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Ir a Leiria é, desde há uns anos para cá, sinónimo de perca de pontos para o Benfica. De facto, o Benfica não tem conseguido ao longo dos tempos vencer o clube da minha cidade tendo arrancado alguns empates depois de ter estado a perder várias vezes (lembro-me de dois 1-1 com Chano e Cadete a igualarem depois de golos inaugurais de jogadores da casa, o recente 3-3 num dos melhores jogos da Liga transacta, já para não falar da derrota do ano passado por 1-0).
A jornada 21 colocava, então, na dúvida se o Benfica conseguiria reagir positivamente a uma derrota estrondosa na Luz contra o maior rival e triunfar mantendo intacta a esperança de revalidação do título. Além disso, a maior curiosidade era saber se a equipa conseguiria “pôr para trás das costas” os inúmeros factores de destabilização que tem vindo a público nos últimos tempos – desentendimentos nos treinos, polémica com o site do Simão, doping de Assis, etc... – e que, obviamente, quer se queira quer não tem minado de alguma forma o balneário.
Estes factores aliados ao facto da União de Leiria ter, este ano, uma excelente equipa de futebol – digna das melhores dos últimos anos – a tarefa não se augurava nada fácil. Havia, no entanto, o conhecimento de que o Sporting já tinha vencido o seu jogo e, portanto, a vontade dos jogadores de vencer a partida estaria no máximo.
Ronald Koeman procedeu a várias alterações no 11 titular substituindo Anderson por Ricardo Rocha, Alcides por Léo – trocando Nélson para a direita, Manduca por Marcel, Beto por Manuel Fernandes e Geovanni por Laurent Robert. No meu ponto de vista o treinador não errou na construção da equipa pois colocou um 11 muito próximo daquele que eu colocaria, caso fosse eu o treinador. Ficaram, no entanto, algumas dúvidas na saída de Anderson – compreende-se pois esteve abaixo das expectativas no último jogo – e na de Geovanni – incompreensível o facto de nem sequer ter ido para o banco.
Marcado por uma semana de muito gozo, arrogância e por vezes má educação e insulto por parte dos nossos “amigos” lagartos que já são de novo – e apenas 2 semanas depois de uma época desastrosa – os futuros Campeões Nacionais, fiquei enormemente satisfeito ao ver que o Benfica entrou no jogo “a matar”. Uns primeiros 30/35 minutos absolutamente fantásticos – do melhor que já vi nesta Liga – apenas manchados pelo sucessivo, e já comum, esbanjar de oportunidades flagrantes de golo. “Quem não marca, arrisca-se a sofrer” ou “Quem não mata, morre” poderiam ser, perfeitamente, os títulos desta crónica mas optei por fazer uma homenagem às fabulosas exibições de João Paulo – vão lá buscá-lo por favor – e de Costinha – sempre ele, grande keeper – que, tal como na temporada passada, foram os melhores em campo e os maiores responsáveis pela vitória da equipa visitada.
Gosto muito da União de Leiria, é o meu 2º clube em Portugal e só não fico deprimido por este resultado porque o Benfica perdeu para a União.
Apesar da exibição ter sido muito melhor que na jornada anterior o Benfica voltou a sofrer golos em sequência de erros individuais e voltou a não conseguir encontrar a tranquilidade exigível para dar a volta ao marcador, sofrendo o golo decisivo em contra-ataque – tal como contra o Sporting.
A equipa está, claramente, intranquila e não é visível o trabalho de Koeman nesse aspecto. Se tecnicamente não foi o responsável pela derrota – não pode fazer muito se os jogadores tiverem erros infantis, não está conseguir tranquilizar a equipa em caso de resultados adversos. A pressão está elevadíssima e Koeman parece-me o primeiro a já ter baixado os braços. A sua descrença nas vitórias parece estar a destruir o espírito de equipa enquanto que algumas das suas opções mais polémicas parecem estar a destruir o balneário – não percebi a ida de Geovanni para a bancada tal como não percebo porque o Karagounis não joga desde Setúbal e porque é que o Quim foi arredado de forma inglória da equipa.
Se, até aqui, as vitórias escamoteavam um pouco os erros do treinador, é com as derrotas que eles são mais visíveis. É preocupante que um plantel de luxo não esteja a colocar a equipa no topo da classificação por erros de casting e/ou falta de blindagem no balneário.
Para além dos erros individuais e das opções mais ou menos discutíveis do treinador acrescento ainda outro factor responsabilizador das derrotas: a falta de cobertura defensiva a meio-campo. Se com Beto – atenção, que não sou propriamente fã dele como devem saber – nesse aspecto o Benfica está, claramente, bem preenchido falhando na construção de ataque, com Manuel Fernandes o Benfica ganha em termos atacantes mas é quase nulo nesse tipo de acções – apenas Petit o faz. Resta saber o porquê da não utilização de Karagounis, já que se sabe a qualidade do grego nestes dois aspectos de jogo.
Apesar de todos estes condicionantes a derrota do Benfica é inteiramente injusta até pela análise à estatística de jogo – mais remates, mais cantos, mais posse de bola, mais lances de perigo, etc… – no entanto ganha quem faz mais golos. O futebol é isto mesmo!
