domingo, março 05, 2006

Crónica 25ª Jornada - Não foste capaz, Paulo Costa!

Em virtude dos pontos perdidos recentemente, da desvantagem na classificação e do aproximar do final do campeonato, qualquer jogo do Benfica no presente e no futuro desta época se afigura como uma autêntica final na tentativa de revalidação do titulo.

As vitórias são fundamentais e qualquer percalço poderá arruinar qualquer pretensão de conquista. Sendo assim nos jogos com adversários manifestamente mais fracos – como é o caso do Estrela da Amadora – não deve ser necessário despender muita energia, esforço e sofrimento para os levar de vencida. Um desgaste exagerado neste tipo de partidas poderá revelar-se fatal quando surgirem os grandes desafios. Exige-se, portanto, grande atitude e espírito vencedor desde o primeiro minuto para que não seja necessário, à última da hora, reverter resultados menos satisfatórios.

Considero o Estrela da Amadora um clube simpático, muito pelo facto de, tradicionalmente, o Benfica não ter grandes dificuldades em vencer no seu recinto mas também porque é um clube que por bastantes vezes conseguiu derrotar o FC Porto na Reboleira – já este ano o fez. É verdade que desgosto bastante de estádios com relvados muito curtos – como é o caso – já que dificulta bastante as equipas mais tecnicistas e que, por isso, precisam de mais espaço para construir o seu futebol.
Para além disso, desde que me lembro, o Estrela foi sempre um clube com jogadores ligados ao Benfica quer estejam por empréstimo ou já tenham estado na Luz.

Curiosidade ainda para ver o que rendiam os jogadores emprestados pelo Benfica – Manu e Amoreirinha, pelo FC Porto – Paulo Machado e Bruno Vale e ainda para ver a actuação do árbitro da AF Porto, Paulo Costa, que por norma prejudica sempre o Benfica de forma assinalável.


Ronald Koeman fez – e bem – apenas uma alteração à equipa titular do jogo anterior colocando o regressado Geovanni no lugar do castigado Simão Sabrosa. A titularidade do brasileiro não significaria nenhuma alteração a nível táctico já que apenas se processaria a troca de flanco de Laurent Robert para a esquerda com a colocação do nº 11 benfiquista na sua posição mais rotinada, a de extremo-direito. Manter-se-iam todos os restantes jogadores nas suas posições naturais, dando ainda continuidade à aposta de Moretto na baliza – opção no mínimo discutível. A estrutura da equipa mantém-se muito forte com os 4 jogadores centrais – Anderson, Luisão, Petit e Manuel Fernandes – em grande forma e dando garantias ao treinador.

Tive algum receio que a chuva se manifestasse e inundasse por completo o fraco relvado do Estádio José Gomes, facto que prejudicaria bastante o futebol do Benfica que, como já se viu em várias ocasiões, tem bastantes dificuldades em condições climatéricas adversas.

Num recinto relativamente composto – aproximadamente 3500 espectadores – o Benfica iniciou o jogo algo apático. Certamente que a vergonhosa arbitragem – análise, como sempre, na parte final da crónica – dificultou bastante a construção do jogo não só no enervamento dos jogadores – quem já jogou futebol sabe como é – mas também no corte real de jogadas de perigo. O golo do Estrela surgiu de um lance esporádico sem que para tal nada o justificasse. Na realidade a 1ª parte foi bastante fraca, com pouquíssimas oportunidades de golo de parte a parte, surgiram apenas alguns lances individuais mais vistosos ou algumas jogadas de perigo em lances de bola parada.

Ainda assim a derrota parcial ao intervalo era extremamente injusta tendo em conta o que se passou dentro das 4 linhas. Temi que a vitória fosse uma utopia, no entanto, a equipa surgiu rejuvenescida após o intervalo – certamente um incentivo de Koeman e consciencialização dos jogadores – e criou bastantes oportunidades de golo até conseguir empatar o jogo, no seguimento de um pontapé de canto cobrado por Petit, com um belo golo de fora da área de Robert.
Koeman, então, revelou-se fundamental – elogiar quando é merecido – ao colocar em campo Manduca e Miccoli que revolucionaram por completo a “alma” da equipa. As oportunidades foram surgindo, com o italiano sempre em destaque, e deixavam no ar o “cheiro” do golo – que sofrimento, o meu, com o remate ao poste de Manduca. Parecia que um forcing final, apesar das vicissitudes de arbitragem, culminaria num golo vitorioso. Assim foi! O golo libertador da pressão apareceu e deu ao Benfica uma vitória tão preciosa quanto merecida.


