quarta-feira, abril 12, 2006

Crónica 30ª Jornada - Não vou lá, nem faço nada!


Regresso à Liga depois da desilusão de Barcelona. Estádio quase cheio como forma de apoio e solidariedade pela fantástica campanha europeia do 7º melhor clube do Mundo de todos os tempos – segundo a FIFA. Adversário: o aflito e altamente irregular Marítimo.

A equipa da Madeira está num péssimo momento – trocou de treinador recentemente – e colocou em causa, pela 1ª vez desde há muitos anos, a sua permanência na 1ª Liga em virtude de uma péssima série de resultados. Esperar-se-ia, portanto, uma partida relativamente tranquila quer para jogadores quer para o público benfiquista.

Tendo em conta o jogo do dia anterior entre os mais directos adversários estava em aberto a luta pela conquista do 2º lugar que dá acesso directo à tão desejada Liga dos Campeões. Exigia-se, portanto, motivação e empenho ao mais alto nível para conquistar o único objectivo possível até ao final da época desportiva.

De destacar a melhoria significativa e a olhos vistos do relvado do Estádio da Luz que se apresenta com um aspecto magnifico, e até com um corte de relva espectacular – em círculo. Fez-me lembrar o antigo relvado do Ennio Tardinni de Parma que há uns anos atrás mostrava o símbolo do clube recortado na relva.


Em relação ao jogo na Catalunha, Ronald Koeman fez 3 alterações na equipa inicial. Regressaram ao 11: Laurent Robert no lugar de Geovanni, Marcel para o lugar de Beto – jogando mais avançado e no apoio a Miccoli, e ainda Nelson para o lugar do castigado Anderson – Ricardo Rocha colocado, assim, no centro da defesa. Tacticamente, regressou o móvel 4-2-3-1 em detrimento do estático 4-3-3.

Na constituição da equipa estão, na minha opinião, erros graves e comprometedores. Incompreensível a aposta em Robert tendo em conta a recente forma do francês, seria discutível a sua hipotética colocação no banco quanto mais a titularidade. Marcel não é nem nunca será um substituto prático de Nuno Gomes, não tem a técnica nem a mobilidade do português sendo assim é utópico pedir-lhe que venha atrás buscar jogo ou que faça movimentar o ataque com passes e desmarcações. Porque não fez recuar Miccoli e meteu o genial italiano a distribuir jogo?

Outra opção incompreensível é a titularidade do, claramente, lesionado Nelson. Voltou a palhaçada já vista e revista neste ano: jogadores lesionados, em clara baixa de forma ou limitados não devem em qualquer circunstância jogar, sejam eles “Eusébios” ou “Betos”. A equipa B serve ou deveria servir para colmatar as dificuldades da equipa principal disponibilizando titulares ou suplentes. É inacreditável que faltem jogadores para determinadas posições no banco do Benfica. Não haverá na equipa B alternativas válidas?


Péssima, horrível, miserável, deplorável primeira parte do Benfica. 45 minutos com apenas 3 remates à baliza, um de Marcel para grande defesa de Marcos, um de Miccoli por cima da baliza e um cabeceamento (!) de Petit ao lado. Muito pouco! Uma atitude indigna dos jogadores! Se é verdade que Koeman montou muito mal a equipa, não houve esforço, não houve motivação nem inspiração por parte dos jogadores. Foi, mais uma vez, dar 45 minutos de bandeja ao adversário e essa atitude em profissionais pagos a peso de ouro é inadmissível.

Os 45 mil espectadores que se deslocaram à Luz e os milhões que viram o jogo pela televisão não merecem o futebol da 1ª parte. Não pago quotas para o desleixo e o desrespeito com os sócios e adeptos! Isto não é o Sport Lisboa e Benfica!

Se a exibição do 1º tempo foi medíocre a mesma foi “coroada” com um golo do adversário sofrido de forma mais ou menos ridícula. Ricardo Rocha sofre uma entrada dura que não é sancionada pelo árbitro e precisa de ser assistido pela equipa médica. Com o central de marcação fora de campo é Marcel – pela sua altura – que marca Valnei e se deixa bater de forma infantil. Moretto e Léo parece que poderiam ter feito mais alguma coisa.


Indo para o intervalo a perder – de certa forma até injustamente – o 2º tempo começou de forma mais ou menos idêntica. Muita apatia/displicência e com Koeman incompreensivelmente a não alterar nada na equipa até à hora de jogo. Simplesmente ridículo!

