domingo, abril 30, 2006

Crónica 33ª Jornada - Mr. Koeman's House of Horrors!

Estádio da Luz bem composto para a despedida da época em jogos caseiros. Nestas alturas é normal a massa adepta benfiquista aderir fortemente. Não é este ano a primeira vez nem será, certamente, a última.
Com a luta pelo 2º lugar ao rubro, o facto dos jogos se disputarem à mesma hora ainda apimentou mais as emoções presentes na luta Benfica/Sporting.

Quem acompanha a equipa do Benfica mais profundamente reconhece que o fulgor dos grandes jogos já há muito tempo se esvaiu. É, por vezes, confrangedor assistir às recentes prestações – principalmente as primeiras partes. Parece que a equipa se vai arrastando, facto que não será alheio à falta de capacidade de motivação e encorajamento de Koeman para com os seus jogadores.

Ainda assim, uma coisa sempre exigível é a vontade de dignificar a camisola do clube e quem não o quiser, ou não conseguir, não terá grande futuro na Luz.

Curiosidade para ver o comportamento do “tranquilo” Vitória de Setúbal – com a permanência garantida e Taça UEFA assegurada devido à presença na final da Taça – e principalmente do influente Carlitos e de Hélio Roque. O Vitória não tem grandes vedetas mas possui uma equipa bastante boa, é um conjunto muito sólido – sofre poucos golos – e por isso mesmo, qualquer distracção poderá causar dissabores aos seus adversários.


Que é isto, Koeman?

Voltaram as invenções do holandês em grande escala. Em relação ao último jogo da Liga contra o Nacional na Choupana, Ronald Koeman fez apenas 2 alterações na equipa inicial. Regressaram ao 11: Marco Ferreira em detrimento de Geovanni – que incompreensivelmente nem foi para o banco – e Petit como substituto do lesionado Simão – a ausência de Simão e de Nuno Gomes permitiu que o internacional português exibisse, pela primeira vez na sua carreira, a braçadeira de capitão do Benfica em jogos oficiais.

Mas se a nível de jogadores no 11, as alterações não foram muitas o mesmo não se poderá dizer da disposição táctica da equipa. Assim, foi o regresso às trapalhadas do início de época. E se a estreia de Koeman na Luz se caracterizou por uma equipa com 3 centrais, espero que o último jogo do holandês em casa também tenha tido essa peculiaridade.

Portanto, a defesa consistiu em Anderson descaído para a direita, Luisão no meio e Ricardo Rocha a cobrir o lado esquerdo. O meio campo foi deixado a Petit, Manuel Fernandes e Beto com Marco Ferreira do lado direito da ala e Léo do lado esquerdo. As despesas de ataque foram atribuídas a Miccoli com o apoio do brasileiro Manduca.

Para compreender Koeman deve ser preciso um curso intensivo, para além de muita paciência. Se já foi comprovado que os 3 defesas não funcionam com este plantel – o 4-4-2 já deu provas mais que suficientes – porquê continuar a insistir? Como é possível que uma equipa de topo, como é o Benfica, jogue em casa frente ao Vitória com 3 trincos – para além dos 3 defesas já citados? Como é possível que no 11 titular se apresentem apenas 2 jogadores de características manifestamente ofensivas?
Porque não joga Karyaka e se dá oportunidades a jogadores como Marco Ferreira? Porque continua Miccoli tão sozinho na frente? Porquê insistir em Manduca como número 10? Já chega de tanto disparate!


Jogo morno com rasgos de génio

O Benfica entrou no jogo de forma bastante positiva no que diz respeito à atitude dos jogadores. Pareceram-me bastante motivados e com a astúcia necessária para conquistar a vitória. O jogo da equipa caracterizou-se, essencialmente, pela aposta nas alas mas se Léo foi sempre uma aposta conseguida com inúmeras iniciativas de grande espectacularidade, no outro lado Marco Ferreira nunca soube dar conta do recado.

Eram, também, evidentes as grandes dificuldades da defensiva em consolidar as suas posições em virtude do novo esquema apresentado – e certamente pouco treinado.
Miccoli apresentava-se muito sozinho na frente – desgaste desnecessário – apenas sendo apoiado pelas subidas dos alas, que sistematicamente flectiam para o meio do terreno. O meio-campo do Benfica excessivamente povoado dava alguns sinais de atrapalhação tal como o fraco ataque do Vitória.

