domingo, abril 01, 2007

Crónica 23ª Jornada - "Os Parolos [Animais] vieram à Cidade!"

A confiança dos adeptos era grande, o ambiente de estádio cheio era demolidor e as prestações em casa desta época – apenas uma derrota com o poderosíssimo Manchester United – davam ideia que seria muito difícil o Benfica não entrar na 24ª jornada na liderança, depois de uma recuperação de 10 pontos em 10 jogos. Mas num mau jogo de futebol, o Benfica perdeu a oportunidade de se adiantar no topo da Liga. O resultado acaba por ser justo em virtude de uma péssima 1ª parte do Benfica e de uma péssima 2ª parte do FC Porto. Mesmo assim houve melhor prestação do Benfica no 2º tempo do que aquela rubricada pelo adversário no período anterior ao intervalo. Portanto, a haver um real vencedor, só poderia ser a equipa da casa.

A semana foi preocupante em termos de desgaste dos atletas internacionais e face ao pouco tempo de treino de conjunto não houve, e bem, grandes alterações na equipa inicial. Fernando Santos terá escolhido o 11 mais forte que é possível apresentar, com a fundamental ausência de Luisão. E o #4 faz tanta falta neste Benfica 2006/07!
Sendo assim, surgiu o natural 4-4-2 losango com a escolha óbvia de um recuperado Quim para baliza, Léo e Nélson como laterais, sendo David Luiz e Anderson a dupla de centrais. No meio campo surgiu Petit como homem mais recuado, Katsouranis regressou de castigo e apresentou-se como interior-direito, Karagounis como interior-esquerdo e Simão no apoio aos avançados Nuno Gomes e Fabrizio Miccoli
No banco despontava grande poder de fogo, com Derlei, Mantorras e fundamentalmente, Rui Costa.

Dar de Avanço, Mais uma Vez

São já vários os jogos em que o Benfica não se apresenta homogéneo durante toda a partida, e mais uma vez a equipa protagonizou uma 1ª parte simplesmente má. Aliás, muito má, mesmo! A entrada do FC Porto foi personalizada e, aproveitando-se de um inexplicável temor, apatia e nervosismo do Benfica, conseguiu controlar o jogo durante 45 minutos. É possível que o desgaste da equipa durante esta época tenha contribuído para o surgimento de inúmeras dificuldades em assentar o seu jogo, e aí Fernando Santos tem todas as responsabilidades pelo facto de ainda não ter conseguido fazer uma gestão do plantel minimamente aceitável.

Os visitantes foram mais fortes, dominaram e construíram 2 lances de golo eminente onde se poderiam ter adiantado no marcador. Quim, de forma brilhante, evitou o golo de Adriano nessas duas situações mas acaba por ser mal batido na 3ª grande oportunidade de golo do FC Porto. É um lance de bola parada, aos 41 minutos – talvez, desta vez, Jesualdo Ferreira já não diga: “Ah, e tal, foi num lance de bola parada” –, onde Anderson falha a marcação de forma clamorosa e deixa Pepe completamente sozinho e livre para cabecear. Precisamente o mesmo Pepe que, durante a semana, viu perdoado um sumaríssimo por entrada duríssima sobre Yannick Djaló, na anterior jornada. São situações destas que acabam por ser decisivas num Campeonato!

Durante toda essa primeira parte, há apenas 3 lances do Benfica que podem ter algum realce. Duas jogadas individuais de Miccoli e Nelson, que fintam 2 adversários mas não dão seguimento adequado, e um livre de Petit que não dá golo, na recarga, por alguns centímetros. Muito pouco para quem queria vencer e liderar a Liga. Exigia-se nova atitude e, talvez, até uma mudança na constituição da equipa.

Na segunda parte tudo mudou, e a entrada em campo de Rui Costa assume importância vital para que tal suceda. O #10 ainda é um jogador fenomenal e conseguiu acrescentar fluidez e acerto de passe à equipa. Precisamente aquilo que era necessário, principalmente porque Katsouranis foi uma peça a menos já que esteve completamente ausente da partida devido a uma deplorável condição física.
Assim, o Benfica passou a controlar os acontecimentos conseguindo aproveitar de forma evidente o acanhamento do FC Porto. É certo que o atabalhoamento foi a nota dominante nos minutos iniciais – e quando se viu que o golo não aparecia o nervosismo começou a imperar nos adeptos e na própria equipa –, mas há que dizer que o futebol foi agradável e até pode haver um pequeno sentimento de injustiça pelo facto de só ter entrado um golo na baliza de Hélton.

