Pouca esperança, pouca tranquilidade e pouco público foram as primeiras notas da partida em Vila do Conde frente ao Rio Ave.
Como seria de esperar, o pouco público é originário de “pouca fé na equipa!”, num “divórcio dos adeptos com os jogadores!” ou “na pouca vontade em apoiar devido aos resultados recentes e ao mau tempo!” mas nunca no resultado de uma atitude dos benfiquistas – que o ano passado encheram o Estádio dos Arcos – de deixar de dar dinheiro a gente que não o merece. Obviamente, e agora sem ironias, que é um misto dos dois condicionantes mas tal não foi admitido na transmissão televisiva pelos suspeitos do costume.
Neste momento em que vale tudo para achincalhar o Benfica, sou a favor da debandada do público benfiquista dos estádios do adversário principalmente naqueles estádios de clubes com “atitudes menos dignas” para com o Benfica e de subserviência a outros – falo de Belenenses, Rio Ave, Vitória de Setúbal (agora menos), Nacional e infelizmente – é com tristeza que o digo – a União de Leiria. A equipa perde um apoio muito importante mas assim já ninguém faz as receitas da época às custas do Benfica. Mas atenção: Luz sempre cheia!
Depois do que se passou, recentemente, para o Campeonato, a luta do Benfica passa apenas por assegurar um fundamental lugar na Liga dos Campeões. A classificação abaixo do 3º lugar será uma catástrofe porque um clube do nível do Benfica tem que estar sempre na maior prova europeia de clubes. Acreditar que ainda se pode fazer mais é muito importante.
Ronald Koeman fez bastantes alterações ao 11 titular que perdeu na Luz com o Vitória de Guimarães recolocando os até então lesionados Simão e Léo retirando Karagounis e Ricardo Rocha. Geovanni regressou ao centro do ataque sendo Manduca encostado no lado direito – onde é menos consequente mas mais esforçado que Laurent Robert – e Moretto voltou aos titulares – infelizmente para a equipa, para Quim e para nós adeptos.
Saúdo ainda o regresso à titularidade do fundamental Petit.
Mais uma vez Pedro Mantorras iniciou o jogo no banco mantendo-se o inconsequente Nuno Gomes na frente de ataque. Incompreensível como Koeman mantém o nº 21 na equipa quando há alternativas em melhor forma.
O Benfica iniciou o jogo com grande categoria, melhorando bastante o futebol praticado nos últimos tempos mas com a normal e enervante displicência na hora da concretização.
Bastante velocidade, muitos remates, boas jogadas de envolvimento e algumas desmarcações brilhantes especialmente de Simão e de Geovanni. A defesa esteve bastante bem mas também devido a mais um “autocarro” de dois lugares estacionado nos últimos 30 metros.
O terreno encharcado bem como o vento dificultaram bastante o futebol dos atletas mais tecnicistas mas confesso que este Rio Ave é o mais fraco que já vi desde que subiu à 1ª Liga. Só a manifesta intranquilidade dos jogadores mais avançados do Benfica fez com que o intervalo chegasse com um nulo ainda no placard.
A 2ª parte foi um retrato fiel da 1ª. Um verdadeiro massacre por parte do Benfica mas com uma ainda mais patética concretização. Confesso que fui ao desespero com aquele falhanço do Simão à barra, e a partir daí vi que seria muito difícil ao Benfica vencer o jogo. A bola parece que queima nos pés dos jogadores!
Ainda mais preocupante que os falhanços dos extremos são os falhanços do ponta-de-lança Nuno Gomes, autor de uma exibição deprimente e desesperante.
O Rio Ave foi uma verdadeira nulidade durante todo jogo, na 1ª parte não existiu ofensivamente já que os contra-ataques vila-condenses foram sempre bem parados quer por Anderson, quer por Luisão e na 2ª parte teve apenas 2 ou 3 lances de bom futebol. Quando Koeman opta por fazer entrar Karagounis – apesar do bom jogo de Manuel Fernandes, mais um – o futebol do Benfica melhora devido ao já famoso controlo de bola do grego. O aperto torna-se mais forte mas infelizmente inconsequente. A entrada de Mantorras para uma última dezena desesperada de minutos é a última esperança.