Quando Anderson faz o golo, a meio da 1ª parte e no seguimento de um canto sublimemente marcado por Miccoli, as hostes foram serenadas. O golo libertou a emoção nas bancadas – o nervosismo já era visível – e também as próprias equipas. Por um lado, o Vitória assumiu mais o jogo em virtude do resultado desfavorável, mas também o Benfica melhorou bastante. Jogo mais aberto e com mais ataques de parte a parte mas o último passe insistia em não sair nas melhores condições. Carlitos foi sempre o melhor dos forasteiros mas não o foi nem de forma consistente nem de forma preponderante – alguns remates potentes mas sem direcção.


Koeman mais uma vez surpreendeu ao não fazer substituições ao intervalo. A má prestação individual de algumas unidades exigia-o – Manduca, Marco Ferreira e Beto. Porque espera o holandês, de forma sistemática, pelos 60 minutos para fazer alterações?

Como já é normal, a equipa melhorou bastante na 2ª parte criando as mais evidentes jogadas de golo. Por infelicidade dos atacantes ou pela grande prestação do adversário – Rubinho e defesas do Vitória – o Benfica não conseguiu fazer o 2-0 e tranquilizar definitivamente os adeptos. À semelhança de jogos anteriores, a intranquilidade apoderou-se da equipa nos minutos finais em virtude dos falhanços no ataque. Houve, mesmo assim, alguns lances de grande espectáculo, como por exemplo a grande jogada de Léo que Auri corta para a barra ou o estoiro de Petit para o guarda-redes do Vitória sacudir.

As entradas dos suplentes não tiveram efeitos práticos mas, em abono da verdade, o Vitória de Setúbal nunca se apresentou como uma equipa muito perigosa – apenas 5 remates contra 17 – e poderia ter perdido o encontro por uma margem mais folgada.
O Benfica termina o encontro com uns inacreditáveis 4 trincos, tendo o ponta-de-lança suplente entrado a apenas 7 minutos do final do tempo regulamentar! As inúmeras trocas tácticas durante o jogo são de ir às lágrimas, os próprios jogadores devem ter ficado na dúvida acerca do local onde jogar.

Destaco as excelentes exibições de Anderson, Luisão e Léo.


As Torres Gémeas não vacilaram

Mais uma vez o central goleador Anderson fez um golo decisivo que deu os 3 pontos à equipa. Recentemente aniversariante, o central brasileiro – à semelhança dos seus colegas da defesa – teve alguma dificuldade para se habituar ao novo esquema táctico, ainda assim e após alguns momentos de sobressalto conseguiu a tranquilidade necessária para fazer um jogo sem grandes falhas. Para quem não sabe, o gesto que faz – a chuchar no dedo – é a forma de dedicar os golos à sua filha recém-nascida. Gesto esse que Luís Garcia do Liverpool também faz, resta saber “quem imita quem”!

O internacional brasileiro Luisão fez, à semelhança do seu colega de sector, um jogo sem falhas. Mais exuberante, o #4 foi o líder da defesa. Deu a tranquilidade necessária aos seus colegas de equipa quando as coisas tremeram e mostrou toda a sua categoria nos inúmeros cortes e dobras que executou – jogando com 3 defesas é necessário uma maior concentração. Como nota menos positiva destaco a excessiva opção no jogo directo. Não sou apologista do “chutão” para a frente e por isso acho que Luisão tem de melhorar a sua forma de iniciar os ataques da equipa.

Mais um jogo explosivo de Léo. De extremo a lateral, a faixa esquerda esteve sempre bem preenchida no que a ele diz respeito. Foram muitos os lances de ataque por si criados, com algumas jogadas individuais sublimes – de fazer inveja a muitos médios – mas novamente a infelicidade na hora de fazer o golo. Nesta época, que me lembre, já são 3 remates com o esférico a bater na barra. Léo, por tudo o que tem feito no clube, merece um golo!
Para mim, o melhor em campo.


Em bom plano estiveram Fabrizio Miccoli, Manuel Fernandes e Ricardo Rocha.

