segunda-feira, julho 03, 2006

Crónica Quartos-Final - Agarra, Ricardo!

“Matar ou morrer”, um “Mata-Mata”! O jogo com a Holanda, nos Oitavos-de-Final, predispôs a presença nesta fase tão importante, mas de certa forma comprometeu a estrutura da equipa tendo em conta as expulsões de Deco e de Costinha. O #20 e o #6 de Portugal são dois jogadores fundamentais não só pela sua enorme categoria mas também pela experiência acumulada em grandes vários embates internacionais de dificuldade extrema, e por isso a sua ausência era incomodativa.

Jogar e vencer a Inglaterra é a melhor sensação que posso ter relativamente a jogos de Portugal, muito por causa da mesquinha e ordinária mentalidade inglesa – jogadores, treinadores e adeptos – no que diz respeito aos seus adversários. Admiro Sven-Goran Eriksson, uma ex-glória do “nosso” Benfica e um senhor do futebol mundial, mas esse factor não chega para conseguir respeitar a equipa inglesa.

Esta minha embirrância foi aumentada exponencialmente devido à campanha vergonhosa mantida, antes do jogo, pela imprensa inglesa. Entrevistas inventadas, provocações gratuitas, desvalorizações obscenas e até tácticas patéticas como aquela de colocar, à noite, helicópteros a sobrevoar o hotel de Portugal, na tentativa de destabilizar o sono de jogadores e técnicos.


Obviamente que todos conhecemos o poderio da formação inglesa e, apesar de não ter feito boas exibições na competição, tem no seu “plantel” jogadores de topo como Frank Lampard, Steven Gerrard, Ashley e Joe Cole ou John Terry. De destacar que depois daquela Meia-final de 1966, a Inglaterra nunca mais venceu Portugal em jogos oficiais.

Muitos conhecidos nas duas equipas quer por alguns portugueses jogarem na Premier League, mas também pelo facto de nos últimos anos terem havido muitos confrontos entre as duas nações – quer em clubes, quer em selecções. Certamente que ainda estão na memória as vitórias nos Euros 2000 e 2004 mas também as recentes vitórias de clubes portugueses em confrontos da Taça UEFA e da Liga dos Campeões.

Curiosidade, ainda, para ver Scolari defrontar aqueles que o queriam ao comando da sua equipa, e para – depois de Mourinho – colocar os ingleses em sentido da melhor forma: provando que somos melhores!


Sem Deco há que redobrar esforços

“Nesta altura do Campeonato” já não há muito por onde inventar. Com a ausência dos castigados Deco e Costinha, Luiz Felipe Scolari fez entrar para o seu lugar os suplentes directos Tiago e Petit. Ao longo da semana ainda se especulou com o possível reposicionamento de Figo no centro do terreno mas, com o cansaço acumulado, Scolari optou por uma solução mais “fresca”.

Portugal alinhou com Ricardo na baliza, Miguel e Nuno Valente nas laterais e como centrais, Ricardo Carvalho e Fernando Meira. No meio campo jogaram Petit, Maniche e Tiago. Na frente jogou Cristiano Ronaldo, Luís Figo e como homem de área: Pedro Pauleta.

A ideia seria reconstruir o tridente de meio campo com um homem mais adiantado – neste caso Tiago, no entanto o que aconteceu foi uma linha recta sem qualquer adiantamento ou atraso no posicionamento.


Depois de 120 minutos, a glória merecida

Como tem sido recorrente, a quantidade de portugueses presentes no Arena AufSchalke era significativamente inferior ao seu adversário. Muitas desculpas se “engendraram” como por exemplo “os ingleses têm maior poder económico” ou “os portugueses deixam tudo para a última da hora” mas acho que há marosca na definição da possibilidade de compra dos bilhetes. Ao fim ao cabo, é sempre o pequenino português que se lixa!

Portugal entrou muito mal na partida! Foi um começo demolidor da Inglaterra com várias oportunidades de golo num curto período de tempo. No 1º minuto Ricardo Carvalho esqueceu-se da bola e dá espaço a Rooney, valeu Fernando Meira na dobra evitando um provável golo inglês. Pouco depois, num livre, duas oportunidades para a Inglaterra com Ricardo a defender por duas vezes. Aos 10 minutos aparece Rooney num remate de longe para defesa segura de Ricardo.