Individualmente e como homem do jogo por parte do Benfica destaco Laurent Robert. O francês fez uma exibição de luxo com constantes lances de grande qualidade. Passes excelentes – o do grande golo de Manduca é magistral, e remates perigosíssimos – foram quase todos dele. Na parte final do jogo desapareceu um pouco já que ainda não está nas condições físicas mais apropriadas mas fez, de longe, o melhor jogo ao serviço do Benfica.
Manuel Fernandes esteve, no plano ofensivo, em grande nível – estrondoso remate à barra na 1ª parte que daria o golo da jornada – mas defensivamente foi uma catástrofe com constantes perdas de bola e falhas gravíssimas na cobertura aos centrais. É directamente responsável em dois golos do adversário já que no 1º não fez a cobertura à entrada da área permitindo o remate sem oposição de João Paulo e no 3º golo perdeu a bola de forma infantil dando origem ao contra-ataque da União. Se conseguir jogar com mais tranquilidade e se conseguir colmatar alguns erros primários ainda vai a tempo de fazer um grande resto de Campeonato.
A dupla de centrais teve alguns erros comprometedores pois Luisão tem uma falha imperdoável que dá o 2º golo – um central nunca pode fintar daquela forma em zona proibida – e Ricardo Rocha “esqueceu-se” de Paulo César no lance em que o brasileiro remata ao poste – foi ainda ultrapassado algumas vezes em velocidade de forma peremptória.
Dos defesas-laterais esperava bastante mais. Nélson fez um dos piores jogos ao serviço do Benfica pois defensivamente esteve bastante nervoso – ou displicente – com muitas perdas de bola e consecutivos passes errados enquanto que ofensivamente falhou na altura de centrar para a área. O jogo ofensivo de Léo é bastante bom mas, tal como o seu colega lateral, falhou na altura dos cruzamentos. Esteve melhor que Nelson já que defensivamente foi impecável.
Ficou-me a ideia que o guarda-redes Moretto esteve, de novo, abaixo do espectável. Continuo a achar que demora muito tempo a ir aos lances – no 1º golo é notório – e que é muito inseguro a agarrar a bola - 2º golo e naquele lance que soca a bola para a frente já deitado no chão. Não percebo porque não joga o Quim!
Petit continua a entrar no jogo violento – mais um lance lamentável e para vermelho directo que ficou por mostrar por um pisão a Fábio Felício – mas foi, como de costume, um dos mais inconformados. Esteve bastante desapoiado a nível defensivo e continua um desastre em lances de bola parada – quer em livres quer em cantos. Sinceramente não entendo porque é que é ele a marcar quase tudo quando se vê que ele não o sabe fazer da forma mais correcta!
Nuno Gomes e Marcel jogaram praticamente o mesmo. Muito afoitos mas desastrados na hora de meter a bola dentro da baliza mas, também, muito por culpa de Costinha. Há que treinar a finalização, ainda assim bons pormenores de Marcel.
Resta falar de Simão Sabrosa. Apesar de não ter sido substituído ao intervalo pareceu, de facto, que o foi. Nos 1ºs 45 minutos parecia que íamos ter o grande Simão de volta mas foi “sol de pouca dura”. No segundo tempo pura e simplesmente não existiu à semelhança das últimas 3 jornadas. Não quero acreditar que está no Benfica contrariado, seria mau demais para um adepto do Benfica mas o Simão de Leiria – e o de há 2 meses para cá – não vale 20 milhões de euros.
Finalizo com o habitual comentário ao trabalho do árbitro. Muito se disse sobre António Costa, deu direito a post neste blog e tudo. Fica a curiosidade (?!) de o Benfica voltar a não conseguir ganhar sendo apitado pelo árbitro de Setúbal. E se não houve lances escandalosos como penaltys e expulsões, a sua arbitragem foi habilidosa. Não houve um único lance dividido em favor do Benfica, houve inclusivamente muitas faltas marcadas ao contrário sempre em prejuízo do visitante.
O amarelo a Petit é patético – nem sequer há falta e que o impossibilita de jogar para a Taça a meio da semana – embora não tenha visto a agressão do nº 6 benfiquista a Fábio Felício. De certeza absoluta que se visse o teria expulsado por isso não venham já com histórias. Destaque ainda para um fora-de-jogo mal tirado a Maciel assinalado quando o avançado da União ainda se encontrava no meio-campo defensivo. Será que o fiscal não sabe as regras?
Concluindo, as contas do título estão cada vez mais complicada e depois destas 2 derrotas consecutivas – principalmente sabendo como elas aconteceram – e em caso de vitória do FC Porto deixo de acreditar na revalidação do título. Não se trata de uma questão de resignação mas de entender que, neste momento, o Benfica tem poucas hipóteses de, continuando a jogar desta forma, conseguir recuperar 7 pontos ao FC Porto.
Se o Braga der uma ajuda ainda tudo é possível mas é triste ver o plantel que o clube tem e olhar para a classificação.
NDR: A assistência no jogo de ontem suplantou o total somado de todos os jogos da União em casa. Somos grandes! E já agora: Afinal o Maciel faz muita falta à União, não acham?