quarta-feira, março 22, 2006

Mitologia do Mofo!

Há já algum tempo que ando para fazer este post, felizmente que recentemente a maior parte do texto constituinte do mesmo se tornou ainda mais pertinente e porventura mais verdadeiro. Vários acontecimentos e atitudes de intervenientes directos deram-me ainda mais vontade de concluir o que pretendia.

Quem está mais ou menos dentro do fenómeno desportivo há mais de 10 anos – principalmente o futebolístico – está, certamente, familiarizado com uma grande quantidade de mitos – i.e. lendas ou fábulas – que foram, alguns ainda são, perpetuados pela Comunicação Social, classe dirigente mas principalmente por adeptos dos clubes a que os mesmos dizem respeito. Muitas das vezes servem ainda como ataque ao adepto adversário pelo achincalhar do clube do mesmo.

Como mitos que são, não correspondem à realidade factual mas sim à realidade virtual de quem por maldade ou ignorância os profere. Este post serve, então, para desmistificar todo esse chorrilho de mentiras que ainda hoje ouvimos com bastante frequência.



Mito 1: “Os campeonatos – e outras competições nacionais – ganham-se dentro de campo visto que não há corrupção na arbitragem!”



Durante os muitos anos a que assisto ao futebol português, até por ser esta altura a dos anos gloriosos do FC Porto, que me ficaram na cabeça dúvidas sobre muitos dos resultados de campeonatos nacionais – o penta-campeonato azul é o mais visível.

A arbitragem mafiosa é há muito tempo conhecida com os Calheiros, os Guímaros, os Pratas, os Santos e mais recentemente os Costas – Paulo, Rui e António, os Benquerenças, os Sousas ou ainda os Paratys em grande plano.

Depois de uma rocambolesca história de viagens de árbitros ao Brasil “subsidiadas” pelo FC Porto – história essa em que existiam provas factuais e documentadas do suborno – ter sido, infelizmente, arquivada por falta de provas, pouca era a esperança de ver atrás das grades os responsáveis por dezenas de anos de “mentira” desportiva.
A certa altura de 2004, o meu sonho pareceu tornar-se realidade, as minhas súplicas estavam prestes a resultar por intermédio de um processo criminal denominado Apito Dourado. Neste processo as individualidades que há anos eram apelidadas de corruptas estavam a ser, finalmente, investigadas e constituídas arguidas por manipulação de resultados desportivos – Valentim Loureiro, Pinto de Sousa e Pinto da Costa.

A partir daí a “manta” que cobria o mito da verdade desportiva foi destruída e transpareceu para toda a sociedade aquilo que muita gente dizia mas que não era credível segundo alguns. Ainda há, obviamente, pessoas que não acreditam neste processo, que acham que isto é tudo uma cabala “dos de Lisboa” para incriminar inocentes. Há inclusivamente pessoas que acham que a Polícia Judiciária está a mando de alguns e que investiga selectivamente ao bom estilo “nós fazemos mas vocês também!”.
Paira, no entanto, uma sombria e densa nuvem sobre tudo isto, as bocas estão fechadas, o processo estagna, a Comunicação Social ignora. Porquê? Porque a mão suja que dá de comer a essa gente toda poderá estar prestes a ser lavada, não com água e sabão, mas com lixívia. Lixívia essa que “purificará” esta podridão que é o futebol português.

Os árbitros – a lista é gigantesca – foram “aliciados” por Pinto da Costa e por Valentim Loureiro sob a conivência de Pinto de Sousa para beneficiar o FC Porto, o Gondomar SC e porventura o Boavista FC e há provas factuais disso – as escutas telefónicas pelo menos – já do domínio público.

Aguardo com expectativa que o meu sonho se concretize e que a minha revolta de anos – e a de muitos, certamente – seja apaziguada com a prisão dos criminosos, a retirada dos títulos ganhos com a corrupção e a despromoção dos clubes envolvidos. O processo arrasta-se e com quase 2 anos passados o abafamento do mais vergonhoso e escandaloso “caso” do futebol português é preocupante.

