Jogar no Bessa tem sido tradicionalmente muito difícil para o Benfica. A última vitória ocorreu na já distante época de 1995/96 com o bis de João Pinto – na altura capitão do Benfica, actualmente capitão do Boavista – a fazer a diferença.
O encontro da 31ª jornada com o Boavista afigurava um importante marco no restante Campeonato a disputar. Definir-se-ia a luta pelo 2º lugar ou a manutenção do 3º – em virtude do empate do Sporting na Reboleira a 1ª hipótese era exequível.
Curiosidade em observar a reacção da equipa do Benfica depois de um comprometedor empate em casa com um adversário aflito e em observar, também, a reacção de um não muito forte Boavista com sucessivos resultados aquém do exigível ao 4º maior clube português. É óbvio que já foi muito mais difícil defrontar a equipa do Bessa, ainda assim nestes jogos grandes há sempre um “boost” de força e vontade, e na realidade o Benfica não tem estado tão bem como seria de esperar.
Estranhamente a afluência de público não foi das melhores, pelo que não mais de meia casa foi visível naquele que foi, 1 época depois, o regresso ao palco de um dos dias mais felizes da minha vida de adepto. Nenhum benfiquista esquecerá a emoção e o nervosismo que sentiu no 1-1 de 22 de Maio de 2005 que deu um título tão desejado quanto sofrido.
Em relação ao último jogo da Liga contra o Marítimo na Luz, Ronald Koeman fez 3 alterações na equipa inicial. Regressaram ao 11: Manduca no lugar do desastrado Laurent Robert, Karagounis para o apoio a Miccoli no lugar do desinspirado Marcel e Anderson regressou ao centro da defesa depois de castigo e tirando o lugar a Ricardo Rocha – lesionado no aquecimento.
A constituição do 11 inicial é do meu agrado – tirando a célebre questão do guarda-redes – sendo apresentada, na minha opinião, a melhor equipa do Benfica tendo em conta a forma e qualidade dos jogadores do plantel. No entanto fica no ar uma questão incompreensível que há já alguns jogos se manifesta. É inacreditável que não esteja um jogador de características defensivas presente no banco, mais uma vez Koeman não vai à equipa B – à excepção de João Coimbra – buscar um reforço para a defesa deixando a equipa com apenas 4 disponíveis. Beto não consegue suprimir as vicissitudes de uma lesão no centro da defesa ou na lateral, poderá remendar mas não será um tampão eficaz.
De destacar o regresso de Moreira ao banco de suplentes 6 meses depois de ter contraído uma grave lesão no joelho. A relegação de Quim para a bancada é mais uma opção incompreensível principalmente tendo em conta tudo o que o guarda-redes português já fez este ano – e principalmente o anterior – pelo clube. Se Koeman ficar no Benfica para a próxima época certamente que Quim não vai permanecer no plantel.
A entrada no jogo por parte do Benfica foi, ao contrário de em muitas ocasiões nesta época, excelente. Velocidade na transição defesa-ataque e, acima de tudo, muita atitude e vontade de resolver de imediato a contenda. Deveria ser assim em todos os jogos!
Os primeiros 25 minutos foram de controlo total do Benfica com sucessivas combinações atacantes – Petit/Simão, Léo e Manduca – que mereciam outro desfecho. A partir da meia-hora o Boavista espevitou um pouco e conseguiu pela primeira vez incomodar Moretto. Ainda assim o controlo do jogo na primeira parte foi totalmente do Benfica com alguns lances esporádicos do Boavista bem cortados pela defesa ou parados pelo guarda-redes benfiquista. Os primeiros 45 minutos ficam marcados pela lesão muito preocupante de Léo que fez recordar o pesadelo de Féher – sempre que alguém fica no chão por um tempo mais que o normal é inevitável que me lembre do húngaro. O brasileiro, depois de um choque com João Pinto, esteve largos minutos no chão a ser assistido depois de desmaiar. Ainda se tentou o seu regresso – infrutiferamente – mas acabou por ser transportado para fora de campo com um colar cervical por indicação de Rodolfo Moura.
Minutos mais tarde foi o guarda-redes do Boavista, William, a ter lesão preocupante e sem qualquer contacto com o adversário. Comovente a preocupação da esposa do camaronês que com a filha nos braços chorava na bancada do Bessa.
Duas lesões complicadas com os técnicos a serem obrigados a alterar as suas respectivas equipas ainda antes do descanso.