Com a entrada de Karagounis e Mantorras, o futebol praticado mudou assinalavelmente e para melhor mas a entrada do grego significou a saída de um defesa, Nelson, mantendo-se em campo um desastrado e ausente Laurent Robert. Foi preciso o Benfica sofrer novo golo, em contra-ataque, e em inferioridade numérica devido aos 3 defesas – onde é que já vimos este filme?! – para que o treinador abrisse os olhos e retirasse o francês de campo.
A partir daí mudou a dinâmica da equipa que chegou ao empate merecido – pelos 20 minutos finais – através de uma bomba de Petit e de um penalty cobrado por Simão.

Koeman fez mal o 11 inicial e colocou os suplentes em campo tardiamente deixando algumas peças a arrastarem-se. Miraculosamente chegou para o empate mas é muito pouco! Estou farto de asneiras, por mim chega, venha outro treinador que este não dá conta do recado. Sou a favor de presenças prolongadas de treinadores – 5/6 anos – mas não quando me deixam os nervos em franja!

Outra coisa que me preocupa é a constante “guerra” para marcar os livres, até aqui Koeman dá provas da sua impotência. Devem ser instituídos 3 marcadores de livres: um para o lado esquerdo, um para o lado direito e um para os remates de longe. Mais que isso é estar a criar mau ambiente. O treinador não incute liderança no plantel e isso é intolerável.

Destaco a exibição soberba de Manuel Fernandes.


O melhor em campo, Manuel Fernandes, esteve durante os 90 minutos em altíssimo nível. Pautou todo o jogo defensivo e ofensivo do Benfica com inúmeros cortes e passes em profundidade. Gosto, cada vez mais, de o ver jogar porque tem algo que muitos gostariam de ter e não têm: classe.

Gostei também de Miccoli embora o italiano tenha estado menos activo que em jogos anteriores. Muito marcado – por vezes agredido – não conseguiu espaço e perdeu-se algumas vezes na frente de ataque. Certamente que o parceiro de ataque não contribuiu para a sua boa exibição mas foi sempre um batalhador ao contrário de outros.

As restantes boas exibições não estão isentas de maus momentos.
Luisão fez um jogo muito certinho e foi nalguns momentos exuberante mas comprometeu em grande escala no 2º golo do Marítimo. Falhou a intercepção de forma inexplicável – ainda não percebi o que queria fazer – deixando completamente liberto de marcação Zé Carlos. Muito afoito a nível ofensivo porque, de facto, houve pouco para defender. Ainda assim e salvo o erro no golo, esteve sempre brilhante na forma como abordou a destruição do jogo ofensivo do adversário.


Ricardo Rocha foi, tal como o seu colega de sector, seguro defensivamente e muito activo em tarefas ofensivas. Sofreu um penalty não assinalado mas não pode protestar da forma como o fez. Foi inacreditável a forma como não foi expulso numa descarga de raiva e falta de pejo como há muito não via. Continua a não conseguir marcar um golo ao serviço do Benfica e neste jogo teve algumas oportunidades para isso.

Com menos fulgor, Léo continua sempre em óptimo plano. Como de costume um pêndulo nas jogadas ofensivas – até porque o Marítimo jogou sem extremos – pareceu algo preso nos lances dos golos. No 1º, colocado ao poste, não foi expedito o suficiente para aliviar a bola – não foi o único – e no 2º golo confiou em Luisão que falhou redondamente e o deixou sem reflexos para segurar o avançado do Marítimo. Não é directamente responsável mas esperava um pouco mais nessas jogadas.

Petit fez um jogo mediano com muitos passes falhados e a exibição só não é mais negativa porque fez um golo fantástico. O remate, sem deixar cair, é do melhor que já vi este ano sendo um dos candidatos a golo da época. Um momento importantíssimo que acordou a equipa, tem por isso muito mérito que faz esquecer muitos dos maus momentos. Aquela entrada por trás às pernas de Marcinho é uma coisa que se vai repetindo em vários jogos e não o dignifica de forma alguma.


De Moretto mais do mesmo. Intranquilidade e mais intranquilidade. Quanto faz os disparates mais inacreditáveis logo de seguida faz defesas fantásticas – meteu a bola nos pés de Filipe Oliveira por duas vezes e de forma patética mas o adversário desaproveitou. Pareceu-me algo mal batido nos 2 golos pela sua excessiva lentidão a sair à bola. As desastradas colocações de bola em campo com os pés parece que já chegaram às mãos. Um case-study.

