“É para ver o Ronaldinho jogar!” foi o que mais se disse no prólogo desta magnifica 1ª mão dos 4ºs de Final da maior competição europeia de clubes.
O confronto entre o Campeão Português e o Campeão Espanhol fez parar os dois países irmãos mas também o mundo desportivo, nomeadamente o futebolístico. Um massacre diriam uns, um milagre pediam outros mas a este nível usa-se o cliché verdadeiro de “Já não há jogos fáceis”.
Muito se falou mas é dentro de campo que as coisas se resolvem. A imensidão benfiquista que esgotou a Luz imaginava uma noite europeia memorável – à semelhança de outras nesta época desportiva – torcendo por um resultado histórico de um dos melhores clubes do Mundo contra outro gigantesco clube. Impressionante também a enormidade de figuras importantes não ligadas ao desporto presentes no estádio como por exemplo o primeiro-ministro José Sócrates e uma grande quantidade de ministros, embaixadores e outras figuras públicas.
Ronald Koeman apostou na equipa prevista com apenas duas alterações ao 11 do jogo anterior. Assim, entrou Geovanni para o lugar do castigado Nuno Gomes na frente de ataque e Beto para o lugar de Manduca abdicando de um médio mais atacante para utilizar um mais recuado.
O Barcelona iniciou o jogo num autêntico massacre obrigando o Benfica a recuar até aos 30 metros defensivos e durante quase 35 minutos. As jogadas de golo eminente sucediam-se como que se os jogadores da casa – keeper incluído – estivessem a assistir passivamente ao espectáculo dado pelos catalães. Assim, a sorte e Moretto evitaram que o Benfica – com alguns lances esporádicos de grande qualidade em remates de longe – saísse para o balneário com 2 ou 3 golos sofridos tal o domínio avassalador do Barcelona.
Na 2ª parte tudo mudou e principalmente devido à fantástica entrada em campo de Fabrizio “rato” Miccoli. A velocidade do italiano aliada à maior ousadia benfiquista colocaram o Barcelona em sentido por algumas vezes. É verdade que Moretto mais uma vez foi importante com algumas defesas de elevado nível mas a determinada altura o domínio de jogo foi dos da casa. O Benfica termina o jogo a explanar claramente o seu futebol com uns 20 minutos finais constituídos por várias oportunidades de golo falhadas.
Mais uma vez fica na ideia que Koeman não fez tudo ao seu alcance, pois só o medo de perder justifica a não colocação da 3ª opção em campo. Se há 3 substituições porque não se fazem todas? Alguns jogadores estavam verdadeiramente estoirados – Beto e Ricardo Rocha, por exemplo – e mereciam ter sido trocados por colegas em melhor condição física. Robert jogou 45 minutos a mais e Miccoli 45 minutos a menos.
A exibição colectiva foi bastante boa mas como melhores em campo destaco Ricardo Rocha, Beto e Fabrizio Miccoli.
O homem do jogo foi, a meu ver, Ricardo Rocha. Com a incumbência de marcar Ronaldinho Gaúcho, o defesa central português fez uma exibição memorável. Adaptado à lateral-direita mas numa marcação individual homem-a-homem, denotou enormes dificuldades para parar o brasileiro, como seria de esperar. Sem virar a cara à luta, secou quase que por completo um génio, obrigando-o a recuar até à linha de meio campo para receber a bola. Aí, sim, foi perigoso! Nos arranques com a bola dominada e nos passes longos o nº 10 do Barça mostrou muito futebol. Ricardo Rocha perdeu o confronto em apenas dois lances nos quais curiosamente resultaram duas das mais flagrantes oportunidades de golo do Barcelona – felizmente não concretizadas.
Alguns cortes magistrais – principalmente no 1º tempo – levaram a bancada ao rubro com tal empenho. A alegria no final do jogo era o reflexo do que fez em campo naquela que foi, provavelmente, a sua melhor exibição desde que ingressou no Benfica. Se Scolari estava a ver, perdeu por completo as duvidas: Ricardo Rocha deverá estar no Mundial 2006 na Alemanha, será merecido!
Novo duelo individual, desta vez entre Beto e Deco, apimentou esta noite de futebol europeu. De um lado um dos melhores jogadores do mundo, do outro um jogador muitas vezes incompreendido e criticado pelas suas dificuldades técnicas, inclusivamente pelos próprios adeptos. Toda a gente sabe da qualidade do futebol do português e foi através da mesma que o nº 20 do Barcelona pautou o jogo no seu início. Com a queda do nervosismo inicial do Benfica a exibição de Beto melhorou muito, chegando mesmo a surpreender a forma como recuperava e de imediato iniciava as movimentações atacantes da equipa. Foi um patrão quando era preciso e teve inclusivamente tempo de chutar algumas vezes à baliza com relativo perigo. Nalguns momentos secou Deco por completo e isso nunca é fácil.
