domingo, setembro 10, 2006

Crónica 2ª Jornada - O que é isto, Nandinho?


Tudo em expectativa para ver a estreia do Benfica na Liga BWin. Receio de uns que aparecesse o Benfica da pré-época mas confiança de outros que o Benfica Europeu se mantivesse “à tona”! Muita polémica “mateusiana” e um Benfica claramente prejudicado pela grande extensão de tempo sem competição e pela ansiedade acumulada consequente.
A certeza que de que a equipa base está construída, embora ainda não tenha conseguido mostrar que tem “cartel” para vencer um adversário de valia reconhecida – o Áustria Wien não o é, certamente –, deveria ser uma garantia de estabilidade interna.

Por outro lado um Boavista que deixou, em Alvalade, uma excelente imagem – este ano o Benfica joga sempre contra os anteriores adversários do Sporting – e que poderia ter vencido o jogo sem escandalizar ninguém. Apesar dos excelentes reforços do Bessa, seria importante aproveitar as debilidades causadas pela recente permuta de treinador. Nada mais embaraçoso que a vitória de um treinador estreante e jovem sobre um dito “conhecedor” da realidade portuguesa!

“O Fabuloso Destino de… Fernando Santos”

A semana foi preocupante em termos de lesões mas, afinal, apenas Simão e Miccoli não puderam dar o seu contributo à equipa. Assim, à excepção do #20 e do #30, Fernando Santos terá apresentado o 11 mais forte do plantel – resta saber se todos estiveram com boa condição física… o que eu duvido!
Certamente que os jogadores supracitados são importantíssimas mais-valias e fundamentais na manobra da equipa, mas o conjunto apresentado nesta 2ª jornada tem, na teoria, grande qualidade.

Sendo assim, um “costumeiro” 4-2-3-1 com a escolha óbvia de Quim na baliza, Léo e Nélson como laterais, sendo Luisão e Anderson a dupla de centrais – para mim, a defesa mais forte e consistente deste Benfica 2006/07 e a melhor do clube nos últimos 10 anos.
Como trincos surgiram Petit e Katsouranis, nas alas o “motard” Manú e o estreante Miguelito, enquanto que Rui Costa serviu de apoio ao único avançado: o capitão Nuno Gomes.

Uma equipa com a obrigação de apresentar um futebol consistente!



Pobre, pobre, pobre…

O Benfica entrou no jogo da mesma forma que se mostrou durante o seu decorrer: inconsequente, sem soluções e extremamente apático. A excelente colocação em campo do Boavista – ocupando todos os espaços de forma competente – impossibilitou a disponibilização de linhas de passe, mas a responsabilidade também veste de vermelho. Não houve qualquer indício de movimentos de rotura e a solução de construção do jogo passava pelas bolas bombeadas de Petit e pelos passes para trás e para o lado dos restantes atletas. Resultado: jogo completamente sonolento e desconexo, muito longe da baliza, e estímulo ao contra-ataque do adversário.

Apesar do domínio territorial do Benfica, esses contra-ataques do Boavista foram responsáveis pelos momentos de maior perigo. O primeiro grande lance sai dos pés de Kazmierczak que através de um remate enrolado faz Quim brilhar. Do lado do Benfica só nos remates de longe e nos passes em profundidade de Petit se criava algum perigo – Manú desaproveitou um lance de golo flagrante.

O golo caseiro acaba por surgir de forma natural, num excelente trabalho do austríaco Roland Linz e numa falha de marcação inconcebível. Se era expectável que o Benfica reagi-se ao inaugurar do marcador, tal não aconteceu… e foi Quim – até ao intervalo – que segurou o 1-0, e por 2 vezes, de forma brilhante. Muitos nervos do lado do Benfica e pouco futebol!



A 2ª parte foi a confirmação da 1ª. O Benfica com mais domínio territorial mas o Boavista a ser muito mais perigoso no contra-ataque. As substituições não produziram efeito – até, talvez, tenham piorado a prestação da equipa – e as inúmeras fífias defensivas acumularam-se, dando origem, com naturalidade, ao avolumar do resultado.
Apenas por uma vez o Benfica construiu uma jogada de golo eminente e isso diz tudo do que apresentou em campo.

O 3º golo “ensandeceu” os atletas do Benfica, nomeadamente os expulsos Manú – procurou, sempre, “tirar de esforço” as entradas mais duras que sofreu – e Petit. O Benfica acaba por sair humilhado do Bessa, não caindo de pé!
Excelente mostra de poderio ofensivo do Boavista que, mesmo com um novo treinador, vulgarizou a equipa do maior clube português.