Depois de um lance polémico na área benfiquista com novo falhanço vergonhoso de Moretto – analisarei no fim a prestação da arbitragem – a nova vaga do ataque benfiquista comandada por Simão Sabrosa dá a esperança de um golo salvador. Mais uma grande jogada do capitão, centro para Mantorras e o angolano com toda a sua alegria, raiva e categoria finaliza de forma acrobática – um meio moinho – para o golo de grande contentamento para uns e de raiva/azia para outros. Custa muito ver o Benfica ganhar com um golo no último minuto! É como que se fosse uma estalada muito forte em cheio na cara! E Koeman também foi um dos atingidos.
Koeman, na minha opinião, continua a errar e muito pois não se compreendem algumas das suas opções. Continua a manter Nuno Gomes na frente de ataque quando a sua finalização enerva e leva ao desespero quer os adeptos quer os próprios colegas. Jogadores em baixo de forma ficam ou no banco ou na bancada e este discurso também serve para o desastrado Moretto. São inúmeros os erros do holandês, principalmente na atitude a tomar quando é preciso mudar algo durante um jogo. Não se admite que demore tanto tempo a colocar os jogadores em campo!
No que diz respeito ao resultado a vitória é indiscutível porque venceu a única equipa que atacou. O Benfica fez mais de 30 remates e tem muito mérito na procura do merecido golo apesar de toda a intranquilidade. Espero que este magnifico golo de Mantorras dê ânimo à equipa e faça ver, de uma vez por todas, a Koeman que o angolano tem de jogar, e de jogar muito tempo.
Destaco as exibições de Simão, Léo e Petit como as melhores.
Depois de alguns jogos de menor fulgor, talvez devido aos problemas físicos conhecidos, o capitão Simão tem vindo a subir de forma a olhos vistos. Aquele soberbo golo em Anfield – o melhor da jornada europeia – deu-lhe o ânimo para exibições mais condizentes com o seu valor. Parece que o grande Simão está de volta! Neste jogo foi, sempre, o homem mais perigoso do Benfica com sucessivos ataques culminados em remates ou em excepcionais passes para colegas. Falhou uma mão cheia de golos mas tem mérito no facto de ter procurado fazê-los. Gostei imenso da atitude que demonstrou ao nunca desistir de lutar principalmente depois daquele desesperante remate à barra. É isto um capitão de equipa! Teve ainda o discernimento de fazer o cruzamento nos minutos finais para o golo da vitória. Para mim o melhor em campo.
A vontade, a categoria e a classe de Léo transpareceram mais uma vez neste jogo. Uma autêntica “Formiga Atómica” que se transcende apesar da sua baixa estatura. Um lance na área em que falha o cabeceamento, precisamente devido à altura, resulta num magnífico “dar o corpo à bola” para remediar o seu erro. Já é o melhor lateral-esquerdo do Benfica da última década. Acho, no entanto, que a equipa tem de procurar outras soluções já que não poderá jogar quase 90 minutos pelo lado esquerdo. A dependência no corredor de Léo e Simão é abismal.
Quanto a Petit mais do mesmo, um dos jogadores mais raçudos e voluntariosos que já vi envergarem a camisola do Benfica em mais de 15 anos. Petit é um jogador “à Benfica”! Um verdadeiro patrão ao bom estilo de Patrick Vieira. Foi neste jogo e mais uma vez o vértice do meio-campo quer em tarefas ofensivas quer defensivas. Desta vez menos afoito nos remates à baliza mas ainda assim um verdadeiro condutor de jogo, jogador fundamental que o Benfica não se pode dar ao luxo de prescindir.
Gostei ainda de Nélson e da dupla de centrais.
O jovem lateral-direito do Benfica fez um dos melhores jogos dos últimos tempos, muito afoito ofensivamente, deu origem a muitos cruzamentos e remates perigosos embora sem consequência. Teve algumas dificuldades para marcar Evandro no 2º tempo e por isso viu-se menos no ataque. Parece estar a subir de forma mas está ainda muito desastrado na hora de chutar. É penalizado pelo facto da equipa procurar atacar quase sempre pelo lado esquerdo.
A exibição das “Twin Towers” foi em tudo semelhante. Luisão e Anderson equivaleram-se em virtude do pouco jogo ofensivo do adversário e na categoria em parar as investidas com bom posicionamento e velocidade. A nível ofensivo estiveram os dois inconsequentes apesar de terem tentado o golo por algumas vezes, principalmente Anderson. No golo anulado ao Rio Ave parece-me que Luisão está pessimamente colocado e por isso se deixa bater pelo adversário directo.
Manduca também esteve em bom nível e penso que, neste momento, justifica mais a titularidade que Laurent Robert. Foi, tal com os seus colegas, desastrado na finalização mas um dos mais impulsionadores do jogo ofensivo. Muito esforçado e isso é sempre importante.