Confesso que fiquei receoso com este começo de um só sentido mas a partir daí, Portugal conseguiu responder, principalmente através de Cristiano Ronaldo. Um sprint de 30 metros culminado num remate forte mas à figura de Robinson. No lance imediatamente a seguir Tiago, lentíssimo, falha o golo já dentro da área quando só era preciso encostar. Mãos na cabeça… cheira a golo português!


Ronaldo tenta mais 2 vezes – com remates muito perigosos, um na área depois de fintar Neville e outro de longe – o que resulta num claro abrandamento inglês. Parece que o miúdo lhes meteu medo! À meia-hora Portugal controla o jogo por completo e domina o terreno, os ingleses apenas respondem de contra-ataque que acabam por chegar às mãos de um atento Ricardo. Baixa o ritmo de jogo acentuadamente!

O destaque inglês vai apenas para um livre de Beckham depois de uma “paragem cerebral” de Petit que abalroa Joe Cole. Bola na barreira, ó David! A primeira parte revela um Portugal mais ofensivo e mais rematador em contraste com uma Inglaterra de alguma expectativa.

O início de 2º tempo é um pouco semelhante ao início do 1º, com uma Inglaterra mais espedita e rematadora. Um Beckham inexistente – e lesionado – dá lugar a um irrequieto e rapidíssimo Aaron Lennon e aí Portugal tremeu! Lampard quase faz golo, já dentro da área, mas estoira por cima e minutos depois o miúdo do Tottenham, recém entrado, finta tudo o que havia para fintar sobrando a bola para novo estoiro por cima, desta vez de Cole. Portugal podia ter sofrido golo nestes 2 lances e só a sorte esteve do nosso lado.


Porém, uma atitude irreflectida de Rooney deita tudo a perder e com 10 jogadores, os ingleses nunca mais se encontraram. Abdicaram, mesmo, de vencer o jogo! As substituições operadas por Scolari beneficiaram a equipa de forma clara levando ao sufoco de Portugal sobre a Inglaterra. A solução inglesa foi o “bus” e daqueles vermelhos que há em Londres, com dois andares!

Destaque para os estoiros, de longe, de Maniche e para sucessivos cruzamentos, salvos facilmente pelos altos defesas ingleses – aqui já Neville jogava como 3º central fazendo Lennon de falso lateral-direito. Depois da expulsão de Rooney, aos 65 minutos, apenas por uma vez, e até ao fim do tempo regulamentar, a Inglaterra criou perigo. Foi através de um remate forte de Lampard no seguimento de um livre directo: Ricardo, brilhante, safou no remate e na recarga… irra, só lhe faltava voar!

Apesar do “massacre luso” não entraram bolas na baliza, mas mesmo assim estava bastante confiante que Portugal iria vencer. Não conseguia pensar que uma exibição fraca da Inglaterra chegaria para retirar um justo triunfo a quem o merecia. No prolongamento resolvemos!


O resumo do prolongamento é muito simples: cansaço colectivo dos dois lados, dois “buses” londrinos de 2 andares dentro da área, um Crouch no meio campo – marcado de forma brilhante por Meira – e um massacre sucessivo de Portugal com remates de longe e cruzamentos mais ou menos perigosos. No meio desta sensaboria toda um único destaque para um cabeceamento estupendo de Postiga mas em fora-de-jogo – a Inglaterra não fez um único remate à baliza de Ricardo em 30 minutos de prolongamento! Comecei a ficar desesperado e depois deste lance – vi logo que estava fora-de-jogo e por isso só houve 1 ou 2 gritos, sim, eu grito muito e muito alto – já via Portugal eliminado nos penaltys… de forma injusta! Não me consegui sentar mais até ao final do encontro!

Maniche ainda teve o golo nos pés, mas rematou de forma desastrada. Não abri a boca mais nenhuma vez até que o Simão bate o 1º penalty. Os comentadores ingleses ainda tentaram dar um “empurrão” aos jogadores ingleses com “Lampard não falha há dois anos”, “Gerrard sabe uma coisa ou outra sobre marcar penaltys”, ou ainda “Carragher, um especialista, entrou de propósito para marcar o penalty” mas não chegou!


