quarta-feira, junho 28, 2006

Crónica Oitavos de Final - "The Game of Their Lives!"

A “hora de todas as decisões” ou “agora é que começa o Mundial”! Depois de uma prestação invicta – não confundir com a cidade – na 1ª fase, esperava-se que a Selecção de Portugal continuasse a espalhar alegria pelo país. Todos sabemos que a obrigação de Portugal já tinha sido concluída – com o apuramento à 2ª fase assegurado – e tudo o que viesse a mais era bem-vindo. É, sempre, triste ser eliminado logo nos Oitavos-de-Final mas tal situação poderia acontecer sem que fosse um grande escândalo.

A Holanda é uma excelente formação, talvez das 4/5 melhores do Mundial e, como sempre, está recheada de estrelas do futebol com lugar garantido nos melhores clubes do Mundo – assim como Portugal.

Objectivamente, Portugal é muito parecido com a Holanda: são ambos países relativamente pequenos mas com uma paixão imensa por futebol, os dois ocupam lugares secundários mas com protagonismo no futebol de selecções e de clubes; já tiveram prestações fantásticas em Mundiais mas nunca venceram o título – Holanda foi à final de 1974 com a sua melhor formação de sempre, Portugal foi 3º em 1966 com a sua melhor formação de sempre; a nível de Europeus a Holanda já venceu um título em 1988 e Portugal esteve muito perto em 2004.


Há inclusivamente quem diga que o futebol de Portugal e da Holanda é muito bonito mas não chega para vencer. Há, portanto, inúmeras semelhanças embora nos últimos anos os portugueses tenham sido carrascos dos “sempre cool” holandeses. Em 15 anos não houve derrotas e nenhum luso estava a pensar em ver quebrada a tradição…. ok, nem todos, mas a esmagadora maioria.

Curiosidade ainda para observar as cumplicidades entre jogadores dos dois países: Van der Sar e Boa Morte – ex-colegas no Fulham; Van der Sar, Van Nistelrooij e Cristiano Ronaldo – colegas no Manchester United, os dois últimos parece que têm atritos; Van Bronckhorst, Van Bommel e Deco – jogadores do Barcelona; ou ainda Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Maniche e Arjen Robben – colegas no Chelsea. É certo que estas amizades entre jogadores holandeses e portugueses têm sido comuns ao longo da história recente do futebol.


A “fórmula” Scolari

Sem surpresas, Luiz Felipe Scolari apresentou a equipa-tipo que tem utilizado de forma sistemática desde o Euro 2004 – à excepção do lesionado e insubstituível Jorge Andrade.

Portugal alinhou com Ricardo na baliza, Miguel e Nuno Valente nas laterais e como centrais, Ricardo Carvalho e Fernando Meira. No meio campo jogaram Costinha e Maniche como médios de contenção e Deco como playmaker. Na frente jogou Cristiano Ronaldo, Luís Figo e como homem de área: Pedro Pauleta.

Bastantes novidades relativamente ao jogo anterior mas todos sabemos que esse escalonamento foi efectuado numa situação especial. A equipa apresentou-se na máxima força quer relativamente aos jogadores do 11 inicial quer aos atletas que se encontravam no banco. Portanto, um Portugal fortíssimo à espera de ser feliz.


Sofrer… mas sofrer muito

A maior parte do público presente era, de facto, holandês mas os poucos portugueses nunca se deixaram ficar para trás e na entoação do hino não se notou grandes diferenças nos cânticos.

O começo da Holanda foi explosivo, logo no 1º minuto um remate perigosíssimo de Van Bommel a passar rente ao poste. Facilmente se via qual o cariz do jogo! Sofrer, sofrer e sofrer!
Do lado de Portugal só Cristiano Ronaldo conseguia criar perigo e os holandeses sabiam do valor do jogador do Manchester United. Ao mesmo tempo que a baliza de Portugal era bombardeada com remates holandeses, o #17 tentava meter medo! Cedo “arrumaram” com o miúdo tendo o prevaricador ficado em campo tranquilamente.