Um pouco abaixo do que já nos habituaram estiveram Manuel Fernandes e Geovanni.
O português esteve bem no controlo do meio-campo mas foi pouco ousado a nível atacante apesar de tentar rematar – mal – por algumas vezes. Foi, por isso, bem substituído por Karagounis mas algo tardiamente. Manuel Fernandes é um grande jogador mas este jogo não era para as suas características. Tenho pena que não acerte no remate, tornar-se-ia um médio fabuloso. Geovanni teve uma boa primeira parte mas desapareceu por completo no segundo tempo, foi também tardiamente substituído. Jogou na frente de ataque e não rematou à baliza, isso diz tudo da sua exibição apesar de algumas desmarcações de qualidade.
Quanto aos desastrados, mais uma vez Moretto e Nuno Gomes.
Já nem sei o que dizer do guarda-redes do Benfica. Não dá segurança aos colegas nem aos adeptos, não faz a diferença e tem falhanços incompreensíveis e resultantes de uma intranquilidade “bossiana”. Não compreendo a sua titularidade até porque nunca esteve verdadeiramente bem em qualquer um dos jogos ao serviço do Benfica. É injusto para Quim mas também para ele, ser titular quando se está num mau momento só prejudica a própria imagem porventura de forma irreversível. Se for titular por opção de Koeman é parvoíce e birra do holandês, se for titular por exigência das mais “altas patentes” é lamentável. Espero bem que não haja aqui mão de Veiga, quero ver a bronca quando o grande Moreira estiver em condições – parece que está para breve.
Quanto a Nuno Gomes é mais uma exibição igual às últimas. Falhanços monumentais na hora de finalizar, pouco expedito no remate mas ainda assim com alguns bons passes. Aquele lance no início da primeira parte fica para a história como um exemplo de má finalização – já deve dar para editar um livro. Sinceramente ainda não percebi o que queria fazer! Tem de ir para o banco urgentemente.
Quanto aos suplentes Laurent Robert, Karagounis e Mantorras, resultados díspares.
De Robert muito pouco esforço e um falhanço monumental de cabeça quando era preciso só encostar. Preocupante a forma como parece alheado dos jogos. Considero a entrada de Karagounis na partida como fundamental para a vitória, visto que o grego mostrou em campo tudo aquilo em que é melhor: controlo de bola e visão de jogo. Não rematou tanto como costuma fazer mas ainda assim foi preponderante. Deu início à jogada do golo.
E por fim Mantorras. Mostrou em 10 minutos aquilo que Nuno Gomes não consegue fazer há um mês. Mantorras merece outro tratamento de Koeman, por tudo o que já deu ao Benfica mas por tudo aquilo que ainda, claramente, pode dar.
Mantorras tem de jogar no Benfica e tal como disse aqui, significa muito mais para os benfiquistas do que Koeman. Mais um grande golo “à ponta-de-lança”, e mais uma vez decisivo.
Sinceramente não acredito que a iniciativa de o colocar em campo nos últimos jogos seja de Koeman, principalmente depois de tudo o que o holandês disse sobre uma possível dispensa. Parece-me que há ali “dedo” do presidente!
Depois de tudo o que se disse da arbitragem estava, sinceramente, à espera do que aconteceu em Vila do Conde. Na última crónica – do jogo da Taça – escrevi isto:
“Na próxima jornada e se nada se fizer aguardemos nova vergonha… e daí talvez já não seja preciso. Afinal o pretendido já está feito e provavelmente até ao final da Liga o Benfica vai ser claramente beneficiado para que se possa dizer que o foi e assim branquear o roubo nos momentos exactos. Foi assim o ano passado!”
Nomeado para este jogo, o familiar – parece que é pai de um jogador do Rio Ave emprestado pelo FC Porto, André Vilas Boas – João Vilas Boas lesionou-se. Assim, Paulo Paraty foi o chamado.
Paraty esteve até ao golo anulado – não por si mas pelo assistente – razoavelmente bem. Não teve influência no resultado até aí e embora perdoando alguns cartões a jogadores do Rio Ave rubricou uma boa exibição. Não percebi, de facto, o cartão amarelo a Karagounis porque o grego foi autorizado a entrar pelo 4º árbitro – sim, era isso que Bruins Slot reclamava – situação que costuma acabar numa reprimenda verbal e numa nova reentrada em campo.