O sentimento foi da loucura até à profunda depressão em breves minutos e por várias vezes. Ricardo cala Lampard e toda a Inglaterra… TOMA! A loucura, a certeza da qualificação mas… Hugo Viana e Petit minam a esperança – Porra, Petit o que é isto! Hargreaves dá a sensação que tudo pode mudar para eles!

Agarra, Ricardo… já eras, Gerrard! A rouquidão apodera-se de mim, mas por uma boa causa e vem aí o Postiga! Vê lá o que fazes, ó rapaz. Penalty exemplar, Portugal na frenteeee!
O especialista está preparado, Carragher… faz golo! Não apitou pá, parece parvo!
AVÉ, RICARDO, ÉS O MAIOR! É agora, o puto… o “inglês”. GOLOOO!
Go home, England! PORTUGAL, PORTUGAL, PORTUGAL!

Ricardo será sempre o destaque do jogo mas é imperativo destacar as exibições dos dois centrais de Portugal.


Rijos como Carvalho, dois Ricardos no Trio “Meiravilha”

Já tinha escolhido Ricardo como o melhor em campo no jogo contra a Holanda e, como é óbvio, ele merece a referência pela 2ª vez consecutiva. O “carrasco inglês” fez novamente das suas e, com luvas, bateu o recorde de defesas num desempate por penaltys, em jogos do Mundial. Mas a sua exibição não foi só isso, esteve imperial nas saídas da baliza – sabemos que é o seu ponto fraco – e impecável nas defesas a estoiros dos categorizados bombardeiros – Lampard e Gerrard.
A enorme tranquilidade que denota – não ver o trabalho de Scolari e de… Brassard é não pescar nada disto – já dá para tudo e se mais penaltys aparecessem mais o “Labreca” defendia.
De 4 defender 3 – e o de Hargreaves não defendeu porque não calhou – é um feito notável que o eleva aos píncaros do Mundo. Será recordado para sempre e isso é o melhor que pode acontecer a um jogador!
Perfeitamente inacreditável que não seja o “Man of The Match” e que, pasmem-se, não esteja nos 5 guarda-redes pré-designados como os melhores do Mundial.

As críticas foram um incentivo para Fernando Meira. O central do Estugarda fez, tal como contra a Holanda, um jogo próximo da perfeição. “Meteu Rooney no bolso” não dando, por uma única vez, espaço ao jogador inglês. Perfeito no jogo aéreo, com mais dificuldades na bola pelo chão mas mesmo assim impecável.
Parece lento, é verdade, mas tal como disse Mourinho só o é em distâncias curtas. E para as dobras está lá “Rijo” Carvalho. Na parte final do jogo, participou num interessante duelo com os 2 metros de Crouch. Embora tenha perdido alguns lances, ganhou a maioria… e de cabeça! Há que destacar o fair-play do “alemão”: raramente faz faltas e joga sempre limpo. Em grande forma, e vêm aí Henry!

Se Ricardo Carvalho não é o melhor central do Mundo está, de certeza, no lote dos 3 melhores. Bem conhecido dos jogadores ingleses, fez uma exibição espantosa demonstrando uma categoria só ao nível dos sobredotados. No jogo de antecipação não há melhor que ele, posicionalmente foi perfeito, só teve como ponto fraco o jogo ofensivo nos lances de bola parada e um lance no 1º minuto de jogo.
Sempre muito calmo e com uma predisposição para as dobras, verdadeiramente notável! É uma das estrelas do Mundial!
Temi pela sua integridade física naquela atitude miserável de Rooney, felizmente não resultou em nada de transcendente. A esposa agradece!


“Look! It’s a bird! No, it’s a plain! No, it’s… Miguel!” Uma grande exibição de um magnifico jogador! O #13 estará, certamente, na equipa ideal do Mundial em virtude das prestações tão magníficas quanto regulares.
O opositor era de respeito mas Miguel esteve perfeito a defender – nem deu para ver se Joe Cole jogou. Velocíssimo, foi um autêntico extremo-direito em todos os momentos mas principalmente com a colocação na área do “bus” inglês. Duvido que fique no Valência!