Koeman mexeu na equipa ao intervalo retirando Karagounis e colocando em campo Geovanni. Parece-me que o segredo da vitória esteve muito nesta opção visto que o grego esteve desinspirado e algo displicente. O início do 2º tempo foi em tudo muito parecido com o início do 1º tempo, ou seja, controlo total do Benfica e com alguns rasgos do adversário. A diferença essencial está no facto do golo ter aparecido. O lance é fortuito e Tiago é infeliz mas a vantagem já era, há muito, merecida.
Depois do 1º golo o sentido de jogo mudou, o Benfica recuou e tentou apenas segurar a vantagem mantendo-se em aberto o contra-ataque – confesso que me irritei com esta atitude. Houve alguns lances de destaque por parte do Boavista parados por Moretto – mas nada de especial – e só com o golo de Mantorras se serenou a equipa e os próprios adeptos.
Esperava muito mais do Boavista, 3 remates à baliza com perigo – João Pinto, Oravec e Cadú mesmo a terminar o jogo – é muito pouco para quem quer vencer o jogo e apurar-se para a UEFA. Inacreditável a forma como muitos dos jogadores do Boavista interpretam o futebol: Tiago, Cadú e Hélder Rosário roçam a sua maneira de jogar com a violência e já não é de agora.
Destaco as excelentes exibições de Manuel Fernandes, Luisão e Simão.
Grande jogo de Simão. O elemento mais afoito do ataque do Benfica com sucessivas jogadas perigosas demonstrou toda a classe reconhecida. Está presente nos dois golos com duas excelentes assistências – uma das quais ocasional, é verdade – e falhou por centímetros aquele que seria um dos melhores golos do Campeonato. A estatística diz que foi pela sua ala que mais de 70% dos ataques se realizaram e isso diz muito da sua preponderância na equipa. Um Simão ao mais alto nível faz do Benfica uma equipa muito mais forte e foi isso que aconteceu no Bessa. Depois das recentes noticias que indicam um negócio já concretizado com o Chelsea, mostrou todo o seu profissionalismo ao comandar a equipa rumo à vitória. Para mim, o melhor em campo.
Mais uma excelente exibição de Manuel Fernandes. Uma época em apuro de forma crescente com um impressionante aumento de preponderância na equipa. O jovem português consegue ser o complemento ideal para Petit pela sua velocidade e exímio controlo de bola. Neste jogo foi, mais uma vez, um dos pilares da equipa e foi através dele que se iniciaram muitas das jogadas de ataque nomeadamente com aberturas para as alas e passes em profundidade.
Tem vindo a melhorar uma lacuna que há muito se lhe apontava: as sucessivas falhas de marcação à entrada da área.
O melhor que se pode dizer de Luisão é que esteve, simplesmente, perfeito. Não teve uma única falha durante todo o jogo pelo que continua a destilar classe pelos relvados portugueses. Não deu um palmo de terreno a Fary, que é um dos melhores avançados da Liga, e dobrou inúmeras vezes o atrapalhado Beto. Dá uma segurança no centro da defesa que não se via desde que Ricardo Gomes saiu do clube.
Em excelente nível estiveram também Moretto, Manduca e Petit
Se não fosse aquela falha ao sair a um cruzamento, em que deixa fugir a bola, o guarda-redes Moretto teria feito um jogo imaculado. Ainda assim foi de uma importância vital ao segurar 2 remates perigosos – Oravec e João Pinto – e uma série de cruzamentos ambiciosos. Não se deixou amedrontar pelos sucessivos atrasos de bola chutando o esférico para longe de forma correcta. Confesso que não me transmite muita confiança – principalmente quando as bolas são fáceis – mas ultimamente parece estar mais tranquilo.
De Manduca já sabemos o que esperar: velocidade. Uma das coisas que mais gosto no brasileiro é que, ao contrário dos outros concorrentes no plantel, se esforça sempre muito. As coisas podem não correr muito bem mas o suor está sempre presente na camisola. Quer colado ao lado direito quer no meio como apoio a Miccoli/Mantorras procurou servir os seus colegas em boa posição ou desequilibrar num rasgo individual. Esteve no melhor momento da 1ª parte – um estoiro a 25 metros depois de fintar 3 adversários – e num dos melhores da 2ª – golo mal anulado mas de execução sublime.
Regresso de Petit às boas exibições. Voltou a assumir de forma eficaz a condução das jogadas atacantes actuando como pivot – como tanto gosta. Melhorou bastante a percentagem de passes correctos e abdicou das entradas duras até porque nesse aspecto tinha vários concorrentes directos na equipa adversária. Teve como momento alto um magnífico passe para desmarcar Simão que chutou… contra Hélder Rosário.
