quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Crónica Taça UEFA - Ainda há Heróis!

Minuto 89, está 1-0 para o Benfica. Equipa em cima do adversário e há apenas 4 minutos para o final do jogo. Fernando Santos tira Rui Costa e mete João Coimbra, que nem chegou a tocar na bola. Não discuto a saída do maestro, que talvez pudesse ter acontecido mais cedo, mas àquela hora? De ir aos arames! Seria para queimar tempo ou a vontade de se manter no cargo mais uma semanita era mais importante que uma possível vantagem de dois golos? Já nem falo na saída de Petit que, apesar de limitado fisicamente, resultou em mais de 20 minutos sem controlar o meio-campo… Katso’s fault, obviamente! Ambição caramba, a ambição é o segredo quando se treina uma equipa como o Benfica!
Já nem chateia, entristece...

Num jogo razoável – bem melhor na 1ª parte –, Fabrizio Miccoli resolveu mais uma vez… lembram-se do Lille? O Dinamo confirmou ser uma equipa mediana, com algumas excelentes individualidades – Lobont, ex-Fiorentina e ex-Ajax, é colossal – mas denotando uma enorme falta de ritmo competitivo. Perfeitamente ao alcance uma goleada do Benfica de Leiria, por exemplo.
Começa a ser preocupante a falta de poder de concretização do Benfica, deficit esse que, nesta altura da época, causará um grave rombo nas pretensões do clube. Tem sido Simão, Léo e Rui Costa a criarem para toda a gente disparatar em frente aos guarda-redes. Guarda-redes esses, que se têm transformado em Adamastores.

Individualmente há que destacar Simão, Léo e Luisão.
Na sequência das grandes performances dos últimos tempos, Simão Sabrosa voltou a ser o melhor em campo. Desta vez não marcou mas foi decisivo, como sempre é.
Sempre em movimento e na procura do esférico, rematou à barra – que saudades dos seus livres exemplares –, assistiu Nuno Gomes várias vezes sem sucesso, e no único golo da partida tem a glória nos pés mas o keeper romeno não vai na conversa. Não faz mal, porque Miccoli decide no segundo imediato e inaugura o marcador, selando o resultado. O capitão merecia sair recompensado, mas fica para a próxima… e que sejam muitas próximas.

Luisão é a verdadeira âncora da parte recuada da equipa, que continua a mostrar uma classe só ao alcance dos grandes atletas.
Apesar de ter deixado fugir o romeno num lance que originou uma, e única, grande defesa de Quim, destaco dois pormenores deliciosos: o passe de 25 metros que isola Nuno Gomes e uma finta do outro Mundo, junto à linha lateral e “à Mozer”, que prega ao chão um adversário.
Compreendo que estivesse irritado com os assobios mas aquela atitude para com os assobiadores, apesar de compreensível e em defesa do grupo, não é tolerável na forma como foi feita! Mas toda a gente sabe que é um magnífico jogador, magnífico profissional!

O grande show do lado esquerdo do ataque veio de Léo – Simão esteve mais ao meio e poucas vezes descaiu para as faixas na primeira hora de jogo – mas isso já ninguém estranha. O brasileiro é autor de várias arrancadas na faixa, com alguns cruzamentos em grande estilo. O problema esteve na finalização e na abertura de espaços dos atacantes, mas isso já não é da sua responsabilidade. Defensivamente irrepreensível, por ali não passou nada.
Mas também não gosto das ironias do Léo para com a arbitragem, os jogadores têm de aprender a ficar de bico calado.

Rui Costa e Fabrizio Miccoli foram, também, das melhores peças do xadrez encarnado.
O maestro esteve novamente em grande, novamente indispensável, novamente decisivo!
O golo do Benfica sai, novamente, na sequência de um passe seu, mesmo que estivesse já em claro baixo rendimento nos últimos 15/20 minutos. Rui Costa é isto! Numa grande jogada individual pode aparecer uma abertura primorosa e o golo acontecer, e por isso é tão difícil para os treinadores tirarem-no de campo. Mesmo quando parece alheado da partida, o que só aconteceu quando o esgotamento físico interveio, há magia.
Destaco, ainda, outras duas aberturas e as duas para Simão, uma aconteceu depois de uma fabulosa e madrugadora arrancada, que deixou vários romenos para trás, e a outra num passe “a cortar” onde Simão foi impedido, de se isolar, em falta.

O golo que marcou faz dele um dos homens do jogo. Tal como naquele célebre jogo de estreia na Luz, frente ao Lille, o italiano ofereceu a vitória ao Benfica num lance de grande sentido de oportunidade e nos minutos finais. Mas Fabrizio Miccoli foi mais que o golo, esteve sempre em movimento e na ânsia de rematar. Nem sempre as coisas lhe saíram bem, é verdade, mas a sua determinação e classe demonstram inequivocamente que é importantíssimo nesta equipa. No regresso após lesão prolongada, e sem grandes floreados, faz logo um golo… sintomático!

