quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Crónica Taça UEFA - "Chutar p'ra Canto!"


A dúvida baseava-se, essencialmente, em saber qual o Benfica que se iria apresentar em campo. Um Benfica apático, conformado e expectante, tendo em conta o resultado alcançado na Luz, ou por outro lado um Benfica pressionante, atento e eficaz. Ao fim ao cabo tivemos um pouco dos dois, em dois períodos de tempo distintos.
tínhamos visto o que valia este Dínamo – ou pelo menos tínhamos visto qualquer coisa – no confronto da Luz, e parecia evidente que um Benfica ao mais alto nível sairia de Bucareste com a eliminatória garantida… e quem sabe com a vitória!
Não é que os romenos sejam uma má equipa, porque não são – e até já se tinha tirado essa conclusão anteriormente –, mas, a bem da verdade, as individualidades do Benfica são de outro campeonato.

Na globalidade, e depois dos dois jogos, chegámos facilmente à conclusão que, em nenhuma circunstância, esteve comprometida a passagem do Benfica aos oitavos-de-final da Taça UEFA. Nem mesmo naqueles 25 minutos depois do golo de Munteanu, período onde o Benfica foi completamente dominado pelo adversário e onde houve muitas dificuldades para sair do meio-campo defensivo! Período tal, de maior apreensão e enervamento para nós adeptos… pelo menos para mim foi.
Depois de ameaçar, no final do 1º tempo, o Benfica impulsionou-se para a vitória com o espectacular golo de Anderson. Foi nesse cabeceamento estudado, poderoso e afirmativo, que o jogo se decidiu. Os visitados esmoreceram, já que só com um milagre garantiriam a qualificação, e impulsionou-se a tranquilidade necessária na equipa, para poder explanar toda a categoria individual e colectiva.

Fernando Santos, finalmente, optou por colocar Nuno Gomes no banco. O #21 é um jogador de qualidade, toda a gente o sabe, mas há que saber proteger os atletas quando as coisas estão a correr mal. E tendo em conta que há outras soluções, poucas é certo, aplaudo a decisão. Ganha a equipa e ganha o Nuno, que regressará com mais força e tranquilidade.
Mas a saída do sub-capitão colmatou-se com a entrada de um jogador que detesto, e não vale a pena voltar a ter a mesma conversa para justificar esse sentimento. Para além de todas essas razões de índole mais ou menos pessoal, o brasileiro está pesado, excessivamente lento, trapalhão e completamente desenquadrado com a realidade do clube e da própria equipa. Não estaria Mantorras mais capacitado?

Da Miséria à Classe

O início de jogo foi de má qualidade, com o Benfica sem chama e onde os jogadores do Dínamo apresentaram um excessivo nervosismo, claramente limitativo da sua capacidade futebolística. Esse nervosismo originou algumas perdas de bola potencialmente perigosas, perigo que nunca conseguiu ir mais além de uns fogachos individuais ou de Simão ou de Miccoli.
Foi num contra-ataque aos 10 minutos que, num três-para-um, o Benfica teve a primeira oportunidade para decidir a eliminatória. O lance acabou nas mãos do excelente Lobont e contribuiu para “acordar” os romenos. De uns primeiros minutos de expectativa e apatia – dos dois lados diga-se –, o Dínamo começou a empurrar o Benfica de forma evidente.

Sucederam-se alguns pontapés de canto e remates de longe, situações que anteviam o golo e que Quim safou, que acabou por acontecer e, na minha opinião, sem qualquer responsabilidade para a defesa encarnada. É um golo bonito, numa grande desmarcação após excelente passe.
A partir daí começaram os problemas mais graves, o Dínamo encostou e, apesar de um pouco trapalhões, não deixaram o Benfica sair para o contra-ataque. Quim, e a dupla de centrais, acabam por ser muito importantes nesse momento sufocante, apenas interrompido com alguns lances de bola parada de Simão.
Conseguindo suportar o ímpeto romeno com dificuldade, o Benfica acabou a 1ª parte em cima do adversário – a imposição no jogo é notável – tendo dois lances claros para empatar a contenda: Simão num remate de fora da área e Katsouranis num canto, ambos os lances parados com grandes defesas de Lobont.