Quim fugiu ao descalabro total

Quando o melhor elemento de uma equipa é o seu guarda-redes podemos tirar uma fácil conclusão de como foi o cariz do jogo. E Quim fez uma grande partida, sem uma única falha visível, comprovando aos mais cépticos que é o melhor keeper do Benfica e um dos melhores no nosso país.
Completamente impotente nos lances dos golos boavisteiros, ainda fez mais umas 3/4 defesas vistosas, principalmente a remates de Kaz, Grzelak e Lucas. Simplesmente imperial na recepção aos cruzamentos, não falhando um único… é esta uma das suas grandes qualidades, como já devem saber.

De Rui Costa há pouco a dizer mas a responsabilidade não é tanto dele. Foi perfeitamente visível que o “Maestro” ainda não estava em perfeitas condições físicas, e escondia-se do jogo… mas mesmo assim foi utilizado a titular! Voltam as patéticas opções que permitem que atletas a 60/70% sejam titulares, produzam pouco e agravem lesões. Parece que isto está entregue aos incompetentes!
Alguns bons momentos individuais no tempo em que esteve em campo, e quando o jogo “abriu” e se “soltaram” as fortes marcações, estando claramente a subir de produção, foi substituído!

A prestação de Luisão é feita de contrastes! Pareceu-me muito acertado na maioria do tempo de jogo – soberbo no jogo aéreo, como é costume – e tem poucas responsabilidades de marcação nos golos que o Benfica sofreu, mas é autor de algumas fífias comprometedoras para a baliza de Quim – a maior no espaço deixado livre no 3º golo mas também numa perda de bola para Mário Silva, de forma infantil, que depois consegue compensar ao dar o corpo à bola.
De forma um tanto ou quanto inexplicável, acaba por ser o homem que cria a melhor oportunidade de golo, e a nota só não é positiva porque faz parte de uma defesa que sofre 3 golos. Ainda assim algo hesitante e deixando a maior parte do “trabalho” pelo chão para Anderson!




Longe do já exibido andaram Katsouranis, Nélson e Léo.

O internacional grego esteve discreto e certinho demais para constituir uma mais-valia para a equipa. Katsouranis arriscou muito pouco e ficou a “viver na sombra” de Petit durante toda a partida.
Apareceu apenas em dois lances, num falhanço de cabeça que faria o 1-1 e num corte excepcional numa disputa com o irrequieto Zé Manel. Pouco para quem ocupa uma posição fulcral na equipa!

A aposta num jogador ainda não totalmente a 100% foi bem visível em Léo. Lentíssimo na reacção e “perro” no arranque, comprometeu o lado esquerdo devido à deficiente condição física – um dos seus grandes atributos na época passada – e à explosividade do polaco Grzelak. Resultado: perdeu a maior parte dos lances disputados em velocidade, ou chegando atrasado ou entrando em falta, e não conseguiu desequilibrar nas tarefas ofensivas. A responsabilidade está, obviamente, em quem apostou na sua titularidade quando é óbvia a sua dificuldade física, e ainda mais inacreditável se, neste estado, é deixado sozinho e sem apoio no plano defensivo.

Gostei de Nélson, da sua velocidade e da capacidade que teve de fazer subir a equipa. Está nos melhores momentos do Benfica, embora tenham sido escassos e inconsequentes.
Foi dos poucos a assumir a responsabilidade de rematar e fê-lo por várias vezes – todos sem seguimento, mas pelo menos tentou. O possante Hélder Rosário provocou-lhe grandes dificuldades no cruzamento mas defensivamente esteve bem, já que Zé Manel não apareceu de forma consistente.




Depois houve aqueles que, no final, “dinamitaram” a sua exibição com atitudes indignas de um atleta do Benfica.

Petit foi um desses! O #6 foi – no jogo jogado – o melhor elemento do Benfica, naquele seu estilo de “patrão” e “faz-tudo”, circulando a bola de forma exímia e procurando solicitar a desmarcação dos seus colegas – uma dessas vezes colocou em Manú que, isolado, tem uma péssima recepção e falha o golo.
Foi dos poucos que tentou rematar, mal é verdade, mas na cobrança dos cantos fez um excelente trabalho – o que não é muito natural.
Depois, Fernando Santos destruiu o seu futebol colocando-o, sucessivamente, nas faixas laterais… em cobertura aos extremos (!) Nuno Gomes e Mantorras. No fim do jogo, inexplicavelmente, perdeu a cabeça e envergonhou toda a gente!

Para além da expulsão por uma entrada evitável, há pouco de positivo na exibição de Manú. A habitual velocidade levou a completo descontrolo táctico – abrindo espaços na defensiva – e a finta desconcertante nunca deu resultado. Foi o jogador do Benfica com maior número de perdas de bola e não conseguiu criar um único lance de relevo, quer em cruzamentos, quer em jogadas individuais.
Numa soberana ocasião para marcar, depois de um passe magnífico de Petit, não conseguiu controlar a bola nas devidas condições… o seu grande problema na partida!