Pauleta parecia desenquadrado com o jogo quando caía sucessivamente em fora de jogo e Portugal jogava inferiorizado devido a um Cristiano Ronaldo em dificuldades. “Porra Scolari, tira-me o miúdo se não isto corre mal!”
A Holanda carregava mas os remates saíam muito tortos e com Ronaldo a ir constantemente ao banco receber assistência, não havia nada que acalmasse a alma lusitana.


Pelo meio das constantes simulações de Robben, o “coxo” Cristiano pega na bola e lança para Deco que cruza da direita para Pauleta. O açoriano segura, segura, segura ao esperar por Maniche endossando-lhe a bola de forma brilhante. Muito perigo, o fuzilador está na área! O #18 finta um, finta dois e estoira…já está, golo de Portugal! Uff! Portugal aos gritos, holandeses caladinhos!

Depois do golo, o terror dos holandeses quase desfere novo golpe certeiro mas o tiro sai muito alto. O jogo mantinha-se com o domínio dos laranjas – neste jogo, de branco – e com fogachos de contra-ataque luso. Finalmente, entra Simão para Portugal voltar a jogar com 11 unidades mas é da Holanda que surge um grande lance. Van Persie faz o que quer de Nuno Valente e de Ricardo Carvalho deitando-os ao chão e – naqueles breves instantes, a maioria dos portugueses susteve a respiração – e só por milagre não faz golo. Se Deus é brasileiro, olha que ele também gosta muito dos portugueses, de certeza!

Depois daquele lance fantástico de Pauleta que não dá golo porque… há Van der Sar, mesmo a terminar o 1º tempo, Costinha irrita até o Cardeal Patriarca de Lisboa. Como é que é possível fazer tamanha azelhice? Toda a gente pensou: Costinha “o enterra”, vai-nos lixar tudo!
O intervalo dá para refrear os ânimos e rezar para Scolari meter o Petit e para que os holandeses estivessem em seca de golos.



A 2ª parte do jogo foi de um sofrimento incrível! A área nacional foi um verdadeiro campo de tiro de snipers holandeses e até a barra ajudou! O lance em que mais me irritei foi naquele – logo no reatamento – em que o Petit vê um amarelo escusado, o que me fez pensar em nova expulsão!

Os obreiros da defesa tiveram uma postura estóica e histórica! Garra, entreajuda, segurança e, pasmem-se, muita tranquilidade. Principalmente o(s) Ricardo(s), Petit e Miguel foram heróis da armada lusitana lutando como ninguém pela vitória. Van Basten, e bem, a jogar contra 10 tentou reforçar o meio-campo ofensivo com a entrada de Van der Vaart mas a opção saiu-lhe furada pois ao retirar um defesa e vendo outro ser expulso ficou apenas com 2 – e o adaptado Cocu – para controlar os ataques perigosíssimos de Portugal.

Alguns “sururus” sem qualquer controlo por parte do árbitro, resultaram no acrescento da intranquilidade da Holanda, e Portugal ganhou com isso. Simão assustou de livre, Deco seguiu isolado para a área mas não teve nem velocidade nem discernimento para colocar a bola num colega e, então, os holandeses passaram-se! Por duas vezes não devolveram a bola em atitude de anti-fair-play depois de Portugal a ter atirado para fora para permitir a assistência médica.


A partir destas cenas tristes, o jogo entrou em clima de completa batalha com sucessivos lances duros e agressões. No meio disto tudo foi Deco que pagou o desnorte do árbitro e dos holandeses complicando ainda mais um Portugal reduzido a 9.

Foram 10 minutos de completa loucura, onde o golo podia ter aparecido numa qualquer baliza do Frankestadion. O prolongamento seria castrador para Portugal e havia que acreditar na vitória – na nossa, não na do Beckham! Kuyt e Miguel, sozinhos numa e noutra baliza, quase mudam o resultado mas o score haveria de terminar 1-0. Nem Tiago o conseguiu mudar e bem que podia, caramba! Para a saúde do coração de milhões de portugueses tudo terminou!

Nunca suei tanto ao ver uma partida de futebol! Foi incrível!
É difícil destacar jogadores individualmente mas talvez Ricardo pela segurança e Maniche pelo golo.