O italiano foi, mais uma vez, o jogador chave do ataque do Benfica. Koeman continua a insistir no #30 a ponta-de-lança, o que não favorece o seu jogo em virtude de por vezes ficar muito sozinho na frente de ataque. Neste jogo houve, por vezes, 30 metros de distância entre Miccoli e o colega mais próximo. Acho que se deveria apostar num esquema mais ofensivo com Mantorras ou Marcel na frente, apoiados pelo italiano – era assim que Fabrizio jogava em Itália.

Ainda assim, a sua exibição é bastante positiva – como sempre é, aliás – destacando-se nalgumas jogadas fantásticas em que fintou os adversários quase de forma banal. Está no golo da equipa ao ter cobrado o canto para Anderson cabecear para dentro da baliza e por pouco não conseguiu outro na cobrança exemplar de um livre directo. Aquela finta a Veríssimo, com a bola a passar por baixo das pernas do ex-jogador do Benfica, é de levantar o estádio!


Manuel Fernandes continua a exibir-se em grande plano. Embora tenha estado menos exuberante no que diz respeito a funções mais atacantes – jogou mais recuado deixando as despesas de pivot para Petit – esteve bastante acertado no capítulo do passe. Muito lutador e acima de tudo disciplinado, foram pouquíssimas as faltas que cometeu.

Algumas dificuldades para Ricardo Rocha no início de jogo – foi o jogador menos adaptado ao esquema táctico. Teve de ser dobrado algumas vezes pelo “bombeiro” Luisão mas esteve nalguns cortes importantes principalmente a Carlitos. Não parece o mesmo jogador de há uns anos atrás, está com um nível de disciplina – nem protestos, nem entradas duras – como nunca tinha visto.


Gostei de Moretto. Há apenas um lance que parece que foi surpreendido – remate de Carlitos na 1ª parte – onde poderia ter comprometido. Fora isso esteve tranquilo e continua a revelar muita segurança a jogar com os pés. No reencontro com a ex-equipa não facilitou mas também não houve muita coisa para fazer.

O capitão de equipa, Petit, foi o pêndulo do meio-campo. Parece em fracas condições físicas e talvez por isso não tenha sido tão exuberante como costuma – o facto de não ter cobrado todos os cantos também o sugere.
Está num dos momentos mais espectaculares do encontro ao fazer um remate forte e de longe para defesa apertada do guarda-redes do Setúbal. Continua a não levantar a bola nos lances de bola parada. Precisa de descansar, são muitos jogos ao longo da época!

No que diz respeito a Manduca, a sua produtividade decresceu em relação à apresentada no encontro anterior. Menos expedito – porquê no meio, Sr. Koeman? – demonstrando alguma displicência em lances capitais. Mais uma vez estoirou na 2ª parte mas desta vez o treinador ouviu as preces de toda a gente e correspondeu com a substituição. A finalização continua um desastre e o pé direito não existe.


Os desastrados foram Beto e Marco Ferreira.
Parece-me que o brasileiro joga melhor aquando de um meio-campo só com 2 homens. Mais uma vez muito lento, faltoso e um desastre no passe. Continuo a não perceber porque continua a reter a bola quando a conquista não soltando de imediato para um colega. Rematou algumas vezes mas muito mal.

E agora o bico-de-obra Marco Ferreira.

Fico indignado quando alguém diz que o Marco Ferreira fez um bom jogo. Aquilo é o protótipo de um extremo-direito do Sport Lisboa e Benfica? Por amor de Deus, então se vissem o Vítor Paneira a jogar ou o Poborsky até se benziam!
Não sabe fintar, não sabe fazer um cruzamento de jeito, não sabe rematar, é simulador, viu um amarelo patético num jogo que até estava a ter poucas faltas e perdeu a bola mais de 100 vezes. Sinceramente não entendo o que querem do Benfica com este tipo de jogadores!


Uma coisa é um esforçado cepo e outra, um molengas craque. Apesar do Robert não correr nada por muito que o Marco Ferreira se esforce só por milagre sai dali alguma coisa de jeito. Fui só eu que o vi aquando de confrontos individuais a atrasar para o Anderson? Porra, o que é isto? Parte para o homem, caramba!

Quero lá saber se o Marco Ferreira é esforçado se não sabe fazer nada – nem encostar para a baliza só com o keeper pela frente. Contei 2 centros – um muito largo e um para o Rubinho, dois remates patéticos só com o keeper do Vitória pela frente e 2 cortes defensivos – o melhor que fez.

