domingo, fevereiro 26, 2006

Crónica 24ª Jornada - O Controlo Remoto!!


Clássico é clássico. Felizmente que depois do jogo no Dragão da 1ª volta já não olho para este tipo de jogos com resignação e pouca esperança num bom resultado. É certo que o Benfica, nos últimos tempos mais recentes, não tem estado em grande nível mas a vitória sobre o Liverpool para a Champions League veio dar um grande alento a todos aqueles que torcem pelo Glorioso. Ao longo dos anos fui-me habituando a arbitragens escandalosas – principalmente no Dragão – que quase sempre limitavam irremediavelmente o Benfica de conseguir pontos contra o FC Porto. Obrigado Apito Dourado pelas alegrias que nos vais proporcionando.

Confesso que as opções de Co Adriaanse, por vezes me divertem bastante, com algumas patetices que não compreendo como por exemplo o afastamento do 11 titular de alguns grandes jogadores como Ibson, Diego e Lisandro López ou a famosa táctica do 3-3-4 – com grandes jogadores pode resultar agora com Pedro Emanuel, Bosingwa e Raul Meireles? E mais descansado fiquei quando soube do score de 7-0 nos confrontos entre os dois holandeses. O holandês do Porto nunca venceu o holandês do Benfica, e isso é sempre de assinalar.

Definitivamente que a conversa das assistências deixou de estar na “ordem do dia” já que as grandes enchentes na Luz voltaram à normalidade. Tal como já tinha dito na crónica anterior o público tem-se mostrado fundamental e 60 mil gargantas a torcer por um grande Benfica é um dos grandes motivos de orgulho que tenho como sócio e simpatizante deste magnifico clube.

Sendo assim, o jogo da 24ª jornada que confrontava o líder e o Benfica afigurava-se como um “mata-mata”. Era fundamental vencer, caso contrário o sonho do Bi-Campeonato não passaria apenas disso mesmo, de um sonho. Por isso mesmo, a pressão existente do lado dos visitados era enorme.


Ronald Koeman fez apenas uma alteração à equipa titular do jogo anterior colocando Karagounis no lugar de Beto. A entrada do grego teoricamente possibilitaria um sentido mais ofensivo à equipa procurando apoiar de forma mais eficaz o ponta-de-lança Nuno Gomes. Acho muito importante o povoamento do meio-campo e penso que esta é a melhor forma de consolidar o jogo da equipa. Uma estrutura central forte com 2 médios defensivos – Petit e Manuel Fernandes – e outro ofensivo mas que também defende de forma eficaz – Karagounis – é fundamental na estruturação do futebol de uma grande equipa.

Antes da partida constatou-se mais um rol de comportamentos animalescos por parte da claque do FC Porto, Super Dragões. Se já não bastava o lamentável comportamento na entrada para o estádio com insultos, provocações e arruaça – previamente “corrigida” de forma eficaz e meritória pela polícia de choque – o que sucedeu no minuto de silêncio que antecedeu o jogo foi surreal. Não conheço o ex-dirigente leonino homenageado mas é de uma falta de civismo perfeitamente ignóbil por parte dessa gente que se entoe a versão brejeira e insultuosa de um cântico benfiquista ao invés de se fazer silêncio. Esta gente está a mais no futebol!


O Benfica, à semelhança do jogo com o Liverpool, iniciou a partida com algumas cautelas defensivas precavendo-se das iniciativas individuais de Lucho e Quaresma – de longe os melhores jogadores do adversário. Foram muito poucos os espaços existentes na primeira parte o que impossibilitou um futebol de melhor qualidade. Uma ou duas iniciativas de Simão e de Robert, e ainda um excelente remate de Nuno Gomes por cima da baliza.

Foi uma 1ª parte muito dura, com muitas faltas e muito nervosismo de parte a parte. Poucos remates e poucas defesas. Até que Paulo Assunção tem uma entrada duríssima sobre Laurent Robert que o árbitro prontamente assinala como faltosa – faltou, no entanto o amarelo para o brasileiro. O francês aprontasse para marcar o livre e estoira de 40 metros para Vítor Baía abrir a capoeira. O míssil com controlo remoto é, na verdade, um frango monumental do “Sr. 400 jogos” mas muito mérito também para o nº 34 benfiquista pela forma fenomenal como dá o efeito à bola.