Hélton e Pepe foram, mesmo, os principais responsáveis por manter inviolável a baliza do FC Porto. O guarda-redes internacional brasileiro fez defesas de alto nível a remates de Nuno Gomes aos 48 minutos, de Miccoli aos 55 minutos. É precisamente o italiano que falha dois golos perto da marca de penalty, quando tinha tudo para rematar forte e colocado. Um saiu reflectido e o outro nem chegou a existir porque o pontapé saiu na atmosfera. Já próximo do fim, surge o golo do Benfica num lance onde a felicidade bateu às portas de quem a procurou durante tanto tempo. O livre é de Simão, David Luiz mete a bola no poste e, perante um Hélton passivo, é Lucho que a coloca na própria baliza. 1-1, com 7 minutos para os 90. Tudo em aberto, portanto!

O massacre acentuou-se ainda mais com a tardia alteração processada por Fernando Santos e só um Hélton inspirado impediu a derrota do FC Porto, tal como já tinha acontecido no Dragão. Foram 2 lances de grande espectáculo, protagonizados por Mantorras num soberbo cabeceamento e por Derlei numa espantosa bicicleta, que infelizmente o keeper sacudiu e o jogo terminaria com Rentería a ter a oportunidade de colocar no marcador uma grande injustiça. Terminou tudo empatado e mantém-se tudo na mesma na tabela.

Tudo Bom, Kara?

Apesar de David Luiz ter feito mais uma grande exibição – pecando, apesar de tudo, no recorrente jogo faltoso na disputa aérea – quero destacar Karagounis como o melhor em campo. Perante a entrada de Rui Costa ao intervalo fiquei algo preocupado em saber qual seria a opção de Fernando Santos. Preocupado porque temi que fosse o #26, que já era o melhor do Benfica, a sair de campo… algo que felizmente não sucedeu. Muita classe no grego, que na primeira parte terá sido dos poucos a ter o discernimento para tentar fazer subir o Benfica no terreno. Susteve o nível no 2º tempo mantendo-se sempre presente no desenvolvimento ofensivo. Rematou com perigo, ganhou várias faltas naquele seu jeito exímio de esconder a bola e, após lance individual brilhante, colocou a bola na cabeça de Mantorras para uma finalização de grande espectáculo. Karagounis está a fazer uma grande época, tem sido fundamental na equipa.

O central Anderson voltou a fazer um mau jogo e, mais uma vez, está ligado directamente a um golo do adversário. Menos faltoso que o costume, é verdade, mas continua trapalhão nas marcações individuais. A forma como é completamente ultrapassado por Pepe no 0-1, quase que desistindo do lance, é inadmissível em alta-competição. Deverá ser ele a sair do 11 inicial assim que Luisão esteja fisicamente recuperado. Depois de mais um bom jogo de Ricardo Rocha pelo Tottenham o que mais podemos dizer?

Notas muito positivas, também, para a classe de Petit mesmo a jogar com dores, para forma como Nélson defendeu, para a 2ª parte de Léo no capítulo ofensivo, e para a entrada de Rui Costa na partida. Entrada essa que mobilizou e catapultou o Benfica para uma melhor exibição. Aliás, todas as alterações processadas por Fernando Santos foram importantes no avolumar da manobra de ataque do Benfica, pena que as entradas de Derlei e, principalmente, de Mantorras tenham sido feitas tão tardiamente. Mas aí já estamos habituados…
Fabrizio Miccoli e Simão muito escondidos, esperava mais. Esperava muito mais!

Erros sem Influência Directa

Muito se falou sobre Pedro Proença mas, felizmente, a sua arbitragem não teve qualquer influência no resultado. Obviamente que cometeu erros, e foram bastantes, mas não há a assinalar lances capitais mal ajuizados. Isso é sempre positivo! A sua maior pecha esteve em tolerar o constante anti-jogo do FC Porto a partir da hora de jogo – começou com um lance, aos 61 minutos, em que Adriano fica 1 minuto e meio no chão sem que tenha havido qualquer contacto. Depois queria entrar de imediato num sprint de 50 metros fora de campo, claro que isso não foi possível!

