segunda-feira, março 13, 2006

Crónica 26ª Jornada - Um miserável adeus ao Título!


No regresso aos jogos da Liga esperava-se do Benfica a motivação suficiente para defrontar e vencer um dos mais que prováveis condenados à descida de Divisão. Sabendo que é difícil manter os níveis de concentração no mais alto patamar ao jogar com equipas muito mais fracas e principalmente depois de uma noite europeia de contornos históricos, exige-se ao jogadores do Benfica uma atitude séria visto que o jogo contra a Naval afigurava-se tanto de relativa facilidade como de capital importância.

Como já tinha dito em crónicas anteriores, os jogos do Benfica até ao final são de extrema importância na luta pelo título e qualquer desaire poderá comprometer as aspirações da equipa. Tendo esse pensamento na cabeça e a recordação do jogo da 1ª volta – erros de arbitragem à parte – bem viva era óbvio que a motivação dos jogadores e equipa técnica teria de ser bastante forte.

Tendo em conta a euforia dos adeptos pelas recentes vitórias bem como pela esperança na revalidação do título, o estádio encontrava-se com uma moldura humana bem assinalável – sensivelmente 50 mil pessoas. Curiosidade ainda – pelo menos a minha – para observar o comportamento do trio de arbitragem depois de uma prestação miserável de Paulo Costa na Amadora.


Ronald Koeman apostou, surpreendentemente, na mesma equipa que defrontou o Liverpool com a excepção do engripado Luisão substituído no 11 titular por Ricardo Rocha.
Seria mais lógico, não só pela possível e prejudicial euforia dos jogadores utilizados em Anfield mas também por uma correcta, eficaz e duradoura gestão do plantel, que fossem feitas algumas alterações na equipa dando mais minutos a alguns jogadores menos utilizados. Assim, é estranho não se ter apostado em Quim, Manduca, Nélson, Karagounis e num outro ponta de lança – Marcel ou Mantorras.

Prova-se de jornada em jornada que Ronald Koeman para além de ter dificuldade em motivar os seus jogadores para confrontos “menores” também não sabe gerir o plantel que usufrui. Já para não falar na sua intermitente inoperância no banco – em Anfield brilhante, ontem uma verdadeira desgraça.


O Benfica iniciou o jogo de forma muito lenta, pior que num treino colectivo, não tendo criado quase nenhuma oportunidade de golo no 1º tempo. Destaque para algumas iniciativas individuais de Simão, sempre apoiado por Léo ou vice-versa, e alguns arranques de Manuel Fernandes que procurou em quase todos os momentos levar a equipa para a frente. Uma primeira parte simplesmente miserável – do pior que vi este ano – onde imperou em quase todos os momentos a falta de ambição e, porque não, o desleixo. Ficou no ar aquela sensação que “Mais tarde ou mais cedo o golo vai parecer e por isso não me apetece correr!” ou ainda o “Vai lá tu que eu sou o maior e só quero a bola nos pés!”

Quase a terminar a 1ª parte Koeman optou por retirar Alcides – embora estivesse “tocado” a opção foi técnica – admitindo, portanto, o erro em colocar um lateral defensivo sem repercussão atacante e colocando o jogador que deveria ter jogado de inicio – Nélson.
Se o espectável era ver um inicio de 2º tempo com mais velocidade e porventura vontade em vencer, pura ilusão. Uns primeiros 20 minutos de perfeita inoperância e só com a expulsão do central da Naval, Franco, existiram alguns momentos de relativo bom futebol.

Koeman optou à hora de jogo por retirar o até aí melhor em campo, Manuel Fernandes, colocando Karagounis. Se a entrada do grego é indiscutível, eventualmente tardia não compreendi a saída do nº 14 do Benfica. Se a Naval não fez mais que defender nos últimos 30 metros porquê continuar com Beto? Não é que o brasileiro não tenha feito um bom jogo, até porque o fez, mas as suas características não se ajustavam ao que se passava em campo. Para além disso manteve Laurent Robert em campo quando este parece que ainda tinha ficado em Liverpool e só colocou Marcel nuns 30 minutos finais de desespero.

É evidente que o empate é infeliz até pelas inúmeras oportunidades – e falhanços – dos últimos minutos e pela vergonhosa arbitragem mas Koeman também contribuiu para a amorfa atitude da equipa. Incrível como não se consegue marcar um golo a uma equipa destas que jogou quase 40 minutos com 10 jogadores.

A exibição foi globalmente muito má mas ainda assim é possível enaltecer algumas exibições bastante positivas. Gostei especialmente de Manuel Fernandes, Ricardo Rocha, do sempre fantástico Léo e de Simão.


