Depois de 3 jogos sem ganhar – pelo menos no tempo regulamentar – e de um resto de semana relativamente tranquilo o jogo contra o último classificado era esperado como uma espécie de reconciliamento entre a equipa e os adeptos.
Esperavasse muito pouco do Penafiel em virtude da má classificação, do número de golos sofridos e porventura do historial dessa mesma equipa no Estádio da Luz mas há sempre que desconfiar das equipas que não têm qualquer tipo de pressão – a descida de divisão já foi assumida pelo próprio presidente – pois o seu futebol pode complicar e muito o adversário.
Em virtude de castigos e de alguns problemas físicos eram esperadas algumas alterações no 11 titular, alterações essas processadas por Ronald Koeman de forma mais ou menos previsível. Estranhasse… ou não, a manutenção de Alcides – com Nélson no banco – e a colocação de Karagounis a trinco – quando se sabe que o grego rende muito mais no apoio ao ponta-de-lança. Definitivamente o treinador “não vai à bola” com Karagounis, nem consegue abdicar de Alcides, ainda assim o resto da equipa poder-se-á considerar normal tendo em conta os últimos jogos e o estilo de jogo de que o treinador pretende.
A importância de um bom resultado nesta jornada era vital para as aspirações do título em virtude dos resultados já conhecidos dos concorrentes directos – vitórias do FC Porto e do Sporting. E se era esperada uma grande exibição do Benfica, a desilusão foi o mote nos primeiros 45 minutos. O Benfica entrou bastante mal no jogo permitindo que o Penafiel criasse bastante perigo e tivesse inclusivamente oportunidades soberanas de golo que felizmente não conseguiu converter.
O golo foi o libertador da equipa e permitiu que o jogo decorresse de forma mais fluida e para além de ter sido importante para o visitado foi uma forte “machadada” nas aspirações do adversário. Há, de facto, momentos chave na partida como por exemplo as grandes defesas de Moretto e o consequente 2-0 de auto-golo.
A segunda parte não foi muito melhor que a primeira – a exibição no geral foi fraca, salvou-se a goleada – mas a vitória é indiscutível. Há muito tempo que o Benfica não goleava e isso é sempre bom independentemente do tipo de futebol jogado.
Individualmente e como homens do jogo destaco dois jogadores fundamentais no Benfica actual, Léo e Petit.
O brasileiro Léo teve uma exibição em tudo muito semelhante à realizada no encontro para a Taça. Extremamente disponível, esforçado e com um sentido atacante realmente fantástico. Se defensivamente teve pouco trabalho, em virtude do ataque retraído do adversário, no registo atacante foi um dos grandes impulsionadores da equipa. Há muito que não se via um lateral-esquerdo de tão grande categoria no Campeonato.
Não sei até que ponto é seguido por Carlos Alberto Parreira mas em virtude das anteriores convocatórias, o “baixinho” da Luz não seria uma surpresa nos eleitos do “escrete”. Espero que Koeman não invente mais e lhe dê a titularidade indiscutível nos próximos tempos e enquanto mantiver o elevado nível que tem exibido.
A polémica da semana – à ausência de melhores motivos – é-lhe imputada na assistência que faz para o 3-0. Se, de facto, há um jogador do Penafiel deitado na área penafidelense, o que poderá fazer lançar rasgos de indignação aos mais pudicos pelo facto do lance decorrer, não é menos verdade que 10 segundos antes, e com o mesmo jogador incapacitado, os jogadores nortenhos fazem decorrer uma jogada tentando um contra-ataque que morre nos pés de Manuel Fernandes. Não acredito que Léo não tenha visto o Pedro Moreira caído mas será que lançar a bola para fora depois da atitude do Penafiel não seria “angelical” demais? Na minha opinião: sim!
