Foram, então, 20 minutos próximos de uma epopeia leverkusiana e, depois de estarmos frente a uma pequena humilhação, a equipa mostrou que tem bastante classe do meio-campo para a frente. Houve alturas em que deu a sensação que o empate poderia ter surgido e, talvez, até fosse algo injusto para o massacre que o Espanyol conseguiu na primeira hora de jogo.
Após sentir o fulminante 3-0 confesso que, e apenas pela 2ª vez na minha memória de benfiquista, já não conseguia acreditar num bom resultado. O sentimento de impotência do primeiro tempo foi bastante confrangedor, terá sido uma das piores prestações do Benfica desta época e logo num campo complicadíssimo onde Barcelona e Sevilha já foram derrotados este ano – curiosamente o Espanyol eliminou o nosso conhecido Artmédia Bratislava na 1ª ronda da Taça UEFA 2006/07, com uma vitória por 3-1 no Olímpico de Montjuic. O mais importante, obviamente, é ter conseguido não comprometer a eliminatória e o resultado final até acaba por ser melhor do que aquele conseguido em Paris. Perder é sempre mau mas basta ter em atenção qual era a situação aos 58 minutos, para logo surgir uma sensação de alívio.
Condenar opções do treinador é bastante mais fácil depois do jogo terminar, é um facto, mas não é aceitável que Fernando Santos faça “experiências” nuns Quartos-de-Final da Taça UEFA. Rui Costa, em boas condições físicas, tem de jogar sempre até aguentar e Fabrizio Miccoli, mesmo que esteja uns furos abaixo daquilo que de brilhante já fez, tem de ter a titularidade assegurada. Quando vemos que os escolhidos foram João Coimbra, ainda muito inexperiente e sem ritmo, e Derlei, uma completa nulidade desde que ingressou no clube, é caso para ficarmos muito preocupados. Este tipo de situações não se pode repetir! A gestão do plantel teria de ser feita em jogos mais acessíveis e num período de tempo mais longo. Volto a perguntar porque Miguelito não tem jogado e porque Paulo Jorge, Manú e Mantorras não têm dado descanso aos colegas mais utilizados, principalmente em partidas na Luz com adversários ao alcance. E, mais uma vez, ficaram substituições por realizar… não tem explicação!
Há 3 figuras do Benfica que tiveram importância fundamental na remontada do Benfica.
Simão, a seta mais veloz, foi o capitão que se precisa e, com novo golo, deu a esperança essencial à equipa e aos adeptos. Rui Costa conferiu a tranquilidade e a categoria de passe que eram necessárias à reacção encarnada, enquanto que Miccoli incutiu a providencial explosão e repentismo que o ataque necessitava.
Pela negativa, claramente, continuam as prestações defensivas de Nélson e de Anderson. O brasileiro terá, novamente, comprometido em todos os golos do adversário. Chega a surpreender como é possível o Benfica estar bem posicionado em duas provas, com 50% da defesa a actuar horrivelmente. A forma como o #3 não tem feito a marcação ao adversário directo e como o #22 não tem coberto a lateral direita, deveriam servir de exemplo de como não se deve defender. Mesmo David Luiz, no 1º golo, e Quim, no 2º, cometeram erros clamorosos que não podem voltar a acontecer. Felizmente, na minha opinião, foram os únicos que cometeram na partida, e até se mostraram em bom plano nos restantes minutos do jogo. Quim tem, nos últimos instantes, uma espantosa defesa a remate do espectacular Pandiani.
João Coimbra, neste jogo, e Derlei, na época em geral, mostram-se erros de casting enquanto que Petit e Karagounis estiveram muito longe das magníficas e regulares prestações desta época. Abstenho-me de comentar a prestação de Nuno Gomes nos próximos tempos, apesar do golo marcado, porque tenho a consciência que poderei exagerar e dizer coisas algo polémicas. Parece-me óbvio, no entanto, que há um grave problema interno com a posição de ponta-de-lança. E o tique do cabelo já ultrapassou todos os limites do tolerável!
Há a lamentar uma arbitragem vergonhosa, com dezenas de erros para ambos os lados. Mesmo assim, os mais graves foram a não expulsão de Zabaleta por acumulação de amarelos – situação que aconteceu, pasme-se, por duas vezes – e o facto de não ter sido sancionado um claríssimo penalty sobre Simão Sabrosa...
Tenho algumas dúvidas num lance onde Nuno Gomes cabeceia contra as mãos de Chica, já dentro da área. Poderia ter sido assinalada a falta mas não há o mesmo escândalo que na referida falta de Jarque sobre Simão. A Imprensa Espanhola fala de um penalty sobre Miccoli, confesso que não me recordo do lance.
A prestação de Eric Braanhaar foi das mais penalizadores para um Benfica Europeu desde há muitos anos. É Inaceitável como permitiu o jogo duro dos espanhóis, muitas das vezes não mostrando os respectivos cartões e, muitas vezes, nem sequer assinalando as faltas. Simão foi impedido de prosseguir, de forma irregular, por várias vezes... a esmagadora maioria delas passou incólume até aos fiscais de linha.
Na Luta…
Algo que nos orgulha a todos é o facto do Benfica estar no 4º lugar das equipas com mais jogos nas competições europeias nas últimas 4 temporadas. Há um claro ressuscitar do clube na Europa, ainda longe do passado glorioso mas a progredir no sentido de conseguir restaurar esse prestígio completamente delapidado em 10 anos negros.
Continua tudo em aberto para a 2ª mão, e aí a Luz será fundamental, mas daqui podemos concluir que Anderson, Derlei, Nélson e Fernando Santos não podem ser pechas-chave no Benfica 2007/08.
Será importante vencer em Aveiro, na segunda-feira, de preferência com algumas alterações na equipa. Dar minutos a Miguelito e Paulo Jorge, principalmente, poderá revelar-se decisivo na luta por Campeonato e UEFA. “Vamos ver, Vamos ver!”
Ficha de Jogo:
1ª Mão dos Quartos-de-Final da Taça UEFA
Estádio Olímpico de Montjuic, em Barcelona
Árbitro: Eric Braanhaar (Holanda)
RCD ESPANYOL – Gorka; Zabaleta (Delacruz, 68 m), Torrejón, Jarque e Chica; Ivan De la Peña e Moisés; Rufete (Ito, 78 m), Luis Garcia e Riera; Tamudo (Walter Pandiani, 52 m).
SL BENFICA – Quim; Nélson, Anderson, David Luiz e Léo; Petit, Karagounis e João Coimbra (Rui Costa, 36 m); Derlei (Fabrizio Miccoli, 56 m), Nuno Gomes e Simão.
Disciplina: Amarelos a Anderson (4 m), Zabaleta (25 m), Simão (37 m) e Riera (64 m).
Golos: 1-0, Tamudo (15 m); 2-0, Nélson (33 m, na p.b.); 3-0, Pandiani (58 m); 3-1, Nuno Gomes (63 m); 3-2, Simão (65 m).
#Fotos: AFP-Getty Images
#adicionado a Crónicas 06/07
#publicado em simultâneo com o Encarnados