O intervalo não chega antes que Nuno Gomes de forma displicente e desastrada falhe um golo praticamente feito por Simão Sabrosa. Exigia-se mais calma ao ponta-de-lança do Benfica já que este golo mataria o jogo por completo.

A 2ª parte foi bastante superior à 1ª devido ao facto do FC Porto ter saído mais do seu meio-campo. Assim começaram a existir mais espaços o que possibilitou contra-ataques perigosos de cada uma das equipas. É verdade que houve algumas oportunidades para o adversário – 1 lance de Lucho e outro de Benny McCarthy – mas o Benfica voltou a ter novas oportunidades para terminar de vez com a partida. Contei pelo menos 4 lances de golo eminente desaproveitados pela linha avançada do Benfica. Na minha opinião se a tranquilidade reinasse na tabela classificativa, o SLB teria goleado o FCP neste jogo.


O resultado é, como não poderia deixar de ser, inteiramente justo porque a equipa da casa teve mais e melhores oportunidades de golo e soube aproveitar os erros do adversário. O jogo valeu, essencialmente pela emoção de um clássico e pela meia-hora final de futebol mais ou menos bem jogado – pelo menos houve velocidade.

Quase me dava um ataque de fúria ao assistir às substituições de Koeman, se concordo inteiramente com a equipa escalonada de início não posso dizer o mesmo dos substitutos utilizados. Se a entrada de Beto pode ser facilmente tolerada para o refrescamento da equipa – notório o abaixamento de performance de Karagounis, a colocação de Marco Ferreira e a tardia 3º substituição são incompreensíveis.

Marco Ferreira, como jogador, é um insulto aos benfiquistas e por isso nem no plantel tem lugar quanto mais a jogar na equipa. Mas o que me incomoda é o facto de o holandês ter optado desta forma com um concorrente directo no banco – Manduca. O brasileiro que até se tinha exibido em bom nível nos últimos tempos perdeu o lugar para um flop. Como é que é possível?!

Koeman tem a tendência de só pensar em 2 alterações. A 3ª alteração ou a faz muito tardiamente ou não a faz de todo. Se Nuno Gomes perdeu fulgor nos momentos finais porque não colocar Marcel como homem mais adiantado ou mesmo Manduca.

A opção recaiu em Ricardo Rocha – há que defender a todo o custo? – e no minuto 90. Ainda assim o outro holandês sempre ajudou um pouco ao colocar em campo o pior avançado do Porto dos últimos 10 anos – Hugo Almeida – e o jogador portista em pior forma – Jorginho.


Individualmente a análise é bastante semelhante ao jogo de Terça-Feira. Como melhores em campo, de novo, a Santíssima Trindade: Léo, Petit e Luisão.

O central brasileiro esteve, de novo, soberbo. Durante o jogo todo – e podem crer que estive com atenção – não falhou um único lance. Cortou tudo o que havia para cortar e transmitiu grande segurança a uma defesa fantástica. Secou por completo Adriano – não me recordo de nenhum remate do portista e muito menos de um lance perigoso digno de registo – quer no jogo aéreo quer pelo chão. Está, provavelmente, no melhor momento de forma da época em curso. É sintomático que nas grandes exibições da equipa é quase sempre ele que se destaca e por isso mesmo é mais um passo dado rumo ao Mundial.

Para o “gigante baixinho” as palavras já começam a escassear. O maior elogio que se lhe pode fazer é ter “obrigado” Ricardo Quaresma a trocar de flanco visto que consigo à frente não conseguiu fazer nada. É incrível como um jogador tão baixo consegue fazer exibições monumentais e principalmente tendo em conta a posição que ocupa. Confirma as vozes que dizem que é o melhor lateral-esquerdo do Benfica desde Stefan Schwarz. Eu digo que a continuar assim será uma referência para o futuro ainda mais do que é o sueco.
Acrescento ainda a enormidade de cortes preciosos que fez, as dobras magníficas e o “túnel” fabuloso a… Lucho. Enorme Léo, o Maradoninha do burgo.

