No entanto, a expectativa manteve-se e, como na Luz as coisas nem têm corrido muito mal – apesar dos adversários terem sido risíveis, com todo o respeito pelo Nacional e pelo Áustria Wien –, a “sede” de vitória manteve-se na boca da maioria dos benfiquistas…
“Do lado de lá da barricada”, vemos uma equipa muito forte com uma frente de ataque demolidora mas com várias limitações técnicas na defesa. É precisamente a defesa do Manchester que é o seu sector mais fraco, com um destaque indiscutível apenas para Gabriel Heinze. Os ingleses vinham de um empate com o recém-promovido Reading, e tendo alguns jogadores importantes lesionados – Giggs e Park –, com um bom Benfica, seria possível derrotar uma equipa que não vence fora de casa, na Europa, há 3 anos!
O Medo comanda…
Quando se esperava uma equipa ofensiva, com Miccoli a fazer uma espectacular frente de ataque, Fernando Santos dá nova prova do seu famoso “encolhimento na hora H”, e que já ultrapassou todos os limites da paciência. Mas até aí “o gato não vai às filhós”, já que Paulo Jorge seria o sacrificado mais óbvio e o #15 tem feito exibições de grande qualidade.
O grande problema foi voltar a jogar com 2 trincos – reentrando Petit para o lugar de Nuno Assis –, alterando o sistema de jogo utilizado nos últimos 2 jogos. Isso acho imperdoável!
Não ter pedalada e até cair da bicicleta
Já se esperavam longos e estridentes assobios para Cristiano Ronaldo – pessoalmente estou contra a individualização dos assobios, em qualquer situação – mas foi o Manchester que entrou muito melhor no jogo, dominando e arrasando no primeiro quarto-de-hora. Cristiano Ronaldo teve o golo nos pés, num espectacular remate de longe, mas Quim conseguiu resolver com grande dificuldade.
As entradas duras dos 2 centro-campistas centrais do Manchester resultaram em admoestações e talvez por isso se tenha assistido à redução do ímpeto dos visitantes – a aposta foi uma clara táctica “retranquista”. O Benfica aproveitou a redução do fulgor inglês e passou a dominar o jogo totalmente, embora nunca tenha conseguido entrar na área e criar perigo.
O único lance perigoso surgiu de uma perda de bola de Vidic para Paulo Jorge, que assiste Nuno Gomes. O avançado do Benfica galga alguns metros e remata, sempre de fora da área (!), para uma boa defesa do keeper do United.
O intervalo chega com pouco futebol, poucas oportunidades e muita sonolência!
O Manchester na 2ª parte quis ganhar a partida e encostou o Benfica completamente, muito também pelo estoiro físico da maioria dos atletas – Petit e Simão, principalmente! Foi lá à frente, criou perigo, e marcou! A repararmos bem, mas mesmo bem, o Quim fez muitas e muito mais complicadas defesas que o holandês do Manchester. Quando o keeper é um dos melhores em campo está quase tudo dito em relação ao cariz do jogo.
Apanhando-se a vencer, os ingleses controlaram os acontecimentos e esperaram o fim do tempo regulamentar – com tempo ainda para fazer Quim brilhar. Nada mais fácil!
Digo e repito: sem rematar à baliza não se pode jogar bem – infelizmente nem todos pensam assim e já há quase um decreto-lei sobre a “fabulosa exibição do Benfica na 1ª parte”. Futebol é marcar golos e não jogar para o lado e para trás. Isso é para as “equipazitas” que não se importam de empatar.
Estou totalmente em desacordo com a amostragem de lenços brancos quando o jogo ainda está a decorrer. Guardem as manifestações de desagrado para o fim do jogo, com lenços brancos ou com assobios, porque esse tipo de situações intranquiliza gravemente a equipa, toda a gente o sabe, prejudicando a prestação dos jogadores e colocando resultados em causa! É lamentável que haja pessoas com esse tipo de atitude!
Viram-se gregos para os parar
Karagounis foi o jogador do Benfica que mais tentou levar a bola para a frente, fazendo subir a equipa e procurando colocar bolas nos colegas desmarcados. Apareceu na direita, na esquerda, no meio e até surgiu como apoio a Nuno Gomes. Tentou rematar mas continua a pecar nesse capítulo!
A sua substituição é polémica mas compreendo que a opção tenha recaído em Nuno Assis… mas nunca para encostar o português à direita. Com a saída do grego – e sem um jogador que o substituísse realmente – mais ninguém ocupou o seu espaço e perdeu-se fluidez no meio-campo. O atabalhoamento era completo!
Enquanto esteve em campo, Zorba foi o melhor elemento encarnado!
Katsouranis está num crescendo de forma brutal e, com a subida no terreno desde há 2 jogos, tem apostado bem nos remates à baliza.
Defensivamente teve uma ou outra falha – parece um pouco displicente de tempos a tempos – mas na globalidade o saldo é muito positivo.