Mas será justo deixar uma referência a Nélson. Muito mais seguro que em jogos anteriores, tem mesmo alguns cortes dignos de registo. Cortes que tiraram prováveis golos ao adversário, num dos quais cabeceia para fora, nos últimos instantes de jogo, quando Niculescu já tinha armado o gatilho para disparar. Ofensivamente voltou a denotar pouca acutilância, visto que foram escassos os cruzamentos em altura. Depois de um início fulgurante no clube – com grandes e regulares assistências –, tem vindo a perder eficácia nesse aspecto. Terá de ter mais atenção na execução do gesto técnico! Um pouquinho trapalhão e “apressado”, por vezes. Nalguns momentos deu a sensação que não deu o melhor seguimento à jogada.

Discutir Nuno Gomes, realmente, já começa a ser moda mas é tudo devido às suas performances horrorosas. Continua a falhar golos em catadupa, dois ou três de forma incompreensível. Lobont é um grande guarda-redes mas um avançado titular do Benfica tem de facturar regularmente. Estar 3 meses sem marcar, com dezenas de oportunidades para o fazer, é desastroso! Mesmo assim melhorou alguma coisa em relação ao confronto anterior, já que não seja por aparecer mais em jogo, mas a sua actuação foi muito insuficiente. Seria importante protegê-lo neste mau momento de forma, e dar oportunidade a outros colegas de plantel. Tem a palavra, Nandinho!

Alguns erros de arbitragem, para os dois lados, por um croata que deixou passar incólume algum jogo duro. É discutível o amarelo mostrado a Moti, quando Simão se isolava, mas penso que Ivan Bebek esteve bem. O vermelho não escandalizaria mas seria algo exagerado, em virtude de haver outro defesa relativamente próximo.
Parece-me, no entanto, haver um penalty não assinalado, por empurrão a Derlei, na jogada que dá origem ao único golo. Ainda bem que Miccoli resolveu, caso contrário o resultado estaria desvirtuado.
Quanto aos árbitros-auxiliares, completamente aos papéis... aquele lance invalidado aos romenos, na primeira parte, é ridículo!

Já tinha “saudades” da organização do povinho para “malhar” nos benfiquistas, é algo que tem acontecido desde aquela malfadada deslocação à Póvoa do Varzim. Vocês já o devem ter sentido, também! Sempre é mais um desgosto que têm com esta vitória, mas será muito difícil passar a eliminatória, já que uma vantagem mais alargada é fundamental nas provas europeias. A intranquilidade geral instalada tem sido castradora nos momentos decisivos e as deslocações longas não têm sido profícuas este ano… basta lembrar Copenhaga para ficar com o pé atrás! Não quero perseguir Nandinho, mas bem me parecia que nas alturas importantes isto ia acontecer. A esperança continua a ser a última a morrer, claro!

NDR: Impressionante a quantidade de clubes que estiveram representados na Luz. Nada mais, nada menos do que 12. Charlton, Chelsea, Liverpool, Atlético de Madrid, Villarreal, Espanhol, Lens, Saint-Etienne, Marselha, Fiorentina, Juventus e Hamburgo fizeram as honras. Espero que ninguém importante tenha interessado, para não andarem com novelas até Setembro!

Para quem já conhece isto, haverá daqui a algum tempo – quando passar esta fase mais complicada onde há tantos jogos para comentar – uma segunda edição, com novas desmistificações. Os temas estão em estudo, resta-me ter tempo para os desenvolver.

Podem ver o resumo do jogo aqui. A autora do magnífico vídeo é a bS7.

Ficha de Jogo:

1ª Mão dos desasseis-avos-de-final da Taça UEFA

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Ivan Bebek (Croácia)

SL BENFICA – Quim; Nélson, Luisão, Anderson e Léo; Karagounis, Katsouranis, Petit (Miccoli, 46 m) e Rui Costa (João Coimbra, 89 m); Nuno Gomes (Derlei, 73 m) e Simão Sabrosa.

DINAMO BUCURESTI – Bogdan Lobont; Blay, Moti, Radu e Pulhac (Zé Kalanga, 64 m; Dennis Serban, 81 m)); Cristea, Margaritescu, Balace e Munteanu (Ropotan, 78 m); Niculescu e Danciulescu.

Disciplina: Amarelos a Munteanu (25 m), Petit (32 m), Moti (68 m) e Léo (78 m).

Golos: 1-0, Miccoli (88 m).

(Segunda mão a 22 de Fevereiro, no Dínamo Stadium, em Bucareste)

#Fotos: AFP-Getty Images, SerBenfiquista e Reuters

#adicionado a
Crónicas 06/07

#publicado em simultâneo com o
Encarnados