Heróis lusos na “Batalha de Nuremberga”

Falar no Ricardo deste Mundial é sinónimo de falar de concentração e categoria. O guarda-redes do Sporting tem estado no melhor nível que alguma vez já teve cotando-se, mesmo, como um dos melhores guarda-redes da Competição.
Imperial na saída aos cruzamentos – e foram muitos – fez ainda 2 defesas, verdadeiramente, espantosas. A 1ª, num remate rasteiro, de longe e a saltitar, de Van Bommel teve alguma sorte mas muita destreza, a 2ª num remate de Sneijder, de longe e a meia-altura, fez a defesa da noite.
Foi fundamental nos minutos finais de “assalto holandês” ao comandar a defensiva e a segurar algumas bolas perdidas como por exemplo quando Kuyt, isolado e com muito espaço, tentou o golo já nos minutos finais.
A continuar com esta performance, e fazendo fé que Portugal vá ainda mais longe, tem tudo para vencer o prémio Lev Yachin. Para mim, o melhor em campo!

A exibição colectiva e individual foi fantástica mas Maniche merece uma referência pela importância que teve no adiantamento de Portugal no marcador. A boa forma do ex-jogador do Chelsea foi, mais uma vez, demonstrada quando recebeu a bola de Pauleta, desfeiteou 2 defesas e fuzilou Van der Sar. Um golo magnifico, tão bonito quanto importante!
O “Man of The Match” da FIFA foi um dos mais irrequietos na procura do golo mas foi também importante na ajuda à defesa e ao meio-campo defensivo. Por pouco não fez o 2-0 num remate de longe mostrando, em todos os momentos, aquela irreverência que lhe é tão característica. Anormalmente disciplinado – como tem sido neste Mundial, foi a muleta de Costinha/Petit quando houve problemas para resolver!


Outra espantosa exibição fez Miguel – a nova pérola negra do #13!
Num jogo tão complicado não se inibiu ofensivamente e fez muitas jogadas perigosíssimas – em duas poderia ter feito o 2-0 – que puseram em sentido a comitiva holandesa. Acabou o jogo como estremo-esquerdo porque já estava completamente de rastos – e isto são palavras suas.
Confirmando tudo o que tem dito dele nos últimos tempos – “o melhor lateral direito do Mundial”, foi um verdadeiro esteio a segurar uma das estrelas do futebol actual. Robben quem?

Tão criticado tinha sido Fernando Meira que deu nisto: talvez a melhor exibição do central do Estugarda ao serviço da Selecção – no Mundial foi, de certeza!
A sua grande pecha, o jogo de cabeça, esteve irrepreensível mesmo frente a grandes cabeceadores como Kuyt, Hessekink ou Van Persie. Apenas uma falha, naquela escorregadela compensada pelos colegas. Destaque para um corte magnífico, mesmo a terminar o jogo e de cabeça, depois de um centro espectacular de Robben! Que seja para continuar, porque um Meira assim é uma “meiravilha”!

Tal como o seu colega de sector, Ricardo Carvalho também fez uma monumental exibição. Um pouco mais espectacular que Meira, o central do Chelsea foi o pronto-socorro do aflito Nuno Valente frente ao irrequieto Van Persie. Carvalho foi, neste jogo, sinónimo de dobra e fê-lo de forma… perfeita!
A “arte do corte by Ricardo Carvalho” teve o expoente máximo ao dar o corpo ao tiro de Sneijder, lance que lhe custou na pele/coxa. Seja bem-vindo, de novo, ao convívio dos grandes, “kaiser” luso, já sentíamos a sua falta!


Figo é… Figo! O melhor! A palavra que melhor define a exibição do português mais internacional de sempre é: classe. Durante muito tempo Boulahrouz passou incólume com um amarelo sem que ninguém fosse ter com ele “dar-lhe luta”. Na primeira grande jogada de Figo do lado esquerdo, a experiência do #7 veio ao de cima levando o duríssimo e “picado” holandês à agressão!
À semelhança do jogo com o México, o capitão teve menor fulgor ofensivo – também temos de ver a mais-valia dos adversários – mas foi muito importante quer em tarefas mais “mundanas” quer ao servir colegas com maior fulgor físico – Simão e Maniche principalmente.
Acabou exausto e substituído… o descanso do guerreiro!