O lance do golo do Rio Ave tem origem na conquista de um canto de forma patética. Moretto vai à bola com a ideia de a agarrar mas depois, no último momento, lembra-se que a mesma foi atrasada por um colega de equipa. Assim em vez de tentar chutá-la para lançamento tenta esquivar-se, lance em que me ri para não chorar tal o desespero.
Na cobrança do canto, o guarda-redes brasileiro falha por completo o corte e deixa que o adversário coloque o esférico na pequena área – onde Moretto devia estar – para uma finalização fácil e sem marcação.
Na minha opinião a bola está, até pela visível sombra dos elementos do jogo, dentro de campo quando o vila-condense faz o cruzamento e por isso mesmo o golo é limpo. Portanto uma falha grave com influência directa no resultado…. mesmo o que é preciso para mudar os discursos do país futebolístico.
Agora, no que diz respeito ao golo de Mantorras são completamente contra à opinião que diz que o angolano faz falta. Quando há o toque na bola o avançado do Benfica está afastado o suficiente do adversário para que o lance seja legal. Há, depois do remate, um contacto com o defesa em virtude do embalamento de Mantorras no ar. Liedson fez um golo algo semelhante na 15ª jornada contra a Naval, na Figueira da Foz, e que foi validado por… Paulo Paraty.
E pronto, a vitória justa e indiscutível com um erro grave de arbitragem está a um passo de, por completo, branquear o que de vergonhoso se passou nos últimos 4 jogos do Benfica. É assim que funciona o futebol português em virtude da mentalidadezinha patética e asquerosa dos anti-Benfica.
Vale tudo para achincalhar o Benfica, porque a falta de respeito, a incoerência e porque não dizer o ódio, é o que impera nos discursos.
Um lançamento mal assinalado ao Benfica é escândalo nacional, enquanto que se o Benfica for prejudicado por 4 jogos consecutivos – como o foi, para não falar dos 8 pontos em défice e da eliminação injusta da Taça de Portugal – e com influência directa no resultado, ninguém fala.
A arbitragem do jogo do Benfica foi claramente a pedido, ou seja uma “encomenda” – é assim há anos – para que agora se possa dizer que o Benfica é beneficiado, mas sem hipóteses de conquistar os títulos.
Acho graça é que agora já não se “deva beneficiar o ataque” e nem se “dê o beneficio da dúvida ao árbitro por estar tapado por vários jogadores”.
É engraçado ainda que o “não marcaram, mas tiveram muitas oportunidades e por isso é bem feito” já não faça sentido porque afinal a outra equipa foi prejudicada. O “não jogam nada e não podem ficar à espera do árbitro!” não serve para o Rio Ave.
Palavra final ainda para a memória selectiva do presidente do Rio Ave que se esqueceu de fazer uma exposição à Liga quando o Porto empatou em Vila do Conde 0-0 com um golo anulado curiosamente também a Evandro e depois de um centro de Chidi com a bola, claramente, dentro de campo. Enfim… coerências ou compadrios?!
Mete nojo esta gente, mete nojo este futebol, mete nojo este país.
NDR: O “Vamos fazer uma OPA ao Sporting!” deu origem à minha primeira grande gargalhada ao ver a transmissão do jogo pela TVI. Grande abraço ao autor da brincadeira que, confesso, já me tinha passado pela cabeça. Mas não foi só por este motivo que me ri durante o jogo, os comentários na TVI são a coisa mais patética e hilariante no futebol desde o discurso de Pôncio Monteiro no “Jogo Falado”. Mais 2 anos de futebol na TVI é a pior noticia dos últimos tempos depois da lesão grave do Jorge Andrade.
Ficha do Jogo:
27ª jornada da Liga Portuguesa
Estádio dos Arcos em Vila do Conde
Árbitro: Paulo Paraty (AF Porto)
RIO AVE: Mora; Zé Gomes, Bruno Mendes, Danielson e Milhazes; Niquinha, André Vilas Boas, Vítor Gomes (Ricardo Jorge, 57 m); Evandro (Gama, 87 m), Chidi e Gaúcho (Agostinho, 74 m).
SL BENFICA: Moretto; Nélson, Luisão, Anderson e Léo; Petit e Manuel Fernandes (Karagounis, 75 m); Manduca (Mantorras, 82 m), Simão e Geovanni (Laurent Robert, 63 m); Nuno Gomes.
Disciplina: Amarelos a Danielson (36 m), Karagounis (75 m) e Niquinha (85 m).
Golos: 0-1, Mantorras (90 + 2 m).
#publicado em simultâneo com os Encarnados