domingo, fevereiro 18, 2007

Crónica 18ª Jornada - "Gordo, eu?"

A deslocação era difícil, a tradição não era favorável, o momento era complicado mas a expectativa enorme! As escassas vitórias fora de casa auguravam problemas na Madeira mas, aparentemente, foi mais fácil do que se pensava! Havia algum receio deste confronto nas hostes encarnadas, principalmente devido ao facto do Benfica ser o último a jogar. Mas a exibição foi extremamente personalizada, com 40/50 minutos de enorme qualidade, e apontamentos claros nos momentos decisivos. O Benfica jogou bem, jogou em velocidade e em categoria, controlou o jogo de forma preponderante, criou várias oportunidades de golo, mas precisou de um jogador de classe para resolver a partida…

Apesar de em 15 minutos terem sido goleados em Alvalade na jornada anterior, os insulares têm uma boa equipa. Equipa forte quando jogando em casa, e que criou muitas dificuldades aos restantes candidatos ao título nessa condição.
A realidade, ou curiosidade como quiserem, dizia que o Benfica só foi Campeão Nacional, nos últimos anos, sempre que venceu na Choupana. As estatísticas valem o que valem, obviamente, mas cá estaremos para confirmar esses vaticínios espirituosos!

Contra todos os prognósticos, mesmo de Fernando Santos, o Benfica apresentou-se diferente daquilo que mostrou nos últimos meses. Na defesa tudo igual – com Quim, Nélson, Luisão, Anderson e Léo –, mas a inclusão de Fabrizio Miccoli no 11 provocou algumas mudanças nos 2 restantes sectores da equipa. O italiano fez parelha com Nuno Gomes, e mesmo com Rui Costa a titular, Simão Sabrosa fez de… #10. Petit e Karagounis actuaram nos seus lugares habituais mas Rui Costa apareceu como interior-esquerdo! Um esquema que ficou por comprovar de forma evidente já que o maestro saiu lesionado e Karagounis, o seu substituto, fez regressar o 4-4-2 losango que o Benfica apresentou até Janeiro.

Assumir, decidir e… controlar

O início de partida foi bastante “morno”, com poucas oportunidades de golo e muito “estudo” entre as equipas. O ataque do Benfica era inconsequente, do outro lado inexistente, e só nalguns rasgos de Simão e de Rui Costa havia emoção.
Se a equipa já estava algo amorfa, tudo piorou com a saída do maestro. A presença de Karagounis, ao contrário do que costuma acontecer, como que constituía um “corpo estranho” na equipa e o Benfica esteve mais de 20 minutos sem conseguir solidificar o seu jogo. As dificuldades de Petit, nesse período, também terão tido influência decisiva.

O desvio de Simão para a esquerda, sensivelmente à meia-hora de jogo, terá sido fundamental no decisivo assumir da partida por parte do Benfica. Premeditado ou não, começaram a aparecer as combinações com Léo e algumas das vezes tendo Karagounis completamente livre para progredir. É do lado esquerdo que saem alguns cruzamentos perigosos para a área, que Nuno Gomes desperdiça invariavelmente com remates sempre mal enquadrados. Karagounis e Simão são protagonistas de jogadas semelhantes, aquele típico lance de finta para dentro, e poderiam ter aberto o marcador. O remate do grego sai muito por cima, o de Simão sai centímetros ao lado.
A primeira parte termina com uma “bomba” de Petit, impedida de entrar por Benaglio… e pelo poste! Sentimento de injustiça com o apito para intervalo, o fantasma do nulo começava a pairar na Choupana!

O começo do segundo tempo foi a confirmação dos últimos 15 minutos da 1ª parte. Domínio esmagador, múltiplas oportunidades de golo - uma clarissima num cabeceamento de Luisão - e um Nacional completamente subversivo ao poderio do Benfics. O desenrolar de jogo, sem golos, começava a enervar um pouco os jogadores, e os próprios adeptos, mas então que dois rasgos de génio de Fabrizio Miccoli colocam justiça no marcador. O 0-1, logo seguido do fabuloso 0-2, “destroem” por completo o adversário, não deixando dúvidas sobre quem sairia vencedor.
Com 20 minutos para jogar, a responsabilidade de assumir as despesas de jogo não eram do Benfica mas sim do Nacional, equipa que nunca conseguiu desenvencilhar-se da teia táctica criado pelo seu próprio treinador.