Gosto de Nuno Valente! Pouco espectacular mas bastante eficiente demonstrando uma regularidade assinalável. Teve algumas dificuldades em defender Beckham e muitas a defender o irrequieto Aaron Lennon – ou John Lennon, como diz o Tóni – mas ganhou mais lances do que aqueles que perdeu – ainda que alguns tenham dado origem a claras oportunidades de golo. A espaços apareceu no plano ofensivo mas já se sabe que essa tarefa é a do seu colega do lado oposto. Faz cruzamentos de forma magnífica – tem um pé esquerdo fantástico – e é pena que tenha poucas oportunidades para tal.

Falar de Cristiano Ronaldo é falar de espectáculo. O puto fez um grande jogo! Quase impossível de parar no um-para-um – Neville e/ou Ashley Cole viram-se “gregos”, o #17 foi sempre o elemento mais ofensivo de Portugal e foram dele as jogadas mais perigosas do “nosso lado da barricada”. Esteve perto do golo por duas vezes em remates potentes – um à figura de Robinson e outro para fora – embora tenha perdido algum fulgor nos 20 minutos que jogou como ponta-de-lança.
Esteve muito concentrado e disciplinado – ainda não deu razão aos “profetas da desgraça” – e foi decisivo na marcação dos penaltys. Muito tranquilo e com grande maturidade – como ele próprio disse no fim do jogo!


Maniche esteve menos espectacular que em partidas recentes. Se defensivamente foi importante, na tentativa de segurar um meio-campo fortíssimo, ofensivamente quase não existiu e só de muito, mas muito longe tentou o golo. Espera-se muito do melhor marcador de Portugal e talvez por isso tenha desiludido, principalmente naquele lance aos 120 minutos em que tinha tudo para decidir a favor de Portugal.

Um Figo a meio gás, mas mesmo assim fundamental. Tentou fazer o golo “à Simão” e por pouco não o conseguiu, o que seria um fantástico prémio para o grande Mundial que está a fazer.
Está, visivelmente, cansado e isso será uma baixa de vulto para o próximo confronto. Scolari poupou-o ao prolongamento quando já dava sinal de problemas físicos – esperemos que consiga recuperar para 4ª feira – e a sua ausência no prolongamento foi muito sentida: faltou a voz de comando dentro de campo!
Atingiu a fantástica marca de 125 internacionalizações por Portugal alcançando o 9º lugar na lista dos jogadores europeus com mais jogos ao serviço das selecções.


Talvez as prestações mais fracas pertençam a Petit, Pauleta e Tiago.

Petit pareceu-me cansado e muito nervoso, o que não é normal! Teve uma entrada em jogo perfeitamente catastrófica deixando-se bater várias vezes por Lampard – que também não é um jogador qualquer – o que não é nada abonatório para quem quer jogar na Premier League.
À meia-hora assentou e fez um resto de jogo perto do seu nível mas mesmo assim ainda é protagonista de mais 2 momentos muito negativos: viu um amarelo num lance duríssimo e escusado com Joe Cole – deu origem ao lance mais perigoso da Inglaterra na 1ª parte – que o suspende para o próximo jogo; falhou o seu penalty, rematando de forma desastrada e acabando por falhar a baliza.

Pauleta esteve um pouco perdido no meio dos fortíssimos centrais ingleses. Não teve espaço mas as bolas também não lhe chegaram em condições. Tenho ideia que não fez um único remate à baliza e isso é sempre muito negativo para o ponta-de-lança.
Só não digo que deveria sair da equipa porque conhece o futebol francês como ninguém. Eu acredito no Pauleta mas, depois daquele início fulgurante, o açoriano tem desiludido bastante!

Sempre de “pantufas” – era a alcunha de um jogador que jogou comigo nos juniores da equipa da minha terra – e quase sempre “despistado” do jogo. Parece que Tiago precisa de um abanão para acordar e explodir, de vez, na Selecção. Ainda não fez nenhum jogo ao seu nível – que é muito alto – e por isso não consegue fazer esquecer Deco. Teve o golo nos pés, dentro da área, no seguimento de um canto mas foi lento demais. Depois de uma época magnífica esperava-se muito mais do ex-jogador do Benfica, será o cansaço de tantos jogos?