A falta de justiça neste país é ainda mais nojenta que as atitudes dos criminosos que aguardam anos por julgamento. Inacreditável como os dirigentes “suspeitos” continuam na total posse dos seus cargos e os árbitros corrompidos continuam a apitar como se nada fosse, só mesmo neste país.
Resta saber se esta dinâmica de investigação se vai estender a outras modalidades especialmente o vergonhoso hóquei português.



Mito 2: “O Sporting domina o mundo das modalidades desportivas em Portugal!”



Longe vão os tempos em que os sportinguistas “atiravam à cara” dos adversários clichés como “o Sporting é clube português mais eclético!”, “O Sporting nas modalidades é imparável!” e outras coisas do género.
Nos últimos anos e salvo a excepção do atletismo – a única modalidade onde vencem títulos frequentemente – o deserto de conquistas tem sido avassalador. O clube mais eclético ou extinguiu quase todas as modalidades mais importantes – voleibol, ciclismo, basquetebol, etc… – ou vegeta em escalões secundários – hóquei em patins e andebol.

Não tem, insolitamente, um pavilhão para albergar as modalidades que ainda possui recorrendo ao aluguer de recintos desportivos de outros clubes. Não me recordo nos últimos anos de um título importante do Sporting nas modalidades amadoras mais apreciadas pelos portugueses à excepção do título de futsal em 2003/2004.

Há inclusivamente a patetice de reclamar as vitórias dos atletas sportinguistas, mas em representação das selecções nacionais nos Mundiais e Europeus, como do Sporting. Basta consultar o site oficial do clube e conversar com alguns sportinguistas mais incomodados com o real estado das coisas. Claramente, o desespero de causa de quem só ganha massivamente no ping-pong, no full-contact ou noutras modalidades menores.

O recentemente cooptado presidente sportinguista afirma constantemente a necessidade de acabar com as modalidades existentes e concentrar o Sporting num clube só de futebol – onde também não vence de forma constante em abundância, basta lembrar o jejum de 18 anos.

Ainda assim é bastante comum ouvir “O Sporting é 2º o clube com mais títulos da Europa, só batido pelo Barcelona!”. Certamente que é importante saber se o “berlinde”, o “esconde-esconde” ou a “macaca” também entram nessas contas.



Mito 3: “O Benfica vive dos títulos do passado!”



Os últimos 2 anos de futebol português foram verdadeiramente desastrosos para os impulsionadores deste mito. O título do Benfica em 2004/2005 aliado à conquista da Taça de Portugal de 2003/2004 e da SuperTaça já nesta época deu grandes alegrias à maioria do país mas foi aziago para muitos.

A demonstração da força actual do clube é, realmente, fantástica sendo facilmente adivinhável que mais tarde ou mais cedo novos títulos vão aparecer. A dinâmica de vitória implementada pela direcção actual tem sido fundamental nas grandes alegrias que o clube nos tem dado.

A outro nível que não o futebol, a dobradinha em voleibol – também a SuperTaça e a Taça já deste ano – e em futsal na época passada são também momentos importantes a realçar. As recentes dinâmicas de vitória do basquetebol de Carlos Lisboa, do andebol de Aleksander Donner e do hóquei em patins do regressado Carlos Dantas são também muito importantes e auguram resultados risonhos num futuro próximo.


Mito 4: “O Benfica não existe a nível europeu, já não tem prestígio nem resultados!”



Várias prestações medíocres nos últimos 10 anos levaram a que este mito fosse quase institucionalizado. A fantástica carreira europeia deste ano na Liga dos Campeões revolucionou por completo o discurso sobre um Benfica europeu. As vitórias sobre o Manchester United e sobre o Campeão Europeu Liverpool incendiaram a paixão e o inferno vermelho presente em cada benfiquista.

