domingo, junho 04, 2006

BENFICA UNIVERSAL!

No seguimento ao excelente post do meu caro comblogger T-Rex, e para que acabem de vez com a ideia de que nós vivemos apenas do passado, gostaria de relembrar esse excelente filme com Daniel Day Lewis "In The Name Of The father" (Em Nome do Pai), e ao momento singular onde vemos o galhardete do GRANDE E GLORIOSO BENFICA lado a lado com o galhardete dos 1/4 de final da TCE de 1965 que opôs 2 Gigantes do futebol na altura (e hoje em dia, claro!) Manchester / Benfica.
Não é à toa que se cuida de exibir algo relacionado com um clube que nem é o do país do realizador (desconheço se esse pormenor fazia parte da autobiografia de Gerry Conlon, que deu origem a este filme), daí podermos perguntarmo-nos o porquê de antes não estar ali um galhardete do Real Madrid, o maior gigante do futebol da altura, ou porque não, do Manchester United?.
Não, é um galhardete do BENFICA, do BENFICA por respeito, reconhecimento, consideração. Este respeito, reconhecimento e consideração ganhámos ao longo dos anos e ainda hoje se mantém inalterável. Estejamos 10/15/20 anos sem entrar na Europa, o BENFICA será para sempre considerado um COLOSSO do futebol Mundial. Quantos mais poderão assim ser considerados durante décadas e mais décadas?




Em relação a este momento magnífico do filme de Jim Sheridan, escrevia assim Alexandre Borges n'A Capital de 16 de Julho de 2005:

Ao longo de décadas, diferentes realizadores têm retratado a paixão por um clube de futebol como personagem secundária ou figurante dos seus filmes

ALEXANDRE BORGES

Em 1974, um atentado à bomba reclamado pelo IRA matava cinco pessoas num pub de Guilford, nos arredores de Londres. Um jovem rebelde irlandês chamado Gerry Conlon é, então, preso, conjuntamente com três amigos, e condenado pelo crime. Giuseppe Conlon, pai de Gerry, ence-ta esforços para a sua libertação e, embora venha também a ser condenado, consegue o auxílio da advogada Gareth Peirce para a investigação das irregularidades do caso. É quando essa personagem interpretada por Emma Thompson visita Gerry, aliás Daniel Day-Lewis, na cadeia, que uma surpresa se revela aos espectadores portugueses. Ao longo de todo este diálogo de Em Nome do Pai, filme dirigido por Jim Sheridan em 1993, um galhardete do Sport Lisboa e Benfica está pendurado na parede da cela, bem ao lado do rosto de Gerry, em posição de destaque em relação às fotografias e outros elementos identitários com que os cineastas costumam construir os prisioneiros.
Dois anos antes, um episódio de um outro magnífico filme carregava esse efeito visual-surpresa para os apreciadores do futebol. Estamos em 1991 e o alemão Wim Wenders dirige uma das suas melhores obras: Até ao Fim do Mundo. William Hurt e Solveig Dommartin encabeçam um elenco onde também pontificam Max Von Sydow, Sam Neill e Jeanne Moreau. Numa película também célebre pela sua banda sonora (entregue a nomes como U2, Talking Heads, Lou Reed, Peter Gabriel, Elvis Costello, Patti Smith, Depeche Mode, REM ou Nick Cave and the Bad Seeds), a dependência humana dos avanços tecnológicos está em jogo. Num imaginário futuro próximo, depois de ano de trabalho exaustivo num laboratório num lugar à parte do mundo, Henry desenvolveu um aparelho que captará e transmitirá à crescente invisualidade da mulher as imagens que não poderia já ser autorizada a contemplar. O filho, Sammuel (Hurt), embarca, então, pelo mundo, em busca dessas paisagens visuais. Já encontrado com Elsa (Dommartin) e depois de uma passagem por Moscovo, é quando se passeiam por uma Lisboa nocturna que um eléctrico lhes passa por detrás, incendiado de tons encarnados e transportando elementos da claque dos Diabos Vermelhos, sacudindo pelas janelas bandeiras e cachecóis vermelhos e brancos e cantando «Benfica! Benfica! Benfica!»

A Capital 16 Julho 2005