O jogador mais odiado pelos portistas, o grande Petit, fez de novo uma grande exibição assumindo-se novamente como o motor da equipa. Sem Petit, o Benfica não é o mesmo. É, na minha, opinião e a par de Luisão o jogador mais importante na estrutura do Benfica.
Terá, forçosamente, de melhorar o aspecto das bolas paradas. É pena que com tanta prática ainda não tenha conseguido bons índices nesse aspecto fundamental no jogo. Parece que lhe custa levantar a bola nos cantos e que levanta demais nos livres. Gosto imenso da sua forma de jogar, é um jogador à Benfica. Antes quebrar que torcer, eis Armando Teixeira.


Pautando-se com excelentes exibições e em elevado nível estiveram Manuel Fernandes, Alcides, Karagounis e Anderson.

O jovem trinco português fez, provavelmente, o melhor jogo desta época depois do jogo no El Madrigal. Ganhou o dificílimo duelo com Lucho González e quando demonstra confiança – como parece que é o caso actual – tem um índice muito elevado na eficácia de passe. O mais importante no seu jogo actual é ter perdido a tendência de se agarrar muito à bola – fundamental para isso é a sua melhoria a nível físico.

No que diz respeito a Alcides posso confessar que a sua titularidade me deixou inquieto. Felizmente foram receios infundados, o jovem brasileiro fez um dos melhores jogos desde que está no Benfica. A nível posicional esteve irrepreensível o que facilitou nas tarefas defensivas e assim não deu hipótese aos adversários – primeiro Ivanildo e depois Quaresma. Surpreendeu pela positiva nas tarefas ofensivas com 2 ou 3 bons lances com cruzamentos bem medidos – um deles quase golo. Um dos pontos importantes aquando da opção no seu futebol – e Koeman sabe-o concerteza – é o facto de, ao contrário de Nelson, poder encostar aos centrais em caso de ataques continuados do adversário ficando o lado direito coberto por Manuel Fernandes ou Petit. Esta foi uma situação que ocorreu algumas vezes durante a partida.
Não tem a técnica do cabo-verdiano naturalizado português mas defende bastante melhor, e sendo assim, neste tipo de jogos, deve ser ele a jogar.


Ao defesa-central Anderson foi incumbida a tarefa de marcação a Benny McCarthy. Tarefa complicada mas cumprida com rigor. É verdade que deu alguns espaços ao sul-africano, espaços esses que deram origem aos lances portistas mais perigosos mas que felizmente foram infrutíferos. Ainda assim demonstra grande segurança, confiança e apresenta-se fisicamente em grande nível, bem visível nos variados sprints que se dá o luxo de fazer durante o jogo. É o parceiro ideal para Luisão porque se complementam de forma quase perfeita. Aqueles cortes em carrinho laterais ao adversário são fantásticos.

Karagounis pareceu algo nervoso nos 1ºs 25 minutos de jogo com alguns passes falhados, no entanto arrancou para uma excelente exibição na posição que é sua por direito. Parece-me que tem a titularidade assegurada após alguma teimosia de Koeman. Foi impressionante a quantidade de vezes que saiu a jogar quando rodeado por vários adversários. Gostava sinceramente de saber o que quer dizer aquele gesto tão comum nos italianos – dedos de uma mão todos unidos com um constante balançar – e que fez algumas vezes aquando de decisões duvidosas do árbitro.

Bastante melhor do que em jogos recentes estiveram Simão e Laurent Robert. O capitão esteve bastante mexido mas continua uma lástima no um-para-um – onde era exímio. Alguns bons pormenores mas o Simão que todos queremos ainda não está cá. O francês fez o golo e pouco mais. Ainda se esconde muito do jogo e por isso a substituição no 2º tempo foi bem feita, o problema foi quem entrou.

Dos titulares sobram ainda Moretto e Nuno Gomes. O keeper brasileiro não teve quase trabalho nenhum muito por culpa da magnífica exibição da defesa. Voltou a demonstrar segurança nos cruzamentos o que é bastante positivo tendo em conta o que se tinha passado em jornadas anteriores.