Afigurava-se uma fantástica exibição de Cristiano Ronaldo nesta partida. Em 7 minutos de jogo já tinha sacado 2 amarelos, levantando o estádio português e colocando em sobressalto público e equipa holandesa. Mas a 2ª pancada foi demasiado violenta e não deixou que a estrela portuguesa conseguisse explanar o seu futebol a 100%. Mesmo ao pé-coxinho ainda deu para iniciar a jogada do único golo da partida. Poderia ter sido a noite do #17!
Saiu com dores e em lágrimas aos 33 minutos, e em lágrimas continuou no banco! Ninguém me tira da cabeça que tudo isto foi premeditado pelos holandeses!

Pauleta foi o sacrificado pela asneira de Costinha mas antes disso foi um dos responsáveis pelos 2 melhores momentos de Portugal na partida. No 1º, numa jogada “à Nuno Gomes”, segura e faz a assistência para Maniche marcar o golo de Portugal e no 2º tem uma rotação magistral seguida de remate com selo de golo…. Van der Sar defendeu por instinto!
No resto da partida esteve pouco em jogo mas com trabalho muito complicado na tentativa de abrir espaços no meio de defesas tão corpulentos. “Póletá” é um jogador muito importante na equipa!

As exibições menos conseguidas foram mesmo as de Nuno Valente, Costinha e Deco.

O adversário era muito valoroso mas Nuno Valente perdeu muitos lances com Van Persie. As dobras dos centrais foram fundamentais para que o holandês do Arsenal não conseguisse empatar o marcador da partida… e por vezes só a sorte valeu a Portugal. Talvez a pior prestação de jogadores portugueses mas o esforço esteve lá. Não conseguiu dar seguimento às boas exibições que tinha estado a fazer na Competição pelo que até a nível ofensivo foi inconsequente – para não dizer inexistente. Tem de ser mais Valente!

Costinha chocou Portugal com gesto infantil quando estava a ter uma prestação bastante positiva. Muito seguro nos cortes e nas dobras – nesta partida, importante como nunca – teve, no entanto, alguma dificuldade para cobrir os espaços à entrada da área pois foi nessa zona que apareceram muitos dos remates holandeses.
Não se compreende o que lhe passou pela cabeça – e com a experiência dos 31 anos – para meter a mão à bola, numa jogada a meio-campo e sem perigo algum, com um amarelo já no cadastro. Teve sorte pelo facto de Portugal não ter perdido, caso contrário seria algo que lhe ficaria ligado até ao resto da vida… e mesmo assim, se calhar, até vai ficar!

Neste Mundial, ainda não se viu o grande Deco do Barcelona, talvez devido aos baixos índices físicos. Foi, como sempre, exímio nos passes longos e curtos mas pareceu-me, em muitos lances, demasiado individualista e excessivamente “brinca na areia”. Não entendo o propósito daqueles “chapéus” todos em jogadas sucessivas nem entendo a sua tendência para “mastigar” o jogo de forma recorrente. Está no melhor e no pior de Portugal: no pior ao ser expulso de forma injusta mas também infantil e escusada; e no melhor ao fazer o cruzamento que Pauleta aproveitou para assistir Maniche no golo de Portugal. Não joga frente à Inglaterra e vai fazer falta, esperamos por ele nas Meias-Finais.


E por fim os suplentes Simão, Petit e Tiago.

A lesão madrugadora de Cristiano “one-man-show” Ronaldo foi benéfica para o capitão do Benfica. Simão Sabrosa confirma a cada jogo que passa, e tem feito um grande Mundial, que está numa forma esplêndida – o que é muito importante nesta altura de decisões. O seu grande defeito é, como todos sabemos, a envergadura física mas não teve medo de enfrentar os “gigantes” holandeses e sempre que pôde “partiu para cima deles”. Esteve muito perto de fazer o 2-0 num livre directo que passa a centímetros da barra e foi sempre uma mais-valia no momento de organizar o jogo português. Uma grande exibição, portanto!
Por breves minutos – depois da saída de Luís Figo – ainda envergou a braçadeira de capitão, o que deve ter causado milhares de anti-corpos em muita gente.