Desilusão em Nelson, Simão, Marcel e Laurent Robert.
Se o 1º não deve ser criticado porque jogou notoriamente lesionado e nem a 30 % do real valor, de Simão e Robert esperava muito mais. O francês é, a cada jogo que passa, uma carta fora do baralho. Não corre, não luta, nada! Nem nos livres tem sobressaído, inacreditável a forma como colocou a bola por 3 vezes, em pontapés de canto seguidos, nas mãos do guarda-redes adversário – exasperante. Aos 31 anos e com mais 3 anos de contracto é um bico-de-obra para gerir.
Simão fez o golo do empate mas pouco mais. Pareceu-me cansado e alheado do jogo. Nem por uma vez o vi rematar e isso diz muito da sua exibição.

O brasileiro Marcel continua a não demonstrar sintonia com os seus colegas e com o próprio clube. Alguns apontamentos esporádicos – remate de primeira no 1º tempo – e uma falha de marcação monumental no golo de Valnei. Tardiamente substituído estando extremamente fatigado pelo facto de ter sido obrigado por Koeman a vir buscar jogo a meio-campo. O tempo vai-se acabando para o brasileiro!

Por fim, os suplentes Mantorras, Karagounis e Manduca.
Foram os 3 responsáveis por dar nova dinâmica à equipa na tentativa de procura do golo. Tiveram todos importância vital na conquista do empate, Manduca pela sua velocidade e Karagounis pelo controlo do jogo. Mantorras falhou alguns golos, o mais bonito seria um cabeceamento à barra.


Mau trabalho de Augusto Duarte. O árbitro de Braga foi mais uma clara amostra do paupérrimo estado da arbitragem nacional. Inúmeros erros, a maioria em prejuízo da equipa da casa mas também algumas decisões correctas em lances mais difíceis.

É possível dizer que há influência directa no resultado do jogo – e não estou a dizer que o Benfica não ganhou por sua responsabilidade! – porque há um lance inacreditável na primeira parte que, ao ser assinalado, mudaria por completo o rumo de jogo
Briguel tem uma agressão animalesca a Miccoli esbofeteando-o de forma violenta, seria cartão vermelho directo e penalty. Há ainda outro penalty não assinalado por falta sobre Ricardo Rocha dentro da pequena área. Embora seja menos visível que o primeiro lance de falta na área passou, tal como o primeiro, incólume aos olhos do árbitro.

Augusto Duarte falhou também em inúmeros lances que podia ter dado a lei da vantagem beneficiando, assim, o infractor. Nunca permitiu que as faltas fossem cobradas com rapidez invocando sempre grande preciosismo na colocação da bola – 5 cm mais atrás ou mais à frente.


Esteve bem, no entanto, ao assinalar penalty por uma mão de Valnei tão desnecessária quanto evidente e também ao permitir 6 minutos de descontos. Para quem não sabe as regras são 30 segundos por cada substituição (30x6=180 segundos3 minutos). Assim, tendo os 3 minutos das substituições e considerando ainda o tempo que Marcos esteve no chão a ser assistido – mais ou menos 2 minutos – conclui-se que se justifica perfeitamente o tempo dado.

Há uma reclamação de um possível golo não assinalado pelo facto de, num remate de Mantorras, a bola ter ultrapassado completamente a linha de baliza. Sinceramente, e após ver as repetições algumas vezes, não me parece que tal tenha acontecido. Correcta, também, a anulação de um golo a Miccoli já que o golo é precedido de duas irregularidades, uma falta de Luisão sobre Marcos – sim, desta vez é mesmo falta – e um fora de jogo do italiano.

Destaco ainda duas situações mal ajuizadas em duas entradas por trás de Petit sobre Marcinho e de Fernando sobre Miccoli – o italiano até voou. São as duas, faltas para cartão vermelho directo e não para amarelo.

Trabalho desastrado dos fiscais de linha assinalando 3 ou 4 fora-de-jogo ao ataque benfiquista que não existiram – a Miccoli principalmente. Nos penaltys teriam responsabilidade de estar atentos, o que não aconteceu.


