Expectativa? Sim! Esperança? Sempre! Confiança? Alguma! Tranquilidade? Pouca… ou Nenhuma! A ida do Benfica a Copenhaga, perante tanta complicação no seio do clube, representou muito mais do que a disputa de um jogo. Definia a exigência à equipa em 2007/08, já que um madrugador fracasso europeu poderia fazer desabar o castelo de cartas em que está sedeado o Futebol Profissional Encarnado. A vitória não seria tão fundamental, se bem que muito importante, mas era imperativo garantir a entrada na Fase de Grupos da Liga dos Campeões. Os adeptos sabiam-no, a Direcção, os jogadores e o treinador também.
Costumo dizer que a sorte dá muito trabalho, e o Benfica, hoje, trabalhou imenso. Quem costuma ler as minhas crónicas sabe que não acredito na dicotomia Sorte/Azar, em Alta Competição. A competência ou a incompetência são, indiscutivelmente, factores muito mais importantes no decorrer de uma partida, ou de uma época desportiva. O que, realmente, interessa é que a equipa sai de Copenhaga com uma vitória suadíssima, num jogo que tem tudo de Petit e Camacho: “Sangue, Suor e Lágrimas!” O #6 do Benfica voltou a fazer uma exibição espantosa, como tantas no seu currículo, confirmando-se, mais uma vez, como o melhor jogador do Benfica em 2007/08.
Mas não foi só Petit, o melhor em campo, que vimos em grande no Parken Stadium. A equipa foi, verdadeiramente, uma equipa e quase todos se exibiram num plano de qualidade muito elevado. Foi uma vitória da raça, do querer, da vontade e do espírito de grupo. Tudo aquilo que Camacho dá às suas equipas, tudo aquilo que o derrotismo nato de Fernando Santos impede. Como se pode não gostar de ouvir os berros de Camacho, à linha, mesmo com 40 mil em polvorosa? De certeza que até os jogadores gostam de ter um treinador mais interventivo durante os 90 minutos, ao invés de uma autêntica múmia.
Todos vimos uma entrada demolidora dos dinamarqueses, à qual o Benfica respondeu com muita dificuldade. E essa dificuldade inicial pode ter duas explicações óbvias, uma momentânea e outra de estratégia. A 1ª diz respeito às lesões que limitam severamente o centro da defesa da equipa, faltando os titulares Luisão e David Luiz. O 2º problema diz respeito à baixíssima estatura de muitos dos jogadores do Benfica, um problema já de há muitos anos e que compromete, severamente, a competitividade da equipa em confronto com a esmagadora maioria das equipas europeias. Cardozo, e Di Maria a espaços, foram muito importantes na ajuda à defesa, em situações de bola parada. O paraguaio até evitou um golo certo, com um excelente corte junto ao poste.
A nível individual há a destacar, para além do fabuloso Petit, a grande exibição de Katsouranis. O grego esteve seguríssimo a defender e ainda marcou um belo golo, numa grande jogada colectiva na sequência de um espectacular livre apontado por Rui Costa. Rui Costa fez uma 1ª parte de enorme classe, sendo fundamental nas saídas para o ataque, mas desceu muito de nível no 2º tempo. Não gostei tanto de Miguel Vítor, como no jogo frente ao Guimarães. O puto tremeu um bocadinho, mas mesmo assim há alguns lances de excelente qualidade. Tem muito talento para 18 anos! Parece-me que Quim já agarrou o lugar definitivamente, ele que esteve espectacular, mais uma vez, na obtenção de uma clean sheet. Nélson e Léo sofreram imensas dificuldades naqueles minutos iniciais, mas serenaram e, após esse período de sufoco, mostraram-se em bom plano. Nélson saiu lesionado quando se exibia com grande fulgor, foi pena. Léo fez uma 2ª parte de enorme qualidade, mostrando-se fundamental em termos ofensivos.