E por fim os suplentes Simão, Hugo Viana e Hélder Postiga.

Talvez o pior jogo de Simão neste Mundial. Num lance ou noutro mostrou a sua sublime visão de jogo mas as fintas nunca resultaram, o corpo-a-corpo foi sempre infrutífero e perdeu-se muitas vezes em correrias desenfreadas sem que ninguém lhe endossasse a bola. Sinceramente, não gostei nada, e ele tinha uma grande oportunidade para, de novo, mostrar aos ingleses porque é uma das estrelas do futebol português. Depois do que vi nos outros jogos, esperava muito mais de um jogador do seu nível… e de que gosto tanto!
Destaque positivo para um livre, muito bem cobrado, que não dá golo por centímetros. E só mais uma achega, sou só eu que acho que o Simão tem uma camisola demasiado justa? De certeza que aquele número não é o dele, ninguém lhe arranja um L/XL? De novo, a braçadeira a criar os anti-corpos que conhecemos!

Quanto a Hugo Viana, confesso que me surpreendeu pela positiva. É verdade que não estava à espera de muito mas mostrou-se bastante rápido, com excelente circulação de bola e com um remate explosivo. Borrou a pintura com a marcação do penalty, mas convém dizer que acertar no poste deitando o keeper para o lado oposto é de um profundo azar!

Postiga fez levantar Portugal inteiro com um grande golo de cabeça mas… estava fora-de-jogo. Teria sido um herói nacional, assim ficou-se por uma prestação pouco acima do medíocre. Muitos problemas na recepção, muito lento, pouco rematador mas cumpridor no momento tão decisivo como é a marcação dos penaltys. Não foi à “Panenka/Postiga” mas foi muito bom!


Única vitória argentina nos Quartos de Final

Portugal não costuma ser bem “tratado” por árbitros sul-americanos, no entanto Horacio Elizondo fez um excelente trabalho, sem qualquer influência negativa no decorrer da partida. Foi, porventura, a melhor arbitragem em jogos da Selecção neste Mundial mas para tal também não era preciso muito, em virtude das miseráveis prestações dos árbitros anteriores.

É certo que não foi um jogo com muitos problemas para resolver – o completo contraste do desafio anterior de Portugal – mas houve alguns lances complexos e de juízo difícil, principalmente na 2ª parte do tempo regulamentar. Aos 50 minutos a bola toca na mão de Nuno Valente após um cruzamento da direita executado por David Beckham e aqui um árbitro menos esclarecido poderia ter castigado Portugal de forma injusta. É perfeitamente visível que não há qualquer intenção no toque do defesa-esquerdo português, há um contacto casual depois de um centro realizado muito perto. Uma típica “bola na mão”!


Na mais bárbara agressão que alguma vez vi num campo de futebol, o árbitro argentino agiu em conformidade expulsando Wayne Rooney. A entrada do jogador inglês é indigna de um campo de futebol, uma atitude reles de um jogador tipicamente “hooligan”. É daquele tipo de lances que “até a nós nos dói” e que poderia ter causado graves consequências em Ricardo Carvalho – uma agressão daquelas pode causar graves e permanente problemas!

O único reparo que penso que se lhe pode fazer é ter pactuado de forma excessiva com o jogo faltoso de Owen Hargreaves, já que só ele fez tantas faltas como todos os jogadores de Portugal (11).
Trabalho dos árbitros auxiliares realizado de forma quase perfeita com destaque para a correcta invalidação do golo obtido por Hélder Postiga, em clara posição de fora-de-jogo.


Um grande Mundial

Foi, de novo, um jogo de grande sofrimento mas mais uma vez, fez-se história no futebol português! Portugal foi, a maior parte do tempo, superior. Apanhou alguns sustos, é verdade, mas a Inglaterra nunca se mostrou mais forte e com objectividade para triunfar. Depois de 120 minutos de muito esforço, com o cansaço a ser a nota dominante, a decisão dos penaltys foi, 2 anos depois do Euro 2004, a forma de resolução da partida.