Nada pior esteve Petit! O #8 é o jogador, talvez de todos os 23, mais indicado para este tipo de jogos, pela raça, pela luta e pelo discernimento que – aos 30 anos – é cada vez maior. Fez um jogo enorme e tentou, o mais que pode, servir de 3º central quando o ímpeto holandês esteve no topo da sua pujança.
Curiosamente, vendo o seu historial de “sangue na guelra”, foi dos que tentou acalmar Figo naquele lance mais quente com Van Bommel. Destaque para um corte absolutamente magnífico, mesmo a terminar o jogo, ao dar o corpo a uma assistência atrasada de Van Persie quando já estavam Hesselink e Kuyt preparados para finalizar.

Tiago entrou apenas a 6 minutos dos 90 mas mesmo assim teve tempo para dar nas vistas. Quase matou o jogo por completo, num grande lance, já nos descontos, em que finta 3 holandeses mas é pouco expedito a finalizar. Parece-me muito macio para estes jogos duros e tem alguma dificuldade em desequilibrar mas globalmente esteve bem e ainda sacou a expulsão de Gio.


Crazy Ivanov

Ao não expulsar Khalid “The Cannibal” Boulahrouz – não estou a inventar, é mesmo a alcunha do holandês – aos 7 minutos, o russo Valentin Ivanov, comprometeu de imediato o resto da partida. É perfeitamente inacreditável que uma simulação patética de Van Bommel resulte num amarelo para Maniche e um buraco na perna de Cristiano Ronaldo dê direito à mesma punição.
Costinha é, efectivamente, bem expulso e poderia até ter ido mais cedo para o balneário – com duplo amarelo – por uma entrada fora de tempo sobre Ooijer.

Finalmente, Boulahrouz é expulso de forma justa mas tardia, por uma cotovelada cobarde a Luís Figo. Neste lance, a única dúvida é se o cartão a mostrar é amarelo ou vermelho! E as regras são bem claras na punição a cotoveladas, o vermelho deve ser a cor mostrada. Portanto, mais um erro de Ivanov!

Depois da expulsão de Rui Costa naquele célebre Alemanha-Portugal, a expulsão de Deco é a decisão de arbitragem mais injusta que me lembro ter assistido num jogo da Selecção. Num ambiente de excessiva dureza, com entradas maldosas, picardias e agressões, é incrível que o #20 de Portugal seja expulso com um 2º amarelo forçadíssimo – o 1º amarelo é bem mostrado mas há que ter em atenção a conjectura da jogada em que o mesmo é mostrado. E se Deco foi amarelado, porque escapou incólume o empurrão de Cocu na mesma jogada?


O “head-butt” de Luís Figo a Van Bommel – está em todas, este artista – já foi muito discutido por toda a gente – portugueses, holandeses e… ingleses – mas as regras são claras: um encosto de cabeça, semelhante a um empurrão ou um “chega-para-lá” é punido com cartão amarelo e foi precisamente isso que o árbitro – a meias com um dos auxiliares – mostrou. Portanto, muito bem neste lance!

Depois ainda há a expulsão correcta de Giovanni Van Bronckhorst – duas faltas seguidas num espaço de 5 segundos – e nova expulsão perdoada, desta vez a Dirk Kuyt. O avançado holandês agride Ricardo com a bota na tentativa de disputa de um lance com o guarda-redes português. No mínimo teria de ser exibido um cartão amarelo!

Mas das coisas que mais me enervaram ao longo do jogo, foram as constantes simulações de Robben, sem qualquer tipo de aviso ou sanção por parte do árbitro. O jogador do Chelsea caía por tudo e por nada e até quando fazia faltas claras tinha a audácia de protestar a arbitragem. Como é possível que tenha acabado o jogo sem um único amarelo?


Mas não me esqueço de falar naquela entrada dura de Nuno Valente sobre Robben já dentro da área… e com o jogo interrompido. Aqui, a fortuna esteve do lado de Portugal! Caso a jogada não tem sido precedida de fora-de-jogo, teria de ser marcado um penalty e mostrado, pelo menos, um amarelo ao lateral-esquerdo do Everton.
Sneijder foi outro que fugiu ao cartão quando empurra, desnecessariamente, Petit sem que o português tenha feito absolutamente nada… estava apenas a ajudar um colega caído.