Luisão deslumbrou, Miccoli resolveu

Perfeição é o termo! Luisão não perdeu uma única bola dividida – quer no ar, quer no chão –, foi fundamental na forma como ajudou Nélson a defender e ainda foi importante no ataque. Pena que, deixado sozinho na área, não tenha conseguido inaugurar o marcador na sequência de um pontapé de canto. O cabeceamento saiu poderosíssimo… mas ao lado. Está num momento de forma brutal, o que acaba por ser muito importante em virtude da preponderância que tem na equipa. O melhor em campo!

Parece que Simão não consegue jogar mal. A atrapalhação e aflição dos dois homens do Nacional que jogaram perto de si durante o jogo todo, diz tudo sobre a importância do seu futebol nesta equipa. Simão está em todas as grandes jogadas do Benfica, quer na colocação de bola, quer na condução de ataque… e muitas das vezes na finalização!
Melhorou bastante, tendo em conta anteriores confrontos, a cobrança dos cantos. Neste momento é imparável no um-para-um, a única hipótese para os adversários é colocar dois ou três adversários consigo.

O italiano tem sido muito criticado, principalmente por aqueles que acham que tudo o que joga de encarnado tem pouca qualidade. Ora, quem percebe um pouquinho de futebol consegue ver que Fabrizio Miccoli é um jogador absolutamente genial, do melhor que já passou por Portugal nos últimos anos.
É verdade que, no 1º tempo, passou um pouquinho ao lado do jogo, mas a raça esteve lá sempre – impressionante a forma como nunca desiste de conquistar a bola ao adversário.
Os dois golos que marca só estão ao alcance dos prodígios. Alguns minutos após um remate disparatado ao lado, depois de assistência do #21, recebe de novo de Nuno Gomes e, sem deixar cair no chão, finaliza colocado. O 0-1, naquele momento é fundamental. Fabrizio sabe-o, os adeptos sabem-no, toda a equipa o sabe!
Mata o jogo com um dos melhores golos desta época. 50 metros em velocidade e, após fintar dois adversários em classe, finaliza de bico perante o keeper suíço. Um golo de antologia!

Melhoria de Nuno Gomes, no dia em que Rui Costa voltou a lesionar-se

Pela negativa, voltam a estar os dois do costume, apesar de Nuno Gomes ter melhorado bastante em relação os dois últimos jogos. Continua, no entanto, a não ser suficiente.
Ao fazer dupla com outro avançado de raiz, Nuno Gomes melhora as suas performances assinalavelmente. E foi o que aconteceu, embora insuficiente para merecer nota positiva. Em 90 minutos duas notas de destaque: dois passes para o seu colega italiano. Num o remate do #30 foi ao lado, o outro deu o 1º golo.
Continua a falhar golos de forma displicente. Neste jogo foram 4, dois remates disparatados por cima da baliza, um lance a um metro da linha de golo em que faz falta desnecessariamente e outro, isolado, onde dá um toque a mais na bola e chuta à malha lateral. Precisa de um golo, urgentemente!

Não se percebe muito bem a intranquilidade do jovem lateral-direito do Benfica. Não fosse o cruzamento que dá origem ao 1º golo e prestação de Nélson teria sido muito negativa. Muito mal nas marcações – valeu a tranquilidade e classe de Luisão –, incrivelmente trapalhão nas subidas ao ataque e desastrado em 90% dos cruzamentos.
A forma como foi ultrapassado, inúmeras vezes, por Diego levou os adeptos ao desespero. O extremo adversário não pode ganhar tantos lances, e de forma tão clara, a um titular na lateral do Benfica.

A lesão de Rui Costa é algo que me deixa muito apreensivo, a gravidade da mesma terá muito a impor nas pretensões deste Benfica 2006/07. Esperemos que não seja tão grave como a que o impediu de dar o contributo à equipa durante 3 meses.
Saúdo o regresso de Paulo Jorge, um jogador que aprecio e que tem menos oportunidades que aquelas que merece. Não me esqueço que, antes da lesão grave em 2006, era das melhores unidades da equipa. Faço votos que consiga agarrar um lugar nos 14 mais utilizados e que consiga aumentar a sua preponderância na equipa. Alguns benfiquistas que o criticam agora são aqueles que, há 3 meses, o queriam na Selecção Nacional. Haja dranguilidad!

Substituir só depois dos 80 minutos

No que diz respeito ao trabalho de Fernando Santos, as críticas possíveis terão a base já tão discutida. A inovação apresentada no início não foi avaliável, em virtude da lesão de Rui Costa, mas há o mérito de apostar forte na inclusão de Miccoli nos titulares. Foi ambicioso e ganhou com isso, seria bom que tivesse o mesmo comportamento no resto da época.
Continuo, no entanto, sem perceber a razão de fazer a 2ª substituição sempre a queimar os 80 minutos e acho lamentável continuar a enxovalhar João Coimbra, com menos de um minuto em campo. Katsouranis continua a arrastar-se em campo, certamente só quando se lesionar é que vai ter algum descanso!