Já via as coisas a complicarem-se, principalmente depois daquele falhanço do Petit, e foi com um alívio indescritível que vi o Ronaldo a converter o penalty decisivo. Já descobriste que o “I Can Get No Satisfaction” é mesmo verdade, ó Jagger?! No meio da euforia pela vitória não consegui conter as lágrimas – só o futebol para me levar a lagrimita aos olhos – mas a partir de agora, tudo pode acontecer e porque não sonhar... será que é demais pedir a Taça?!Chegar até aqui é simplesmente brilhante! Scolari é a prova que o “coração” é mais importante que todas as tácticas. O brasileiro foi a melhor “coisa” que aconteceu à Selecção Portuguesa desde Eusébio. Agora Portugal é uma das 4 melhores equipas do Mundo e qualquer uma delas pode ser Campeã – quem diria isto antes de começar a Competição?


Histórico frente à França

1926: 2-4 num jogo amigável, disputado em Toulouse (Golos portugueses de Augusto Silva e João Santos)

1927: 4-0 num jogo amigável, disputado em Lisboa (Bisaram José Martins e Pepe)

1928: 1-1 num jogo amigável, disputado em Paris (Armando Martins empatou o jogo)

1929: 0-2 num jogo amigável, disputado em Paris

1930: 2-0 num jogo amigável, disputado no Porto (Pepe fez os dois golos lusos)

1940: 2-3 num jogo amigável, disputado em Paris (Peyroteo reduziu para Portugal)

1946: 2-1 num jogo amigável, disputado em Lisboa (Araújo e Peyroteo fizeram os golos)

1947: 0-1 num jogo amigável, disputado em Paris

1947: 2-4 num jogo amigável, disputado em Lisboa (Golos portugueses de Peyroteo e Araújo)

1952: 0-3 num jogo amigável, disputado em Paris

1957: 0-1 num jogo amigável, disputado em Lisboa

1959: 3-5 num jogo amigável, disputado em Paris (Matateu por duas vezes e Cavém fizeram os golos de Portugal)

1973: 2-1 num jogo amigável, disputado em Paris (Eusébio fez os dois golos da vitória)

1975: 2-0 num jogo amigável, disputado em Paris (Néné e Marinho fizeram os golos)

1978: 0-2 num jogo amigável, disputado em Paris

1983: 0-3 num jogo amigável, disputado em Guimarães

1984: 2-3 nas Meias-Finais do Euro 84, disputado em Marselha (Domergue de livre directo bateu Bento e fez o 1-0. Jordão empatou o jogo levando a partida para o prolongamento onde conseguiu novamente marcar por Portugal adiantando “Os Patrícios” no marcador. Domergue obteve o empate 2-2 a 5 minutos do final depois de um bombardeamento francês à baliza de Bento. No último minuto Michel Platini acabou com o sonho português e colocou a França na final de um torneio que acabaria por vencer – vitória por 2-0 frente à Espanha)

1996: 2-3 num jogo amigável, disputado em Paris (Fernando Couto e Rui Costa marcaram por Portugal; Pedros e Djorkaeff por duas vezes deram a vitória aos gauleses)

1997: 0-2 num jogo amigável, disputado em Braga (Marcaram Deschamps e Ibrahim Ba para a França)

2000: 1-2 nas Meias-Finais do Euro 2000, disputado em Bruxelas (Nuno Gomes adiantou o marcador, tendo Thierry Henry empatado a partida poucos minutos depois do reatamento da 2ª parte. A 2 minutos do prolongamento, o fiscal de linha visualizou uma suposta “mão na bola” e deu a indicação ao árbitro austríaco Gunter Benko para marcar penalty. Na conversão – e como golo de ouro – Zidane concretizou e a França seguiu para a Final onde derrotou a Itália por 2-1)

2001: 0-4 num jogo amigável, disputado em Paris (Sylvan Wiltord, Mikael Silvestre e Thierry Henry fizeram o 3-0 da 1ª parte. A 10 minutos do fim, Youri Djorkaeff sentenciou o resultado final. Os pupilos de António Oliveira não foram capazes de desfeitear os franceses e sofreram a maior derrota de Portugal dos últimos 17 anos - desde 1989)


Saldo: 21 J – 5V – 1E – 15D – 27 golos marcados/45 sofridos

Fonte: RSSSF


Hoje falou-se muito na renovação de Felipão por mais 2 anos. É a notícia esperada por todos – por todos aqueles que interessam, claro – mas que ainda não tem confirmação por parte dos órgãos oficias. Renovação tem de ser para ontem, ou ainda vamos chorar por Scolari no futuro!