Auxiliares com responsabilidades no descalabro arbitral, apesar de terem estado relativamente bem nos lances de fora-de-jogo! A sua obrigação seria ajudar o desastrado compatriota e não deixá-lo à deriva da sua momentânea loucura. Não foram bons colegas, e por arrasto do seu chefe, têm nota medíocre.

Como é possível que Portugal tenha cometido apenas 11 faltas e tenha visto 9 (!!) amarelos e 2 vermelhos?


Um grande Mundial

Este jogo será recordado para toda a história da Selecção de Portugal! Uma exibição épica, de sofrimento, de categoria, de entreajuda e de revolta deram a Portugal a possibilidade de disputar os Quartos-de-Final frente à Inglaterra.

A célebre frase, "contra tudo e contra todos" foi construída para momentos como este! Uma arbitragem miserável que prejudicou Portugal, e o próprio jogo, não foi suficiente para abalroar os novos heróis da "Batalha de Nuremberga". Foram todos enormes!
Shame on you, Netherlands! Agressões, simulações, picardias, falta de fair-play... uma vergonha de quem se diz o país mais desportista da Europa.

Scolari volta a aumentar o seu recorde de vitórias consecutivas – 18 por Portugal e 11 em Mundiais – e está apenas a 2 do 2º lugar do ranking do treinador com maior número de vitórias de sempre em Mundiais.


A Conferência de Imprensa que dá no final do encontro é algo que demonstra bem a importância de Felipão na “equipa de todos nós”. Foi qualquer coisa de extraordinário e demonstrativo de que a raça lusitana não é exclusiva de cidadãos portugueses. No meio de pérolas como “vi este grupo a fazer hoje, o que há muito tempo não vi a fazer por Portugal: dignificando o país” e “a atitude de Figo foi mais correcta do que a de Heitinga, que não devolveu a bola, provocando a expulsão de Deco. Jesus Cristo é que deu a outra face ao adversário. Figo não é Jesus Cristo” defendeu Portugal, mandou recados aos ingleses – que já pensam que o confronto são “favas contadas” – e também aos “intelectualóides” portugueses. Renovem com o homem até 2008, mas renovem ontem!

Já fui um grande admirador de Marco Van Basten que, para além de um grande jogador, teve sempre um enorme espírito desportivo dentro de campo, mas quer a sua atitude como treinador quer as suas declarações no fim do jogo absorveram um bocado essa admiração. Como é possível as pessoas mudarem tanto em tão pouco tempo? Saber ganhar é uma virtude mas saber perder é ser bom desportista e isso, Van Basten, não o demonstrou!

Isto: “Foi um erro do Boulahrouz que chegou atrasado à bola e o cartão amarelo foi uma boa decisão do árbitro” e isto “Queriam desportivismo quando andaram constantemente a perder tempo? Quando falarem disso tenham cuidado” é lamentável!


Histórico frente à Inglaterra

1947: 0-10 num jogo amigável, disputado em Lisboa

1950: 3-5 num jogo amigável, disputado em Lisboa (Golos portugueses de Ben David (2) e Manuel Vasques)

1951: 2-5 num jogo amigável, disputado em Liverpool (“Patalino” e Alano reduziram para Portugal)

1955: 3-1 num jogo amigável, disputado no Porto (José Águas (2) e Matateu deram a primeira vitória sobre os ingleses)

1958: 1-2 num jogo amigável, disputado em Londres (Carlos Duarte fez o golo português)

1961: 1-1 na qualificação para o Mundial 62, disputado em Lisboa (José Águas empatou o score)

1961: 0-2 na qualificação para o Mundial 62, disputado em Londres

1964: 3-4 num jogo amigável, disputado em Lisboa (José Torres e Eusébio (2) fizeram os golos nacionais)

1964: 1-1 num jogo amigável, disputado em São Paulo (Fernando Peres empatou o jogo)

1966: 1-2 nas Meias-Finais do Mundial 66, disputado em Londres (Marcou Eusébio para Portugal)

1969: 0-1 num jogo amigável, disputado em Londres

1974: 0-0 num jogo amigável, disputado em Lisboa

1974: 0-0 na qualificação para o Euro 76, disputado em Londres

1975: 1-1 na qualificação para o Euro 76, disputado em Lisboa (Rui Rodrigues fez o golo nacional)