Os 45 minutos de Fabrizio Miccoli foram verdadeiramente alucinantes. A sua entrada revolucionou por completo a iniciativa da equipa acrescentando-lhe velocidade mas acima de tudo classe. O italiano é de outra galáxia e já é altura de se começar a amealhar o dinheirinho e ir entregá-lo a Turim, eu contribuo se for preciso.
Para mim, e já o disse várias vezes, é o melhor jogador do Benfica acrescentando uma dimensão internacional à equipa.
A única má exibição foi a do francês Laurent Robert. Incompreensivelmente muito escondido do jogo não se viu nem nas bolas paradas. Uma verdadeira nulidade que deixou o Benfica a jogar com 10 durante toda a 1ª parte. Não fez um único remate, cruzamento ou passe de risco. Mau demais para ser verdade!
Todas as restantes exibições foram, também, de qualidade e por motivos diferentes.
De Moretto já não sei o que dizer. É indiscutível a qualidade do brasileiro mas a intranquilidade que denota é de bradar aos céus. Levou meio Portugal ao desespero – tantos gritos da minha boca! – com sucessivas reposições de bola desastradas que não deram golo ou por milagre ou por defesas fabulosas por si executadas. Apresentou, no entanto, um leque de paradas dignas de figurar nas melhores já vistas este ano na Luz, retirando a possibilidade ao Barcelona de chegar ao golo em mais de meia dúzia de ocasiões. Quando e se conseguir estar tranquilo será um reforço de grande categoria mas tem, forçosamente, de rever as palhaçadas que continua teimosamente a cometer – agarrar a bola no atraso de Anderson é de infantil.
A dupla de centrais teve bastante dificuldade em segurar o ímpeto atacante do Barça nos primeiros minutos de jogo. Anormalmente intranquilos foram algumas vezes ultrapassados por Eto’o e pelos médios que subiram em ataque – Iniesta, Deco e principalmente Van Bommel. Ainda assim, alguns cortes brilhantes de Anderson aos pés do adversário e a segurança aérea de Luisão são as notas de destaque de uma das melhores duplas de centrais da competição. Sabendo que é muito difícil jogar contra avançados do calibre de Eto’o, Ronaldinho e Larsson poder-se-á dizer que cumpriram o objectivo cotando ainda mais alto o valor dos seus respectivos passes.
De Léo mais uma exibição genial seria de esperar. Tornam-se curtas as palavras para classificar o “Maradoninha” da Luz. Apesar da baixa estatura – e bem tentaram os catalães explorar esta debilidade – secou Larsson falhando apenas por uma vez em todo o jogo, no remate do sueco ao poste. Foi do lado esquerdo que saíram os lances mais perigosos do ataque sendo que defensivamente esteve quase irrepreensível – alguns passes falhados no meio-campo mas nada de significativo. Mais uma vez, um dos melhores.
Confesso que não achei Petit tão acutilante como de costume. Apesar de ter estado em bom nível pareceu-me cansado e menos afoito em tarefas atacantes. Para além disso mostrou-se novamente desastrado no capítulo do remate quer em bola corrida ou parada.
Como sempre nunca virou a cara à luta tendo com Van Bommel um duelo interessante mas que perdeu por algumas vezes em lances nos quais o holandês poderia ter facturado.
Algumas aberturas geniais que criaram muito perigo na área adversária.
Assim como Petit, Manuel Fernandes nunca virou a cara à luta. Demonstrando uma categoria impressionante, segurou quanto pode outro genial jogador, Andrés Iniesta – só não joga mais vezes porque o plantel do Barça é riquíssimo já que é um jogador espectacular.
Num remate fantástico de fora da área poderia ter feito um golo de bandeira naquela que foi uma das melhores jogadas do Benfica na 1ª parte. Aos 20 anos assume-se como uma das estrelas da equipa demonstrando uma maturidade e classe digna dos grandes colossos europeus.
Outra exibição espectacular foi a de Simão Sabrosa. O capitão foi um verdadeiro quebra-cabeças para Belletti, que por vezes só em falta o conseguiu parar – pena que os amarelos tenham ficado no bolso! Aquele golo falhado na 2ª parte só com Valdéz pela frente deveria ter tido outro desfecho – pelos vistos, neste plantel, há a dificuldade de “picar” a bola quer em lances corridos quer nas bolas paradas. A Liga dos Campeões deste ano foi para si uma verdadeira montra de futebol espectáculo. Parece-me, de novo, em grande forma!
