns lances têm razão mas a diferença do relato em lances idênticos mas elaborados por equipas diferentes foi bem visível – eu bem tento ligar o rádio mas por vezes esqueço-me e até a curiosidade de ver a miséria que sai daquela gente é mais forte. A cada jogada à entrada da área do Benfica era Valdemar Duarte em orgasmos múltiplos, por outro lado os golos do Benfica foram relatados como se fosse feito um lançamento de linha lateral. Elogiou, inesgotavelmente, jogadores do Belenenses – Rui Jorge, Zé Pedro e principalmente Silas e Meyong mas faltou-lhe falar de forma clara naquele que foi o melhor em campo, Fabrizio Miccoli – não digo que não elogiasse os jogadores do Belenenses mas que, pelo menos, elogie dos dois lados.

Mas se os constantes “Aí vai o Belenenses, e o remaaaaaaaaaaaate!”, “Grande Belenenses!”, “Benfica muito mal, do 80 ao 8!” – umas 6 ou 7 vezes, “Belenenses, pode ser o golo eeeeeeeeeeeeeeeeeee….” são patéticos o que dizer da figurinha que se apresentou na flash-interview? Um tal de Pedro Neves de Sousa.
Tal foi a vontade de fazer alguém falar em penaltys que o levou a atrapalhar o Zé Pedro que até sofreu um e… não se “lembrava”. Foi um fartote de riso!

Nunca peço parcialidade mas sim isenção, futebol na TVI é a morte lenta do desporto-rei no nosso país. Ainda bem que há SportTV e que um jogo do Benfica nesse canal dos Circos, das Quintas e das Tropas é muito raro – curiosamente sempre fora de casa e em campos difíceis.


No que diz respeito às pretensões do Benfica parece-me que estes 3 pontos se afiguram de fundamental importância para assegurar o 3º lugar de forma concreta. O 2º lugar já me parece bastante difícil em virtude da boa forma do Sporting e pelo facto de só faltarem 5 jornadas – portanto, 15 pontos – para o fim do Campeonato. Resta ao Benfica segurar a sua posição, se possível subir mais um lugar, e fazer o máximo possível em Barcelona.

A lesão do Nuno Gomes é um grande revés, não para o jogo da Catalunha mas para o resto da Liga. Espero que não seja grave e que esteja apto para ir ao Mundial.
Na 4ª feira joga-se uma importante cartada no futuro do Benfica na Liga dos Campeões, um empate com golos garante a qualificação para as meias-finais da prova e eu acredito. Miccoli vai rebentar o Camp Nou!

Força Benfica!


NDR: O guarda-redes do Belenenses, Marco Aurélio, desta vez não foi substituído à última da hora – depois de 150 jogos a titular – por um desconhecido que não jogava para a Liga há mais de 2 anos! E não é que desta vez o Meyong jogou mais de 60 minutos e não foi surpreendentemente substituído quando era o melhor em campo! Será que a direcção do Benfica precisa de mandar “flores” para o Restelo sempre que lá vai jogar?

Ficha do Jogo:

29ª jornada da Liga Portuguesa

Estádio do Restelo, em Lisboa

Árbitro: Pedro Henriques (AF Lisboa)

CF BELENENSES - Marco Aurélio; Amaral, Rolando, Pelé e Rui Jorge (Djurdjevic, 84 m); Sandro (Dady, 74), Ruben Amorim, Zé Pedro e Fábio Januário (Paulo Sérgio, 45 m); Silas e Meyong.

SL BENFICA - Moretto; Ricardo Rocha, Luisão, Anderson e Léo; Petit e Beto; Simão, Karagounis (Geovanni, 60 m) e Nuno Gomes (Manduca, 18 m); Fabrizio Miccoli (Mantorras, 88 m).

Disciplina: Amarelos a Beto (27 m), Anderson (59 m), Petit (64 m), Ruben Amorim (69 m), Sandro Gaúcho (71 m) e Paulo Sérgio (73 m).

Golos: 1-0, Zé Pedro (8 m); 1-1, Miccoli (23 m); 1-2, Karagounis (30 m).

#publicado em simultâneo com os Encarnados