1986: 1-0 na Fase de Grupos do Mundial 86, disputado em Monterrey (Carlos Manuel deu a vitória a Portugal)

1998: 0-3 num jogo amigável, disputado em Londres

2000: 3-2 na Fase de Grupos do Euro 2000, disputado em Eindhoven (Depois de estar a perder por 2-0 com golos de Steve MacManaman e Paul Scholes, Portugal faz uma reviravolta história com Figo a estoirar para o 1-2, João Pinto a fazer o empate com uma cebeçada fenomenal a cruzamento de Rui Costa e Nuno Gomes, depois de nova assistência de Rui Costa, a dar os 3 pontos com uma excelente finalização)

2002: 1-1 num jogo amigável, disputado em Birmingham (Alan Smith deu vantagem aos ingleses tendo Costinha empatado o jogo)

2004: 1-1 num jogo amigável, disputado em Faro/Loulé (Pauleta empatou o jogo depois de Ledley King – com a ajuda de Miguel – ter adiantado os ingleses no marcador)

2004: 2-2 nos Quartos-de-Final do Euro 2004, disputado em Lisboa (Michael Owen deu a vantagem aos ingleses muito cedo com Postiga a levar o jogo para prolongamento já nos últimos minutos. Depois, com um golão, Rui Costa dá a vantagem mas pouco tempo depois, Frank Lampard leva o jogo para os penaltys. Aí Ricardo defendeu o penalty de Darius Vassel e, batendo David James, qualificou um Portugal eufórico)

Saldo: 21 J – 3V – 9E – 9D – 25 golos marcados/45 sofridos


Fantástica a dança num “meínho” depois do fim do jogo, onde até um dos médicos lusos deu espectáculo! É nestas coisas que se vê o fabuloso espírito de equipa de Portugal!

Chorei, ri, gritei, sofri, delirei! Obrigado Portugal, obrigado Scolari por esta enorme alegria!
O jogo mais sofrido de sempre, Eu te amo PORTUGALLLLLLLLLLLLL!


NDR: A lata incrível de Pinto da Costa – depois de tudo o que disse sobre a Selecção e de ter achincalhado Scolari e quase todos os jogadores de Portugal – ao ter ido no dia do jogo ao hotel onde estava instalada a Comitiva Portuguesa. Não entendo qual o propósito desta atitude mas desconfio: É sempre bom estarmos ao lado dos que vencem não é? Mesmo que os odiemos, como se costuma dizer… “Se não os consegues vencer, junta-te a eles!”

A outro nível, acho bizarro que antes do jogo e ao intervalo, um dirigente da Federação Holandesa tenha estado no balneário do árbitro. “A mulher de César também tem de o parecer”!


Ficha do Jogo:

Campeonato do Mundo - Oitavos de Final

Frankenstadion, em Nuremberga

Árbitro: Valentin Ivanov (Rússia)

PORTUGAL – Ricardo; Miguel, Fernando Meira, Ricardo Carvalho e Nuno Valente; Costinha e Maniche; Luís Figo (Tiago, 84 m), Deco e Cristiano Ronaldo (Simão, 34 m); Pauleta (Petit, 46 m).

HOLANDA - Van der Sar; Ooijer, Boulahrouz, Mathijsen (Van der Vaart, 55 m) e Van Bronckhorst; Sneijder, Van Bommel (Heitinga, 66) e Cocu (Hesselink, 83 m); Van Persie, Kuyt e Robben.

Disciplina: Amarelos a Van Bommel (2 m), Boulahrouz (7 m e 63 m), Maniche (20 m), Costinha (31 m e 45 + 1 m), Petit (50 m), Van Bronckhorst (59 m e 90 + 5 m), Luis Figo (60 m), Deco (73 m 78 m), Sneidjer (73 m), Van der Vaart (74 m), Ricardo (76 m), Nuno Valente (76 m). Vermelho por acumulação de amarelos a Costinha (45 + 1 m), Boulahrouz (63 m), Deco (78 m) e Van Bronckhorst (90 +5 m).

Golos: 1-0, Maniche (22 m).

Fotos: AFP – Getty Images

#publicado em simultâneo com os Encarnados