Dando seguimento aos excelentes 5/7 minutos finais, a entrada na 2ª parte foi espectacular… e decisiva! O golo de Anderson estagnou por completo a parca “raiva” dos Red Dogs e impulsionou o Benfica para uma 2ª parte de grandíssima qualidade, claramente do melhor que já vimos deste Benfica 2006/07.
Sucederam-se as oportunidades de golo, com Simão e Miccoli em grande plano, e não foi por acaso que se deu a volta ao resultado… num golo típico de Katsouranis!
Com o 1-2 no placard, o Benfica manteve-se sempre em cima do adversário até ao final, sempre com o domínio de jogo, sempre com o golo a poder surgir a qualquer momento. Deu para Simão falhar um golo feito aos pés de Lobont, para Miccoli tentar um bonito com a bola a sair ao lado, e até Petit quase fazia um golo de bandeira, num estoiro de fora da área.
Com o resultado feito nem faltaram as substituições à Fernando Santos.

O regresso dos Cabeceadores

A nível individual, os destaques acabam por já ser recorrentes. Simão, Luisão e Petit impuseram-se como os melhores, havendo ainda notas muito positivas para a irreverância de Miccoli, para a segurança de Quim, e para Anderson e Katsouranis… dois dos três, juntamente com Luisão, grandes cabeceadores do plantel e que mostraram um “cheirinho” daquilo que de melhor já lhes vimos. O brasileiro esteve muito seguro e o grego imperial na circulação de bola.

Luisão teve importância fulcral naquele período mais complicado do Benfica. Não teve falhas, como é normal, e procurou incutir tranquilidade aos seus colegas, como sempre o faz! Voltou a ajudar Nélson e até teve um lance para marcar de cabeça, onde falhou por pouco. Confirma a grande forma e a grande categoria individual, um autêntico patrão.
O melhor marcador da Taça UEFA, em 180 minutos, teve uma única oportunidade para marcar… isso diz tudo! São jogadores assim, experientes internacionalmente, que garantem eliminatórias europeias.

Petit voltou a ter algumas dificuldades a entrar no jogo, e a equipa voltou a ressentir-se disso. Terá de ter a esmagadora parte do mérito no acordar do Benfica, foi através da garra e da determinação que o caracterizam que o controlo do jogo mudou de dono. Principalmente depois do golo do empate, é protagonista de 2 ou 3 cortes de grande espectáculo, um deles pelas costas, aos pés de Munteanu. Quase fazia o 1-3, num “míssil” bem ao seu estilo! Grande exibição, alguém sabe como se escreve Petit em romeno?

Começam a faltar palavras para elogiar a excelência do futebol de Simão Sabrosa.
Quando foi preciso pegar no jogo atacante foi Simão a assumir-se, quando foi preciso cobrar as bolas paradas foi Simão a responsabilizar-se, quando era preciso ou velocidade ou tranquilidade foi Simão a definir. Simão esteve em todo o lado, em todos os lances de ataque… foi, e é, o dínamo do Benfica!
Na ficha de jogo contam-se duas assistências, e também 3 golos falhados perante o gigante Lobont. O capitão foi, sem margem para dúvidas, o melhor em campo!

O equívoco Derlei

Desta vez não quero massacrar novamente o(s) mesmo(s) e faço apenas um breve comentário sobre Derlei. Já fui atacado por muitos benfiquistas pela forma castradora como analiso as prestações do #27, mas eu sou assim… and that’s the way it is! Tem de me mostrar muito para o conseguir, sequer, tolerar na equipa. Já fiz uma breve menção no início da crónica mas volto a dizer que, na Roménia, voltou a ser um corpo estranho. Tem um bom lance, ao isolar Simão, mas fora isso foi uma completa nulidade.
Sim, já sei, é muito batalhador e tal mas de batalhadores que jogam na frente de ataque do Benfica já estou eu cansado. Não dava para o deixar lá, assim tipo dizer-lhe que o voo era mais tarde?

Volto a dizer que, apesar de bom jogador e extremamente útil na manobra da equipa, enerva-me bastante a teimosia de Karagounis em continuar a segurar a bola demasiado tempo. Há que procurar soltar mais rápido, esse “empastamento” do jogo – propicio a perdas de bola comprometedoras – não beneficia nada a equipa!