Paixão nada proibida

Já há algum tempo que um jogo do Benfica não tinha uma arbitragem tão boa. Obviamente que vão aparecer “alguns” a queixarem-se mas isso pouco conta para quem percebe, minimamente, as regras do jogo. Bruno Paixão, apesar de conotado com o Benfica desde aquele célebre jogo com a Oliveirense onde assinalou 3 penaltys – o único que não existiu foi falhado por Tomo Sokota –, esteve bastante seguro e sem influência no resultado. Subsistiram apenas alguns erros mínimos em lances divididos a meio-campo e alguns cartões amarelos esquecidos. O jogo também não foi de grande dificuldade, em virtude dos atletas não entrarem no jogo duro ou violento.

Os dois erros que se podem evidenciar como mais graves, e mesmo assim não foram nada de especial, dizem respeito a um cartão amarelo perdoado a Bruno Amaro e outro a Luisão. O motivo é o mesmo, uma falta perigosa às pernas do adversário e sem contacto com a bola. Tenho algumas dúvidas que Anderson tenha tocado em Diego, no lance em que recebe cartão amarelo, mas dou o benéfico da dúvida ao árbitro.
Tudo o resto esteve impecável, inclusivamente na validação do 2º golo do Benfica. Já ouvi a alarvidade de que há falta de Miccoli sobre Patacas, num lance onde o contacto é próximo de inexistente, quanto mais faltoso.
Magnifico trabalho dos árbitros auxiliares no capítulo do fora-de-jogo, sem mácula.


Campeão de Fé

A subida ao 2º lugar, e a apenas 4 pontos do líder, aumenta a expectativa. A vitória na Choupana é fundamental na esperança de conquista do 32º título!
Analisando o calendário vemos 4 jogos relativamente acessíveis, antes do confronto do título com o FC Porto. Recepção ao Paços de Ferreira, deslocação à Vila das Aves, Leiria na Luz e ida à Amadora. Vencendo todas essas partidas, a vitória no Campeonato é muito provável e perfeitamente exequível de ser conquistada no confronto com o rival do Norte, tão fustigado por processos judiciais de corrupção desportiva.
Haja coragem, determinação e, essencialmente, ausência de lesões. O Futebol Português precisa de um Campeão com dignidade, um Campeão honrado, um Campeão forte e com prestígio imaculado. Só pode ser o Benfica, haja fé! Eu acredito, carrega Benfica!

NDR: Acho perfeitamente vergonhoso que a Direcção do Benfica tenha estado em convívio com elementos do Nacional da Madeira. Não consigo compreender como pode haver este tipo de contactos, depois de tudo o que se tem revelado sobre a corrupção FC Porto/Nacional/Augusto Duarte, com processos em Tribunal e onde Pinto da Costa e Rui Alves são arguidos e suspeitos de terem juntado esforços para, ilicitamente, prejudicarem o Benfica.
Gostava que entender qual a pretensão de Luís Filipe Vieira. Será apenas mais um lamentável tiro no pé, o qual se pode juntar à sua longa colecção de atitudes incompreensíveis, ou estará a ser enganado? A transferência de Miguelito não explica tudo!

Podem ver o resumo do jogo aqui. Como sempre, o vídeo é a bS7.

Ficha de Jogo:

18ª Jornada da Liga BWin

Estádio Eng. Rui Alves, na Choupana

Árbitro: Bruno Paixão (Setúbal)

NACIONAL MADEIRA – Diego Benaglio; Patacas, Ávalos, Ricardo Fernandes e Alonso; Bruno (Rogerinho, ao int.), Chaínho e Bruno Amaro (Zé Rui, 66 m); Diego (Chilikov, 80 m), Rodrigo e Juliano Spadacio.

SL BENFICA – Quim; Nélson, Anderson, Luisão e Léo; Petit, Katsouranis, Simão e Rui Costa (Karagounis, 13 m); Nuno Gomes (João Coimbra, 90+2 m) e Fabrizio Miccoli (Paulo Jorge, 83 m).

Disciplina: Amarelos a Anderson (31 m), Ávalos (33 m), Patacas (39 m) e Karagounis (82 m).

Golos: 0-1, Miccoli (62 m); 0-2, Miccoli (71 m).

#Fotos: Site Oficial

#adicionado a
Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o
Encarnados