Manuel Fernandes saiu de campo quando não o merecia, na 1ª parte foi dos poucos que tentou incutir alguma velocidade e ambição à equipa mas que infelizmente não foi secundado por mais colegas. A sua grande forma é bem visível e é aos 20 anos uma peça fundamental na estrutura de um Benfica mais forte. A sua classe e forte pontapé poderiam ter sido importantes nos minutos finais.

A titularidade de Ricardo Rocha foi bem aproveitada. Demonstrando grande tranquilidade, ao invés das “loucuras” do costume, foi o pêndulo da defesa quando assim foi necessário. Algumas boas iniciativas individuais depois de cortes por si efectuados foram a nota de destaque da sua exibição. Ainda não foi desta que se estreou a marcar pelo Benfica e teve oportunidades para isso. Um dos melhores em campo, “a piscar o olho” a Scolari.

É sintomático que as iniciativas atacantes da equipa sejam quase sempre pelo corredor de Léo. Como já tinha dito formou com Simão uma ala muito ofensiva e de grande qualidade em que quase todos os lances mais perigosos tiveram origem em jogadas suas ainda para mais porque foi-lhe dada grande liberdade atacante em virtude da falta de ousadia do adversário. No final do jogo sofreu uma entrada dura e saiu de campo a coxear, espero que não seja nada de grave.

Quanto a Simão poderá ser dito que foi o melhor em campo. Embora algo perdulário foi o mais rematador, o que incutiu mais velocidade e um dos poucos que demonstraram atitude desde o início do jogo. Dois remates ao poste, um às malhas laterais depois de se ter isolado em frente ao guarda-redes e outro ao lado por centímetros foi o que fez de melhor.


Em bom nível também se exibiu Beto. Não era, certamente, o jogo mais indicado para o seu futebol mas lutou de inicio ao fim e apesar das suas visíveis e conhecidas limitações técnicas tentou de alguma forma construir jogadas de perigo ou rematando de longe ou colocando a bola jogável nos médios mais avançados. Foi um dos que melhor defendeu. Parece-me em excelente forma e isso poderá ser fundamental em jogos mais complicados.

Falar de Anderson e de Geovanni é bastante difícil por motivos diferentes. Se o central internacional brasileiro esteve pouco em jogo devido à inoperância atacante da Naval – destaque negativo para aquele falhanço escandalosos a um metro da linha de golo – o nº 11 encarnado, neste jogo ponta-de-lança, do Benfica esteve muito escondido dos lances.
Não procurou demarcar-se da forma mais eficaz e não me recordo de um remate que tenha efectuado. Ainda trocou de posição com a chegada de Marcel mas com os mesmos resultados nulos.


As verdadeiras desilusões da noite foram Alcides, Moretto, Laurent Robert e Nuno Gomes. O guarda-redes benfiquista teve muito pouco trabalho mas em dois lances de remate do adversário – muito fracos, por sinal – deixou fugir a bola para canto de forma inacreditável. Incríveis desconcentrações, intranquilidade incompreensível ou porventura as duas coisas são a resposta para a medíocre prestação. A sua titularidade é prejudicial à equipa, não só pela sua própria intranquilidade mas também pela que transmite aos demais colegas. Resta saber se joga por ordem do Koeman ou de mais altas patentes. Vi ontem algumas intervenções fabulosas de Francesco Toldo – que era muito caro pelo que o Moretto é suficiente! – e fico com pena que não se tenha tido coragem em apostar num extraordinário jogador.

De Alcides e dos seus 40 minutos em campo há muito pouco a dizer. Defensivamente pouco ou nada fez pelos motivos que todos sabemos e ofensivamente não sabe mais. Incompreensível a sua titularidade num jogo deste tipo ainda mais tendo em conta os visíveis problemas físicos que apresentou desde muito cedo.
Laurent Robert já não se vê em campo desde a Reboleira, não defende, corre muito pouco, não se desmarca e nem em bola corrida remata. Resta-lhe os livres mas uma hora em campo para num único livre rematar ao lado é inacreditável, não só por ele mas pelo facto de não ter sido substituído quando nem sequer deveria ter jogado.

Mais uma paupérrima exibição de Nuno Gomes. Dois lances em que tinha a obrigação de fazer muito melhor com remates para defesa de Taborda e um resto de jogo simplesmente aos “papéis”. Exige-se mais vontade, sacrifício e porventura profissionalismo. O último mês de competição tem sido uma vergonha e aquele “Matematicamente ainda é possível” é irritante!