Há, como não poderia deixar de ser, aqueles invejosos que constantemente denigrem a imagem do Benfica com o desdenhar do adversário – “o pior Manchester e Liverpool dos últimos 100 anos!” – ou a invocação de uma salvadora sorte. Enfim… tenham paciência que isto é para durar. Barcelona não será uma barreira mas mais uma etapa conquistada, independentemente do resultado.

Bom é estar presente e vocês jogam com quem?!



Mito 5: “Pinto da Costa é um génio do dirigismo desportivo!”



A idade não perdoa e o que era um mito quase universal está em decadência. Os inúmeros erros de casting de jogadores e treinadores nos anos mais recentes – salvo, no entretanto, pelo brilhantismo de Mourinho – foram o que mais se viu em Pinto da Costa.

Até os idiotas comentários que costuma fazer em tom de gozo e desprezo do adversário têm estado em má forma embora sempre acompanhados dos risinhos cúmplices dos “jornaleiros”. As queixinhas que tem feito de jogadores do Benfica diminuem-no ainda mais confirmando a secular ideia do monumental ódio que tem ao rival da Luz.

Luís Filipe Vieira pode ter muitos defeitos, e tem, mas nunca em momento algum o vi achincalhar de forma gratuita e desnecessária um adversário – Pinto da Costa fá-lo há mais de 15 anos. O respeito aprende-se e pelos vistos não o há em toda a gente.

A culminar a sua “brilhante” carreira está um processo de corrupção que o pode levar à cadeia por vários anos. Tempos negros para aquele que um dia foi o Papa do futebol português.


Mito 6: “O Sporting tem os melhores gestores do futebol português!”



Um dos mitos mais ouvidos na última década. Desde sempre o Sporting foi associado a uma massa associativa mais “burguesa” e “encartada” deixando a “ralé” benfiquista afastada de tão elevadas profissões.

Durante os anos negros do Benfica com sucessivos coveiros na presidência – um deles criminoso – o regozijo lagarto pela desastrosa gestão do Benfica foi a nota dominante.
A direcção benfiquista actual conseguiu um milagre: devolveu a credibilidade ao Benfica, pagou inúmeras dívidas do clube e continua a fazer render a marca Benfica com “namings”, aumentando exponencialmente o número de sócios com a respectiva quotização anual, criando infra-estruturas – Centro de Estágio, Pavilhões, Complexo do Estádio, etc… Uma gestão brilhante, portanto!

E o que fazem os famosos e geniais gestores lagartos?! Deixam o clube cair na bancarrota, e na comprometedora e indigna “venda de património para pagar dívidas de tesouraria”.

Caros sportinguistas: se acham que os problemas do Benfica são da mesma dimensão dos do Sporting estão no vosso direito de viver num mundo de ilusão.

Felizmente que o Benfica não precisa vender património para saldar dívidas correntes de tesouraria – houve alturas em que isso era “imprescindível” como por exemplo na presidência do “criminoso” – mas neste momento é um clube em expansão que só de quotização anual tem mais de 7,5 milhões de euros. Só nas competições europeias deste ano o saldo até agora é de 10 milhões de euros positivos.

E tenho a certeza que o Benfica não necessita da autorização da Banca para adquirir jogadores como acontece no Sporting – dito pelo cooptado Filipe Soares Franco.

O Grupo Benfica tem um passivo de aproximadamente 300 milhões de euros enquanto que o Sporting tem aproximadamente 400 milhões de euros – não estou a inventar os números, é tudo público.
Mas falar de passivo não é a mesma coisa que falar em dívida bancária, pois não? Economia 101!

O Grupo Benfica deve à Banca sensivelmente 115 milhões de euros – quase tudo referente ao complexo do Estádio da Luz – enquanto que o Sporting tem contraída a dívida de mais de 275 milhões de euros – reafirmo o domínio público das dívidas.

O que tem sido feito por FSF e seus comparsas é fazer a analogia entre o passivo do Grupo Benfica e a dívida lagarta à Banca, o que é mentiroso e dissimulado.
Depois de mais de 10 anos a ouvir "O Sporting tem os mais brilhantes e competentes gestores do Futebol Português" é um pouquinho patética a situação actual do clube de Alvalade, com o devido respeito.