O principal momento de Geovanni – um pouco apagado e por isso bem substituído – foi um estupendo remate de longe que daria um golo enorme. Foi por pouco! Poderia e deveria ter feito melhor na recarga ao remate de Miccoli no segundo tempo, com tanto espaço na área era só receber e encostar ao invés de procurar o estoiro de primeira.
E por fim Karagounis. Chamado a intervir por Koeman num momento em que, mais uma vez, era imperativo segurar a bola na posse do Benfica, o grego foi primordial nessa tarefa. Poderia ter feito o golo num livre exemplarmente cobrado com a bola a sair pouco ao lado. Deu segurança e tranquilidade aos seus colegas.
Relativamente à arbitragem de Steve Bennett é possível dizer que foi mázinha. Deixou jogar ao bom estilo inglês mas por vezes de forma exagerada deixando impunes algumas faltas claras e bastantes cartões por mostrar – de parte a parte.
Ficará indelevelmente ligado à não marcação escandalosa de um penalty do tamanho do Estádio da Luz por uma clara – mais nítida é impossível – mão na bola de Thiago Motta. O mais inacreditável é que estava a apenas 2/3 metros do lance, portanto não foi por não ter visto que não assinalou – responsabilidades também para o fiscal de linha que tinha o ângulo de visão completamente livre.
Deu a infeliz sensação de limitar o jogo do Benfica principalmente na 2ª parte com algumas faltas a meio-campo assinaladas de forma errada. Bem, no entanto, ao deixar seguir noutro lance de possível penalty por nova mão na bola na área catalã. De facto, o estoiro de Geovanni é muito “à queima” e com excessiva violência sendo por isso impossível a Oleguer retirar o braço atempadamente – até me parece que o contacto é no ombro.
Trabalho, também, medíocre do fiscal de linha que seguiu o ataque do Benfica na 2ª parte ao assinalar, erradamente, dois foras-de-jogo a Miccoli com o italiano a isolar-se em frente a Valdéz.
Curiosidade importante a utilização por parte do trio de arbitragem de auriculares como forma de comunicação entre si. Alto nível!
Desfrutar da eliminatória foi sempre o meu único pedido, confesso que ao intervalo me senti afortunado com o resultado mas no final uma ponta de desilusão foi a nota dominante – e sei bem que não me devo sentir assim. Nos últimos minutos imaginei, sinceramente, que a vitória era possível especialmente naquele livre de Petit aos 82 minutos com cruzamento para Luisão. Naquele momento pensei que a história se iria repetir e a careca do gigante me iria dar uma alegria – e a tantos outros – imensurável à semelhança do encontro com o Liverpool.
Uma palavrinha para os “profetas da desgraça” que tantas vezes mudaram de clube nos tempos mais recentes: Dói muito? Não eram goleadas em todos os jogos?
No Nou Camp tudo pode acontecer, empatar lá com golos será histórico e garantirá uma ½ final de sonho. Se acreditava até aqui, continuo a acreditar até 4ª feira naquela que será uma época europeia de enormíssima qualidade independentemente do resultado na Catalunha.
Agradeço aos jogadores, técnicos e direcção por devolverem o Benfica ao seu lugar devido: lutar com os melhores nas melhores competições!
“Sou do Benfica e isso me envaidece”, Enorme SLB!
NDR: Uma palavra para o sublime jogador que é Ronaldinho Gáucho de quem sou um fã inveterado. Já não bastava ser o melhor do mundo da actualidade apresenta também uma alegria contagiante dentro e fora de campo. É extraordinariamente correcto até para os seus adversários, nunca apresentando maldade nem conflito sendo de um fair-play inigualável em jogadores da sua estirpe. O seu cumprimento final a Ricardo Rocha é algo de transcendente, o jogador do Benfica era “todo sorrisos” maravilhado com o gesto. Fabuloso e cativante!
A outro nível, faço um desafio aos leitores das minhas crónicas que juntamente com o vosso comentário ao jogo deixem também uma crítica – construtiva, de preferência com o que gostariam de ver e o que não gostam – a este espaço regular de crónica aos jogos do nosso clube que tenho escrito. O objectivo é poder melhorá-lo. Cumprimentos!
Ficha do Jogo:
1ª Mão dos 4ºs de Final da Liga dos Campeões
#publicado em simultâneo com os Encarnados