Miccoli teve uma exibição esforçada mas pouco brilhante. Com pouquíssimo espaço e claramente desapoiado destacou-se num remate por cima de cabeça, aproveitando um falhanço da defesa, e num estoiro de 30 metros para a melhor defesa da noite. Foi substituído por Mantorras quando já dava sinal de desgaste. É visível a cumplicidade que tem com Simão.
Apesar de melhor que na jornada anterior, Nélson ainda não voltou ao que de melhor já demonstrou. É incompreensível – infelizmente comum no Benfica 2005/2006 – alguém jogar lesionado mas de Koeman tudo se espera. O defesa-direito/esquerdo não está bem e poderia ter comprometido a equipa em 2 ou 3 lances em que ficou nas covas e entrou despropositadamente ao choque.
Anderson tanto faz um jogo soberbo como tem erros infantis no jogo imediatamente subsequente. Esteve muito intranquilo e só não comprometeu porque não houve seguimento nas falhas que cometeu. Melhorou, no entanto, no facto de ter cometido muito poucas faltas como, aliás, toda a equipa.
Quanto a Léo, o jogo fica marcado pela lesão que sofreu e obrigou à sua substituição. Até aí não estava em grande nível, com algumas escorregadelas no terreno molhado – não deve ter calçado botas com pitons de alumínio como é típico em craques brasileiros e daí a dificuldade de aderência – ainda assim demonstrou a vontade e determinação habitual.
O choque com João Pinto causou-lhe um traumatismo na coluna cervical mas de pequena gravidade. A ida ao hospital foi só por precaução tendo o fantástico jogador seguido viagem com os seus colegas rumo a Lisboa. Um grande susto!
Uma enorme desilusão na exibição de Karagounis. Definitivamente que o grego só joga bem quando entra na 2ª parte, porventura devido ao facto de aproveitar a já inexistente boa condição física dos adversários e o acréscimo de espaço livre em campo. Ainda assim a quantidade enorme de passes falhados é incompreensível e por isso a substituição ao intervalo bem efectuada pelo treinador.
E por fim os suplentes Beto, Geovanni e Mantorras.
O loiro brasileiro entrou para o lugar do lesionado Léo e tentou ocupar a lateral direita da defesa – Nélson foi para o lado esquerdo. Muito lento e por vezes mal colocado foi dobrado por Luisão em várias ocasiões. Se ofensivamente não existiu – nem tem capacidade para isso – a nível defensivo poderia ter comprometido caso não fosse a ajuda dos companheiros. É inacreditável que Koeman não tenha convocado uma solução de raiz da equipa B.
Geovanni entrou muito bem no jogo demonstrando algum do futebol que possui. Muita velocidade e acima de tudo uma percentagem de passes acertados muito superior ao substituído Karagounis. Com a entrada do #11, Manduca derivou para o meio e foi imensamente superior ao grego. Curiosamente, Geovanni, não rematou à baliza mas não foi por isso que a sua importância diminuiu.
E Mantorras resolve! Mais 10 minutos – à semelhança dos jogos com o Marítimo na Madeira e Rio Ave em Vila do Conde, mais um golo. Na primeira oportunidade que teve, até acho que foi a primeira vez que tocou na bola, fez um bom golo à ponta-de-lança.
Fica, mais uma vez, a ideia que entrou muito tarde mas continua a demonstrar a Koeman – só o holandês é que não sabe – que é uma alternativa muito válida àquele lugar.
Bruno Paixão, como não podia deixar de ser, foi autor de mais uma péssima arbitragem com vários erros grosseiros e só não houve influência directa no resultado porque a equipa mais prejudicada foi a vencedora.
Começou, na 1ª parte, por deixar passar 3 faltas claras sobre jogadores do Benfica que poderiam ter dado origem a lances perigosos do adversário – uma delas de Paulo Jorge sobre Nélson no lance que precedeu o remate de longe de João Pinto.
Aos 38 minutos Cadú agrediu Manduca com o cotovelo, Bruno Paixão mostrou apenas amarelo. Aqui reside a dúvida, uma cotovelada é uma agressão e uma agressão é punida com vermelho directo. Então se Paixão viu o lance porque não agiu em conformidade?
Destaque ainda para uma entrada duríssima, sem bola, de Paulo Sousa sobre Petit à hora de jogo e que foi punida apenas com amarelo quando o vermelho era exigível. Será que vamos ouvir durante a semana toda os constantes ataques pela excessiva agressividade do #6 benfiquista? Claro que Petit é um jogador muito duro e que por vezes foge às expulsões mas porque será que ninguém fala das violentas entradas que também sofre? Coerência?!