Nesta jornada há que dar bastante mérito a Koeman porque, de facto, ele merece-o não só pelo “puxão de orelhas” aos jogadores no intervalo mas pelas alterações que fez durante a 2ª parte. Aflige-me um pouco que demore algum tempo a tomar as decisões sendo que às vezes parece “perro” de acções e a 3ª alteração custa-lhe sempre muito a fazer – mais uma vez faz entrar Ricardo Rocha depois do minuto 90. Para além disso colocou Karagounis na esquerda durante bastante tempo – Geovanni foi para o ataque e Robert para o lado direito – o que deixa margem para critica acérrima mas fora isso gostei das suas opções. É pena que raramente se possa dizer que esteve impecável.

Com a crítica de LFV às suas palavras sobre Mantorras parece que resfriou os ânimos e já remete uma decisão mais concreta para o final da época. Pois é, pode ser que já cá não esteja nessa altura.

Individualmente o destaque vai para Petit, Léo, Manuel Fernandes e principalmente Miccoli.

A entrada assassina que recebeu aos 3 minutos condicionou Petit pelo menos durante uns 20/25 minutos. O facto de ter recebido assistência médica por 2 vezes – uma vez depois da referida entrada e outra vez uns 2 minutos mais tarde – fez-me pensar que não conseguiria acabar o jogo já que coxeou durante bastante tempo. Obviamente que o meio-campo do Benfica se ressentiu da sua “ausência” por longo período, no entanto, quando recuperou a compostura voltou a pautar o jogo da equipa de forma brilhante. Foi mais uma vez fundamental – assistência para o 1º golo – no lançamento dos ataques mas também na destruição do pouco jogo ofensivo do adversário. Parece combinar bastante bem com Laurent Robert na cobrança de bolas paradas.

O duelo com Manu afigurava-se bastante difícil para Léo, não fosse o português emprestado pelo Benfica um dos melhores extremos do Campeonato. É certo que Manu pouco se viu e apenas o bateu em velocidade – fantástico pique – por uma ocasião – até deu amarelo para o brasileiro – mas o pequeno lateral-esquerdo fez novamente um grande jogo. A sua grande forma e disponibilidade física são vitais no Benfica actual, defende bem, cria espaços, desmarca-se e faz outros desmarcarem-se, sofre faltas perigosas e ainda tem a “lata” de fazer túneis ao adversário. Como de costume, revelou bastantes dificuldades no jogo aéreo mas mesmo assim ainda conseguiu ganhar alguns lances de cabeça. Desde que regressou à titularidade depois de algumas invenções de Koeman é sempre dos melhores em campo e isso diz muito da sua qualidade.

Manuel Fernandes em consonância com o que tem apresentado nos últimos tempos fez uma grande exibição. Melhora de forma bastante assinalável de jogo para jogo. Foi dos jogadores mais empreendedores da equipa, falhou um pouco no remate – é pena que raramente esteja bem neste capítulo – mas globalmente exibiu-se num nível bastante elevado. Não gosto do facto de, por vezes, se agarrar em demasia à bola em disputa com vários adversários ao invés de procurar trocar a bola com os seus colegas – fez isso uma série de vezes na Reboleira. Tem de estar mais atento à zona central da defesa da equipa já que Petit não chega para todas as encomendas.

Sou um pouco suspeito para falar de Miccoli já que sou um inveterado fã do seu futebol. A estadia do craque italiano na Luz tem sido pautada por várias lesões mas mesmo assim por alguns momentos de brilhantismo – em menor quantidade, é verdade, em virtude do 1º factor. O que é certo é que com ele o jogo da equipa se transfigurou por completo, mais velocidade, mais espontaneidade e mais remates perigosos. Nem parecia que tinha estado lesionado tanto tempo! É contagiante a forma como aborda os lances, e sendo assim os 30 minutos que esteve em campo chegam para que o considere o homem do jogo. Repetindo o jogo contra o Lille na Luz, dá a vitória à equipa num remate pleno de oportunidade e já nos descontos. Mais uma vez digo e repito que adoraria que a direcção optasse por comprar já o seu passe à Juventus, é que jogadores deste calibre não se encontram em qualquer lado. Na minha opinião tem de ser titular na frente de ataque ao lado de Nuno Gomes, opção essa que já deu bons resultados este ano.


Num nível bastante elevado jogaram ainda Luisão, Anderson e Alcides.

Menos exuberante que nas últimas partidas – em virtude do pouco jogo atacante do Estrela – o central brasileiro Luisão ainda assim esteve bastante bem. Não tão acutilante em termos ofensivos mas imperial no jogo defensivo no qual procurou as dobras aos companheiros de equipa – Anderson e Alcides principalmente – em vez de uma marcação individual. O campo pequeno dá a sensação de ser um jogador ainda mais possante, talvez por isso tenha sido o que mais faltas mal assinaladas teve.

