quarta-feira, setembro 20, 2006

Crónica 3ª Jornada - O "calor" da Luz tudo resolve... ou quase!


O rescaldo de Copenhaga, e com o Bessa no pensamento, foi muito doloroso!
É inegável que me fez afastar um pouco do Futebol do Benfica, alheando-me quase por completo das notícias semanais, conferências de Imprensa, debates e fóruns. A aproximação da SuperTaça de Futsal – uma modalidade de que sou um fá acérrimo – também contribuiu para essa aparente “indiferença”.
No entanto, o regresso à Luz, normalmente, é motivador já que os jogos em casa têm outra aura… outra envolvência!

A novidade da semana foi a inclusão de Karagounis e Karyaka na convocatória para o jogo. Depois do quase abandono do clube, folgo em saber que ainda são opções, principalmente o grego, que é um jogador que aprecio bastante. O russo é um caso muito mais bicudo mas acho que “Zorba” tem tudo para ser um dos 12/13 atletas mais utilizados do plantel. Categoria, técnica e experiência não lhe faltam. Basta ter a confiança do técnico.

A outro nível, analisando friamente as anteriores prestações na Liga BWin, vemos um Nacional bastante fraco como colectivo, patenteando graves problemas de finalização e de ligação entre os sectores. A saída da Madeira de algumas figuras – inclusivamente o treinador Manuel Machado – prejudicou fortemente a qualidade de jogo dos insulares e, desta forma, prevejo-lhes um ano bem difícil na luta pela manutenção.



Revolução “a quanto obrigas”

Já se sabia que havia vários condicionantes à formação de uma equipa titular. Petit, Nuno Gomes e Manú estavam castigados enquanto que Rui Costa cumpre o calvário da lesão “criada” por Fernando Santos. Ricardo Rocha, também ficou indisponível, ao lesionar-se quando tinha o lugar garantido.

Assim, a defesa manteve-se igual à de Copenhaga – Nélson, incompreensivelmente, é preterido por Alcides – mas é no meio-campo que há novidades. A ausência de Petit significou a entrada de Karagounis no 11, sendo que Katsouranis preencheu sozinho o vértice do meio campo defensivo. Há muitos anos que o Benfica não jogava com apenas um trinco, pessoalmente gosto bastante!
O 4-2-3-1 acabou por ser diluído num 4-3-3 – ou, se quisermos ser mais rigorosos, num desdobramento em 4-1-2-3 já que os “pontas” do meio-campo flectiam bastante para o centro – com Nuno Assis na direita e o grego “proscrito” na esquerda.

Na frente, Simão na esquerda, Paulo Jorge manteve-se na direita e entrou Kikín para ocupar o lugar do castigado Nuno Gomes.
Destaque ainda para um banco de grande qualidade, com notoriedade máxima para Fabrizio Miccoli, Mantorras, Miguelito, Nélson e Moreira.


Quem não “mata” arrisca-se a… comprometer

O início do encontro mostrou duas equipas algo temerárias e inconsequentes no que diz respeito às acções ofensivas mas existiu, claramente, um controlo territorial absoluto por parte do Benfica. É verdade que o ataque benfiquista funcionou muito pouco no 1º quarto de hora mas em termos de empenho e de atitude houve um melhoramento brutal, em relação às anteriores partidas.
Aos 19 minutos aparece a 1ª oportunidade de golo, com Simão a receber de peito um cruzamento de Alcides e a rematar por cima. Estava feito o primeiro aviso!

O Nacional respondeu com um estoiro de Alonso para grande defesa de Quim. Era o melhor momento do jogo até aí. Poucos minutos depois, o “endiabrado” Simão cobra um canto, falhanço monumental de Diego Benaglio, e aparece Luisão a encostar para o golo com pé direito. Estava feita justiça, o domínio do Benfica concretizava-se em algo real!

Se era expectável um aumento de tranquilidade por parte da equipa da casa, tal não sucedeu. Até ao intervalo, o Nacional subiu de produção e “caiu em cima do Benfica.” Um remate de Alonso ao poste, 2 estoiros de Bruno Amaro no seguimento de livres e uma bomba de Juliano causaram muitos problemas a Quim. O Benfica só apareceu a espaços!


No 2º tempo, o Nacional desapareceu por completo! O cansaço das viagens à Roménia e para Lisboa poderão ter condicionado o futebol apresentado e a equipa limitou-se a assistir, impávida e serena, ao vendaval ofensivo dos primeiros momentos.
A expulsão de Cléber complicou ainda mais as contas!