Como piores elejo Anderson, Miguelito e Nuno Gomes.

Talvez na sua pior exibição ao serviço do Benfica, o internacional brasileiro tem responsabilidades directas nos 3 golos do adversário. Anderson no 1º e no 2º golo deixou Roland Linz sozinho para facturar, e no 3º golo falhou a aproximação a Kaz deixando-o livre para o estoiro – nesse lance acumula responsabilidades com Luisão. De positivo alguns cortes e um remate ao lado e por cima no seguimento de um canto.
É um grande jogador mas no Bessa esteve um desastre!

A estreia de Miguelito não podia ter sido pior. Má prestação individual e uma derrota copiosa, só faltou a expulsão!
Nunca desequilibrou, não fez um único cruzamento, não rematou e deu a noção de estar perdido entre a lateral-esquerda e o ataque. Raça e determinação estão lá mas isso não chega! A rever no futuro.

Quanto a Nuno Gomes, depois de marcar em 3 dos 4 jogos oficiais realizados nesta época, o que é possível dizer é que não se viu em campo. Um avançado que não faz um singelo remate não pode ter classificação positiva e ainda por cima um que é expulso de forma incompreensível… envergando a braçadeira de capitão!
Muitos nervos e pouca produção, comprometendo toda a estratégia da equipa.




E por fim os suplentes Kikín Fonseca, Nuno Assis e Mantorras.

Viu-se muito pouco dos suplentes que entraram no decorrer da partida. Indiscutivelmente terá sido Kikín a sobressair um pouco mais mas mesmo assim insuficiente para uma nota positiva. O mexicano esteve muito esforçado e dá para ver que tem “pedigree” mas como a bola não chegou aos seus pés, não conseguiu rematar à baliza.
Com a expulsão de Nuno Gomes irá ter a oportunidade de se estrear a titular num jogo oficial, talvez aí se consigam ver melhor as suas qualidades.

Nuno Assis foi pouco mais que inconsequente, alguns bons lances mas sem progressão. A indefinição da sua posição em campo comprometeu a sua prestação... tenho curiosidade em saber o que Fernando Santos lhe terá pedido para fazer!
Mantorras tocou uma ou duas vezes na bola, em jogadas longe da baliza!




Arbitragem difícil num jogo de nervos

A justificação da derrota na arbitragem não a vão ouvir/ler do meu lado, raramente o faço e só quando há escândalo para tal. No Bessa, João Ferreira não pode, em momento algum, ser responsabilizado por este mau resultado – até pela leitura do que disse anteriormente – e confesso que reconheço que esteve bem em quase todo o jogo.

Contra o Benfica terá falhado, apenas, na não-expulsão do “anti-futebol” Ricardo Silva – por uma entrada dura sobre Nuno Gomes –, embora nos últimos momentos de jogo eu já não tenha tido a lucidez necessária para uma análise aprofundada. Bem na expulsão de Nuno Gomes, na de Manú – não há contacto mas a entrada é demasiado violenta e impetuosa, se acertasse no adversário poderia causar-lhe problemas graves – e na de Petit – embora o devesse ter feito com vermelho directo.

Talvez tenha faltado um ou outro cartão amarelo para boavisteiros – nomeadamente para Lucas naquele “sururu” com Nuno Gomes e para Mário Silva numa entrada sobre Manú – mas nada de demasiado importante que tivesse condicionado o desenrolar do controlo do jogo.
Trabalho impecável dos árbitros-auxiliares no que diz respeito ao fora-de-jogo!



E já há 6 pontos de diferença

Escrever sobre este jogo é complicado pelo facto de haver poucas coisas positivas para destacar, pelo lado do Benfica como é óbvio. O teor do jogo foi, irremediavelmente, marcado ao longo da semana mas como adepto consciente esperava uma atitude louvável de todos os profissionais do Benfica… independentemente de todos os condicionantes inerentes à partida em causa. Infelizmente não foi isso que aconteceu, pelo que a equipa e os adeptos saem do Bessa, inequivocamente, envergonhados com tudo aquilo que se passou.

A minha opinião sobre Fernando Santos é a mesma desde sempre e desde o 1º minuto que sigo a coerência da mesma. Com Nandinho no banco do Benfica só um milagre fará com que haja uma equipa decente, com um fio-de-jogo decente, atitude decente, futebol decente e soluções decentes. Para além das inenarráveis opções tácticas, o pior que o referido treinador apresenta é uma total incompetência na fomentação e manutenção do controlo emocional dos atletas por quem é responsável… comprovou-se hoje, mais uma vez, tal situação!

