terça-feira, outubro 17, 2006

Crónica Fase Grupos Liga Campeões - Então, já deu para Acordar?


Depois de um triunfo esmagador em Leiria, nada faria prever uma mudança quase radical na estruturação da equipa. E aí está a minha primeira nota de incredulidade!
Porque razão terá Fernando Santos alterado um esquema táctico que deu tão boa conta de si, no Magalhães Pessoa? As recentes exibições do Benfica, na Liga, têm dado nota que o 4-4-2 clássico é o melhor esquema para este plantel, enquanto que o malfadado “Losango das Bermudas” se tem revelado, cada vez mais, um erro de “casting”. Nandinho revela a ambição dos clubes medíocres que mudam a táctica quando jogam fora, por medo, ou por falta de interiorização das capacidades inerentes da equipa que se treina.

A titularidade de Alcides é, para mim, outra situação estupidificante já que a altura não joga a bola e o brasileiro não é metade do jogador que Nélson, a meio-gás, constitui. A questão da altura não me parece razoável e passo a explicar porquê: Até que ponto se abdica de um jogador rápido, tecnicista e desequilibrador – para quem quer jogar em contra-ataque – e se coloca alguém que não existe em termos atacantes, e tem bastantes dificuldades em defender jogadores velozes. Se o objectivo é defender, que se jogue, então, com 3 centrais; O extremo-esquerdo normalmente titular do Celtic, Shaun Maloney, tem 1.71m… falta de conhecimento do adversário?

Seria expectável que o início de jogo fosse arrasador e, de facto, isso aconteceu. Foi com alguma sorte que o Benfica não sofreu um ou dois golos nos primeiros 10 minutos, no entanto depois do quarto de hora o Benfica estabilizou e assumiu o pendor do jogo. O problema surge, então, do tal losango! Simão é quase nulo a jogar fora da sua posição, Nuno Assis tem dificuldades em jogar no flanco deixando Léo sozinho para defender, Katsouranis não tem características de interior-direito e Petit não chega para tudo. A equipa defende mal neste sistema e o ataque sai atabalhoado e sem soluções, a não ser as bolas bombeadas para o contra-ataque e as jogadas individuais.


No entanto, a conjuntura de maior gravidade da actual equipa do Benfica, já mais que vista e discutida, é a falta de estofo psicológico em gerir resultados nefastos – principalmente fora de casa –, o que torna virtualmente impossível conseguir dar a volta a derrotas parciais. E isso é a “imagem de marca” de Fernando Santos, desde que acompanho a sua carreira! O tal conformismo do técnico com a derrota, estende-se à equipa de forma castradora… longe vão os tempos dos “berros” de José Antonio Camacho!

É certo que a equipa criou várias oportunidades de golo e teve alguma infelicidade na hora de concretizar, mas é desse tipo de coisas que são feitas as formações com uma liderança forte e com uma coesão materializável. Jogar fora parece um pesadelo para estes jogadores e Fernando Santos contribui para esse sentimento, quer nas acções quer no discurso. A esmagadora vitória em Leiria não pode escamotear que há equívocos técnico-tácticos constantes e a responsabilidade é sempre da mesma entidade!

Perder copiosa e humilhantemente com o adversário directo significa dizer adeus à competição, e resta ao Benfica fazer entre 4 e 7 pontos para garantir a ida à Taça UEFA – que nessa altura já esteja outra figura no comando do plantel.
Mas o que me incomoda solenemente é o facto de Fernando Santos parecer que está alheado de tudo, nos discursos das Conferências de Imprensa. Fala como se fosse um espectador e não o responsável por tudo o que a equipa produz. Os seus problemas de comunicação internos e externos parecem-me óbvios e estão a comprometer as aspirações do clube. Das substituições e constituição das soluções de banco de hoje nem vale a pena falar, de tão incompreensíveis que são!


NDR: Começo a interiorizar que este equipamento “creme”, que roça o foleiro, não dignifica o clube. O Benfica deve jogar sempre de vermelho quando assim é possível, o marketing deve ficar em segundo lugar em relação à representação da equipa na Europa. Pode ser uma questão de pormenor para alguns, mas alguém tem dúvidas que o vermelho vivo “à Benfica” é mais intimidatório?

6 jogos oficiais fora de casa: 1 vitória, 3 empates com equipas ridiculamente inferiores e 2 derrotas copiosas por 3-0. Ainda há dúvidas?

Ficha de Jogo:

3ª Jornada da Fase de Grupos da Liga dos Campeões

Celtic Park, em Glasgow

Árbitro: Eric Braamhaar (Holanda)

CELTIC FC: Boruc; Telfer, Caldwell, McManus e Naylor; Lennon e Sno (Pearson, 87 m); Nakamura, Zurawski (Jarosik, 83 m) e Maloney; Miller.

SL BENFICA: Quim; Alcides, Luisão, Ricardo Rocha e Léo; Katsouranis (Nélson, 71 m), Petit, Simão e Nuno Assis; Miccoli e Nuno Gomes (Fonseca, 77 m).

Disciplina: Amarelos a Katsouranis (62 m) e Sno (68 m).

Golos: 1-0 por Miller (56 m); 2-0 por Miller (66 m); 3-0 por Pearson (89 m).


#Fotos: AFP-Getty Images

#adicionado a
Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o
Encarnados