O início de jogo de Nuno Gomes parecia augurar uma exibição de grande nível mas logo se perdeu essa esperança. Para mim foi uma das grandes desilusões da noite e ainda hoje estou a pensar naquele falhanço escandaloso aos 42 minutos e que faria o 2-0 com a consequente “morte do jogo”. Falhou ainda, mais uns 2 ou 3 golos feitos demonstrando a fraca pontaria actual. Trabalha muito para a equipa mas um ponta-de-lança titular do Benfica não pode falhar tantos golos num só jogo.

Já abordei um pouco os suplentes que entraram num parágrafo mais acima mas acrescento que de Marco Ferreira não foi tudo horrível pois houve um bom lance com um remate perigoso para defesa difícil de Baía.


No que diz respeito à arbitragem tínhamos matéria para 3 ou 4 posts. De forma unânime já foi reconhecido que João Ferreira de Setúbal – mais um – errou e bastante. O início de jogo foi péssimo, com constantes picardias – principalmente de Quaresma – e algumas expulsões perdoadas. Bosingwa pisou o calcanhar de Simão – obrigando-o a ir ao chão – e na jogada imediatamente a seguir Léo fez o mesmo a Benny McCarthy. Vermelho directo por mostrar aos 2 jogadores em causa. Mas mais vergonhoso tem sido o total branqueamento da atitude do jogador do Porto por parte da imprensa, parece que foi só o Léo que fez tal falta. Apenas na SportTV foram referidos os dois lances no mesmo bloco informativo.

Minutos mais tarde, nova expulsão perdoada a Quaresma por agressão à cotovelada a Alcides mesmo nas “barbas” do árbitro auxiliar.

O jogo foi marcado por entradas bastante duras de ambos os lados e é, por isso, lamentável que o árbitro não tenha conseguido segurar o jogo desde início. Pareceu-me demasiado permissivo o que resultou no endurecimento do espectáculo. Ficaram ainda 2 penaltys por assinalar, um por mão na bola de Pepe – admito opiniões contrárias porque, de facto, é muito duvidoso – e o outro, indiscutível, por agarrão de Lucho a Petit com consequente expulsão por duplo amarelo para o argentino.

Ficaram ainda bastantes amarelos por mostrar como por exemplo na placagem a Alcides com o braço por parte de Raul Meireles ou ainda no lance da falta dura de Paulo Assunção que dá origem ao golo de Robert.
Já sei que muitos reclamam a expulsão do Petit mas esses são os mesmos que expulsavam Petit só pelo facto de ele… respirar. Tenham dó!


Como nota final destaco a felicidade em observar que o Campeonato está relançado e que ainda tudo é possível. O Benfica ainda pode ser campeão e já na próxima jornada espero a perca de pontos dos rivais.
Fico estarrecido quando penso que em caso de vitória em Guimarães e em Leiria – perfeitamente alcançáveis – o "Glorioso" estava isolado no 1º lugar.


NDR: Linda coreografia dos DV com um “Força Benfica” gigante feito com cartolinas. Parabéns a todos os envolvidos nesse magnifico trabalho. E outra coisa: Afinal as máscaras davam jeito, a gripe das aves anda aí mas não é na Vitória, é no 99.

Ficha do jogo:

24ª Jornada da Liga Portuguesa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: João Ferreira (AF Setúbal)

SL BENFICA - Moretto; Alcides, Luisão, Anderson e Léo; Manuel Fernandes e Petit; Simão, Karagounis (Beto, 76 m) e Laurent Robert (Marco Ferreira, 74 m); Nuno Gomes (Ricardo Rocha, 90 m).

FC PORTO - Vítor Baía; Bosingwa, Pepe e Pedro Emanuel; Paulo Assunção, Lucho Gonzaléz e Raúl Meireles (Jorginho, 73 m); Ricardo Quaresma (Hugo Almeida, 80 m), Adriano, Benny McCarthy e Ivanildo (Lisandro López, 73 m).

Disciplina: Ricardo Quaresma (26 m), McCarthy (50 m), Pedro Emanuel (58 m), Simão (71 m), Petit (73 m) e Paulo Assunção (78 m).

Golos: 1-0, Laurent Robert (40 m).

#publicado em simultâneo com os Encarnados