Queimando Tempo… e um Plantel

No que diz respeito ao trabalho de Fernando Santos, e depois de uma bela vitória fora de casa, há pouca margem para criticar. Ou, pelo menos, haverá pouca tolerância para ouvir aqueles que se assumem como acérrimos críticos do seu trabalho, como eu. Terá mérito na tal “conversa” ao intervalo, mas insiste nas alterações depois dos 80 minutos.
Não há explicação para isso, é perfeitamente incompreensível. É rezar para o cansaço não se tornar inibitório na parte decisiva da época. E Beto porquê? Tudo menos o Beto!

Serenidade Nórdica

Da Dinamarca apareceu uma arbitragem tranquila e quase imaculada. Nicolai Vollquartz não terá tido grandes lances para decidir mas, quando eles apareceram, mostrou categoria. Ao amarelar Danciulescu, por simulação grosseira de um penalty, mostrou que não se iria afectar pelo difícil ambiente. Não o conhecia, e parecia ser fisicamente “gasto” para o cargo, mas mostrou o contrário. Sempre muito perto dos lances, e rigoroso na sua análise!
Imperial, também, o trabalho dos árbitros auxiliares no capítulo do fora-de-jogo.

Paris é Nossa, e Há-de Ser

E pronto, já se sabe que a próxima eliminatória será uma bela oportunidade para os emigrantes matarem saudades. Será que, novamente, será batido o recorde de assistência forasteira nas competições da UEFA? Em Saint-Dennis estiveram 40 mil portugueses, naquela horrível exibição com o Lille, quantos estarão no Parque dos Príncipes?
A oportunidade é muito boa, quer para os portugueses que poderão ver o seu clube de perto, mas também é uma grande oportunidade para o Benfica garantir, pelo 2º ano consecutivo, os quartos-de-final de uma prova da UEFA.
Será importante fazer um golo em solo gaulês! O PSG está perfeitamente ao alcance, depois de ir à Cidade Luz, há que decidir na Luz.

NDR: Não vejo necessidade de retirarem o vosso dinheiro da Caixa Geral de Depósitos... como fizeram tantos sportinguistas aquando da fundação da Caixa Futebol Campus. Sempre quero ver qual a atitude de algumas "personagens", que cheias de raiva e ódio se insurgiram contra os "benfiquistas" do Conselho de Administração da CGD. Seguindo uma atitude de coerência, que obviamente não têm, deveriam engolir um sapo e enfiar a viola no saco.
Mas não digo para terem vergonha disto, porque acho perfeitamente legítimo uma empresa, mesmo que pública, investir o seu orçamento de publicidade onde bem entender. Como já o tinha dito antes!
Mas depois do que tive de ouvir, há uns tempos atrás, não me vou calar: como é, malta lagarta que nos lê, agora vão voltar a meter lá a “guita” ou continuam sob protesto?

Podem ver o resumo do jogo aqui. A autora do magnífico vídeo é a bS7.

Ficha de Jogo:

2ª mão dos desasseis-avos-de-final da Taça UEFA

Dínamo Stadium, em Bucareste

Árbitro: Nicolai Vollquartz (Dinamarca)

DINAMO BUCURESTI – Bogdan Lobont; Blay, Moti, Radu e Pulhac; Margaritescu, Serban (Balace, ao int.), Catalin Munteanu (Mendy, 58 m) e Cristea (Zé Kalanga, 76 m); Danciulescu e Niculescu.

SL BENFICA – Quim; Nélson, Luisão, Anderson e Léo; Petit, Katsouranis (Beto, 89 m), Simão e Karagounis; Fabrizio Miccoli (Nuno Gomes, 76 m) e Derlei (Paulo Jorge, 86 m).

Disciplina: Amarelos a Moti (21 m) e Danciulescu (34 m).

Golos: 1-0, Munteanu (23 m); 1-1, Anderson (50 m); 1-2, (Katsouranis, 64 m).

(O Benfica qualifica-se para os oitavos-de-final da Taça UEFA, com o agregado de 3-1, onde vai defrontar o PSG de Pauleta)

#Fotos: AFP-Getty Images, Reuters e Site Oficial

#adicionado a Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o Encarnados