Aquele “míssil” que deu golo – infelizmente com o jogo parado – faria cair a Luz, “ainda bem” que não entrou porque o Benfica teria de procurar novo Estádio.
Concordo com a maioria que diz que o meio-campo do Benfica deve ser formado por um só trinco. Por outro lado discordo que seja Petit o sacrificado e Katsouranis o titular – apesar de achar que o grego tem estado muito bem.
Armando Petit contra o Manchester fez uma grande exibição, cotando-se como um dos melhores em campo. Excepcional a defender – foi magnifica a forma como cortou as bolas a Carrick e principalmente a Scholes – e apesar de, desta e talvez pela primeira vez, ter jogado mais recuado que Katsouranis fez uma circulação de bola exímia. Infelizmente os seus primorosos passes em abertura saíram falhados, muito devido à falta de movimentação dos extremos – talvez tenha estado aí o segredo da má prestação ofensiva.
Rebentou por volta da hora de jogo, mas o banco fica muito longe e não deve dar para ver!
O que dizer mais de Quim?! É um dos atletas em melhor forma do Benfica e dá demonstrações de categoria em cada jogo. Grandes defesas a remates de longe de Ronaldo e Carrick, mas o momento de brilhantismo está todo naquela série de 3 defesas consecutivas – duas delas espantosas – que evita o 0-2. Esse lance é digno de figurar naqueles vídeos que se encontram no YouTube, de compilações de defesas milagrosas.
No golo, ao contrário do que já li, não tem qualquer hipótese.
Grande exibição de Luisão! Nos grandes jogos, o “gigante” internacional brasileiro tem tido prestações regulares ao longo da sua carreira na Luz, e frente ao Manchester manteve-se a tradição.
Imperial no jogo aéreo – como de costume –, foi o grande impulsionador da equipa, apesar de odiar aquelas “bombas” que faz para a frente… de forma cada vez mais constante!
Léo fez um jogo razoável mas a análise à sua prestação tem, sempre, de ter em conta o magnifico adversário que lhe surgiu pela frente. Cristiano Ronaldo fez uma boa exibição mas teve de recuar para o meio-campo, e flectir para o meio, para poder ter a bola nos pés. Léo não lhe deu espaço e ainda conseguiu subir para apoiar o ataque.
À medida que o jogo foi decorrendo foram visíveis as dificuldades físicas. Já lhe vimos muito melhor mas parece-me em crescendo de forma!
Mais uma vez, Anderson está directamente ligado a um golo sofrido pelo Benfica. Já não consigo entender como é titular, visto que está num péssimo momento de forma… e também muito mal psicologicamente. A sua insegurança transforma-se num vírus congénito que alastra a toda a defesa, pelo que um treinador inteligente teria resguardado o seu atleta e colocado outro no seu lugar. Mas Fernando Santos mantém tudo na mesma!
A sua substituição por Mantorras é surreal!
Simão ainda não está bem e contribui, tal como o seu colega do flanco oposto, para o adormecimento total do jogo pelos flancos. Gary Neville – o seu marcador directo – não é nada de especial e um Simão em grande teria “destruído” o capitão do Manchester.
Tal não foi assim e o #20 terá passado ao lado do jogo pela 2ª partida consecutiva.
Outra nota a evidenciar é o seu paupérrimo estado físico, já que é nula a sua capacidade de sprint, o 1-para-1 não sai bem, e os remates têm saído desastrados. Urge recuperar Simão!
E agora, talvez os que tenham estado pior.
A titularidade de Alcides continua um mistério e só um Nélson de muletas pode perder o lugar para o brasileiro. Alcides esteve muito, mas muito mal neste jogo… valeu que foram raros os ataques do United pelo seu lado. O facto de Rooney “ter ficado em Inglaterra” também ajudou. Ofensivamente foi zero, como de costume!
Paulo Jorge esteve claramente desinspirado mas foi, mesmo assim, muito importante nas tarefas defensivas em ajuda ao atarantado Alcides. As jogadas pela sua ala foram quase sempre inconsequentes – cruzamentos nenhum e jogadas individuais muito poucas, quase tudo para trás –, devido também à grande exibição do argentino Heinze.
O esforço e a dedicação que impregna nas suas prestações não foram suficientes para sair deste jogo com nota positiva, no entanto, acredito nas suas capacidades.
Não compreendo como continuam a insistir em Nuno Gomes como “aríete” de um ataque e continuamente sozinho, emparedado e sem qualquer apoio.
Desta forma a bola não lhe chega aos pés – as bolas bombeadas para a cabeça também não entendo – e há tremendas dificuldades para rematar à baliza. Ainda assim é o responsável pela melhor oportunidade de golo, para o Benfica, em todo o jogo: o remate saiu para Van der Sar ceder canto.
E por fim os suplentes Nuno Assis, Miccoli e Mantorras.