Quanto a Petit, de longe o mais regular de toda a época, continua a fazer jogar toda a equipa. Para além de toda a sua disponibilidade física, o seu carácter e categoria fazem com que seja, na minha opinião, o jogador mais importante do Benfica da época em curso. Fez um passe absolutamente magistral para o golo de Geovanni – calando muitas bocas que afirmam que só sabe dar “pau” – e marcou o canto que resultou num auto-golo de Roberto – com Luisão à “espreita”. Acrescento ainda uma outra nota positiva no que diz respeito à ausência do jogo duro a que nos têm habituado, espero que seja para manter.
Em grande nível exibiram-se também Moretto, Geovanni e Luisão. Do guarda-redes só se poderão tecer elogios. Num determinado momento do jogo foi fundamental com um punhado de excelentes intervenções – uma verdadeiramente fabulosa na resposta a um cabeceamento de Roberto – e desta vez demonstrou grande segurança em todos os pergaminhos do jogo. Parece que a ida para o banco no jogo da Taça foi regeneradora.
Ao “ponta-de-lança” Geovanni todos os elogios são escassos. É espectacular a sua percentagem de aproveitamento aquando da colocação na frente de ataque. As suas contantes súplicas para que o colocassem nessa posição mostram, de jogo a jogo, que são justificadas. O brasileiro foi, desde sempre, um dos meus jogadores preferidos, simpatia que aumenta consideravelmente com este tipo de exibições. O seu elevado nível de jogo complica bastante a garantia de oportunidades aos restantes avançados do plantel.
Luisão manteve a elevada concentração já demonstrada contra o Nacional da Madeira cotando-se como um dos melhores do Benfica. Não perdeu um único lance e é responsável na obtenção do 2-0 por influência directa na atrapalhação ao jogador adversário que infortunadamente colocou a bola na própria baliza. Continua a calar as inoportunas e precipitadas críticas de alguma Comunicação Social às suas exibições realçando toda a sua categoria e pretensão na chamada ao Mundial.
Apesar de apenas 45 minutos jogados, Manuel Fernandes e Nuno Gomes foram também grandes impulsionadores da vitória exibindo-se em bom nível.
Do centro-campista português pode-se observar claramente – e tendo em conta os últimos jogos – uma subida de forma brutal com um consequente rendimento elevado. Melhorou enormemente a sua qualidade de passe – toda a gente sabe que os baixos índices físicos condicionam muito este aspecto – mas continua a pecar em terrenos defensivos. É pena que não retire um melhor aproveitamento do seu forte pontapé mas mesmo assim tem de ser titular nesta equipa.
De Nuno Gomes posso dizer que gostei imenso. Fez, aliás, um dos melhores jogos nos últimos tempos. Foram inúmeros os passes magistrais – aquele de calcanhar é fabuloso, algumas desmarcações simples mas bem feitas e concluiu de forma brilhante um grande centro de Léo para o 14º golo no campeonato em 22 jogos. Um registo que o mantêm no primeiro lugar dos melhores marcadores da Liga Portuguesa. O seu amor à camisola é contagiante, e é neste momento o jogador que ao marcar um golo me dá mais satisfação não só por tudo o que foi dito ao longo dos anos – por mim também, admito-o – mas também porque ganhar a Bola de Prata era um prémio merecido para uma grande carreira ao serviço do Benfica.
Abaixo do esperado estiveram Alcides, Anderson e Karagounis.
O lateral-direito do Benfica tem as conhecidas lacunas no aspecto ofensivo. E se não houve trabalho quase nenhum perto da área benfiquista, neste tipo de jogos tem de jogar um lateral de outro tipo. Não compreendo a relegação para o banco do Nélson ainda para mais porque não gosto do futebol de Alcides. Positivamente, destaco um grande cabeceamento “à central” e como “dizem os livros” que saiu perto do poste.