Mas o Benfica foi falhando várias oportunidades para avolumar o resultado e tranquilizar as hostes. Alcides e Simão terão falhado as mais clamorosas, a poucos metros da linha de golo! Os suplentes que entraram incutiram alguma velocidade e mais frescura – o que não tem sido normal nos últimos tempos –, no entanto nos minutos finais voltou a aparecer a conhecida intranquilidade destas curtas diferenças. Ricardo Fernandes, por duas vezes, poderia ter empatado o jogo… tal como o tinha feito, no ano passado, na Choupana.
Qual a necessidade de, depois de tantos golos falhados, acabar o jogo com o “credo na boca”?


David e Golias, numa planície grega

Usando uma expressão de Valentin Melnychuk, Nuno Assis parecia um “rato diabólico”, tal a velocidade de execução e perfeição dos gestos! Foi o verdadeiro patrão da equipa, assumindo as responsabilidades de organização do ataque, quer na solicitação dos extremos ou assumindo a jogada individual – fintando vários adversários.
E se tal não bastava para uma grande exibição, procurou ajudar a equipa nas tarefas defensivas e, por várias vezes, foi possível vê-lo a “dobrar” companheiros e a fazer cobertura a bolas perdidas. Foi um bom substituto de Rui Costa, e é pena que vá sair da equipa quando o “Maestro” estiver recuperado. Para mim, o melhor em campo!

Um golo, uma vitória e 3 pontos! Terá havido jogador mais decisivo que Luisão?
Uma prestação sem falhas, secando sozinho a linha ofensiva – Anderson ficou nas dobras – e mostrando que está melhor do que nunca!
Nota muito positiva para a forma como comemorou o golo, com os adeptos que sempre o acarinharam e nunca duvidaram das suas capacidades. Luisão é um líder e é dos líderes que “reza a história”. Uma grande exibição de uma das grandes referências deste Benfica do século XXI.

Talvez uma surpresa no 11 mas uma óptima surpresa. O futebol de Karagounis é portentoso, com uma técnica individual impar e um domínio de bola fantástico – apesar de ter exagerado, aqui ou ali, no individualismo.
O grego faz parte das 3 melhores prestações em campo, juntamente com Luisão e Nuno Assis, o que deixa no ar que a sua presença na equipa é bastante importante.
Protagonista no sólido meio-campo apresentado, ainda teve tempo para aparecer em bom plano nos remates de longe. Poderia ter feito golo e tê-lo-ia merecido!



Simão equivale a qualidade! Um fabuloso jogador que, com o ritmo de jogo e condição física ideais, é o melhor jogador português do nosso Campeonato. Nesta partida deu um “cheirinho” daquilo que vale nas constantes deambulações pela ala, com cruzamentos bem medidos e passes milimétricos – mesmo como extremo-direito, após a entrada de Miguelito, manteve o nível. Ainda muito mal na finalização, mas melhorar nesse capítulo é uma questão de tempo… temos o capitão de volta!

Impressionante a segurança e a tranquilidade de Quim neste início de época.
Grandes defesas a remates de Alonso e Bruno Amaro, absolutamente imperial nos cruzamentos! Ainda têm dúvidas sobre quem é o melhor guarda-redes do Benfica?

Léo terá feito o melhor jogo pelo Benfica em 2006/07. Apesar de ter tido algumas dificuldades defensivas na 1ª parte – os problemas físicos de Simão também não ajudam, na hora de defender – “rebentou com tudo” na 2ª parte.
Vimos, pela primeira vez este ano, o Léo atacante e só a inépcia dos avançados fez com que não saísse do campo com assistência(s) para golo.



A calamitosa prestação no Bessa não se repetiu e na Luz viu-se, novamente, o verdadeiro internacional brasileiro. Anderson esteve muito regular e não lhe vi falhas graves, apesar da exuberância defensiva não ter sido a nota dominante.
Muito certinho, disciplinado mas pouco acutilante no ataque, ele que o costuma ser mais que Luisão!

Como se costuma dizer: “ganda joga” de Katsouranis! Talvez a melhor exibição de “águia ao peito”, sem falhas visíveis no plano defensivo e um dos responsáveis por iniciar os ataques. Até teve oportunidades para fazer golo, em sequência do seu portentoso jogo de cabeça.
Gostei bastante! Mantendo o nível vai dar problemas a Nandinho, na escolha para a titularidade.