Cardozo é um jogador extraordinário, já todos vimos isso. Está muito preso fisicamente, e não aguenta 90 minutos, mas quer a nível de remate, de fixação dos defesas, de jogo de tabelinhas, é mesmo uma grande contratação. Falta-lhe um golo. Espero que seja para breve, até pela tranquilidade que lhe incutirá. A destacar, também, a excelente estreia de Di Maria. Não conhecia o jogador, e fiquei impressionado. Quando conseguir ser mais rápido a soltar a bola será um dos melhores jogadores do Campeonato. Tem um pé esquerdo soberbo! Não posso deixar de elogiar a melhor exibição de Nuno Gomes nos últimos… 6 meses, pelo menos. Não marcou, e até rematou com perigo, mas jogou e fez jogar. Muito mexido, rápido, com bonitos passes. Gostei imenso, que seja para manter. Luís Filipe e Nuno Assis foram, novamente, os piores. E já nem há palavras para tentar qualificar as prestações do primeiro. Não ajuda a defender, não corre às bolas ficando especado, não se desmarca, não finta, não remata, não cruza. Um zero! Assis continua inconsequente. O jogo chega aos seus pés e… pára completa e irremediavelmente.
Em relação à arbitragem, há muito para falar. Eric Braamhaar mostrou uma passividade incrível para o jogo duro, e uma impaciência total para coisinhas menores. Não houve rigor! Dos quatro amarelos que mostrou, dois são por protestos, um por uma mão na bola e outro por retardamento do tempo de jogo – este, a Katsouranis, foi a pedido. Não digo que não devia ter mostrado, mas houve entradas duras durante o jogo onde faltou a sanção disciplinar – Rui Costa e Hutchinson foram alguns dos poupados. Erros graves só cometeu dois, um para cada lado. Beneficiou o Benfica quando não assinalou penalty numa falta óbvia de Miguel Vítor, ao agarrar a camisola de Marcus Allback – tem atenuante no facto do sueco se ter atirado para a piscina depois do contacto, mas tinha de marcar a falta. O outro lance diz respeito a uma mão na bola de um dinamarquês após um centro, à entrada da área do Copenhaga. Não sei precisar se é dentro, ou fora da área – parece-me fora – mas o livre era perigosíssimo e o amarelo tinha de ser mostrado. Excelente trabalho dos auxiliares.
É sempre óptimo ver o nosso clube a vencer fora de casa, nas Competições Europeias… independentemente do adversário em causa. É muito importante para o Benfica, continuar a recuperar o seu enorme prestígio internacional. Esta eliminatória é mais um pequeno contributo. E Camacho tem muito mérito na forma como a equipa lutou até ao fim. O próximo jogo disputa-se na Madeira, frente ao Nacional, e será fundamental para cimentar a recuperação, pontual e mental, da equipa. Faltam poucos dias para arranjar reforços, um deles podia ser este.
NDR: Agora, que já sabemos o resultado do sorteio, já se podem fazer algumas análises. Regressar a San Siro será, efectivamente, um orgulho. E para Rui Costa será um prazer! Defrontar o AC Milan, 12 anos depois do Benfica de Artur Jorge ter sido eliminado nos Quartos-de-Final, poderá suscitar algum sentimento de vingança. Há muitos benfiquistas com simpatia pelos rossoneri, confesso que não é o meu caso. O que é certo é que o cabeça-de-série do Grupo D, o nosso, é o actual Campeão Europeu. Tal como era o Liverpool que, há 2 anos atrás, foi derrotado em sua casa, numa das vitórias mais espectaculares do Benfica moderno. Ao grupo, acrescentam-se os escoceses do Celtic, que o Benfica já encontrou na época passada – sendo o saldo uma vitória e uma derrota –, e também o poderoso Shakhtar Donetsk.
O Campeão Ucraniano será um adversário de respeito, já que investiu imenso dinheiro e conta com o avançado italiano Cristiano Lucarelli – que era um dos meus desejados para reforçar o Benfica –, o espectacular mexicano Nery Castillo - que rebentou na Copa América 2007 -, o excelente lateral croata Dário Srna, a revelação Ilsinho, o checo Tomas Hubschman, Willian – brasileiro que foi apontado como uma possibilidade para o Benfica –, Jadson, Brandão... entre outros. O grupo é bastante complicado, o mais complicado que o Benfica encontrou nos últimos três anos, mas menos que o 3º lugar será um rotundo fracasso. O apuramento para a 2ª fase vai ser, no entanto, muito complicado.
Podem ver o resumo do jogo aqui. Mais uma obra-prima da bS7.
Ficha de Jogo:
SL BENFICA: Quim; Nélson (Nuno Assis, ao int.), Miguel Vítor, Katsouranis e Léo; Luís Filipe, Petit, Rui Costa e Angel Di María (Romeu Ribeiro, 73 m); Nuno Gomes (Gonzalo Bergessio, 90+2 m) e Óscar Cardozo.
O Benfica garante o apuramento para a Fase de Grupos da Champions League, com um agregado de 3-1.