Este é o Mundial das bofetadas de luva branca, e prevejo algumas mais para confrontos futuros – mas isso fica para outro post! O confronto com a França – campeão do Mundo em 1998 e da Europa em 2000 – será, provavelmente e até ao momento, o jogo mais difícil na competição.

Acalento uma grande esperança na vitória, não como vingança de 1984, 2000 e naquela vergonha de 2001, mas numa conquista que o povo merece... nós merecemos! Por tudo o que sofremos no Euro 2004, o título de Campeão do mundo é justo. Das grandes Selecções Mundiais só nós nunca vencemos nada e já é altura de mudar isso. A “estrelinha” por cima do símbolo da FPF ficaria tão bem!

Eu acredito! Força Portugal!


NDR: O mau perder inglês – conhecido planetariamente e já abordado de forma mordaz, como sempre, pelo “patrão” REDrigues – já se começa a sentir com declarações patéticas de jogadores ingleses desculpabilizando o autor de uma agressão inqualificável e colocando as responsabilidades em cima de um puto que tem pouco a ver com o assunto. Na realidade, Isto é nojento! O Real Madrid espera-te, Cristiano, deixa esses anormais a cuspir para o ar!

Notável a prosa de Miguel Esteves Cardoso n’O Jogo, fica a melhor parte: “Os dois metatarsos ingleses mais famosos – Beckham e Rooney – tornaram-se, durante o jogo com Portugal, em autênticos metaparvos. Que quadros desoladores! A Béquinhas a assistir, chorosa e de pezinho descalço, parecia balbuciar: “Foi aquele senhor português mau que me fez o dói-dói!” O outro metatanso, o macacão Rooney (que, durante o Euro'2004, mandou a capitoa Béquinhas àquela parte que rima com Ivanov), amua e dá pontapés, porque não consegue jogar como quer.”

Finalizo com um video da marcação dos penaltys, gravado na SIC, com um destaque pessoal para o comentário do repórter Nuno Luz ao minuto 8.03. Aconselho para quem não viu, está brutal! Foi precisamente o que eu disse na altura!



Ficha do Jogo:

Campeonato do Mundo – Quartos de Final

Arena AufSchalke, em Gelsenkirschen

Árbitro: Horacio Elizondo (Argentina)

INGLATERRA – Paul Robinson; Gary Neville, Rio Ferdinand, John Terry e Ashley Cole; Owen Hargreaves; David Beckham (Aaron Lennon, 51 m (Jamie Carragher, 118 m)), Steven Gerrard, Frank Lampard e Joe Cole (Peter Crouch, 65 m); Wayne Rooney.

PORTUGAL – Ricardo; Miguel, Fernando Meira, Ricardo Carvalho e Nuno Valente; Tiago (Hugo Viana, 74 m), Petit e Maniche; Luís Figo (Hélder Postiga, 85 m), Pauleta (Simão, 63 m) e Cristiano Ronaldo.

Disciplina: Amarelos a John Terry (29 m), Petit (43 m), Hargreaves (106 m) e Ricardo Carvalho (110 m); Vermelho directo a Wayne Rooney (61 m) por uma agressão bárbara a Ricardo Carvalho.

Desempate nos penaltys: Simão marcou (0-1); Frank Lampard falhou (0-1); Hugo Viana falhou (0-1); Owen Hargreaves marcou (1-1); Petit falhou (1-1); Steven Gerrard falhou (1-1); Hélder Postiga marcou (1-2); Jamie Carragher falhou (1-2); Cristiano Ronaldo marcou (1-3) e apurou Portugal para as Meias-Finais do Mundial 2006.

Fotos: AFP – Getty Images

#publicado em simultâneo com os Encarnados