As exibições menos conseguidas talvez tenham sido as de Alcides, Paulo Jorge e Kikín Fonseca.

Tolero a titularidade de Alcides quando o adversário assim o justifica: equipas de grande envergadura física como o Copenhaga ou de grande gabarito como o Barcelona e o Manchester United – onde é preciso defender muito, com uma espécie de 3 centrais. Frente a equipas como o Nacional, não entendo como Nélson fica no banco.
Bola nos pés e Alcides não combinam muito bem, cruzamentos zero, remates poucos e inconsequentes, e nesta partida esteve desastrado a defender Alonso… deixando-se ultrapassar várias vezes. Para mim foi o pior elemento do Benfica, espero que no futuro se sinta confortável no banco!

Aquele que tinha sido um dos melhores em Copenhaga decaiu muito de produção no regresso ao Campeonato. Paulo Jorge esteve um desastre e continua a confirmar uma ideia que já tenho há algum tempo: na Luz é difícil afirmar-se, ainda está muito “verde” perante tanto público e compromete o seu futebol com esse nervosismo.
Muito apagado e quando apareceu fez asneira! Proponho que seja Manú o titular nos jogos em casa e Paulo Jorge nos jogos fora, isto se Miccoli não for remetido para falso extremo-direito.

Tenho pena que Kikín não tenha feito “o gosto ao pé”. Pelo que tem trabalhado e pelo profissionalismo que tem demonstrado merecia-o!
Não me recordo de um único remate que tenha feito mas entrega-se muito ao jogo e mantém-se atento a todas as jogadas do ataque, parece que os passes não lhe têm chegado em boas condições mas não vou entrar nas especulações que já li em alguns blogs. Não inventem coisas onde elas não existem!



E por fim a tripla dos “M”, os suplentes Miccoli, Mantorras e Miguelito.

Ver Fabrizio Miccoli a jogar é um gozo tremendo, já todos o sabem, mas não é só pelo seu monumental talento. Fabrizio parece um daqueles miúdos de rua que respiram futebol… e são felizes assim. Essa “aura” é-nos transmitida em cada toque na bola, em cada sprint, em cada desmarcação, em cada sorriso! A garra, a arte e a disponibilidade estão lá sempre, e nos poucos minutos que jogou deu para ver que continuam!
Encontrando o ritmo de jogo e melhorando os índices físicos – já estão bem melhores – será imparável.

A “alegria do povo” em versão curta! Um pouco mais de 10 minutos de Mantorras e um golo feito, falhado pelo pouco poder cabeceador… “o calcanhar de Aquiles” desde sempre!

Miguelito ainda é muito “Miguelinho” no Benfica. Quando perder a “vergonha” e “mandar para trás das costas” o medo de triunfar no clube do coração será um “Miguelzão”. O talento está lá, é preciso deixá-lo sair. E já está na hora!
Ainda assim, uma excelente jogada “à extremo” que, combinando com Léo, culmina numa grande assistência para Simão “disparatar” um golo fácil.



Arbitragem “à Pedro Henriques”

Mais uma vez não houve influência da arbitragem no resultado do jogo e isso é sempre positivo. Considero Pedro Henriques o melhor árbitro português, não só porque gosto da forma “britânica” como dirige os jogos, mas também porque revejo nele uma honestidade que não se vê na maioria dos árbitros nacionais. Para além disso, é um árbitro que não foge às responsabilidades e assume quando erra, muitas das vezes em ecrãs de televisão.
Nutro-lhe alguma simpatia!

A arbitragem deste Benfica-Nacional não está isenta de erros, e eles ocorreram maioritariamente devido à sua forma de apitar… por vezes exagerada!
Concretamente terá errado em três momentos: ao permitir 3 faltas consecutivas, num curtíssimo espaço de tempo, a Cléber e não puxando do cartão – bem, depois, ao expulsá-lo por uma óbvia mão na bola; ao amarelar Léo num lance sobre Luciano onde até a falta é muito duvidosa; ao perdoar a sanção a Patacas por uma entrada violenta sobre Simão.