Quando se mete um médio-atacante a extremo-direito dever-se-ia saber que daí virão poucos proveitos. Nuno Assis foi uma sombra do que já mostrou nesta época, com constantes flexões para o meio do terreno sem qualquer progressão e/ou nexo. Perdeu várias bolas nesta situação, criando um gigante vazio no sector direito do Benfica… onde ficava sozinho o lateral A(i)lcides!
Continua a insistência em colocar Miccoli em cunha com os centrais do adversário, posição onde o italiano nunca jogou, na Série A. Uma opção que não tem qualquer cabimento e que lhe continua a destruir o futebol!
Mantorras esteve 10 minutos em campo e não apareceu… outra opção errada!
O belga que segurou as rédeas
Já há algum tempo que não se via uma arbitragem tão positiva num jogo do Benfica.
Frank de Bleeckere manteve-se sempre em cima dos lances e terá ajuizado bem na esmagadora maioria. Mas mais importante que isso, não olhou à cor das camisolas para decidir – situação que, como sabemos, não acontece na Liga BWin – e contribuiu para manter a disputa o mais leal possível.
Até quando?
Mais uma vez Fernando Santos demonstrou ser uma vergonha de treinador nas alterações à equipa, durante o jogo! Só o fez estando a perder e de forma idiota, colocando os jogadores certos mas em posições onde não rendem de forma substancial. Pergunto-me se há indicações nos treinos para a forma como a equipa ataca, o jogo ofensivo continua de um confrangimento atroz, sem espaços criados, sem cruzamentos e desmarcações bem conseguidas, para além da “fidalguia” na hora do remate. Futebol sem balizas? Empatar para não perder?
Custa-me estar sempre a dizer as mesmas coisas mas, ao ver sempre os mesmos erros das mesmas pessoas, parece-me tudo tão óbvio que é impossível ficar calado.
Mais alguém sentiu que Kikín Fonseca teria sido fundamental nos últimos minutos onde as bolas bombeadas imperaram? Será que foi mais importante ter Beto no banco e/ou colocar Mantorras contra defesas poderosíssimos fisicamente? Será que o medo é tanto que o discernimento não aparece?! Estamos todos fartos desta inércia e destes constantes “tiros no pé”!
Nem quero comentar muito o discurso trivial de Fernando Santos – no fim do jogo –, lotado de banalidades e de enervantes “lugares-comuns”, mesmo a roçar a displicência! Só vai na sua lenga-lenga quem quer. Eu nunca fui, não vou, nem quero ir! Mas o desastre ainda é recuperável: agir, agir, agir… exijo medidas, rapidamente!
O Benfica não é isto, esta passividade, um “deixa-andar”, este “caminhar para o abismo”… um comportamento colectivo que não se vê há muitos anos! Não há volta a dar, não há competência suficiente para mudar o rumo dos acontecimentos e fazer o Benfica renascer. Até quando se vai manter tudo na mesma?
O próximo jogo é novamente na Luz e frente a um modestíssimo Desportivo das Aves. Caso não se conquistem os 3 pontos, de forma convincente, não há a mínima hipótese de tolerar a continuidade de Fernando Santos ao comando da equipa… e muitos desligar-se-ão do Futebol Benfiquista!
Que Luís Filipe Vieira tenha muito cuidado porque com o aproximar das eleições, e mantendo-se esta catástrofe que dá pelo nome de Nandinho, poderá apanhar um grande susto em Outubro.
NDR: Verdadeiramente lamentável a crónica do jogo no site oficial do Manchester. Já começam a enojar as constantes lamúrias de muitos ingleses acerca do comportamento dos jogadores portugueses – quer a nível de clubes e principalmente Selecções. Tenho reparado que tal situação ocorre com maior frequência em ingleses que são adeptos do Manchester United. É por isso que não gosto nem nunca gostei desse clube, saibam aprender com o fair-play dos magníficos “habitantes” de Anfield Road.
Ficha de Jogo:
2ª Jornada da Fase de Grupos da Liga dos Campeões
Estádio da Luz, em Lisboa
Árbitro: Frank de Bleeckere (Bélgica)
SL BENFICA: Quim; Alcides, Luisão, Anderson (Mantorras, 82 m) e Léo; Katsouranis e Petit; Paulo Jorge (Miccoli, 65 m), Karagounis (Nuno Assis, 62 m) e Simão; Nuno Gomes.
MANCHESTER UNITED: Van der Sar; Gary Neville, Rio Ferdinand, Vidic e Gabriel Heinze; Michael Carrick; Cristiano Ronaldo, Paul Scholes e John O´Shea; Wayne Rooney (Darren Fletcher, 85m) e Louis Saha (Alan Smith, 85 m).
Disciplina: Amarelos a Carrick (7 m), Scholes (10 m), Katsouranis (25 m), Heinze (66 m) e Petit (86 m).
Golos: 0-1, Saha (60 m).
#Fotos: AFP-Getty Images e SerBenfiquista
#adicionado a Crónicas 06/07
#publicado em simultâneo com o Encarnados