Considerando que a madrugadora tesourada de Bruno Alves sobre Simão é apenas para amarelo – porque já vi uma expulsão de Manu, no Bessa, por algo muito menos grave e em que nem sequer há contacto –, há que evidenciar que ficaram 3 amarelos por mostrar: o primeiro a Simão, logo aos 3 minutos, por uma entrada dura e fora de tempo; o segundo por um “pisão” de Quaresma a Karagounis, aos 25 minutos, num lance onde nem sequer foi assinalada falta – Vítor Vieira viu o vermelho directo, em Alvalade, por um lance mais ou menos parecido; e o terceiro, no 1º minuto da 2ª parte, numa entrada a pés juntos de Fucile sobre Nélson.

Fico na dúvida se há uma agressão com o cotovelo, de Jorginho a Petit aos 32 minutos, porque a SportTV deu apenas uma repetição onde só se vê o movimento do braço do brasileiro e Petit a queixar-se de ter sido agredido. Não posso, portanto, confirmar se aconteceu o que parece ter acontecido.
E depois há outros pequenos lances em que não há falta do ataque do Benfica, e muitos desses lances foram enervantes porque são no final do jogo e retiraram a possibilidade de dar sequência a ataques. Por exemplo, não há falta de Karagounis sobre Adriano, aos 30 minutos, e o livre lateral torna-se bem perigoso. Tal como também não existem as faltas sobre Pepe de Miccoli, na área aos 79 minutos, ou de Mantorras, na lateral aos 89 minutos. Pepe, neste último lance, ainda ficou a pedir amarelo para o #9 do Benfica. Situação que, como já estamos habituados, nunca tem a devida punição quando se refere a jogadores vestidos de azul e branco. Não é, Katsouranis?

Referir ainda que o amarelo mostrado a Petit, sendo bem mostrado, vem na sequência de uma jogada onde há um pé-em-riste de Bruno Alves mesmo à entrada da área do FC Porto. A rábula na entrada em campo de Marek Cech também me parece ridícula, porque quem decide é o árbitro e os jogadores têm de se habituar a não protestar. Pedir penalty no lance de uma possível mão de Quaresma não faz qualquer sentido, até porque descortinar o contacto é muito difícil. Mas o que mais me irrita é ver um jogador do Benfica de braço no ar em vez de continuar a jogada. Isso acho patético!

Já ouvi falar num possível penalty de Anderson sobre Pepe, algo que é absolutamente ridículo. As faltas só podem ser marcadas se a bola já estiver em jogo, portanto, ou não se sabem as regras – o que não me surpreende – ou tenta-se enganar as pessoas subvertendo essas mesmas regras. Podem escolher qual é a situação!
Nada a dizer no lance do golo de Pepe. Pedro Proença foi, e bem, avisar Anderson que não podia agarrar o adversário. Cabia ao central do Benfica conseguir marcá-lo sem recorrer ao jogo faltoso. Pelos vistos é algo que Anderson não consegue fazer nos últimos tempos. Bom trabalho dos fiscais de linha, todos os lances de fora-de-jogo me pareceram bem assinalados. Também houve poucos, é certo.

7 Finais, que não sejam 7 Pecados Capitais

Este resultado é de difícil gestão, não é só por ter uma imedível paixão pelo Benfica, mas também porque guardo um ódio visceral a tudo o que o FC Porto representa. E amar um clube não quer dizer que se tenha de odiar o rival, muito pelo contrário, até porque tenho um saudável respeito competitivo pelo Sporting. A rivalidade salutar advém quando sentimos que o adversário luta com as mesmas armas e fá-lo de forma minimamente honesta.

Obviamente que não é o caso do FC Porto, há 25 anos que é assim. A falta de educação cívica, a provocação insultuosa, a sucessiva violência dentro e fora de campo, o provincianismo bacoco, a corrupção dos árbitros, a desonestidade e ilegalidade puras, as gozações libertinas com os rivais, os conluios de altas patentes, a brejeirice instalada, as acusações alarves e anedóticas de benefícios quando são os próprios que vêem o seu clube metido em tudo quanto é desvirtuação de competições, a desfaçatez, a infantilidade, a sobranceria de quem ganha muito mas não admite que o faz de forma ilegal… tudo aquilo que vai contra a pessoa honesta e idónea que quero ser todos os dias. E que sou, que sempre fui.