Há, ainda, um lance onde Luisão alivia uma bola e depois terá mantido, por 1-2 segundos, o pé numa altura exagerada, lesionando Juliano Spadaccio no choque. Admito que lhe pudesse ser mostrado um amarelo – Pedro Henriques não o fez – mas já li opiniões de ex-árbitros internacionais que afirmam que o lance é normal e frequente. Fica a minha dúvida!
No que diz respeito aos árbitros-auxiliares, encontrei alguns erros na sanção dos foras-de-jogo. Dos 4 assinalados ao ataque do Benfica, há um assinalado a Nuno Assis e outro a Paulo Jorge que não existem, e eram lances bastante perigosos… 50% de erro nunca será aceitável!


“O nosso Campeonato começa agora”

Regressar à Luz normalmente “esconde” as graves limitações de que a equipa padece, é assim há anos e nesta 3ª jornada não foi diferente. O adversário também me parece muito fraco colectivamente e mesmo assim ainda criou alguns problemas bem sérios ao Benfica, inclusivamente a jogar em inferioridade numérica. Tendo em conta que seria virtualmente impossível piorar o nível exibicional, o que é certo é que, a espaços, a exibição acaba por ser agradável. Fugiu-se, felizmente, aos prognósticos de horror!

O que gostei bastante foi a mudança radical que a atitude da equipa patenteou – também tal não poderia ser de outra forma – dominando o jogo na sua esmagadora maioria e apresentando algum futebol de qualidade. É perfeitamente visível que ainda há muita intranquilidade e que a mesma se reflecte em perdas de bola infantis nas zonas perigosas do campo. É esse problema que me preocupa bastante e, como se sabe, o Nandinho não terá capacidade para o resolver de forma estanque… mas não vale a pena bater mais, já todos os leitores sabem o que penso do treinador!

No momento não é possível perder mais pontos e como não são os adversários do Benfica a marcar golos na própria baliza há que treinar mais e melhor a finalização… para que não se desperdicem tantos lances de golo eminente. É inacreditável como tantos avançados não conseguem fazer um único golo há 3 jogos consecutivos.



Destacar também o regresso à Competição do extraordinário jogador que é Fabrizio Miccoli, esperemos que os problemas físicos estejam dissipados e que possa voltar a ser uma opção regular para a titularidade. Um jogador da sua craveira, disponibilidade e afabilidade é importantíssimo nesta equipa, seja em que posição for.

Os 3 pontos acabam por ser o mais importante já que há muitas, mas muitas, coisas a melhorar. Há uma semana inteira para trabalhar os índices técnico-tácticos, no sentido de apresentar a equipa em melhor estado em Paços de Ferreira. Uma deslocação bastante difícil não só porque os pacenses vêm de uma vitória moralizadora em Alvalade mas também porque a última jornada de 2005/06, com os mesmos intervenientes da 4ª deste ano, deu num 3-1.

NDR: A presença de Valdemar Duarte na ridícula cobertura “TVIdesca” da Liga BWin já, há muito tempo, ultrapassou os limites do grotesco. Os “tiques” reconhecidos, e relatados por todos, já não são novidade mas insinuações nunca tinha presenciado. “O Nuno Assis está a correr muito, hoje!” é inqualificável mas elucidativo da sua “sem-vergonhice”. Podem crer que fiquei indignado!

Deixo, ainda, um breve resumo da partida, da autoria do sempre prestável Xander.


Ficha de jogo:

3ª Jornada da Liga BWin

Estádio da Luz, em Lisboa (36.590 espectadores)

Árbitro: Pedro Henriques (Lisboa)

SL BENFICA: Quim; Alcides, Luisão, Anderson e Léo; Nuno Assis (Miguelito, 86 m), Katsouranis e Karagounis; Paulo Jorge (Fabrizio Miccoli, 73 m), Kikin Fonseca (Mantorras, 78 m) e Simão Sabrosa.

NACIONAL MADEIRA: Diego Benaglio; Patacas, Ávalos, Ricardo Fernandes e Alonso; Cléber, Bruno Amaro, Juliano Spadaccio e Bruno (Vinícius, 73 m); Cássio e Luciano (Adriano, 56 m).

Golos: 1-0 Luisão (29 m).

Disciplina: Amarelos a Ricardo Fernandes (22 m), Cléber (27 m e 57 m), Léo (43 m) e Alonso (54 m). Vermelho, por acumulação a Cléber (57 m).

#Foto: AFP-Getty Images, Reuters e SerBenfiquista

#adicionado a Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o Encarnados