Calhou na rifa a Anderson fazer a marcação a Rui Borges. Teve algumas dificuldades mas falhou em apenas 2 lances – num livre em que deixa o adversário cabecear desastradamente e noutro em que o deixa solto na área num remate na linha de penalty ao lado. Poucos erros, é verdade, mas que ainda assim poderiam ter resultado em golos do adversário. Já não é a 1ª vez que tem dificuldades em parar jogador rápidos e pequenos, pelo que parece mais predisposto a marcar avançados altos e possantes. Globalmente esteve bem ficando na retina um lance soberbo em que de calcanhar tira o adversário da jogada.

O que retiro da exibição de Alcides foi o seu óptimo jogo atacante visto que defensivamente teve bastantes dificuldades com Semedo em virtude da velocidade e espontaneidade do adversário – à semelhança do seu colega Anderson com Rui Borges.
Agarrou a titularidade com unhas e dentes e tem demonstrado ao longo do tempo que, de facto, a merece. Nota de destaque na forma como tem melhorado a saída de áreas de perigo depois de recuperações de bola.

Algo apagados estiveram Karagounis, Geovanni e Laurent Robert.

O grego não foi tão acutilante como nos tem habituado e pecou mesmo por alguma lentidão. Se bem que o seu controlo de bola é soberbo – provavelmente o melhor da Liga – neste tipo de jogos é preciso mais velocidade. A colocação na esquerda no segundo tempo também não abona em seu favor já que pareceu perdido numa posição desconhecida. Não me lembro de nenhum remate à baliza e isso diz alguma coisa da sua exibição. Ainda assim a sua titularidade em Anfiel deverá ser indiscutível.

Geovanni esteve uma sombra daquilo que já fez no Benfica. A titularidade foi uma surpresa em virtude da lesão de que padeceu e revelou-se um fiasco. Não me pareceu nas melhores condições físicas e deveria ter sido poupado para 4ª feira. A sua situação confirma a ideia de que Koeman não sabe gerir o plantel.

De Laurent Robert há pouco a dizer. Tal como contra o FC Porto fez pouco mais que o golo num excelente remate de fora da área depois de um lance estudado com Petit. Se mantiver o score já é suficiente. Ainda assim esperava bastante mais do francês.


Falta falar ainda de Nuno Gomes e de Manduca.
O capitão do Benfica – em virtude da ausência de Simão – esteve bastante desapoiado e quando assim é tem muitas dificuldades em explanar o seu futebol. Com a entrada de Miccoli – que dupla! – melhorou a olhos vistos tendo assistido de peito o italiano para o golo da vitória. Um ponta-de-lança tem de rematar à baliza mas não é no meio de 3 defesas e sem qualquer apoio que o conseguirá fazer! Fez mais Miccoli em meia hora do que Nuno Gomes em 90 minutos.

Quanto a Manduca já é comum entrar no jogo com bastante vontade. Tal como Miccoli a sua entrada na partida foi fundamental na vitória e merecia mais sorte no remate que fez ao poste. Devia ter entrado mais cedo em virtude do apagamento dos alas titulares e da adaptação de Karagounis ao flanco esquerdo.

Finalizo a análise individual – Ricardo Rocha jogou apenas 2 minutos – com Moretto. Neste jogo não vi nada de positivo na exibição do guarda-redes brasileiro. Não se entende a sua titularidade em virtude do que ainda não demonstrou ao serviço do Benfica. Falhou redondamente no golo do Estrela – um frango – e esteve nervoso e displicente em todos os cruzamentos para área. Num remate fora da área inofensivo deixou fugir a bola entre as mãos naquele que daria o 2-1 ao Estrela, valeu miraculosamente, que a bola lhe tenha batido involuntariamente no joelho. Não transmite confiança nenhuma à equipa.
Que injustiça para Quim!


Por fim a análise à arbitragem miserável, canalha, vergonhosa e, certamente, “encomendada” de Paulo Costa. A fama deste “senhor” da AF Porto no que diz respeito a jogos com o Benfica é já há muito tempo conhecida. Juntamente com Paulo Paraty e António Costa completa “Os 3 Estarolas” da roubalheira encomendada mas o que se viu na Amadora nunca tinha visto em quase 15 anos que sigo o fenómeno desportivo. Nalguns momentos pareceu surreal a impunidade dos jogadores do Estrela e dava-me vontade de rir como era possível tal acontecer sem que ninguém desse ordem de saída de campo. “Bem” coadjuvado pelos seus colegas auxiliares – 5 foras-de-jogo mal assinalados ao ataque do Benfica num total de 8 – tentou de tudo para que o Benfica não vencesse o jogo, muita sorte que não houve nenhuma queda duvidosa na área porque, certamente, marcaria penalty sem hesitação.