Confesso que nem sempre tive esse estigma, já fui daqueles que acreditavam na Verdade Desportiva, naquelas célebres vitórias esmagadoras que deram início a Pentas. E, podem crer, envergonho-me disso. Agradeço imenso ao meu pai, pelas suas conversas, e a dois tipos dos inenarráveis SD que me agrediram barbara e inesquecivelmente num União Leiria-FC Porto – tinha eu 14 anos e um cachecol do Benfica ao pescoço –, por me terem aberto os olhos. Felizmente foram a tempo, o meu pai ainda me atira isso à cara de vez em quando. Porra, quanto ingénuo era eu! Mas a minha paixão é o Benfica, uma das minhas razões de viver.
Com este resultado o título continua em aberto e, apesar do índice de esperança ter baixado consideravelmente, há mais 7 confrontos decisivos onde é obrigatório ganhar. Se o Benfica vencer todos os restantes jogos tenho a certeza que será Campeão Nacional, tem a palavra o conhecido derrotismo de Fernando Santos… e os ”Douradinhos”!

NDR: Nota de relevo, também, para os animais que vieram representar o FC Porto nas bancadas e que, mesmo com mulheres e crianças a serem atingidas, foram atirando petardos para a assistência durante todo o jogo. Como vitórias ao petardo só acontecem noutras modalidades, o que conseguiram ganhar foi apenas uma longa estadia na Esquadra de Polícia. Dizer que há responsabilidade do Benfica na situação é semelhante a insinuar que uma rapariga que tenha sido violada teve culpa do sucedido e que deve ser obrigada a não voltar a usar tops justos e sais curtas. É portanto, patético! O civismo não se deve impor, deve-se exigir, mas infelizmente os adeptos do FC Porto já nos têm habituado a cenas indignas – e eu, como revelei anteriormente, também já as senti na pele – nestas últimas décadas. Este episódio é mais um para se juntar às agressões na Avenida dos Aliados em 2005, entre tantas outras coisas.

Esperamos para ver se a Liga pretende fazer cumprir os regulamentos internos, e da própria UEFA, e interdita o Estádio do Dragão – relembrar que o Feyenoord foi afastado da Taça UEFA como consequência de comportamentos hostis por parte de uma das suas claques. Será inadmissível nada ser feito perante tamanha violência, com algumas pessoas feridas a serem evacuadas e pais com crianças a abandonarem o recinto.

Não sei se o Domingos Amaral veio aqui, o que será muito pouco provável, mas acho engraçada a coincidência de também ter falado em mini-saias. Destaco mais um grande texto, de alguém que já nos habituou a opiniões lúcidas e acertadas. Podem ver tudo aqui. Não percam, também, o relato de quem lá esteve e viu. Este post do Antitripa deve ser divulgado.

Podem ver o resumo do jogo aqui. O vídeo é um trabalho do Bakero, do fantástico Memória Gloriosa.

Ficha de Jogo:

23ª Jornada da Liga BWin

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Pedro Proença (Lisboa)

SL BENFICA – Quim; Nélson, David Luiz, Anderson e Léo; Petit; Katsouranis (Rui Costa, ao int.), Simão e Karagounis; Fabrizio Miccoli (Mantorras, 85 m) e Nuno Gomes (Derlei, 70 m).

FC PORTO – Helton; Bosingwa, Pepe, Bruno Alves e Jorge Fucile; Paulo Assunção; Lucho Gonzalez, Raul Meireles (Marek Cech, 60 m) e Jorginho (Rentería, 74 m); Ricardo Quaresma (Anderson, 90 m) e Adriano.

Disciplina: Amarelos a Bruno Alves (3 m), Jorginho (37 m), Petit (53 m), Raul Meireles (58 m), Lucho Gonzalez (60 m), Karagounis (85 m), Quaresma (87 m) e Marek Cech (90+4 m).

Golos: 0-1, Pepe (41 m); 1-1, Lucho Gonzalez (83 m, na p.b.).

#Fotos: AFP-Getty Images, SerBenfiquista, Site Oficial e Reuters

#adicionado a Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o Encarnados