Confesso que gosto imenso do central Anderson, no entanto a sua irregularidade é bastante peculiar. Tanto demonstra um futebol espectáculo digno dos melhores centrais a jogar na Europa com falhas de iniciado. Neste jogo teve um lance inacreditável em que perdeu a bola por baixo das pernas e no que poderia ter sido uma grande oportunidade de golo… a atenção de Léo inviabilizou o golo do Penafiel. Sinceramente não percebo estas brancas de tempos a tempos do brasileiro. Ainda assim é um grande jogador e um complemento excepcional de Luisão. Na minha opinião é titular indiscutível e só não deve jogar quando se pretende fazer uma rotação do plantel.
O “bico-de-obra” deste jogo foi utilização de Karagounis. No braço de ferro com Koeman tinha cilindrado no jogo da Taça com uns 39 minutos de sonho. O “castigo” foi a sua colocação na posição de trinco ao invés de um pouco mais adiantado no apoio ao ponta-de-lança. Karagounis não se deu bem com o lugar e fez uma exibição paupérrima, a roçar o medíocre com constantes percas de bola e passes errados. Se nem tudo se explica pela colocação em campo, esse facto tem bastante influência na substituição ao intervalo. De forma matreira e um pouco indecorosa Koeman levou a melhor e o grego tem, agora e novamente, o seu lugar na equipa minado para semanas.
Manduca, Laurent Robert e Marcel, independentemente dos minutos que jogaram, pouco ou nada se viram. Verdadeiras desilusões neste jogo, e no caso do ponta-de-lança Marcel, o brasileiro ainda não justificou a sua contratação. Se a substituição do ex-Marítimo ao intervalo é acertadíssima não compreendo porque é que o francês não saiu mais cedo.
Para finalizar, destaco a melhoria da performance de Simão Sabrosa em comparação com os jogos mais recentes. Ainda não esteve ao seu nível – muito longe mesmo – mas denotou maior entrega na partida. As fintas, as desmarcações, os centros e os livres não saem como pretende – a má forma é visível e preocupante tendo em conta os grandes confrontos que se avizinham – mas não se pode dizer que não tenta. O seu esforço foi premiado com um golo de belo efeito, mas de aparente fácil concretização – após passe magistral de Manuel Fernandes – e que servirá, certamente, de tónico para posteriores jogos. Golo este que foi o seu 7º na Liga.
No que diz respeito ao trabalho do árbitro pode-se dizer, desde já, que não gostei nada. Obviamente que não houve lances polémicos nem falhas técnicas assinaláveis mas no capítulo disciplinar, Nuno Almeida, não esteve nada bem. Falhou ao não expulsar Laurent Robert e Weligton por entradas duríssimas e demonstrou sempre grande insegurança no controlo do jogo. Num jogo mais complicado e com este tipo de autoridade teria sido um desastre. Trabalho dos auxiliares impecável.
Estou bastante desapontado com a jornada 22. Não pelo resultado do jogo do Benfica, obviamente, mas pelas esperanças que tinha em desaires do FC Porto e do Sporting. As deslocações que eu pensava que seriam bastante complicadas não passaram de meros passeios – independentemente das circunstâncias mais ou menos polémicas em que foram obtidos os resultados – e tendo em conta que na próxima jornada é o Benfica a deslocar-se a um campo complicado, e os adversários a jogar em casa, os meus receios crescem.
Preocupante ainda o elevado número de jogadores brasileiros na equipa titular, nada mais, nada menos do que 7 – com mais 2 no banco. Não gosto nem nunca gostei do excesso de estrangeiros na equipa, não só pelo facto de na história o clube nunca se ter dado bem com isso mas também porque essa politica de contratações não me parece ter um fim à vista.
A equipa titular e campeã da época passada era constituída por 8 portugueses, atenção a isso.
NDR: Lamentável a guerra pela camisola de Simão no final do jogo. Quem a apanhou é que fica com ela e quem a quiser que a compre na Loja do Benfica. Custam 65 euros, eu tenho uma!
Ficha do Jogo:
22ª Jornada da Liga Portuguesa