Começou, naquele jeito prepotente, por não expulsar vergonhosamente Paulo Machado numa agressão bárbara a Petit – espero saber com curiosidade o que vão dizer os arautos da irradiação de Petit, válida apenas por respirar. A entrada é do tipo “termina-carreiras” e se não apanha a caneleira, partia a perna ao jogador do Benfica. Felizmente fez apenas um buraco na meia do nº 6 encarnado.

Curiosamente foi este jogador – portista de gema e com a “lição bem estudada” – que marcou o livre que deu o golo do Estrela – numa falta que não existiu já que Luisão corta apenas a bola. Até ao fim do jogo fez o que quis, e por duas vezes contabilizei entradas dignas de amarelo. Portanto no cômputo geral viu perdoada a expulsão por duas vezes.

Fica por perceber o amarelo dado a Petit, a pedido do árbitro auxiliar que não conseguiu ver, a 1 metro do lance, duas faltas de Semedo sobre Alcides na mesma jogada. Luisão foi um dos mais visados por esta arbitragem já que fez 3 cortes fantásticos perfeitamente na bola mas erradamente assinalados como falta – num deles viu o amarelo de forma patética.

A enormidade de faltinhas assinaladas nas laterais da defesa do Benfica foi vergonhosa, houve momentos em que não foi dada hipótese ao Benfica de atacar ou por faltas assinaladas ou foras-de-jogo ridículos.
Destaco ainda uma entrada por trás às pernas de Miccoli mesmo em frente a Paulo Costa que não deu direito a cartolina.

O anti-jogo do Estrela iniciado aos 39 minutos com constantes simulações e perdas de tempo de quase todos foi premiado aos 93 minutos com um cartão amarelo a… Laurent Robert por “demorar” na substituição.

Terá sido este, o motivo da famosa reunião?

E o que dizer dos comentadores da SportTV que constantemente criticavam a actuação do Benfica. Até nos golos arranjaram atenuantes! Uma vergonha a parcialidade daquela gente!


Resta-nos aguardar o desfecho dos restantes jogos da jornada e observar a performance dos outros candidatos ao título sabendo que já ocorreu um resultado positivo no empate do Braga no Estádio do Bessa – embora com muita polémica e mais umas ajudas aos do costume para a jornada da próxima semana.

Actualmente e com um jogo a mais o Benfica encontra-se a apenas 2 pontos da liderança sabendo que na próxima jornada defronta a quase despromovida Naval 1º de Maio. Oportunidade para somar mais 3 pontos.

No que diz respeito à Champions League, 4ª feira é um grande dia para o clube. Poderá ser feita história – o Benfica nunca eliminou o Liverpool – no apuramento para os 4ºs de final. Basta fazer o que o Charlton fez ontem e empatar a zero. Tendo em conta a excelente defesa do Benfica e as dificuldades de concretização dos ingleses, é possível não sofrer golos em Anfield. Seria extraordinário!

NDR: Cumprimentos ao pacóvio que acenou com uma camisola do Sporting no golo do Estrela da Amadora e já agora a todos os outros que não tendo uma atitude tão exuberante pensaram o mesmo. Posso dizer que passei o jogo todo aos gritos histéricos com a arbitragem e que fiquei no limiar de ficar afónico no golo de Miccoli. Como vi o jogo em casa, ainda bem que não tenho vizinhos muito perto caso contrário já tinha tido queixas. És grande, Benfica!


Ficha do Jogo:

25ª Jornada da Liga Portuguesa

Estádio José Gomes, na Reboleira

Árbitro: Paulo Costa (AF Porto)

ESTRELA DA AMADORA: Bruno Vale; Tony, Maurício, Jordão (Maxi Bevacqua, 63 m) e Amoreirinha; Pedro Simões (Santamaria, 39 m), André Barreto, Paulo Machado; Semedo, Rui Borges (Rui Duarte, 83 m) e Manu;

SL BENFICA: Moretto; Alcides, Luisão, Anderson e Léo; Manuel Fernandes e Petit; Geovanni (Fabrizio Miccoli, 62 m), Karagounis (Manduca, 67 m) e Laurent Robert (Ricardo Rocha, 90 + 3 m); Nuno Gomes;

Disciplina: Amarelos a Jordão (18 m), Petit (33 m), Bruno Vale (41 m), Luisão (55 m), Léo (57 m), Alcides (73 m), Amoreirinha (74 m), Santamaria (78 m), Laurent Robert (90 + 3 m);

Golos: 1-0, Paulo Machado (31 m), 1-1, Laurent Robert (51 m), 1-2, Fabrizio Miccoli (90 + 1 m).

#publicado em simultâneo com os Encarnados