E por fim os suplentes Karagounis, Mantorras e João Coimbra.
Nada de positivo a assinalar deste trio. Karagounis entrou pessimamente na partida perdendo a bola em alguns lances e surpreendentemente não conseguiu entrar no ritmo de jogo – viu um amarelo que o coloca já de férias. Mantorras tocou uma vez na bola e o miúdo nem isso. Porque é que os suplentes entram tão tarde, Mr. Koeman?


Arbitragem com pequenos erros

O segundo árbitro da linhagem Soares Dias fez um trabalho sem grandes problemas. O jogo não foi de grande grau de dificuldade e os próprios jogadores facilitaram o trabalho do árbitro da AF Porto ao fazerem poucas faltas.

O lance de maior “frisson” foi a queda de Marco Ferreira na área do Vitória. Depois de um falhanço inacreditável o jogador do Benfica simula a falta atirando-se para o chão sem que haja qualquer toque do adversário. Uma simulação patética, diga-se, e por isso mesmo faltou mostrar o amarelo ao jogador.

Alguns erros a meio campo para as duas equipas mas de importância menor. Muito bem Soares Dias a nível disciplinar – retirando o lance do pretenso penalty acima referido – mostrando os cartões nos momentos correctos.
Trabalho dos auxiliares com alguns erros sendo o mais escandaloso um fora-de-jogo mal tirado a Miccoli com o italiano isolado a rematar ao lado.


Enquanto há vida, há esperança

Pena que o voo da Vitória não tenha repercussão televisiva há meses e tenhamos que aguentar Valdemar Duarte e o palhaço do repórter de campo – cilindrado pelo Manha em quase tudo o que disse.

À medida que o final de época se aproxima, mais a paciência dos adeptos se esgota. Analisar Koeman é extremamente cansativo, e mais que isso parece que o holandês faz de propósito para irritar a paciência dos benfiquistas!

A vitória do Sporting complica as contas do 2º lugar mas lá deu para nos rirmos um bocado com o enorme frango do Ricardo – o mais ridículo do ano e que vai passar em todas as TV’s do mundo, inclusive nos “bloppers” do Eurosport.
Para a semana tudo se decide, as descidas à 2ª Liga e a ida à UEFA bem como a nossa luta com os de Alvalade. Resta vencer o Paços de Ferreira e esperar que o Braga esteja com capacidade para dar e “Wender”.

Quero destacar a linda homenagem que os Diabos Vermelhos fizeram ao “bom gigante” José Torres que está, como todos sabemos, a passar momentos difíceis na vida. É nos maus momentos que o apoio de quem gosta de nós é mais importante. Força Torres!


NDR: Até já se pedem camisolas em grego e em italiano, inclusivamente os calções dos jogadores também já são pretendidos. E vai resultando, não é preciso virem feitos animais lançados das bancadas, quase agredindo os atletas, e despindo-os completamente de forma forçada. Neste clube há civismo… e também não se roubam sapatilhas aos apanha-bolas!

No seguimento do que fiz na crónica anterior deixo novo vídeo do Em4Lyf – já se torna uma referência, mesmo sendo tão jovem – que ilustra um pouco do que significa o Benfica para todos nós. Um video soberbo que é, sem dúvida, o melhor de todos os que já vi este ano.




Ficha do Jogo:

33ª Jornada da Liga Portuguesa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

SL BENFICA - Moretto; Ricardo Rocha, Luisão e Anderson; Léo, Manuel Fernandes, Beto, Petit e Marco Ferreira (Karagounis, 62 m); Manduca (Mantorras, 83 m) e Fabrizio Miccoli (João Coimbra, 89 m).

Treinador: Ronald Koeman.

VITÓRIA SETÚBAL - Rubinho; Adalto, Veríssimo, Auri e Janício; Sandro (Hélio Roque, 82 m), Binho e Bruno Ribeiro; Ricardo Chaves (Sougou, 73 m), Carlitos (Pedro Oliveira, 82 m) e Varela.

Treinador: Hélio Sousa.

Disciplina: Amarelos a Marco Ferreira (44 m), Léo (68 m), Petit (70 m), Sandro (74 m), Karagounis (90 + 3 m).

Golos: 1-0, Anderson (25 m).

#publicado em simultâneo com os Encarnados