Mito 7: “O Benfica deixou de ganhar devido à abolição do regime ditatorial!”



Esta é uma das maiores mentiras que se pode dizer no mundo do futebol, só dita por indivíduos de má fé ou por alguém muito ignorante – porventura as duas coisas. Salazar era associado do Belenenses, não adepto do Benfica como muitos “sabem” – porque eram vivos nesse tempo, claro! – e sim, de facto, associou-se ao sucesso do Benfica porque o clube ganhava muito.

Uma breve análise estatística aos títulos do futebol português podemos concluir o seguinte:

Antes do 25 de Abril (40 épocas, com 2 anos sem Taça de Portugal):

SL Benfica – 20 CN e 15 TP… 35 títulos
FC Porto – 5 CN e 3 TP… 8 títulos
Sporting CP – 14 CN e 9 TP… 23 títulos


Depois do 25 de Abril (31 épocas):

SL Benfica – 11 CN e 9 TP… 20 títulos (- 27% do total de 55)
FC Porto – 15 CN e 9 TP… 24 títulos (+ 75% do total de 32)
Sporting CP – 4 CN e 4 TP… 8 títulos (- 47% do total de 31)

Fonte: A Bola

Vemos que o Sporting foi, claramente, clube mais prejudicado pela implantação da democracia no país enquanto que o Porto foi o mais beneficiado. A “seca” de um é também a “fartura” do outro. Certamente que o jejum de títulos do “Glorioso” recentemente terminado contribuiu pelo abaixamento do rácio do clube. Ainda assim os 20 títulos são uma óptima prestação.

O Benfica deixou de ganhar em tão grande quantidade devido ao surgimento do FC Porto com um grande clube do panorama desportivo nacional. O “clube do regime” venceu muitas coisas depois de abolida a ditadura, inclusivamente esteve presente em duas finais da Taça dos Campeões Europeus e uma da Taça UEFA.

Curiosamente são apenas 4 os títulos que separam o Benfica do FC Porto na era pós 25 de Abril, importantíssima a “famosa” série do penta para este desempate. Quanto ao Sporting, realmente 8 títulos em 31 épocas é muitíssimo pouco para um clube dito grande, o Boavista no mesmo período tem 6 títulos (1 CN + 5 TP), apenas menos 2.


Mito 8: “O Benfica domina a arbitragem!”



O domínio da arbitragem, a existir como alguns juram, não deu qualquer resultado em 11 anos de Campeonatos Nacionais. Alguém minimamente inteligente acha que alguém domina os árbitros para perder? Bem me parecia que não!

A conversa do colinho perpetuada apenas nos momentos em que dá jeito é, rapidamente abolida, quando por exemplo se repetem as arbitragens dos jogos mais recentes do Benfica – responsáveis por menos 8 pontos na Liga e pela eliminação da Taça de Portugal. Coerência? Claro que não!

Há ainda a conversa da corrupção de Cunha Leal, é engraçado é ninguém ter falado nos 8 anos da presidência de Guilherme Aguiar na Liga de Clubes. Presidência essa que coincidiu com o mais avassalador domínio do FC Porto em Portugal desde sempre com 5 Campeonatos conquistados de forma consecutiva.

É por este tipo de análise que ninguém acredita nas teorias da conspiração na conquista da Liga da época passada. Insurgiram-se contra o jogo do Estoril no Algarve – em que o Benfica foi prejudicado com 2 expulsões perdoadas ao adversário – mas se essa situação não existisse qualquer outro motivo seria o alvo da raiva pela vitória do Benfica. É a lógica da batata perpetuada desde sempre!

Os arguidos em processos criminais são os inocentes mas os reais suspeitos são outros. Brilhante conclusão dessa gente! Foi uma vitória do suor, da vontade e do esforço – com alguma sorte, é óbvio – mas muito merecida.

#publicado em simultâneo com os Encarnados