O Boavista reclama que ficaram dois penaltys por assinalar, os dois cometidos por Nélson sobre Paulo Jorge. Sinceramente não me parece que exista falta em nenhum deles. Se o lance dos 71 minutos não tem qualquer tipo de discussão, o aos 77 poderá ser duvidoso. Parece-me que o contacto entre os jogadores é fortuito e que há, inclusivamente, uma mão na bola do boavisteiro. Ainda assim as duas expulsões perdoadas no período de jogo antecedente não podem ser escamoteadas com a possível irregularidade do lance em causa. Certamente que será essa atitude da “gente do costume” mas cabe aos benfiquistas não se deixarem enganar.
E o que dizer da animalesca entrada de Tiago sobre Simão a terminar o jogo!? A terceira expulsão perdoada a jogadores do Boavista é, verdadeiramente, surreal. Se aquela entrada violenta em cheio na perna de Simão, sem qualquer preocupação com a bola, não é para vermelho directo não há cartões vermelhos no futebol. Tiago é um jogador excessivamente duro – muito maldoso – que goza há anos de uma protecção inconcebível por parte da arbitragem. Falam tanto de Petit, e se olhassem um pouco para o #66 boavisteiro?
No seguimento da marcação do livre que teve origem no abalroamento a Simão há um choque sobre Luisão muito parecido com os lances reclamados como penalty. Porque passou isto em claro a toda a gente?
Trabalho dos auxiliares, e tal como o do chefe de equipa, desastrado. Para além do golaço incompreensivelmente anulado a Manduca – fora de jogo inexistente – partilham da responsabilidade, por estarem próximos, em alguns juízos errados de Bruno Paixão.
Acho muita graça aos jogadores que ao verem que irão ser amarelados insinuam ao árbitro que fizeram apenas a 1ª falta. Quer dizer, poder-se-á entrar a matar mas como é a 1ª falta está tudo bem. É isto que querem ouvir: “Vá lá à sua vida senhor jogador, pôs o seu colega no hospital mas como é a 1ª falta escapa só com um aviso”. Patético!
Com a excelente vitória por 2-0 e tendo em conta a previsível, pelo menos para mim, perda de pontos do Sporting com o Estrela da Amadora é perfeitamente possível atingir o 2º lugar. São apenas 2 pontos, recuperáveis nos 3 jogos que faltam disputar. É verdade que o calendário do Benfica não é fácil mas o jogo mais complicado de todos seria este que a equipa acabou por vencer com alguma tranquilidade.
Resta-nos acreditar que ainda é possível principalmente tendo em conta o desânimo nas hostes lagartas e a vontade demonstrada no Bessa. Vencer na Madeira o Nacional, o Setúbal na Luz e em Paços de Ferreira esperando que o Sporting perca pontos contra a Naval, em Vila do Conde e contra o Braga. Fica na dúvida se no restante Campeonato veremos o Benfica de Sábado ou o Benfica da 30ª jornada que jogou contra o Marítimo.
Eu ainda acredito, força Benfica!
NDR: Toda a gente sabe que Carlos Brito abomina o Benfica até pelo seu portismo exacerbado, mas continua a cair no ridículo com declarações patéticas. Em todos os jogos com o SLB, o actual treinador do Boavista dá sempre um espectáculo com constantes criticas à arbitragem. Será que nos erros a favor do Boavista estava distraído a gritar com os restantes elementos do banco axadrezado? Que espécie de jogo viu ele no qual o Boavista merecia ganhar?
Ficha do Jogo:
31ª Jornada da Liga Portuguesa
Estádio do Bessa, no Porto
Árbitro: Bruno Paixão (AF Setúbal)
BOAVISTA FC: William (Khadim, 45 + 4 m); Manuel José, Cadú, Hélder Rosário e Areias; Paulo Sousa, Tiago e Lucas (Oravec, 56 m); João Pinto; Fary (Diogo Valente, 63 m) e Paulo Jorge.
SL BENFICA: Moretto; Nélson, Luisão, Anderson e Léo (Beto, 42 m); Petit, Manuel Fernandes e Karagounis (Geovanni, 45 m); Simão, Fabrizio Miccoli (Mantorras, 80 m) e Manduca.
Disciplina: Amarelos a Manduca (21 m), Cadú (38 m), Paulo Sousa (63 m), Beto (76 m), Areias (84 m) e Tiago (86 m). Vermelho directo a Hélder Rosário (82 m) por protestos.
Golos: 0-1, Tiago (na p.b, 52 m); 0-2, Mantorras (82 m).
#publicado em simultâneo com os Encarnados