E por fim os suplentes, jogadores esses com 3 análises distintas independentemente do diferente tempo de jogo que tiveram. Se os 50 minutos de Nélson lhe passaram completamente ao lado quando se exigia muito mais da revelação da 1ª volta da Liga – ainda que nalguns momentos esteve bem defensivamente, a meia-hora de Karagounis foi, como de costume, o que de melhor passou pelo relvado da Luz. Para alem de ter sido um verdadeiro “pelotão de fuzilamento” em frente à baliza, tentou fazer recuperações de bola o mais rápido possível para, de novo, conduzir o ataque. Bastante infeliz na hora do remate mas o mais esclarecido e em melhor plano na parte final do jogo. Fantástico jogador!

Marcel = zero! 30 minutos de constante ausência e quando se pedia uma presença forte rematou isolado e a 5 metros da baliza… ao lado. Um verdadeiro Marcel(o). Muito mal deve andar Mantorras para nem sequer vestir o fato de treino.


A arbitragem de Carlos Xistra foi, apenas, mais do mesmo. Pactuou desde o início com o contante anti-jogo figueirense – 30 segundos para marcar um pontapé de baliza, lesões simuladas, etc... – e mais uma vez teve influência directa no resultado. Expulsou bem, é verdade, Franco num lance indiscutível de mão na bola quando já se isolavam Geovanni e Nuno Gomes mas falhou em grande escala ao não assinalar um penalty mais que evidente sobre Léo. E se não tem marcado penalty é completamente inacreditável que tenha dado pontapé-de-baliza. Ao não marcar falta é intuitivo que tenha considerado corte do defesa e depois não marca o respectivo canto?

Há anda um possível penalty por falta de Nelson Veiga sobre Nuno Gomes mas o espalhafato do avançado do Benfica poderá ter-lhe turvado a visão. O lance é discutível apesar de eu achar que há falta.

Para quem fala num agarrão de Ricardo Rocha dentro da área terá de ter atenção no facto do jogo ainda estar parado. E neste tipo de lances – mesmo com o jogo a decorrer – ou se começam a marcar todos ou não se marca nenhum porque o Benfica não serve de “bode expiatório” na análise a pseudo-faltas deste género.

Com o Campeonato a chegar aos jogos decisivos é sintomático que a “equipa do colinho” tenha sido prejudicada vergonhosamente nos últimos 2 jogos. Lembro ainda que em dois jogos contra a Naval foram escamoteados 4 pontos ao Benfica por erros de arbitragens.

Analisando o Campeonato desde o seu inicio o Benfica foi prejudicado em 8 pontos de forma escandalosa. Façam as contas para ver me que lugar estaria a equipa se houvesse verdade desportiva!


E pronto, a 7 pontos do 1º lugar com apenas 8 jornadas pela frente só um verdadeiro milagre permitirá o Benfica não perder mais pontos – calendário ainda muito difícil – e subir mais lugares na classificação. Penso que o 3º posto vai mesmo ser o lugar final da época 2005/2006 quando tínhamos tudo para revalidar o título. As arbitragens “encomendadas” e os constantes erros de casting de Koeman não explicam tudo já que por vezes é visível alguma falta de empenho de determinados jogadores. Fossem todos “Petits” ou “Luisões” e certamente a luta não ficava já por aqui. No Benfica não é para estar bem num jogo e descansar dos louros durante um mês, mas sim estar ao mais alto nível em todos os jogos, em todos os momentos, em todos os lances.

Neste clube nunca se desiste mas é mais aconselhável apontarem as baterias para as duas restantes competições principalmente a Champions League. E pelo menos mais um título é exigível.


NDR: Verdadeiramente inacreditável o ódio que alguns têm ao meu/nosso clube. Depois de uma 4ª feira traumática é vê-los a sair debaixo das pedras para mandar as larachas do costume. Blá, Blá, Blá! Mudem o disco. Nas derrotas do Benfica aumenta exponencialmente, nos blogs da nossa praça, o número de nicknames insultuosos e que nunca ninguém viu. Há que descarregar as frustrações acumuladas nestes momentos pois podem ter poucas oportunidades para isso.

Ficha do Jogo:

26 ª Jornada da Liga Portuguesa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco)

SL BENFICA - Moretto; Alcides (Nélson, 38 m), Anderson, Ricardo Rocha e Léo; Manuel Fernandes (Karagounis, 60 m) e Beto; Simão, Nuno Gomes e Laurent Robert (Marcel, 66 m); Geovanni

NAVAL 1º MAIO - Taborda; Carlitos, Franco, Fernando e China; Gilmar e Solimar; Fajardo (Saulo, 83 m), Tiago (Pedro Santos, 87 m) e Lito; Bruno Fogaça (Nélson Veiga, 63 m).

Disciplina: Amarelos a Lito (17 m), Gilmar (63 m), China (72 m), Karagounis (80 m), Fernando (90 + 1 m), Ricardo Rocha (90 + 3 m). Vermelho directo a Franco (56 m).

#publicado em simultâneo com os Encarnados