A exibição de hoje – e parabéns ao Boavista pela excelente equipa, grande prestação e vitória – foi simplesmente miserável! Em 90 minutos nunca houve futebol de ataque bem conseguido e por apenas uma vez se rematou à baliza… pelo central Luisão (!). Assim não se marcam golos, meus senhores!
E o que dizer da substituição de Rui Costa – quando finalmente “segurou” o jogo –, da colocação de Nuno Gomes na extrema-esquerda ou da imposição a Nuno Assis para jogar em cunha com os “gigantes” centrais? É mau demais para ser verdade, é irritante e uma perfeita perda de tempo ter este homem no banco. Era “vê-las a entrar” e nenhuma reacção… acorde Fernando Santos, espevite os seus jogadores de forma positiva, tranquilize os profissionais e adeptos do clube, esbraceje e grite, e acima de tudo não invente!


E depois não posso deixar passar a humilhante indisciplina – resultado da referida incompetência do Nandinho na fomentação do controlo emocional – que hoje vimos nos atletas do Benfica, principalmente nos capitães Nuno Gomes e Petit. Atletas tão experientes não podem envolver-se em picardias sem sentido, nem insurgir-se contra o árbitro de forma indigna. Hoje Petit – um jogador de quem sou um fã acérrimo, com camisola e tudo – foi um péssimo exemplo do que é ser capitão de equipa. E não há qualquer justificação possível para tal atitude, que lhe vai custar muito tempo de suspensão. Certamente que “outros” jogadores de “outros” clubes – parafraseando o “vinicultor”: “Vocês sabem de quem eu estou a falar!” – já fizeram coisas do género mas no Benfica não se pode pactuar com isto!

Já o tinha dito e reafirmo-o, com este treinador é esperar “calmamente” por 2007/08! Até porque o “Engenheiro”, ou muito me engano, não vai pedir a demissão nos tempos mais próximos. Com o Nandinho não há milagres, a sua contratação fez o Benfica regredir mais de 5 anos. Por muito respeito que lhe tenha – e podem crer que tenho – o Benfica e os benfiquistas merecem mais!

Veremos o comportamento do Benfica na 1ª jornada da Champions. Falhar de novo será catastrófico!


NDR: A diferente abordagem a duas situações retrata fielmente o diferente tratamento dos assuntos relacionados com o Benfica. Os Diabos Vermelhos fizeram uma gigante faixa com o “Sabem onde há escutas boas, boas, mesmo boas? Sabem? E arquivam?” que não foi mostrada na totalidade na SportTV por uma única vez – sei do seu conteúdo pela Imprensa Escrita. A normalidade nunca foi esta, costuma mostrar-se tudo o que entra no Estádio, mas parece que o realizador – ou algum “chefão” – não gostou do que lá estava escrito!

Por outro lado, foi dada a oportunidade a João Loureiro – arguido no Apito Dourado, mas um confesso injustiçado e incompreendido – de protagonizar um bonito e enternecedor momento “Fátima Lopes”… com enorme potencial para fazer verter uma lágrima até ao telespectador mais “áspero”. Não sei o que é mais comovente, se a presença do “Loureirito”, se a indignação, a consternação e a “disponibilidade” do pai.
Parabéns à SportTV por esse momento de Televisão!


Ficha de Jogo:

2ª Jornada da Liga BWin

Estádio do Bessa, no Porto

Árbitro: João Ferreira (AF Setúbal)

BOAVISTA FC: William; Hélder Rosário, Ricardo Silva, Cissé e Mário Silva; Lucas, Tiago e Kazmierczak; Zé Manel, Roland Linz (Fary, 78 m) e Grzelak (Bessa, 83 m).

SL BENFICA: Quim; Nélson, Luisão, Anderson e Léo; Katsouranis (Mantorras, 79 m) e Petit; Manú, Rui Costa (Nuno Assis, 62 m) e Miguelito (Kikin Fonseca, ao int.); Nuno Gomes.

Disciplina: Amarelos a Zé Manel (38 m), Nuno Gomes (40 m e 68 m), Hélder Rosário (40 m), Ricardo Silva (46 m), Petit (68 m e 92 m), William (73 m), Luisão (78 m), Bessa (85 m), Léo (88 m). Vermelhos por acumulação a Nuno Gomes (68 m) e Petit (92 m). Vermelho directo a Manú (92m).

Golos: 1-0, Linz (36m); 2-0, Linz (75 m); 3-0, Kazmierczak (90m);

#Fotos: AFP-Getty Images, Reuters e SerBenfiquista

#adicionado a Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o
Encarnados