A TVI e o palhaço-mor foram, mais uma vez, um espectáculo dentro do próprio espectáculo. E se já falei muito de Valdemar Duarte aquando do jogo contra o Belenenses o que se passou no jogo com o Marítimo roçou a ordinarice.
Já vi centenas de jogos de futebol em vários anos e sempre que um jogador tem um grave falhanço é normal que os colegas o incentivem ou batendo palmas ou indo ter com ele para uma palavra de apoio. Já vi isto centenas, para não dizer milhares, de vezes e não admito que me tomem por parvo!

Mas não, para o comentador da TVI, e num falhanço de Moretto, o Ricardo Rocha bateu palmas no sentido de gozar e instabilizar o colega de equipa. Perguntar-me-ei: qual o objectivo de tal atitude? Será o Ricardo Rocha um atrasado mental que pretende prejudicar a equipa onde joga e o clube que lhe paga? Será que a canalhice de achincalhar o Benfica e os seus jogadores não tem limite? Depois de tudo o que Valdemar dispara acerca da qualidade profissional/técnica dos atletas benfiquistas – para ele muito má – ainda pretende analisar o seu carácter e para tal inventando uma situação que, de certeza absoluta, não aconteceu?!

Foi um comentário nojento – bem pior que o do “Parece o Penafiel” – e entristece-me que alguns benfiquistas tenham ido na conversa deste individuo aproveitando assim para se colocar contra um jogador que já deu tanto pelo nosso clube. O Ricardo Rocha não merece que lhe façam isto, foi e é um jogador que sempre se empenhou em prol do Benfica. As declarações que fez aludindo à sua vontade em sair do clube – perfeitamente legítima e merecedora se ele o pretender por tudo o que já fez naquela casa – não podem turvar a visão das pessoas.


No que diz respeito ao resultado do jogo todos ficámos muito desiludidos não só porque perder pontos em casa é sempre muito mau mas porque o empate prejudica seriamente as aspirações de subir mais um lugar na tabela classificativa.

Pede-se muito mais quer a jogadores quer à equipa técnica, não se podem perder tantos pontos em confrontos com adversários muito mais fracos e em recta de descida de divisão – são inúmeros os casos. As desculpas pedidas no fim do jogo não servem para rigorosamente nada, as desculpas devem dar-se dentro de campo com empenho e sem opções tácticas/técnicas patéticas caso contrário “a porta da rua é a serventia da casa”.

Assim, resta ao Benfica disputar os 4 jogos que faltam para o término do campeonato com a perfeita noção que a Liga ainda não acabou e que o Braga está a 6 pontos do 3º lugar. Descer ainda mais na tabela classificativa seria catastrófico. Empenho e atitude, é só o que peço!

Força Benfica, sempre contigo!


NDR: Qual é o problema de levar um livro para o estádio? Eu nunca o fiz mas não vejo qual o escândalo em fazê-lo. Vi inúmeras tentativas de gozo devido a esta situação que considero normal. Alguns dos “génios” que aproveitaram para criticar – aludindo ao fraco espectáculo – já pensaram que se pode aproveitar o tempo morto do intervalo para por a leitura em dia? Já pensaram que se calhar a senhora em causa não gosta de futebol e veio acompanhar o marido/filho que até tem um lugar na Luz para toda a família? – a minha mãe não gosta de futebol mas já o fez. Uns brincam com o telemóvel – é o que faço – outros tiram fotografias e outros lêem. Normalíssimo!


Ficha do Jogo:

30ª jornada da Liga Portuguesa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Augusto Duarte (AF Braga)

SL BENFICA: Moretto; Nélson (Karagounis, 60 m), Luisão, Ricardo Rocha e Léo; Petit e Manuel Fernandes; Laurent Robert (Manduca, 73 m), Fabrizio Miccoli e Simão; Marcel (Mantorras, 60 m).

CS MARÍTIMO: Marcos; Briguel, Van der Gaag, Valnei e Evaldo; Fernando, Olberdam e Wénio; Kanu (Fahel, 75 m), Zé Carlos (Rincón, 85 m) e Marcinho (Filipe Oliveira, 45 m)

Disciplina: Amarelos a Fernando (24 m), Petit (25m), Briguel (66 m), Filipe Oliveira (67m), Ricardo Rocha (76 m), Manuel Fernandes (90 m) e Fahel (91 m).

Golos: 0-1, Valnei (37 m); 0-2, Zé Carlos (73 m); 1-2, Petit (79 m); 2-2, Simão (90 + 6 m, g.p.).

#publicado em simultâneo com os Encarnados